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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Os bispos e o capitalismo: incompatibilidade de genios?

Os bispos do Brasil, não todos, mas possivelmente a maioria, têm um problema com o capitalismo. Sim, já sei, o problema vem de longe, lá de trás, desde quando se condenava, não se sabe bem por que, a usura e o lucro.Mas os bispos brasileiros, além de serem contra o lucro e a usura -- o que faz parte, digamos assim, da ignorância econômica "normal" dos religiosos em geral -- também são contra o capitalismo, que para eles deve ser uma entidade maléfica, perversa, talvez incitadora ao pecado, sei lá.
Estava lendo agora mesmo o tal de manifesto apreendido a mando dos petistas -- o que configura, me parece, censura ao pensamento e violação do direito de livre expressão, não da Igreja, mas de qualquer um -- e deparei com a tal de condenação ao capitalismo.
Vejamos o manifesto em sua íntegra, com trecho que considero francamente risíveis -- mas o assunto é suficientemente sério ao ponto de ter levado a uma verdadeira cisão na CNBB -- e depois eu volto para comentar aquilo que me compete, que não é religião, nem campanha eleitoral, mas simplesmente o que constitui minha atividade docente e de pesquisador: a economia política.
Paulo Roberto de Almeida 

A Presidência e a Comissão Representativa dos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, em sua Reunião ordinária, tendo já dado orientações e critérios claros para “VOTAR BEM”, acolhem e recomendam a ampla difusão do
“APELO A TODOS OS BRASILEIROS E BRASILEIRAS”
elaborado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 que pode ser encontrado no seguinte endereço eletrônico www.cnbbsul1.org.br
São Paulo, 26 de Agosto de 2010.

Dom Nelson Westrupp, scj
Presidente do CONSER-SUL 1

Dom Benedito Beni dos Santos
Vice-presidente do CONSER-SUL 1

Dom Airton José dos Santos
Secretário Geral do CONSER SUL 1

APELO A TODOS OS BRASILEIROS E BRASILEIRAS

Nós, participantes do 2º Encontro das Comissões Diocesanas em Defesa da Vida (CDDVs), organizado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB e realizado em S. André no dia 03 de julho de 2010,

- considerando que, em abril de 2005, no IIº Relatório do Brasil sobre o Tratado de Direitos Civis e Políticos, apresentado ao Comitê de Direitos Humanos da ONU (nº 45) o atual governo comprometeu-se a legalizar o aborto,

- considerando que, em agosto de 2005, o atual governo entregou ao Comitê da ONU para a Eliminação de todas as Formas de Descriminalização contra a Mulher (CEDAW) documento no qual reconhece o aborto como Direito Humano da Mulher,

- considerando que, em setembro de 2005, através da Secretaria Especial de Política das Mulheres, o atual governo apresentou ao Congresso um substitutivo do PL 1135/91, como resultado do trabalho da Comissão Tripartite, no qual é proposta a descriminalização do aborto até o nono mês de gravidez e por qualquer motivo, pois com a eliminação de todos os artigos do Código Penal, que o criminalizam, o aborto, em todos os casos, deixaria de ser crime,

- considerando que, em setembro de 2006, no plano de governo do 2º mandato do atual Presidente, ele reafirma, embora com linguagem velada, o compromisso de legalizar o aborto,

- considerando que, em setembro de 2007, no seu IIIº Congreso, o PT assumiu a descriminalização do aborto e o atendimento de todos os casos no serviço público como programa de partido, sendo o primeiro partido no Brasil a assumir este programa,

- considerando que, em setembro de 2009, o PT puniu os dois deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso por serem contrários à legalização do aborto,

- considerando como, com todas estas decisões a favor do aborto, o PT e o atual governo tornaram-se ativos colaboradores do Imperialismo Demográfico que está sendo imposto em nível mundial por Fundações Internacionais, as quais, sob o falacioso pretexto da defesa dos direitos reprodutivos e sexuais da mulher, e usando o falso rótulo de “aborto - problema de saúde pública”, estão implantando o controle demográfico mundial como moderna estratégia do capitalismo internacional,

- considerando que, em fevereiro de 2010, o IVº Congresso Nacional do PT manifestou apoio incondicional ao 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), decreto nª 7.037/09 de 21 de dezembro de 2009, assinado pelo atual Presidente e pela ministra da Casa Civil, no qual se reafirmou a descriminalização do aborto, dando assim continuidade e levando às últimas consequências esta política antinatalista de controle populacional, desumana, antisocial e contrária ao verdadeiro progresso do nosso País,

- considerando que este mesmo Congresso aclamou a própria ministra da Casa Civil como candidata oficial do Partido dos Trabalhadores para a Presidência da República,

- considerando enfim que, em junho de 2010, para impedir a investigação das origens do financiamento por parte de organizações internacionais para a legalização e a promoção do aborto no Brasil, o PT e as lideranças partidárias da base aliada boicotaram a criação da CPI do aborto que investigaria o assunto,

RECOMENDAMOS encarecidamente a todos os cidadãos e cidadãs brasileiros e brasileiras, em consonância com o art. 5º da Constituição Federal, que defende a inviolabilidade da vida humana e, conforme o Pacto de S. José da Costa Rica, desde a concepção, independentemente de sua convicções ideológicas ou religiosas, que, nas próximas eleições, deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalizacão do aborto.

Convidamos, outrossim, a todos para lerem o documento “Votar Bem” aprovado pela 73ª Assembléia dos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, reunidos em Aparecida no dia 29 de junho de 2010 e verificarem as provas do que acima foi exposto no texto “A Contextualização da Defesa da Vida no Brasil” (http://www.cnbbsul1.org.br/arquivos/defesavidabrasil.pdf), elaborado pelas Comissões em Defesa da Vida das Dioceses de Guarulhos e Taubaté, ligadas à Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, ambos disponíveis no site desse mesmo Regional.

COMISSÃO EM DEFESA DA VIDA DO REGIONAL SUL 1 DA CNBB

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Voltei (como diria um jornalista conhecido).
Pois bem, o trecho que me interessa é este aqui:

"...o PT e o atual governo tornaram-se ativos colaboradores do Imperialismo Demográfico que está sendo imposto em nível mundial por Fundações Internacionais, as quais, sob o falacioso pretexto da defesa dos direitos reprodutivos e sexuais da mulher, e usando o falso rótulo de “aborto - problema de saúde pública”, estão implantando o controle demográfico mundial como moderna estratégia do capitalismo internacional."

Eu não gostaria de parecer muito desrespeitoso, mas esses bispos estão malucos, partidários que são daquilo que pode ser chamado de "teoria conspiratória da História", como revelado nessa ideia estapafúrdia do "Imperialismo Demográfico".

Trata-se de mais um fantasma, como tantos outros que percorrem e frequentam todas as teorias conspiratórias de todos os tipos. Como sabe qualquer cidadão sensato e bem informado, essas fundações (que são nacionais, e não internacionais) não trabalham para nenhum Imperialismo Demográfico, e menos ainda para o tal de capitalismo internacional -- onde quer que ele se encontre, ou seja, atualmente um pouco, ou bastante, em todas as partes, inclusive na China formalmente comunista (menos na Coréia do Norte e em Cuba, mas isso se resolve logo...) -- sim se organizam em torno da ideia singela de que muitos filhos alimenta a pobreza e provoca o atraso da componente feminina nas populações de países pobres.
Eu também acho que elas podem estar enganadas, muito embora eu não consigo imaginar qual seria estratégia moderna do capitalismo internacional. Será que o capitalismo internacional, cujos lucros provêm da venda ampliada e crescente de mercadorias (bens e serviços), estão interessados em diminuir a população, ou seja, em reduzir suas chances de ter mais lucro?
Esse bispos estão sendo um tantinho contraditórios, pois não imagino um capitalismo dizendo: "Parem, parem, menos gente por favor, queremos menos vendas, menos lucro, queremos ficar pobres..."

Esses padrecos atuais são completamente malucos...

Paulo Roberto de Almeida

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