Transcrevo abaixo um testemunho pessoal sobre o IPEA, esse NBER sobre-dimensionado e compatível com a super-estatização brasileira, do economista e funcionário do IPEA Mansueto Almeida.
Sempre achei que esse jornaleco de esquerda, e simpatizante das causas estatais de maneira geral, deveria mudar de nome, e se chamar qualquer outra coisa que não Carta Capital, o que denota certa identificação ao próprio, certo? Pois não é exatamente o que se vê, mas uma oposição constante, tanto ao capital, quanto ao sistema que está identificado ao nome...
A revista Carta Capital fez uma matéria sobre o IPEA, o tipo de matéria para criar intrigas e cujas as fontes têm medo de falar em “on”. A revista poderia ter falado com os técnicos que cita em “on” e nós poderíamos ter falado, confirmado ou não as declarações que a nós foram imputadas pelo jornalista.
No meu caso específico, o repórter mostra que “eu ando me gabando no IPEA de escrever discursos para o candidato Aécio Neves. Quem escreve discurso de candidato são marqueteiros e não economistas. Eu teria que ser muito idiota e burro para fazer uma declaração desse tipo. O que falei muitas vezes é que gosto do time de economistas por trás do programa do Senador Aécio Neves (também gosto do time que ajuda Eduardo Campos/Marina), que já conversei com o candidato Aécio Neves e sim, conheço o senador Aécio Neves. Mas conheço e converso com outros políticos, inclusive de uma ala do PMDB que é da base de apoio do governo e com um grupo do PT que acha que o partido está fazendo tolice na área econômica. Mas vamos para o que interessa.
O IPEA está longe de ser uma casa liberal como insinua a matéria. Basta ler que, na chamada “imprensa liberal”, o IPEA sofre constantes ataques, muitos dos quais injustos, por defender o governo. Vamos dar uma olhada nos titulares das diretorias do IPEA.
O Diretor de Macroeconomia, Claudio Hamilton, foi na era Pochmann coordenador-geral de finanças públicas e, na gestão Marcelo Neri, foi promovido a Diretor. Ou seja, Neri promoveu um pesquisador da casa que já era coordenador na gestão Pochmann e que não compartilha de teses liberais como ele fala abertamente. É um pesquisador da casa e de fácil diálogo.
O diretor da Diretoria de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais (Dinte), o economista Renato Baumann, foi por anos o chefe do escritório da CEPAL em Brasília. Será que alguém de bom senso ou com conhecimento básico de economia chamaria Baumann de neoliberal? Baumann foi por muitos anos o chefe do Ricardo Bielschowsky na CEPAL, um economista da UFRJ da ala desenvolvimentista que participou fortemente da elaboração do PPA no primeiro governo Lula. Baumman é do grupo de economista que acredita na necessidade de fomento à indústria e no apoio do governo à exportação. Alguém com esse perfil seria classificado de liberal?
O diretor de Estudos e Políticas Sociais (Disoc), Rafael Osório, é um técnico jovem que trabalha no IPEA há anos e que tem um bom relacionamento com todos os técnicos no instituto. Rafael quando ainda técnico contribuiu com o governo na definição de linha de extrema pobreza e sempre foi um técnico excessivamente preocupado com o resultado técnico das pesquisa e não com “desavenças ideológicas”.
A diretora de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset), Fernanda De Negri, estudou em Campinas, foi assessora de dois Ministros da Ciência e Tecnologia: Aloisio Mercadante e Marco Antonio Raupp. Ela é uma forte defensora de política industrial voltada à inovação e de avaliação de politicas públicas. Ela é minha chefe e sabe tanto estimular o trabalho quanto puxar a orelha quando agente precisa de um bem vindo puxão de orelha. Fernanda estimula o debate técnico interno e aumentou a interlocução o IPEA com outros órgãos da Esplanada dos Ministérios. Ela liberal? nunca, só se liberal tiver para Carta Capital uma definição muito peculiar de quem não defende Márcio Pochmann.
Bom, vamos agora para a Diretoria de Estudos Institucionais (DIEST). Eu me dou muito bem com o antigo diretor da área na era Pochmann, Alexandre Gomide, um técnico competente que inclusive me convidou para fazer trabalhos na DIEST que serão publicados agora. Um texto que escrevi com dois co-autores procurar entender o desenho de politicas industriais em um contexto mais democrático, a partir de dois estudos de caso: o papel do BNDES e Petrobras. O Diretor atual, Daniel Cerqueira, é pesquisador do IPEA e um estudioso na área de segurança pública. Nunca soube ou escutei Daniel defendendo redução do tamanho do estado ou maior abertura comercial, etc. teses identificadas como “liberais”. Daniel é um liberal? Acho que não, mas é muito inteligente e competente.
Bom, estou terminando, só falta eu comentar sobre duas diretorias. A Diretoria de Desenvolvimento Institucional, cujo titular é Luiz Cezar Loureiro de Azeredo, é uma diretoria que cuida de assuntos administrativos. Luiz Cezar tem feito um grande esforço para recuperar a capacidade de planejamento na instituição.
Por fim, tem a Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais, cujo o titular é o economista Rogério Boueri, também técnico da casa. Rogério é sim um liberal, mas que se destaca por duas qualidades: (i) respeita opiniões divergentes da sua; e (ii) é extremamente discreto e faz o seu trabalho quem quer que seja o seu chefe e não gosta de muita publicidade. É um dos melhores pesquisadores da casa e adora o Botafogo.
Infelizmente, um grupo muito pequeno na gestão Márcio Pochmann tentou fazer do IPEA um órgão de propaganda. É um grupo inclusive que não aceitava muito bem o fato de o PT ter escolhido a presidente Dilma como candidata. A gestão Marcelo Neri está recuperando a gestão do IPEA com respeito a opiniões divergentes.
Depois de muito tempo, perdemos o medo de ter nossa carreira comprometida por falar o que pensamos e o que nossas pesquisas mostram ao invés do que “deveria ser o resultado da pesquisa”. E ao contrário do que sugere a revista, que eu seria um coordenador com amplos poderes, eu não tenho nenhum subordinado e nenhum estagiário. Ou seja, sou coordenador de mim mesmo sem equipe. A influencia que tenho é porque escrevo via meu blog e jornalistas, economistas, estudantes, etc gostam. Escrever é livre e sugiro aqueles que defendem irresponsabilidade fiscal, uma lista grande dentro e fora do governo, a fazerem o mesmo. É livre!!
Não tenho absolutamente nada contra Márcio Pochmann e até simpatizo com algumas de suas idéias (apesar de eu ser segundo a revista um liberal). Mas no seu mandato no IPEA no governo Dilma (na sua gestão no governo Lula, os problemas foram pequenos) alguma coisa deu errada e o ambiente de trabalho ficou insuportável. A Carta Capital poderia fazer algo interessante. Por que não convida técnicos do IPEA para um debate sobre o IPEA nos últimos 15 anos? Sei que nós técnicos poderíamos contar vários casos e contribuir para que os órgãos de impressa passassem a conhecer melhor o IPEA, que é uma casa cuja direção voltou a respeitar a pluralidade de opinião com foi, inclusive, a tradição da casa na sua história, inclusive, ao longo do governo do Presidente Lula.
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