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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Interrupcao eleitoral (9): a mistificacao da privatização: tentando enganar os incautos...

O tema da privatização vem sendo utilizado como um fantasma, tentando convencer a população de que elas são o mal absoluto. Este editorial do Estadão coloca os pingos nos iis.
Paulo Roberto de Almeida

A repetição de um velho ardil

Editorial O Estado de S.Paulo, 18 de outubro de 2010


Só dogmatismo e/ou a má-fé justificam o argumento de que a privatização de empresa estatal ou de economia mista é um mal em si mesma e, portanto, condenável de qualquer ponto de vista. Dogmáticos são os radicais de esquerda incapazes de esquecer ou de aprender. De má-fé agem os oportunistas diretamente interessados no projeto de perpetuação do poder lulo-petista. Uns e outros se associam na campanha eleitoral de Dilma Rousseff para demonizar José Serra como o responsável, pretérito e futuro, por esse monstruoso atentado contra os interesses do povo brasileiro: a privatização. É natural que o lulo-petismo lance mão desse argumento cínico e maniqueísta na tentativa de evitar que a candidatura Dilma repita neste segundo turno o desempenho para eles decepcionante que teve no primeiro. Deu certo quatro anos atrás, quando o então candidato oposicionista, Geraldo Alckmin, enroscou-se todo no mesmo ardil e conseguiu a proeza de ter no segundo turno cerca de 2,5 milhões de votos a menos do que no primeiro.
É de esperar que os tucanos tenham aprendido a lição. Afinal, argumentos não lhes faltam. O governo Fernando Henrique foi um dos responsáveis pela definição dos fundamentos da política econômico-social que, aprimorada e aprofundada por seu sucessor, resultou no Brasil inegavelmente melhor em que hoje vivemos. E o processo de desestatização, intensificado nas administrações Itamar Franco e Fernando Henrique, abrangendo os setores siderúrgico, de mineração, da indústria aeronáutica e, de modo muito especial, os serviços bancários e as telecomunicações, foi peça essencial para consolidar a base dos avanços nos últimos 15 anos.
A dicotomia estatização/desestatização frequentou a agenda política quando a polarização comunismo/capitalismo dominava o mundo, durante a maior parte do século 20. Com a falência do modelo comunista e a consequente desmoralização do mito da infalibilidade do Estado, a questão, do ponto de vista do interesse público, passou a ser, objetivamente, quais empresas devem permanecer sob o controle, direto ou indireto, do poder público e quais ficam melhor sob a administração privada. Assim, é óbvio que em muitos casos a desestatização ou privatização de empresas e serviços pode perfeitamente atender ao interesse público. Foi o que ocorreu no Brasil com a privatização das empresas de telecomunicações, que, para citar apenas seus efeitos mais visíveis, permitiu o acesso de toda a população economicamente ativa ao telefone celular e à banda larga. E há, por outro lado, casos como o de empresas estrategicamente essenciais à segurança ou ao desenvolvimento nacional, em que o interesse público poderá estar melhor preservado com a administração estatal.
Certamente esta não é uma questão de fácil entendimento pelo cidadão comum. Mas tentar reduzir a opção estatização/privatização à dicotomia maniqueísta do bem contra o mal é, para dizer o mínimo, desonesto. Uma campanha eleitoral deve esclarecer as pessoas sobre os problemas e soluções em relação aos quais elas devem se manifestar com seu voto, e não confundi-las e valer-se da falta de informação em proveito próprio.
Foi o que Dilma Rousseff tentou fazer no debate da Rede Bandeirantes, obedecendo à nova estratégia de sua campanha: partir para o ataque, a qualquer custo. E valeu-se para tanto daquele que o governo petista apresenta como um de seus maiores trunfos em termos da prosperidade futura do País: a exploração do pré-sal, "uma riqueza do povo brasileiro para garantir que a gente combata a pobreza e crie educação de qualidade". Segundo a candidata, "assessores" de Serra defendem a privatização do pré-sal. Ela se referiu explicitamente ao tucano David Zylbersztajn, que foi presidente da Agência Nacional do Petróleo no governo FHC, mas nunca assessorou José Serra. Ele classificou a acusação como "delírio" e explicou que o que defendeu foi o regime de concessão, estabelecido inicialmente pelo governo, contra o regime de partilha que o governo quer agora que prevaleça.
E justificou sua atitude: "(...) acho que, qualquer que seja o governo, ter uma estatal comprando e vendendo petróleo é uma janela para a corrupção." Bem lembrado.

3 comentários:

Rozenbaum disse...

Prezado Paulo Roberto de Almeida,
Como muitos já disseram exaustivamente, sou mais um grande fan do seu trabalho.
Gostaria de saber por que o senhor afirma que o site Governo Brasil Wiki utiliza-se de dados corretos e metodologias adequadas? COmo garantir que esse site não está a deturpar os dados como muitos da campanha petista?
...
Quanto as privatizações das TEles:
http://verbeat.org/blogs/sergioleo/2010/09/a-ideologia-e-a-privatizacao-das-teles.html#more
...
Se as privatizações das teles tivessem sido tão boas assim, por que ainda pagamos umas das mais altas taxas de telefonia celular móvel e de internet banda larga.
...
att
André Siqueira

Rozenbaum disse...

Prezado Paulo Roberto de Almeida,
Como muitos já disseram exaustivamente, sou mais um grande fan do seu trabalho.
Gostaria de saber por que o senhor afirma que o site Governo Brasil Wiki utiliza-se de dados corretos e metodologias adequadas? COmo garantir que esse site não está a deturpar os dados como muitos da campanha petista?
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Quanto as privatizações das TEles:
http://verbeat.org/blogs/sergioleo/2010/09/a-ideologia-e-a-privatizacao-das-teles.html#more
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Se as privatizações das teles tivessem sido tão boas assim, por que ainda pagamos umas das mais altas taxas de telefonia celular móvel e de internet banda larga.
...
att
André Siqueira

Paulo Roberto de Almeida disse...

Andre,
Grato pelo comentario. Vou responder em post completo.
Paulo Roberto de Almeida