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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Nacionalismo canhestro e irracionalidade economica: por que governos sempre tem de ser esquizofrenicos?

Leio, numa nota qualquer, dessas que a gente percorre displicentemente ao processar materiais que recebe pela internet, uma informação sobre a disposição de um governo do continente que fatalmente dividimos com outros povos -- mas a mesma realidade existe no Brasil também -- de apertar os parafusos em matéria de "nacionalismo fundiário".
Segundo a nota, esse governo pretende solicitar a seus aliados no parlamento...

a tarefa de elaborar projeto de lei para conter processo de aquisição de terras por estrangeiros. A alta produtividade das terras do país teria atraído a atenção do agronegócio internacional, com conseqüente sobrevalorização das propriedades rurais e desestímulo a compras por produtores [nacionais]. [O presidente] tem manifestado preocupação com os riscos à soberania decorrentes da venda de terras a empresas multinacionais e, especialmente, a outros Estados.


Bem, o mesmo já ocorreu no Brasil, como todos sabem, onde o governo, alarmado politicamente com a informação que estrangeiros [bem, se tratava de um povo que era, em princípio, "aliado estratégico" do Brasil] estavam comprando terras "demais", resolveu colocar um limite a essas aquisições, numa típica medida de nacionalismo fundiário, e de simples contravenção ao princípio do tratamento nacional -- que prometemos respeitar no âmbito de nossos compromissos internacionais, especialmente no GATT-OMC -- que promete ser prejudicial aos interesses nacionais, e à economia como um todo.

Eu perguntaria simplesmente o seguinte, a esses presidentes, a esses legisladores e a todos os nacionalistas fundiários:

1) Vocês acham que os estrangeiros vão pegar as terras e sair correndo do país?
2) Vocês acham que eles vão deixar as terras inativas, apenas para fins de especulação, em lugar de produzir e retirar o seu lucro? Eles deixariam de cumprir a famosa "função social da propriedade", esse monumento à boçalidade jurídica e econômica de nossa Constituição?
3) Vocês não acham que é um fato economicamente positivo a valorização das terras nacionais, pois isso traduz, no mundo econômico, a famosa lei, bastante simples, na verdade, da oferta e da procura? Ou seja, a valorização das terras nacionais, procuradas por gregos e goianos, ou melhor, por nacionais e estrangeiros, representa, de fato, uma valorização dos ativos nacionais e constitui, portanto, um fato eminentemente positivo na vida econômica nacional. Isso não é bom?
4) Vocês não acham bom que estrangeiros venham até nosso país, se dediquem a comprar terras, a produzir e a exportar, seja para onde for, e que isso aumente o PIB nacional, as exportações, a riqueza e a renda dos nacionais, do país? O que haveria de fundamentalmente negativo na exploração econômica racional, de acordo com as leis nacionais, de terras produtivas por estrangeiros?
5) Vocês não acham que está na hora de acabar com essa mentalidade canhestra, esse nacionalismo rastaquera, esse protecionismo idiota que consiste em achar que terras nacionais só podem ser exploradas (ou não) pelos nacionais?
6) O que existe de basicamente errado em pretender produzir e exportar no país? Os recursos para isso seriam indesejáveis, o processo todo danoso para o país?
7) Onde vocês colocam a racionalidade econômica em todas essas medidas que vocês concebem e tentam colocar em prática?

Não tenho nenhuma ilusão que a mentalidade desses governantes venha a mudar, any time soon.
Como lembrava alguém, subdesenvolvimento não é apenas uma questão material, é também uma questão de mentalidade.
Atraso intelectual e simples incapacidade de raciocinar corretamente são dois traços distintivos de nosso subdesenvolvimento mental...
Triste...
Paulo Roberto de Almeida
(Beijing, 15.10.2010)

5 comentários:

Lucas disse...

Esqueceu de dizer que quando estrangeiros compram terras brasileiras, eles pagam em dólares que podem ser usados pra comprar ativos lá fora.

Unknown disse...

Viva a liberdade, seja econômica, seja pessoal,tão presente em nossas vidas,Viva a soberania desses Países, ora tão grande, ora tão pequena,de acordo com os interesses de quem os manda,e Viva ,a cima de tudo, aos políticos, essa classe tão nobre e tão atilada, a qual nos enche de orgulho.E por fim, uma Vai aos deletérios estrangeiros que querem especular o nosso mercado.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Lucas,
Voce tem parcialmente razão. Como o Brasil não tem conversibilidade plena, os contratos tem de ser necessariamente feitos em real. Então quem vende detem reais. Se quiser fazer investimentos lá fora terá de comprar dólares novamente.
Os dólares podem ser comprados pelo BC, e integrar as reservas brasileiras, mas para fazer isso será preciso emitir títulos da dívida pública.

Felipe,
Sinceramente, não entendi o que você quis dizer. Normalmente eu deveria vetar um comentário como esse, sem um significado preciso. Publiquei porque talvez alguém aqui entenda o que você quis dizer.
Eu não entendi...
Paulo Roberto de Almeida

Benê disse...

Caro Senhor,
(...) esse protecionismo idiota que consiste em achar que terras nacionais só podem ser exploradas (ou não) pelos nacionais?" Esse questionamento me lembra muito a primeira Lei de Terras (1850), concordo plenamente que o desenvolvimento de nosso país não deve estar atrelado a essas pequenas discussões, de nacionais ou não. Devemos ter em mente que o saldo positivo de uma balança comercial está além dessas proposições. Obrigada. B.

Unknown disse...

Desculpe-me pelo comentário anteriormente postado.Realmente não ficou muito claro,porém me parece difícil escrever em algumas linhas.
"Viva a liberdade.." foi uma ironia à falta de liberdade presente nesses países subdesenvolvidos, tanto no âmbito econômico,como tem podido se perceber nos últimos índices de liberdade econômica,quanto no nosso cotidiano, o qual sempre se percebeu imposição de valores,no mínimo uma tentativa, pelos governantes.Essa imposição remonta a era das colônias de exploração,provavelmente, o principal motivo para esse atual subdesenvolvimento.No "Viva a soberania.." , provavelmente,o trecho menos entendível,culpa minha, tentava me referir aos volúveis valores de soberania desses nossos governantes, os quais, ora tem um pequeno senso de soberania,como, no caso da Petrobrás na Bolívia,ora tem um senso tão grande de soberania,como, no explicitado pelo seu texto,se é que dá pra ter "sensos" de soberania. E quando me referi aos atuais governantes foi de uma ironia extrema,pois ao meu,simplório, entendimento grande parte desses governo atuais da américa latina são muito ruins, para não usar palavras baixas,lógico que era pra eu ter explicitado isso, pois se torna impossível deduzir meus valores.E, mais uma vez, utilizei-me da ironia ao vaiar os estrangeiros, os quais,muitas vezes, querem apenas investir nesses países.

Ps: Sou um leitor assíduo do seus blogs, concordo em número,gênero e grau em quase todos seus comentários, caso essa concordância fosse possível na nossa língua.Porém sou muito insipiente ainda e um total incipiente ,em grande parte, devida a minha reduzida idade, não podendo assim tecer conhecimento em qualquer área.Tento ,apenas, ler e filtrar o que me parecer lógico,e ,como o senhor já falou, aprender com as pessoas mais espertas que eu.Então, gostaria de agradecê-lo por estar compartilhando seu conhecimento conosco.