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sábado, 23 de outubro de 2010

Interrupcao eleitoral (17): O Manifesto da desonestidade intelectual - Guilherme Fiuza

Eu retiraria o "intelectual": acho que não cabe tal adjetivo para uma assemblagem de militantes de uma causa que tem tudo de política, exclusivamente política, e da mais baixa extração.
Intelectual tem a ver com coisas do espírito, com o uso da capacidade de pensar, de argumentar racionalmente, de guiar-se pela lógica, pela verdade dos fatos.
Tudo isso está em total contradição com o que ocorreu no Rio de Janeiro, nesse encontro patético, se não fosse simplesmente ridículo.
Paulo Roberto de Almeida

O Manifesto da desonestidade intelectual
Guilherme Fiuza
revista Época, 22.10.2010

A burguesia culpada ataca novamente. O manifesto de intelectuais a favor da candidatura Dilma – aquele que incluiu a assinatura do diretor de Tropa de elitecontra a vontade dele – resume o Brasil do faz de conta. Faz de conta que o país está dividido entre ricos e pobres, conforme a mitologia criada por Lula desde seu primeiro discurso presidencial. Faz de conta que os avanços sociais vão acabar se a oposição vencer. Faz de conta que a vida do povo melhorou porque Lula é pobre.

A elite envergonhada se sente nobre quando bajula o povão. Não contem para ninguém que os avanços sociais começaram no governo de um sociólogo, porque isso vai estragar todo o heroísmo da esquerda festiva. Ela estava feliz em sua jornada nostálgica no Teatro Casa Grande, onde aconteciam as históricas reuniões de resistência à ditadura. Não perturbem Chico Buarque, Leonardo Boff e demais artífices do manifesto dos intelectuais em seu doce sonho de altruísmo. Deixem-nos curtir seu abraço metafórico ao operariado.

O único problema desse abraço é a metáfora em si. Ela se chama Dilma Rousseff e está prestes a virar abóbora. A fada que a transformou em encarnação da esperança popular deve estar exausta. O encanto começa a se dissipar, e a donzela começa a rosnar mensagens constrangedoras, com o rosto novamente crispado, masculinizado, hostil. A mamãe dos brasileiros está se desmanchando ao vivo. Os intelectuais e artistas de esquerda precisam fazer alguma coisa, porque o estoque de licenças poéticas do plano Dilma está no fim. Talvez pudessem importar um lote novo da Venezuela.

Após sua participação no debate presidencial da TV Bandeirantes, Dilma foi entrevistada ao vivo, ainda no estúdio. O repórter perguntou-lhe o que ela quis dizer com a acusação de que seu adversário pretende privatizar o pré-sal. Dilma mostrou então todo o seu preparo como candidata a Vanusa. Seu raciocínio saltou das profundezas oceânicas para os hospitais públicos, emendando num salto espetacular para as salas de aula do Brasil carente. Com os olhos vagando pelo nada, talvez em busca do sentido da vida, Dilma começava a dissertar sobre segurança pública quando foi salva pelo repórter da Band. Ele livrou-a de seu próprio labirinto mental da única forma possível: encerrou a entrevista.

Como nem tudo na vida é propaganda eleitoral gratuita, a musa dos intelectuais de esquerda logo apareceria de novo sem as fadas do marketing. Dessa vez, cercada por microfones, explicou que o maior acesso da população aos telefones nada tinha a ver com a privatização da telefonia. “O pobre passou a ter telefone porque passou a ter renda. Não por causa da privatização”, afirmou, categórica.

A elite envergonhada se sente nobre quando bajula o povão, num doce sonho de altruísmo

O eleitor não deve se zangar só porque a afirmação contraria a história. O fato de que a abertura da telefonia ao capital privado melhorou a vida do povo precisa mesmo ser esquecido. Para piorar, isso aconteceu no governo do sociólogo, ou seja, destoa completamente da apoteose operária que está levando o Brasil ao paraíso. Não vamos estragar o enredo. Até porque, se o aumento da felicidade per capita não puder ser atribuído à bondade estatal de Lula e Dilma, como os intelectuais progressistas vão fazer para se reunir no Teatro Casa Grande, lançar manifestos e se sentir importantes? Sinceridade tem limite.

Vamos deixar isso tudo combinado, antes que o encanto acabe. Os planos do PT para controlar a informação não existem. É pura invenção da imprensa burguesa, que não quer a ascensão popular, como alerta o manifesto dos intelectuais. O povo está com Dilma, e portanto a verdade também. O resto é despeito dessa elite egoísta que não gosta de pobre.

O diretor José Padilha mandou tirar seu nome do manifesto. No mínimo, deve ser um privatista. Mas aqui é a terra do filho do Brasil. Privatização, só na Casa Civil. Rumo ao Oscar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Intelectual tem a ver com coisas do espírito, com o uso da capacidade de pensar, de argumentar racionalmente, de guiar-se pela lógica, pela verdade dos fatos... ótima essa sua frase. Mas o que dizer de um intelectual que anda por aí desfilando com uma dita ex-drogada em festas da alta sociedade carioca, lançamentos de perfume francês e posando para fotos de H. Angel? É muito fácil apresentar uma realidade que convém e achar que, na vida pessoal, tudo pode, tudo vale; minha crítica é imbatível, impermeável, esse é meu trabalho. É patética a entrevista dada por Narcisa T. ( publicada no mesmo número da revista em e que este texto é vinculado) e sua fala sobre o namoro com Guilherme Fiuza: ele é o máximo, superinteligente só fala bem da mulher...
Fácil falar da vida de contos de fadas dos outros, mas será que Fiuza também não está vivendo como Cinderela? Será que sua crítica anda tão lúcida quanto parece??? Esse nosso intelectual tem parecido com as ideias fora do lugar ou sua capacidade de argumentar e pensar andam enfeitaçadas. E não adianta dizer que as escolhas e a vida pessoal, neste caso, nada têm a ver com o trabalho...patético texto.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Anônimo,
Vou transgredir uma regra que eu mesmo estabeleci, e que está sempre transcrita nos alertas aos comentaristas e que você sabe qual é.
Não deveria sequer publicar, ou responder a seu comentário, não por discordar em qualquer aspecto do conteúdo, ou por exibir uma atitude censória, mas simplesmente porque o seu comentário não preenche os requisitos mínimos para aqui figurar.
Se o faço, seria apenas para que você não me acuse justamente de censura.
Mas vou lhe dizer exatamente o que deve ser dito.
Repito-me: "Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo do post em questão."
Seu comentário não é sobre o objeto do post, que se referia ao tal manifesto de indivíduos que se identificam com a criatura eleitoral do Lula.
Você preferiu falar, mal, do autor do artigo, sem jamais tocar no tema do post.
O fez, de forma anônima, e vou lhe dizer que tenha especial prevenção contra anônimos, quando nada justifica o anonimato num caso como esse.
O que você fez não é um comentário a respeito do manifeto, mas uma fofoca, tipicamente carioca, sobre um desafeto seu.
Não creio que a vida pessoal de qualquer pessoa tenha a ver com o que ela escreve e publica.
Você poderia ser um pervertido sexual, um pedófilo, um traficante de cocaína (aliás tema de um roteiro do jornalista em questão), que isso não interessaria nada, se pelo menos fizesse um comentário inteligente.
Lamento pelo meu post, pelo meu blog, pelos leitores, e lamento sobretudo por você, que não consegue refletir sobre uma questão relevante, de modo claro, honesto e sobretudo transparente.
Paulo Roberto de Almeida