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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O (nao-)fechamento (apenas parcial) do governo americano: coisa boa demais para ser verdade...

Esta tarde viajando de carro, visitando museus e almoçando em restaurantes entre Albuquerque e Santa Fé, no Novo México (onde estou agora), concedi uma entrevista por e-mail via iPhone a um jornalista do Correio Braziliense, que estava todo preocupado com o que ele chamou de "paralização" do governo americano, e queria saber o que eu achava, inclusive do possível calote do governo em relação ao pagamento de juros da dívida dos Estados Unidos.
Contrariamente, talvez, ao que ele esperava, disse que achava tudo isso bom, aliás ótimo, pois seria a primeira vez na história econômica dos últimos 80 anos que o keynesianismo seria realmente testado na prática, ou seja, pela primeira vez teríamos um governo reduzido às suas funções essenciais (na verdade, bem mais do que isso, infelizmente).
Disse a ele primeiramente o seguinte (e transcrevo da mensagem canhestra que redigi rapidamente do meu iPhone, enquanto comia uma tortilha com salmão grelhado, e uma cerveja Pale Ale de Santa Fé, no museu de arte e cultura indígena do Novo México, ao lado do museu internacional do folclore, ambos devidamente visitados):

"Acredito, sinceramente, que se trata de uma crise extremamente saudável, tanto do ponto de vista da democracia, como no da economia. E veja que nisso eu devo discrepar da maior parte dos observadores e, provavelmente, de 99% da imprensa brasileira.
Saudável porque confirma que numa democracia plena os representantes do povo dispõem de total autonomia para discutir e aprovar um orçamento, sem pressões indevidas do Executivo. O Congresso americano tem total independência em relação às politicas do Executivo e é soberano em matéria de moeda e finanças, o que NUNCA ocorreu no Brasil. Isto que acontece nos EUA é muito bom para qualquer regime democrático digno desse nome. 
E também é muito saudável do ponto de vista da economia, pois pela primeira vez em 70 anos estamos assistindo a um teste real, um laboratório vivo, sobre as politicas keynesianas. Estamos muito acostumados no Brasil, e também nos EUA, nos últimos anos ou décadas, a uma presença extremamente forte do Estado na economia. Ele agora está sendo reduzido a suas funções essenciais e deixando o supérfluo de lado. 
Nao pude visitar o Grand Canyon, como planejei, mas observo que esse parque, como todos os demais, nacionais, não precisariam fechar: bastaria cobrar entrada, sem subsídios, para o seu funcionamento. Os parques da Disney não fecham, certo? Por que os parques nacionais deveriam fechar? Basta fazer como a Disney. 
Todo o país está funcionando. Só o supérfluo está fechado e isso é mito bom para a economia, para os gastos públicos e tudo o mais. Pela primeira vez, o Estado keynesiano está sendo testado na prática e isso raramente ocorre em economia. Se trata de uma oportunidade excepcional não só para a historia econômica como para as politicas econômicas. Podemos sobreviver com menos Estado e o Brasil deveria aprender com essa experiência americana."

Depois o reporter manifestou o temor de que o governo americano se visse obrigado a dar um calote no pagamento de sua dívida externa. Respondi isto:

"O Tesouro não vai dar calote na divida, o que é verdadeiramente uma pena. Deveria fazê-lo, pelo menos uma vez. Economia real deveria ser assim, com o Estado impossibilitado de abusar de suas prerrogativas de jogar a dívida para cima da população."

Como ele ainda manifestasse a ideia que isso seria prejudicial ao Brasil -- "O problema nisso seria a grande incerteza que esse calote geraria em todo o mundo, inclusive no Brasil. Nós somos o terceiro maior credor dos Estados Unidos. Ou seja, no money for us", escreveu ele --, eu respondi isto:

"Ou seja, o Brasil financia os EUA, portanto. Você acha isso normal? Você sabe qual é o custo fiscal das reservas brasileiras, investidas em Treasury bonds? Essa loucura custa pelo menos 30 bilhões de dólares por ano, que é a diferenca entre o que o nosso Tesouro paga de juros pelos títulos da divida pública, que é obrigado a contrair para poder comprar dólares, e os juros baixíssimios que recebe pelos T-bonds (praticamente dez pontos de diferença; como as reservas são de quase 400 bilhões, veja quanto custa). Se trata de uma loucura e de um crime econômico.
O Brasil, aliás, não é um país normal, com reservas muito acima do necessário, e mal aplicadas.
Em suma, penso que um calote americano seria muito salutar para o mercado de créditos internacional, pois restabeleceria algumas verdades há muito esquecidas."

Como ele insistia em saber como essa "paralisia" (que não existe) estava prejudicando a minha viagem, resumi o que pensava ao terminar o meu almoço, no Museu do Índio de Santa Fe, totalmente aberto por ser estadual':

"Não tenho enfrentado problema nenhum e acho que os EUA podem descobrir que podem viver com menos Estado.  É até saudável para as contas públicas e para o bolso do cidadão contribuinte.
Repito: a experiência é interessantíssima e muito valiosa. Pena que tudo pode voltar ao normal dentro de mais alguns dias, com o retorno do peso do Estado em todos os lados. 
A sociedade poderia viver melhor, mais leve e com menos impostos. 
O Brasil, infelizmente, tem suas possibilidades de crescimento diminuídas pelo peso do Estado e dos tributos excessivos. O brasileiro não sabe o que é ser livre e tem de entregar quase a metade do que ganha a um ogro famélico, que gasta mais consigo mesmo do que fazendo investimentos produtivos. 
Quem sabe os EUA podem indicar um outro caminho?
Ma não acredito que isso aconteça, mas seria extremamente saudável"
Paulo Roberto de Almeida 
Santa Fé, 3 de Outubro de 2013

PS.: Leiam abaixo o que vocês jamais lerão na imprensa brasileira:


The Shutdown That Wasn’t
Cato Institute, October 3, 2013

If you had plans to visit Yellowstone National Park, you’re out of luck until the government reopens. However, the NSA will continue to track our private conversations, the military will continue to expend blood and treasure protecting the interests of wealthy allies,
and the federal entitlement system that’s the source of our future fiscal imbalances will continue to pump out the checks

So what’s all this about a “shutdown”? 
Cato scholar Tad DeHaven sums it up: “While it is true that some of the federal leviathan’s tentacles will take a brief respite, its reach into practically every facet of our lives will continue largely uninterrupted.”
A Hundred Years of Income Taxes
The modern income tax was signed into law by President Woodrow Wilson exactly 100 years ago today, October 3, 1913. Unfortunately, it turns out defining “income” is a tricky matter, and liberal and conservative economists and policymakers have never agreed on how to do it. The many economic interest groups affected by the tax have different views as well. The result of all the disagreement is that we’ve had a constantly changing and increasingly complex tax code.

"After a century, it’s time to scrap the income tax and replace it with a consumption-based flat tax," says Chris Edwards, director of tax policy at the Cato Institute.
Immigration Reform — Learning From Our Past
Forty-eight years ago, President Lyndon Johnson signed the Immigration Act of 1965, the most comprehensive immigration reform in generations. Now, decades later, Congress is contemplating another serious immigration reform that would legalize millions of unauthorized immigrants and allow for increased legal immigration going forward.

"It is often said that we should learn from history, and immigration reform is no exception," says Cato Institute immigration policy analyst Alex Nowrasteh. "A look back at the 1965 Act can inform today’s debate."

Um comentário:

Ruy Lima disse...

Sobe essa questão do imposto de renda, muito oportuna essa ideia do Sr. Chris Edwards, diretor de política fiscal do Instituto Cato:substitui-lo por um imposto fixo baseado no consumo, embora já exista o ICMS (no caso do Brasil). A incidência do imposto de renda sobre o salário é uma coação institucionalizada, um confisco da renda do assalariado pelo governo. Enviei mensagem à presidente Dilma - nunca recebi resposta, com cópia para o saudoso Joemir Beting (que a publicou na sua coluna)- pedindo que não houvesse correção no imposto de renda a pagar, após a apresentação da declaração anual, para quem teve renda exclusiva de salário, aposentadoria e pensão, ou que a correção não fosse pela SELIC e sim, de acordo com os reajustes salariais da categoria. Também seria interessante que o pagamento fosse efetuado em maior número de parcelas, ao invés de 8. Para se ter uma ideia, faz 7 meses que só recebo 50 por cento do meu salário líquido. Fora o plano de saúde, o maior vilão é esse maldito imposto de renda que me obriga a pedir empréstimos nos bancos.