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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Mercosul assimetrico: enxugando gelo (e torrando nosso dinheiro...)

Primeiro a notícia, para não acharem que estou exagerando, enganando, ou deformando:

Representante do Mercosul defende revisão em fundo
DCI,29/09/2011

Para diminuir desigualdades regionais e incentivar uma política industrial comum, o alto-representante-geral do Mercosul, o embaixador Samuel Pinheiro, voltou a defender ontem uma revisão do valor depositado anualmente no Fundo Estrutural de Convergência do Mercosul (Focem). O montante é destinado a melhorar a infraestrutura das economias menores do bloco. - A ideia é que as contribuições do Brasil - responsável por 70% do depósito -, da Argentina (27%), do Uruguai (2%) e do Paraguai (1%) somem US$ 200 milhões. O dinheiro deve ser investido em transporte e energia, por exemplo, reduzindo "assimetrias". "Um país que não tem construída sua infraestrutura tem dificuldade de crescimento", constata Pinheiro.

O embaixador disse que não há energia suficiente na Região Norte do Paraguai, apesar de o país ser sócio da Usina Hidrelétrica de Itaipu e que, para reverter problemas como esse, US$ 100 milhões anuais são insuficientes.

Para integrar os países, Pinheiro também defendeu a coesão política no bloco, por meio de uma "harmonização" das legislações, além de "discursos afinados" em negociações internacionais, principalmente com a China. Segundo ele, essas são questões prioritárias, assim como a revisão da contribuição para o Focem, e o estímulo para a entrada da Bolívia e do Equador no Mercosul, como membros plenos no bloco. Pinheiro explicou que as primeiras negociações dependem de uma visita à Bolívia, que está para ser agendada pelas autoridades daquele país.

Agora meus comentários (PRA):

 Parece inacreditável, mas tem gente, no Brasil, no Mercosul (e até fora dele), que acredita que "assimetrias estruturais" serão corrigidas colocando um pouco de dinheiro público aqui, outro tanto ali, e fazendo aquilo que os mercados poderiam fazer melhor, e praticamente sem custos, ou sem despesas para os governos.
Incentivar uma "política industrial comum" significa um pouco mais de dirigismo nas políticas setoriais nacionais, sem a garantia de que elas serão, de fatos compatíveis ente si, concordantes e, mais ainda, integradas além dos ganhos rentistas que elas permitem para os industrias assim beneficiados.
Basta ver o que stá acontecendo com as políticas e regimes automotivos do Mercosul, ou melhor, de cada um dos países membros, para constatar que lobbies empresarias se organizam para barrar a competição e garantir ganhos rentistas em cada mercado e se possível no dos outros. O grau de improvisação, a renúncia à competição, a adesão ao protecionismo mais deslavado são explícitos, implíticos e politicamente estimulados em todos esses países.
Almas cândidas, como a do Alto-Representante (ou seria auto-representante, estricto et lato sensi?) acreditam que dobrando os recursos do Focem, estaríamos caminhando para resolver os problemas dos países membros, das "assimetrias" no Mercosul, e assim teríamos um mundo melhor e uma integração mais perfeito. Basta o Brasil dobrar sua contribuição, para fazer obras essenciais, como essa de prover o norte do Paraguai de energia (que o próprio país tem em abundância), que o panorama seria ainda mais róseo do que nunca foi. Inacreditável: o Paraguai tem muito mais energia do que pode consumir e somos nós, brasileiros, que temos de construir, financiar, doar, linhas de transmissão para que os paraguaios possam ter energia. Certamente se trata de um programa "Luz Para Todos os Paraguaios" que o dito funcionário está convidando os brasileiros a doar de graça aos paraguaios.
Isso para diminuir as desigualdades regionais, quando as desigualdades internas ao Brasil são ainda maiores do que aquelas que existem entre os países do Mercosul.
E o que dizer de "afinar" o nosso discurso com a China nas negociações internacionais? !!!???
Os chineses agradecem e aceitam, sim, que brasileiros e mercosulinos os apoiem nas suas negociações internacionais que eles dirão quais são...
E que tal estimular Bolívia e Equador a ingressarem no Mercosul?
Sem TEC, como para a Venezuela, e cumprindo apenas o que eles desejarem, gostarem, selecionarem?
Que maravilha de Mercosul! Assim todo mundo quer...
Inacreditável ingenuidade de certos "altos" (ou autos?) funcionários...
Paulo Roberto de Almeida

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