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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Iran: primavera iraniana? - Abbas Milani (Newsweek)




NEWSWEEK

Estariam os clérigos iranianos com os dias contados?

Queda de Bashar Assad na Síria pode ter reflexos sobre o regime do Irã

Por Abbas Milani




Newsweek - Iranian Clerics About to Fall?

Os clérigos do Irã estão apavorados. Com a Síria em frangalhos, eles se perguntam se sua aliança com Bashar Assad irá marcar o fim de seu próprio reinado despótico. O regime da Síria tem sido o aliado mais confiável – talvez o único – do Irã no Oriente Médio. Teerã enviou milhões de dólares para manter a Síria sob sua esfera de influência, e nos últimos meses, rumores de forças militares iranianas atuando sob o comando de Assad na Síria começaram a circular.
No entanto, enquanto democratas sírios continuam a surpreender o mundo com sua tenacidade, a longa união entre a Síria e o Irã começa a ruir. As declarações do governo iraniano são contraditórias, e são – ao mesmo tempo – uma tática para confundir o mundo, e um reflexo das enormes cisões e da briga de facções no poder central do Irã.
Inicialmente, o Irã ofereceu apoio ilimitado a Assad. Hoje, o país está recuando. Os clérigos iranianos querem afirmar tanto que a Primavera Árabe foi inspirada por seu modelo islâmico, quanto que a Síria é uma exceção, uma conspiração criada e colocada em prática por Israel e os Estados Unidos. Quando a Turquia, cada vez mais uma rival do Irã na luta por influência no mundo muçulmano, se aliou aos democratas sírios; quando pesquisas em países como o Egito mostraram um declínio na popularidade do regime iraniano; e quando sinais de preocupações entre os sunitas de que os iranianos estejam conspirando para reestabelecer um “Império Xiita” se tornaram cada vez maiores, o regime iraniano começou a se distanciar de Assad.
Afinidades marcam aliança
O Irã e a Síria são parceiros espirituais. Ambos são regimes pseudototalitários que governam em nome de uma ideologia: na Síria, a ideologia do Ba’ath, uma amálgama de fascismo europeu e nacionalismo árabe; e no Irã, a teoria do velayat-e fagih, uma mistura eclética de crenças xiitas na interpretação religiosa da lei e a noção de comando absoluto do rei filósofo, de Platão. Em ambos os países, uma pequena minoria se mantém no poder com o apoio de um sistema de inteligência opressiva, milícia e aparatos militares. Ambos os regimes são minorias xiitas que não contam com a confiança da população em um Oriente Médio dominado por sunitas. Ambos controlaram suas tempestades políticas com a ajuda econômica de forças estrangeiras: no caso da Síria, com o apoio do Irã e de outros Estados árabes; no Irã, por meio de um súbito aumento nos preços do petróleo. Em ambos, o líder vitalício absoluto – Khamenei no Irã e Assad na Síria – foi coroado por meio de golpes e sem eleições populares. Ambos ameaçam e intimidam seus vizinhos apoiando organizações terroristas. Os dois países consideram o Líbano como parte de sua área de atuação e usam o Hezbollah. Como xiitas, eles acreditam no tagiyeh, ou equívoco, um conceito central do xiismo que permite que os piedosos mintam e trapaceiem na defesa de sua fé. Essas afinidades marcam a aliança de 40 anos entre os déspotas do Irã e da Síria.
Agora existem sinais de que por trás do apoio intransigente à Síria, Khamenei e seus asseclas se preocupam com a possibilidade da queda de Assad e suas consequências no Irã. Uma Primavera Síria democrática poderia dar um fim ao longo inverno de despotismo iraniano.

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