O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quarta-feira, 21 de abril de 2021

José Guilherme Merquior: um intelectual brasileiro; Livres promove conversa, dia 22/04, 18hs

 

12,6 mil inscritos

O maior pensador do liberalismo brasileiro no século XX completaria 80 anos neste 22 de abril. 
Vamos celebrar o legado da obra de José Guilherme Merquior em uma conversa com grandes convidados.

Mediação: Paulo Roberto de Almeida 
Participação: Bolivar Lamounier, Celso Lafer, Gelson Fonseca e Persio Arida 
Apresentação: Mano Ferreira 
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Trajetória pessoal de José Guilherme Merquior: 1941-1991 
Trajetória intelectual: da juventude à eternidade 
Trajetória diplomática: de 1963 a 1991 
Produção intelectual: incomensurável, inesgotável 
Participação no debate público: um dos poucos, talvez o único intelectual brasileiro com projeção internacional, publicando diretamente em francês, inglês, espanhol. 
Impacto na Academia: um gigante em prol de nosso Esclarecimento 
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Saiba mais sobre os convidados: 

Bolivar Lamounier é sociólogo, doutor em Ciência Política, autor de diversos livros, integrou a comissão Afonso Arinos e foi diretor do IDESP. 

Celso Lafer é jurista, autor de diversos livros, doutor em Ciência Política, professor emérito da USP e membro da Academia Brasileira de Letras, foi ministro das Relações Exteriores. 

Gelson Fonseca é diplomata de carreira desde 1970, doutor em Estudos Estratégicos Internacionais, autor de diversos livros, foi representante permanente do Brasil junto às Nações Unidas, embaixador no Chile, cônsul-geral em Madri e presidente da FUNAG. 

Persio Arida é economista, criador do Plano Real, ex-presidente do Banco Central e conselheiro acadêmico do Livres. 

Mediação: Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira desde 1977, autor de diversos livros, doutor em Ciências Sociais, ex-diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais e conselheiro acadêmico do Livres.

Publicação dedicada a textos de e sobre José Guilherme Merquior: 





Acompanhe o debate neste link: 


Publicações da Academia Brasileira de Letras: 

 

Dez anos sem José Guilherme Merquior: Mesa-redonda realizada na Academia Brasileira de Letras no dia 4 de outubro de 2001; Participantes: Acadêmicos Eduardo Portella, Sergio Paulo Rouanet, Prof. Antonio Gomes Penna, Editor José Mario Pereira e Prof. Leandro Konder; link: https://www.academia.edu/41993264/Dez_anos_sem_Jose_Guilherme_Merquior_ABL_2001

 

Mesa-redonda em homenagem aos 70 anos de José Guilherme Merquior; Realizada na Academia Brasileira de Letras no dia 14 de abril de 2011; Participantes: Acadêmicos Domício Proença Filho, Eduardo Portela, Cândido Mendes, Sérgio Paulo Rouanet, Alberto da Costa e Silva, Celso Lafer; link; https://www.academia.org.br/abl/media/PLAQUETE-JG%20Merquior%20-%2070%20anos%20de%20nascimento-PARA%20INTERNET.pdf.

 

A República dos conjurados mineiros seria unitária ou descentralizada? - Paulo Roberto de Almeida (O Estado da Arte)

Enigmas do 21 de abril: inconfidentes centralistas ou federalistas?

O Estado da Arte,   

Paulo R. de Almeida

Paulo R. de Almeida é Doutor em Ciências Sociais (Université Libre de Bruxelles, 1984), Mestre em Planejamento Econômico (Universidade de Antuérpia, 1977), Licenciado em Ciências Sociais pela Université Libre de Bruxelles, 1975). É diplomata de carreira, por concurso direto, desde 1977; serviu em diversos postos no exterior e exerceu funções na Secretaria de Estado, geralmente nas áreas de comércio, integração, finanças e investimentos. Foi professor de Sociologia Política no Instituto Rio Branco e na Universidade de Brasília (1986-87) e, desde 2004, é professor de Economia Política no Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub).

José Guilherme Merquior: um intelectual brasileiro, debate Livres, 22/04, 18:00hs - Apresentação sintética, Paulo Roberto de Almeida

 Já divulguei uma brochura, neste mesmo espaço, com a informação e transcrição sobre textos de e sobre Merquior, para apoiar, no dia 22, um debate sobre o grande intelectual brasileiro.



Preparei uma apresentação que vou transcrever aqui, slide por slide:

Apresentação José Guilherme Merquior”, Brasília 21 abril 2021, 14 slides. Síntese da trajetória intelectual de JGM, com destaque para a sua produção de livros próprios e breves referências a obras sobre seu pensamento. Elaborado em formato de Power Point para apresentação em debate organizado pelo diretor de comunicação do Livres, com a participação de Celso Lafer, Gelson Fonseca, Bolivar Lamounier e Persio Arida, via Streamyard (link para o grande público: https://youtu.be/mtJJu_0eBeg), dia 22/04/2021, 18:00hs, aos 80 anos de JGM. 














terça-feira, 20 de abril de 2021

O ministro sonâmbulo, entre o orçamento e o caixa da reeleição do degenerado - Paula Cristina (IstoÉ )

 Na corda bamba


Paula  Cristina

 

ISTOÉ DINHEIRO, 16/04/2021

 

Fura-teto, Liberal de Taubaté e Evergreen. Podem parecer apelidos de crianças em um acampamento de férias, mas são as mais recentes denominações que o ministro da Economia, Paulo Guedes, recebeu de parlamentares. Claramente incomodados com a demora do governo federal em liberar o Orçamento de 2021 – aquele desenhado pelos deputados e senadores e que libera para os parlamentares uma vergonhosa cifra de R$ 48,8 bilhões em emendas –, os congressistas pressionam o presidente Jair Bolsonaro. A mensagem é clara. Caso o texto seja vetado, a lua de mel acaba antes mesmo de o casal voltar da viagem de núpcias. Na missão de tentar apresentar uma alternativa ao presidente, Guedes caminha em uma corda bamba.

 

Ele sabe que, do jeito que está, o Orçamento fere a Lei de Responsabilidade Fiscal. Também tem conhecimento de que convencer o presidente a vetar o Orçamento seria, além de tarefa difícil, levar ao erro da ex-presidente Dilma Rousseff: o de romper de vez com os parlamentares e sua irrefreável indisciplina fiscal. O caminho escolhido pelo ministro foi tentar desenhar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que deixaria fora do teto de gastos valores que teriam como destino o combate ao coronavírus. O problema é que mesmo essa ideia foi se desviando assim que nasceu. A princípio o plano era que cerca de R$ 20 bilhões ficassem fora do limite de gastos. Logo a cifra subiu para R$ 30 bilhões e chegou a R$ 48 bilhões quando R$18 bilhões foram adicionados oriundos de emendas parlamentares que tinham como destinos obras. Vale uma explicação. Estes R$ 48 bilhões são além dos R$ 48,4 bilhões nas emendas contidas dentro do Orçamento. Esse é o preço indecente e irresponsável do apoio que Bolsonaro compra para ter o Congresso ainda mais em tempos de CPI. Quando todos perdem a razão, bodes expiatórios – culpados ou não – passam a ser escalados. E Guedes cabe com perfeição no papel. O ministro afirmou que a inclusão das emendas na PEC foi a “variante que escapou do laboratório.” Daí o apelido de Liberal de Taubaté – em alusão à mulher da cidade do interior paulista que, em 2021, fingiu estar grávida de trigêmeos.

 

Uma fonte próxima ao ministro admite que Guedes se mostra cético sobre o andamento do Orçamento deste ano. “Ele já está assimilando a derrota. Trabalhamos para evitar que mais danos sejam causados”, disse ele à reportagem, em condição de anonimato. A saída, explica o assessor, seria construir um acordo, com aval do presidente Jair Bolsonaro, para retirar as emendas da PEC a ser enviada. Uma navalhada nos R$ 18 bilhões que nunca deveriam estar ali. O argumento da equipe de Guedes seria que, quanto mais elementos entrar nessa PEC, mais daria a sensação de a Emenda ser uma saída fácil para driblar o controle fiscal.

 

PIOR DA HISTÓRIA Guedes agora sabe que subiu na corda bamba com o Orçamento parido. Everaldo Loures, doutor em economia aplicada e ex-secretário da Fazenda de Minas Gerais afirma que o Orçamento de 2021 é, de longe, o pior desde a redemocratização. “O único Orçamento descente do governo Bolsonaro foi o desenhado durante o governo Michel Temer”, disse. Na avaliação do economista, são muitos os erros. “O problema não é o gasto acima do teto, o problema é que ele parte de uma premissa errada. É preciso refazer do zero.” Nesse sentido, Everton Perusin, consultor político do MDB de Brasília, entende que faltou articulação do governo. “Ele falhou nesse diálogo direto. O governo abriu mão da condução do Orçamento em nome da PEC Emergencial.” E tanto um quanto outro se tornaram aberrações.

 

Em uma conversa no final de março, Guedes teria dito diretamente à Bolsonaro que havia pessoas próximas a ele o levando para o buraco. “Vão te empurrar para o impeachmment”, teria dito o ministro ao tentar convencer Jair Bolsonaro sobre o andamento do Orçamento de 2021. E se em um primeiro momento o intuito era avisar o presidente, não demorou muito para Guedes repensar seu próprio papel dentro do governo ao tentar criar soluções criativas, que envolvem PEC, Orçamento de Guerra, estado de Calamidade, Crédito Orçamentário e tudo que envolva saída para agradar o Congresso, o presidente e os anseios do mercado. “Quero crer que [vocês] não me enganaram para eu virar o novo Arno Agustin!”, teria dito Guedes à Bolsonaro, citando o ex-secretário do Tesouro do governo Dilma Rousseff, pai das pedaladas fiscais.

 

O que teria feito Merquior se não tivesse precocemente falecido em 1991? Minha imaginação - Paulo Roberto de Almeida

 O trecho final de meu prefácio a esta brochura: 

3894. José Guilherme Merquior: um intelectual brasileiro, Brasília, 19 abril 2021, 322 p. Coletânea de textos de e sobre o grande intelectual diplomata. Versão abreviada, com links remetendo a pdfs em Academia.edu: 187 p. Postado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/46954903/Jose_Guilherme_Merquior_um_Intelectual_Brasileiro_2021_); divulgado no blog Diplomatizzando (20/04/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/04/jose-guilherme-merquior-uma-homenagem.html).

(...)

De minha parte, adoto o seguinte ponto de partida no seguimento do imenso trabalho desenvolvido por Merquior – se isso é possível – e que deveria ter tido continuidade nos 30 anos seguintes ao ano de sua morte, em 1991: o que teria ele escrito depois de Liberalism, Old and New? Quais teriam sido os seus novos temas, ou como teria ele enfrentado as novidades da terceira onda de globalização, depois da implosão da União Soviética e da irresistível ascensão da China? Como ele estaria contemplando, hoje, a ascensão da nova direita, burra, até estúpida e autoritária, sendo que ele defendia um social-liberalismo esclarecido, economicamente responsável, culturalmente aberto e tolerante, totalmente receptivo às grandes tendências nos terrenos dos costumes e das preferências individuais? 

Ele talvez se sentisse decepcionado com os destinos do Brasil, uma vez que ele era basicamente impulsionado pela ideia da razão, e acreditava, sinceramente, que um diálogo aberto e bem informado entre partidários e militantes de diferentes tendências – econômicas, políticas, culturais – poderia conduzir o país na direção da adoção de políticas simplesmente racionais tendentes a diminuir o grau anormalmente elevado das iniquidades brasileiras, das misérias preservadas ao longo de cinco séculos de nação e de dois séculos de Estado nacional independente. Na diplomacia, na esfera política, no âmbito acadêmico ou na vida cultural, ele teria certamente continuado a oferecer novas e instigantes contribuições a um debate de alto nível sobre nossos problemas mais cruciais. Fomos privados desses aportes intelectuais pela Parcas, como já lamentava em 1991 seu grande amigo, mentor e companheiro de tertúlias Roberto Campos, quem lhe permitiu escapar do aborrecido trabalho burocrático (geralmente inútil) da embaixada em Londres, para conduzir sua tese com Ernest Gellner, um dos trabalhos que mais o distinguiram entre colegas acadêmicos de nível mundial. 

Aliás, basta olhar o sumário da obra de 2001 (O Itamaraty na Cultura Brasileira, organizada pelo embaixador Alberto da Costa e Silva), sobre os diplomatas intelectuais, para saber que eles não foram lembrados exatamente por enfadonhos despachos ou por telegramas de instruções rotineiras, mas por suas obras construídas paralelamente às ocupações triviais de chancelaria. A inteligência lhes foi um atributo que pode ter sido facilitado pela vida diplomática, mas não foi esta que moldou seus pensamentos, e sim a própria vida intelectual de cada um deles. Merquior foi um dos grandes, um gigante no terreno que ele próprio escolheu, não o da poesia, exatamente, ou o da literatura, enquanto ofício, mas o da crítica das ideias, em literatura, em poesia, em filosofia, em política, um terreno no qual ele dialogou, debateu, diretamente ou à distância, com os grandes pensadores do seu tempo, sem deixar de retomar as ideias de grandes predecessores, todos os iluministas, desde os séculos XVII e XVIII, até seus modernos sucessores nos salões da academia ou nos cenáculos da política. 

De minha parte, já inclui Merquior entre as quatro dezenas de pensadores brasileiros que, desde o início do século XIX, participaram da construção da nação, pelo menos em ideia e intenção, pois que muitas das propostas por eles formuladas, nos campos da governança, da economia, da política, da vida universitária e cultural, nem sempre foram concretizadas na prática, o que se torna evidente pelo estado quase estagnado do país. Cem anos depois da Semana de Arte Moderna de 1922, duzentos anos desde a independência, o Brasil ainda segue avançando aos trancos e barrancos – como diria Darcy Ribeiro, um dos muitos “esquerdistas” que aprenderam a respeitar Merquior –, ainda continua progredindo aos “tiquinhos”, como pretendia Mário de Andrade pouco depois da semana que organizou, para quem o progresso também “é uma fatalidade”. Merquior preferiria dizer que o progresso é uma construção de homens racionais, como ele tentou ser durante toda a sua vida adulta. 

Ao lamentar que tenhamos sido privados de sua colaboração nestas últimas três décadas nas quais ele poderia ter estado ativo, nosso dever é continuar sua obra de defesa de ideias e de propostas de ação. Este volume, que coloca certo número de trabalhos pouco conhecidos à disposição de um número maior de interessados, pode estar atuando nessa direção e colaborando com sua obra pedagógica de Aufklärung, de esclarecimento, e sobretudo de inteligência. 


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20 de abril de 2021

Como teria sido Merquior como chanceler? - Paulo Roberto de Almeida

 Como teria sido Merquior ministro das Relações Exteriores, um chanceler da inteligência, um diplomata da cultura universal?

Ofereci minha opinião no parágrafo final de meu longo ensaio sobre sua obra de sociologia política:

(...)

“Teria Merquior sido um grande chanceler para o Brasil? Provavelmente sim, mas creio que o Itamaraty seria muito pequeno, e muito burocrático, para ele. No cargo, poderia ter reformado rituais e comportamentos do estamento diplomático, num sentido iluminista, liberal e liberista; mas ainda assim, isso seria pouco para o seu espírito libertário. 

O que ele teria feito, certamente, seria iluminar com a sua notável inteligência os métodos e os objetivos de trabalho, colocando a razão, e o sentido da História, acima de quaisquer outras conveniências conjunturais, o que provavelmente teria provocado resistências burocráticas, corporativas e de grupos de interesse econômico. 

Seria tolerante com os pecados menores de uma burocracia tradicional como o Itamaraty, mas teria deixado uma marca indelével na instituição. 

Para repetir sua tese na London School, inauguraria um período de “burocracia carismática” na velha Casa de Rio Branco, o que talvez a tivesse transformado para sempre, inaugurando novos padrões de inteligência. Vários colegas, dotados do mesmo espírito, mas hoje cingidos pelas regras sacrossantas da hierarquia e da disciplina, partilhariam e apoiariam tais intenções. 

Teria sido divertido...”


O ensaio completo está na brochura José Guilherme Merquior: um intelectual brasileiro, que tornei disponível neste dia do diplomata de 2021.

Procurem na minha página da plataforma Academia.edu (seção Varia), ou no blog Diplomatizzando.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20/04/2021