Ou quem desembarca de Marte, da Lua, wherever...
Vejamos: o que isto quer dizer?:
"...o governo enfrenta a volatilidade do dólar com tranquilidade, e avisou que “ainda” não foram adotadas medidas extraordinárias para acalmar o nervosismo do mercado."
PRA: O governo vai acalmar o nervosismo do mercado? My God: nosso governo é mais poderoso do que todo o G20 reunido...
E isto aqui?
"Também ainda não compramos dólares em quantidade, porque acredito que as coisas vão se ajustar. Mas estamos prontos, completamente prontos."
PRA: Ou seja: senhores especuladores, preparem-se. Podem vir quentes que eu estou fervendo. Portanto, tragam seus dólares, ao preço que for, que eu compro. Quanto mais melhor. E saibam que se aplicarem em títulos do nosso governo sempre tão generoso, vocês têm direito a uma gorda remuneração, cinco ou seis vezes do que vocês poderiam ganhar em qualquer outro mercado. Portanto, venham, seus felizardos...
E ainda esta aqui, sobre a Grécia?:
"Além de vender o Parthenon, o que mais que ela pode vender? As ilhas gregas? Não acho que essa solução seja correta. Eu não posso te convidar para uma festa de debutantes e não deixar você comer o bolo."
PRA: Bolo? Eu também quero. Mas a Grécia pretende ter o bolo e também comer o bolo? Uau! Essa é mágica, e sempre leio algo semelhante quando analistas abordam algum equívoco econômico, ou seja: comer o pudim e ainda assim ficar com o pudim. Entenderam?
Finalmente, vamos ajudar, mas não contem com o nosso dinheiro...
" 'Uma das nossas responsabilidades é garantir que a economia internacional não tenha um crescimento muito baixo. É uma responsabilidade dos emergentes, porque somos o segmento hoje que segura o crescimento internacional e queremos participar da solução'.
PRA: Eu só gostaria de saber quanto valem esses "recursos políticos". Se a Grécia, por exemplo, quiser resolver definitivamente seus atuais problemas econômicos, com quais, ou quantos, "recursospolíticos" ela pode contar? E o Brasil, não vai dar nenhum?
Perguntas ao léu...
Paulo Roberto de Almeida
Dilma: governo está pronto para agir no câmbio |
Cristiane Jungblut e Fernanda Godoy |
O Globo, 23/09/2011
NOVA
YORK e WASHINGTON. A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que o
governo enfrenta a volatilidade do dólar com tranquilidade, e avisou que
“ainda” não foram adotadas medidas extraordinárias para acalmar o
nervosismo do mercado. Ela deixou claro que o governo está
“completamente pronto” para isso, se necessário. A presidente, que
encerrou ontem a viagem de cinco dias a Nova York, disse que o Brasil
tem que se preparar para a nova fase da crise global, que será de
recessão ou estagnação prolongada.
Dilma disse não
acreditar que a economia internacional sairá da crise adotando mais
medidas recessivas e cobrou uma solução imediata para a Grécia. Sobre a
inflação brasileira, reiterou que a preocupação é constante. Segundo
ela, como o Brasil sofre as consequências indiretas da crise na Europa e
nos EUA, o país tem o direito de discutir as saídas:
—
Não estamos tomando ainda nenhuma medida não usual. São as mesmas
medidas de sempre, como swaps. Também ainda não compramos dólares em
quantidade, porque acredito que as coisas vão se ajustar. Mas estamos
prontos, completamente prontos. Não somos responsáveis pela crise e não
somos aqueles que sofrem a crise diretamente, não há a menor dúvida. Mas
também não se pode alegar que não soframos as consequências indiretas
da crise — afirmou a presidente.
Após conversar
com os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da França, Nicolas Sarkozy, e
com o premier britânico, David Cameron, Dilma disse que a solução para a
crise na Grécia não pode esperar até a reunião do G-20, em Cannes
(França), nos dias 3 e 4 de novembro.
— É
importantíssimo que a prioridade seja dada à solução da crise soberana,
que se constitua um processo de resgate ordenado da Grécia, que delimite
os efeitos e as consequências da situação grega, impedindo que ela
afete outras economias.
A presidente criticou a política da União Europeia (UE) para a Grécia:
—
Não creio em uma saída que obrigue a Grécia, sistematicamente, a fazer
cortes de 20%, cortar todo o seu funcionalismo público, vender o
Parthenon. Além de vender o Parthenon, o que mais que ela pode vender?
As ilhas gregas? Não acho que essa solução seja correta. Eu não posso te
convidar para uma festa de debutantes e não deixar você comer o bolo.
Dilma reiterou que o Brasil está sempre preocupado em combinar crescimento com controle da inflação.
—
Tudo indica que a tendência internacional é deflacionária. Mais cedo ou
mais tarde, essa característica vai ocorrer no mundo. Nossa preocupação
com a inflação é perene. Sempre o nosso olhar está divido entre olhar a
inflação e, ao mesmo tempo, sustentar o crescimento. E combinar essas
duas formas de perceber a questão.
Para Mantega, alta do dólar é aversão a risco
Segundo ela, o país “não pode ficar pregando receituários para o mundo”, mas quer assumir suas responsabilidades:
—
Uma das nossas responsabilidades é garantir que a economia
internacional não tenha um crescimento muito baixo. É uma
responsabilidade dos emergentes, porque somos o segmento hoje que segura
o crescimento internacional e queremos participar da solução.
Dilma
afirmou que o Brasil está disposto a contribuir politicamente para a
solução da crise, mas não dará dinheiro de suas reservas para um fundo
de estabilização:
— Vou muito claramente ao ponto:
o governo brasileiro não acha que nós solucionaremos o problema
europeu, por exemplo, colocando o dinheiro das nossas reservas no fundo
de estabilização, porque não é esse o problema. Nós faremos qualquer
medida que o mundo reparta entre si desde que fique claro qual é o
caminho que querem adotar. Não achamos que a questão é falta de
dinheiro, mas falta de recursos políticos.
Ao
falar sobre guerra cambial, Dilma voltou a criticar a falta de
articulação internacional para a formulação de políticas
macroeconômicas, e criticou as políticas monetária e de juros do Fed (o
banco central americano):
— Mesmo entendendo por
que é importante para alguns países expandirem a sua política monetária e
colocar seus juros a zero, este fato cria uma competitividade indevida.
Enquanto houver esse tipo de procedimento, haverá guerra cambial.
Dilma
disse que a valorização recente do dólar não foi um fato isolado no
Brasil, mas sim um movimento internacional. Já o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, avaliou ontem como um movimento normal a desvalorização
do real em relação ao dólar, como parte de uma aversão a risco:
—
Estamos tendo um movimento paradoxal, porque até recentemente era o
dólar que estava se desvalorizando. Mas quando o risco aumenta, o
movimento é contrário.
COLABOROU Fernando Eichenberg
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