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Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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sexta-feira, 23 de junho de 2017
Russia de Putin - Rede francesa de institutos de estudos avancados
India: como a religiao pode destruir a prosperidade de um povo - The Economist
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quarta-feira, 21 de junho de 2017
Argentina: a volta da grande caloteira ao sistema financeiro internacional
Captação centenária da Argentina coloca dúvida sobre fluxo para emergentes
Por Jonathan Wheatley |
Financial Times, 21/06/2017
A Argentina, uma das mais conhecidas praticantes de calotes em série, foi a mercado com um bônus soberano com vencimento de cem anos, e os investidores o abocanharam com vigor.
Trata-se de um bônus denominado em dólares, que dá retorno daqui a cem anos, de um país com classificação "junk" (de alto risco), que mal conseguiu manter a solvência por mais do que metade desse tempo em todo o seu histórico como credor. Ao mesmo tempo em que há, seguramente, um cenário de investimento a ser examinado, vários analistas advertem que essa emissão é um sinal clássico de precipitação do mercado.
A questão, no entanto, não são os cem anos. As complexidades da matemática dos bônus permitem concluir que, quando os vencimentos são superiores a 30 anos, o cenário de investimento praticamente não muda. Excluindo-se o calote, com um rendimento de quase 8%, o bônus vai reembolsar os investidores integralmente em cerca de doze anos, mantidas inalteradas as demais variáveis (como a inflação) - e isso deixa de lado seu valor de revenda.
Em um mundo ávido por rendimento, o de 7,91% que está sendo oferecido mostrou ser um poderoso ímã, e o bônus atraiu US$ 9,75 bilhões em pedidos para uma emissão de US$ 2,75 bilhões. "As pessoas examinam as perspectivas dos próximos 12 a 24 meses e veem um panorama positivo [para a Argentina]", diz David Robbins, diretor de mercados emergentes da TCW de Nova York. "Já o período de duração dos [papéis de] alto retorno é coisa que deixa as pessoas mais à vontade. A Argentina está, na prática, vendendo uma participação em sua recuperação econômica", observa ele.
Com tantas outras coisas precificadas detalhadamente nos mercados, esta pode parecer fazer parte do programa. Mas outros advertem que já vimos esse filme.
Sérgio Trigo Paz, diretor de gestão de carteira de renda fixa de mercados emergentes da Black Rock, diz que tanto o fundamento lógico quanto o preço são bons. Mas acrescenta: "Pondo-se em perspectiva, [a transação] lhe dá uma sensação de 'déjà vu' ", disse.
A Argentina não constitui a única venda digna de nota negociada nesta semana. Segundo informações, a Rússia atraiu uma demanda de mais de US$ 6 bilhões para eurobônus de 10 e de 30 anos, cujos preços estavam para ser fixados ontem com rendimentos de 4,25% e 5,25%, respectivamente.
Tudo isso acontece num momento em que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) está partindo para o "aperto quantitativo", ao ter elevado os juros na semana passada pela segunda vez neste ano e ao preparar os mercados para o anúncio sobre como começará a encolher seu balanço neste ano.
Não é difícil vislumbrar paralelos entre o atual momento e 2013, quando o Fed anunciou o fim próximo do afrouxamento quantitativo, no momento em que os investidores se atiravam entusiasmados para abocanhar uma série de eurobônus emitidos por governos africanos. Alguns deles deram muito errado, uma vez que os investidores fugiram dos emergentes durante a escalada dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA em 2013, conhecida como "Taper tantrum", decorrente do medo que se seguiu ao anúncio de que o Fed deixaria de comprar bônus.
Os investidores podem sentir que a Argentina está menos vulnerável neste ano aos perigos de emitir títulos em dólar com rendimento pago a partir de receita recebida em sua própria moeda, em processo de enfraquecimento. A solidez do dólar do ano passado arrefeceu, e o peso se desvalorizou apenas cerca de 1,5% no câmbio com a moeda americana neste ano.
Embora não esteja prevista uma reedição do "taper tantrum", Trigo Paz está entre os que advertem que estamos num ponto de inflexão. Ele vislumbra dois cenários. Em um deles, o Fed está certo com relação à inflação e os juros continuarão a subir. Isso transformaria o bônus argentino em "uma má experiência". No outro, os mercados é que estão certos, a inflação e os salários vão decepcionar e voltaremos a um ambiente de juro baixo, o que será bom para os bônus - até que a deflação volte a mostrar as garras, prejudicando a Argentina.
Nesse ínterim, diz ele, haverá um meio termo ideal, no qual os investidores poderão embolsar um cupom de 8%. "A perspectiva não é boa de nenhuma das duas maneiras - é por isso que se entra num ponto de inflexão".
Jim Barrineau, codiretor de títulos de mercados emergentes da Schroders, concorda. "Emissões como essa serão as mais voláteis quando o mercado entrar em colapso", diz ele. "A pessoa vai bem até a hora que deixar de ir bem."
A questão é se os ingressos nos ativos emergentes neste ano, mais de US$ 35 bilhões só nos fundos de bônus, continuarão a proteger os investidores de sobressaltos. "As pessoas precisam pôr o dinheiro para render. A história mostra, nos emergentes, que esse tipo de ambiente não dura para sempre."
"Esse é o tipo da coisa que, quando a maré vira, tende, simplesmente, a ter desempenho inferior à média. Preferimos declinar de emissões que parecem ser o produto de um mercado efervecente [próximo de uma bolha]."
Uma visao critica da politica externa brasileira - Paulo Roberto de Almeida (Academia.edu)
Hi Paulo Roberto,
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A ficha completa do trabalho é esta aqui:
3126. “Uma visão
crítica da política externa brasileira: a da SAE-SG/PR”, Brasília, 17 junho
2017, 22 p. Considerações críticas sobre o documento da SAE, sobre uma “grande estratégia” para o Brasil. Postado em Academia.edu
(link: https://www.academia.edu/s/28ae2de83d/uma-visao-critica-da-politica-externa-brasileira-a-da-sae-sgpr?source=link)
e em Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/317636574_Uma_visao_critica_da_politica_externa_brasileira_a_da_SAE-SGPR).
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terça-feira, 20 de junho de 2017
Apelo da Nova Coalizão pela Democracia
The Prague Appeal for Democratic Renewal
Adopted in Prague on May 26, 2017
Liberal democracy is under threat, and all who cherish it must come to its defense.
Democracy is threatened from without by despotic regimes in Russia, China, and other countries that are tightening repression internally and expanding their power globally, filling vacuums left by the fading power, influence, and self-confidence of the long-established democracies. The authoritarians are using old weapons of hard power as well as new social media and a growing arsenal of soft power to create a post-democratic world order in which norms of human rights and the rule of law are replaced by the principle of absolute state sovereignty.
Democracy is also being threatened from within. Illiberalism is on the rise in Turkey, Hungary, the Philippines, Venezuela, and other backsliding democracies. In other countries - even long-established democracies - support for liberal democracy has eroded in recent years, especially among younger people who have no memory of the struggles against totalitarianism. Faith in democratic institutions has been declining for some time, as governments seem unable to cope with the complex new challenges of globalization, political processes appear increasingly sclerotic and dysfunctional, and the bureaucracies managing both national and global institutions seem remote and overbearing. Compounding the difficulties, terrorist violence has created a climate of fear that is used by despots and demagogues to justify authoritarian power and restrictions on freedoms.
Such problems have caused widespread anxiety, hostility to political elites and cynicism about democracy – feelings that have fueled the rise of anti-system political movements and parties. These sentiments, in turn, have been stoked and inflamed by authoritarian disinformation, which increasingly penetrates the media space of the democracies. The latest Freedom House survey shows that political rights and civil liberties have been on the decline for eleven consecutive years, and this year established democracies dominate the list of countries suffering setbacks in freedom.
Collectively, these factors – the geopolitical retreat of the West, the resurgence of authoritarian political forces, the erosion of belief in democratic values, and the loss of faith in the efficacy of democratic institutions – have brought a historic halt to democratic progress and threaten a possible “reverse wave” of democratic breakdowns. Democracy’s supporters must unite to halt the retreat and to organize a new coalition for its moral, intellectual, and political renewal.
The starting point of a new campaign for democracy is a reaffirmation of the fundamental principles that have inspired the expansion of modern democracy since its birth more than two centuries ago. These principles are rooted in a belief in the dignity of the human person and in the conviction that liberal democracy is the political system that can best safeguard this dignity and allow it to flourish. Among these principles are fundamental human rights including the basic freedoms of expression, association, and religion; political and social pluralism; the existence of a vibrant civil society that empowers citizens at the grass roots; the regular election of government officials through a truly free, fair, open, and competitive process; ample opportunities beyond elections for citizens to participate and voice their concerns; government transparency and accountability, secured both through strong checks and balances in the constitutional system and through civil society oversight; a vigorous rule of law, ensured by an independent judiciary; a market economy that is free of corruption and provides opportunity for all; and a democratic culture of tolerance, civility, and non-violence.
These principles are being challenged today not only by apologists for illiberalism and xenophobia, but also by relativist intellectuals who deny that any form of government can be defended as superior. Although democracy is often considered a Western idea, its most fervent defenders today are people in non-Western societies who continue to fight for democratic freedoms against daunting odds. Their struggles affirm the universality of the democratic idea, and their example can help bring about a new birth of democratic conviction in the world’s advanced democracies.
Despite its intrinsic value, democracy’s survival cannot be assured unless it can demonstrate its ability to help societies meet the challenges of a changing and unstable world. We acknowledge the deep anxiety and insecurity of large segments of democratic societies and believe that democracy will be strong only if no group is left behind.
While democracy embodies universal values, it exists in a particular national context, what Vaclav Havel called the “intellectual, spiritual, and cultural traditions that breathe substance into it and give it meaning.” Democratic citizenship, rooted in such traditions, needs to be strengthened, not allowed to atrophy in an era of globalization. National identity is too important to be left to the manipulation of despots and demagogic populists.
The defense of democratic values is not a luxury or a purely idealistic undertaking. It is a precondition for decent, inclusive societies; the framework for social and economic progress for people throughout the world; and the foundation for the preservation of international peace and security.
A new Coalition for Democratic Renewal will serve as a moral and intellectual catalyst for the revitalization of the democratic idea. The goal is to change the intellectual and cultural climate by waging a principled, informed, and impassioned battle of ideas; defending democracy against its critics; working to strengthen mediating institutions and civil associations; and fashioning persuasive arguments for liberal democracy that can shape the course of public discussion. It will also be necessary to go on the offensive against the authoritarian opponents of democracy by demonstrating solidarity with the brave people who are fighting for democratic freedoms, and by exposing the crimes of kleptocrats who rob and oppress their own people, falsify the political and historical record, and seek to divide and defame established democracies.
The Coalition will also be a broad and interactive forum for the exchange of ideas about the best ways to address complex new challenges facing democracy such as static or declining living standards for many citizens, the backlash against increased immigration, the rise of “post-truth politics” in an age of social media, and the erosion of support for liberal democracy. Such a global hub would also advocate and promote effective forms of action to revive faith in the efficacy of democratic institutions.
There is no excuse for silence or inaction. We dare not cling to the illusion of security at a time when democracy is imperiled. The present crisis provides an opportunity for committed democrats to mobilize, and we must seize it.
List of Signatories
Mike Abramowitz, USA
Svetlana Alexievich, Belarus
Manal Al-Sharif, Saudi Arabia
Anne Applebaum, USA
Shlomo Avineri, Israel
Sergio Bitar, Chile
Igor Blaževič, Czech Republic
Ladan Boroumand, Iran /France
Martin Bútora, Slovakia
Juan Pablo Cardenal, Spain
Scott Carpenter, USA
David Clark, UK
Irwin Cotler, Canada
Manuel Cuesta Morúa, Cuba
Frederik Willem de Klerk, South Africa
Neelam Deo, India
Larry Diamond, USA
João Carlos Espada, Portugal
Francis Fukuyama, USA
William Galston, USA
Chito Gascon, Philippines
Carl Gershman, USA
Leonid Gozman, Russia
Vartan Gregorian, USA
Emmanuel Gyimah-Boadi, Ghana
Barbara Haig, USA
Amr Hamzawy, Egypt
Ivan Havel, Czech Republic
Toomas Hendrik Ilves, Estonia
Ramin Jahanbegloo, Iran/Canada
Vladimir Kara-Murza, Russia
Garry Kasparov, USA/Russia
Mikhail Kasyanov, Russia
Zoltán Kész, Hungary
Maina Kiai, Kenya
Jakub Klepal, Czech Republic
Ivan Krastev, Bulgaria
Enrique Krauze, Mexico
Péter Krekó, Hungary
Walter Laqueur, USA
Nathan Law, Hong Kong
Bernard-Henri Lévy, France
Mario Vargas Llosa, Peru
Rafael Marques de Morais, Angola
Penda Mbow, Senegal
Adam Michnik, Poland
Emin Milli, Azerbaijan
Yascha Mounk, USA
Surendra Munshi, India
Ghia Nodia, Georgia
Andrej Nosov, Serbia
Šimon Pánek, Czech Republic
Rosa Maria Payá, Cuba
Andrei Piontkovski, Russia/USA
Marc Plattner, USA
Jerzy Pomianowski, Poland
Rodger Potocki, USA
Arch Puddington, USA
Xiao Qiang, China/USA
Jacques Rupnik, France
Karel Schwarzenberg, Czech Republic
Lilia Shevtsova, Russia
Uffe Riis Sørensen, Denmark
Daniel Stid, USA
Tamara Sujú, Venezuela
Rostislav Valvoda, Czech Republic
Alexandr Vondra, Czech Republic
Christopher Walker, USA
George Weigel, USA
Leon Wieseltier, USA
Jianli Yang, China/USA
Richard Youngs, United Kingdom
Michael Žantovský, Czech Republic
The Appeal
segunda-feira, 19 de junho de 2017
Joao Carlos Espada: O Ocidente em Questão
SEGUNDA-FEIRA, 19 DE JUNHO DE 2017
O Ocidente em questão
Brasil: inflação e dominância fiscal - entrevista Andre Lara Resende
‘Nosso vício é a dependência do Estado’
Para economista, maior problema do País não é inflação, mas a incapacidade de equilibrar as contas públicas
Entrevista com
André Lara Resende, economista
Alexa Salomão, O Estado de S.Paulo
No início do ano, o economista André Lara Resende levantou uma polêmica em torno da relação entre taxa de juros e inflação. A regra prega que juro alto é como a Novalgina: um remédio eficiente para baixar a inflação. Mas o artigo de Lara ia contra esse princípio: taxas de juro altas por muito tempo - como ocorre no Brasil - teriam o efeito inverso e sustentariam a inflação. E mais: a taxa de juros não cede porque o Estado gasta demais. Haveria aí um ciclo vicioso.
Nesse contexto, a reforma da Previdência é essencial. Agora, Lara lança o livro Juros, Moeda e Ortodoxia, em que aborda o tema de maneira mais extensa e mantém a posição: “Nosso vício não é a inflação, mas a dependência excessiva de um Estado patrimonialista e incompetente que é levado a se endividar em excesso”.
A seguir, trechos de sua entrevista.
O sr. poderia explicar o princípio de sua teoria sobre juros e inflação que tanta polêmica causou entre os economistas?
Antes de mais nada, não se trata de uma teoria, mas de uma conjectura. A teoria sempre postulou a existência de uma relação inversa entre a taxa de juros e a inflação. Ou seja, que a elevação da taxa de juros reduz a inflação e vice versa. A teoria monetária predominante - que pauta os bancos centrais - está baseada em metas para a inflação e uma regra para a fixação da taxa de juros. Simplificadamente, se a inflação sobe acima da meta, o banco central deve elevar a taxa de juros mais do que proporcionalmente a aceleração da inflação. É uma espécie de regra de bolso, que parece funcionar na prática. Acontece que com a ameaça da deflação nos países avançados depois da grande crise financeira de 2007/2008, os bancos centrais se viram impossibilitados de continuar baixando a taxa de juros quando elas chegaram a zero. A teoria levaria a crer que, diante das mãos atadas dos bancos centrais, a deflação se aceleraria. Não foi o que ocorreu. A inflação, assim como a taxa de juros, se estabilizou perto de zero.
E o que isso quer dizer?
Inverte a convencional relação inversa entre a taxa de juros e a inflação. Por isso é tão polêmica. Abre-se a possibilidade de que seja a alta taxa de juros que sustente a inflação. As razões para isso seriam basicamente duas. Primeiro, altas taxas de juros mantidas por longo tempo, sobretudo quando a dívida pública é alta, agravam o desequilíbrio fiscal e levantam dúvidas sobre a solvência a longo prazo do Estado. Segundo, a taxa de juros funcionaria como sinalizador das expectativas de inflação.
O fato de a inflação ter sido tão resistente no início da recessão é um sinal de que talvez essa “conjectura” possa estar acontecendo no Brasil: taxa de juros funciona como sinalizador de inflação?
Sim, é uma possibilidade. Não apenas no Brasil, mas em toda parte hoje, há sinais de que o efeito da recessão e do desemprego sobre a inflação é muito mais fraco do que parecia.
O Brasil, então, no que se refere a inflação é como um alcoólatra: não pode cheirar um copo de álcool que tem recaída?
A inflação não é um vício, mas o sintoma de vícios. Que vícios seriam esses? O principal deles é a incapacidade de garantir o equilíbrio a longo prazo das contas públicas, a tentação permanente de levar o Estado a gastar mais do que ele é capaz de extrair via impostos da sociedade. Nosso vício não é a inflação, mas a dependência de um Estado patrimonialista e incompetente que é levado a se endividar em excesso.
E por que a taxa de juros é tão resistente no Brasil? Desde o Plano Real, nunca foi abaixo de 7%.
Essa é a pergunta que há anos, desde a estabilização do real, tem causado perplexidade e levado os analistas a quebrar a cabeça. A possibilidade de que na raiz da questão esteja um desequilíbrio fiscal estrutural, diante do qual a alta taxa de juros contribua para agravar o problema. É justamente a tese da dominância fiscal.
Mas existe mesmo a chamada “dominância fiscal”: a perda de efeito da taxa de juros sobre o controle da inflação quando o Estado gasta mais do que pode?
Dominância fiscal é uma situação anormal, que se torna tão mais provável quanto mais alta for a percepção da probabilidade de insolvência do Estado e de calote na dívida pública. O Estado brasileiro é muito deficitário, sua dívida como proporção do PIB é alta e cresce rapidamente. Reunimos portanto as condições para o caso de “dominância fiscal”.
“Reunimos” em que sentido? Podemos vir a sofrer dessa anormalidade ou já estamos nela?
Reunimos, no sentido de que as condições para a dominância fiscal estão aí. Se estamos ou não em dominância fiscal é algo que não se pode afirmar categoricamente. Só uma análise aprofundada, a mais longo prazo, pode ajudar a responder à pergunta.
Há uma defesa incondicional da reforma da Previdência para equilibrar as contas e a dívida pública. Qual seria o efeito da reforma sobre os juros?
Como está, o sistema previdenciário é insustentável. O problema não é novo. Quando destacado para estudar a questão no governo FHC, já estava claro que o sistema iria explodir antes de 2020. Algumas modificações foram feitas na idade mínima e chegamos até aqui, mas a queda brusca da taxa de natalidade e o rápido envelhecimento da população tornaram a previdência insustentável. O desequilíbrio é grave e afeta todo o sistema, mas é na Previdência dos funcionários públicos onde a crise é mais aguda. Grande parte do desequilíbrio das contas públicas, sobretudo estaduais e municipais, vem da Previdência dos servidores. Sem dúvida, a aprovação de uma reforma coerente, que garantisse a saúde e a solvência das contas públicas no longo prazo, é fundamental para viabilizar a queda da taxa básica de juros.