Há muito tempo, desde Noé, mais ou menos, que este blog vem colocando o dedo na ferida dos principais problemas brasileiros, mesmo quando a maior parte dos observadores -- The Economist, inclusive -- achava que o Brasil estava decolando, ou navegando em mar de brigadeiro.
Inflação inaceitavelmente alta, para qualquer padrão que se tenha; contas públicas acumulando desequilíbrios crescentes, sendo maquiadas vergonhosamente pelo governo; balanço de pagamentos acumulando déficits crescentes de transações correntes, e investimentos se retraindo, insuficientes para cobrir os buracos que vão se acumulando.
O governo pretende que seu endividamento público é menor do que o de países ricos. Mas quem paga juros de 10% na média? Quem depende dos famosos capitais especulativos para fechar suas contas como o Brasil?
O governo só faz... (vocês completem com o que acharem mais indicado).
Mas essa é apenas a parte econômica, que, finalmente, pode ser corrigida entre 3 e 6 meses, bastando mudar as políticas econômicas e esperar o resultado entre um ano e dois. Essa é a parte fácil.
A parte difícil seria corrigir as mentalidades deformadas, que são as responsáveis por esses erros de políticas econômicas. Sim, porque os keynesianos de botequim do governo, do mais baixo ao mais alto escalão, estão convencidos de que estão fazendo tudo certo, e ainda estimulando a economia com as medidas anti-cíclicas.
A outra parte ainda mais difícil é inverter a deterioração das instituições, já que o Executivo abastardou os outros poderes, e corrompe abertamente o processo legislativo, inclusive aprovando leis ilegais (pois é) e medidas inconstitucionais. O governo, como sempre digo, é o principal fora-da-lei neste país: não sou eu quem diz: basta ver os casos no STF.
Uma outra, finalmente, é praticamente impossível corrigir, pois está entranhada de tal forma na cultura brasileira que vai demorar muitos anos antes de revertermos o desastre. Se trata da miséria educacional do Brasil, sob a influência das saúvas freireanas, os pedagogos que acham o idiota do Paulo Freire o máximo e que continuam imbecilizando crianças e adultos com um ensino muito pior do que sequer ousaríamos imaginar (com a cumplicidade das máfias sindicais de professores).
Sou pessimista?
Acho que não, apenas realista...
Paulo Roberto de Almeida
Dilma e a imagem do Brasil
15 de outubro de 2013 | 3h 15
O Estado de S.Paulo
A mistura de baixo crescimento, inflação alta e contas públicas em deterioração, resumo da obra econômica da presidente Dilma Rousseff, começa a prejudicar a imagem do País, como se viu na semana passada, na reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington. Ninguém chamou o governo de irresponsável ou incompetente, mesmo porque funcionários de organizações multilaterais são normalmente polidos e diplomáticos. Mas os danos causados à economia brasileira pelos erros acumulados nos últimos anos foram citados mais de uma vez, e da maneira mais contundente: apenas como fatos claros e bem estabelecidos, sem retórica política e sem juízos de valor. Nem as expectativas de melhora chegam a ser entusiasmantes. Se forem retomados de fato os investimentos em infraestrutura, o País crescerá, em média, 3,5% nos próximos cinco anos, bem menos e de modo menos equilibrado que os vizinhos sul-americanos mais dinâmicos.
Todos os países emergentes perderam um pouco do encanto dos últimos anos e para todos sobrou alguma recomendação, poderiam lembrar as autoridades brasileiras. Mas nem esse consolo vale muito. Vasculhando as tabelas, comentários e projeções, é difícil de encontrar uma conjunção de problemas tão perigosa quanto no caso brasileiro. O Brasil é citado três vezes na agenda política apresentada pela diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, ao Comitê Monetário e Financeiro, o órgão político mais importante da instituição. As três citações são negativas.
O País é mencionado pelas pressões inflacionárias preocupantes, pelo alto endividamento do setor público e pela necessidade urgente de investimentos em infraestrutura. As pressões inflacionárias deixam pouco ou nenhum espaço para estímulos monetários ao crescimento - um recurso disponível em países com inflação contida em níveis toleráveis.
Todas as sugestões e análises vão no sentido oposto ao da política formulada em Brasília nos últimos anos. Seria um erro, já haviam indicado outros documentos do FMI, recorrer a novos estímulos ao consumo, porque os limites ao crescimento estão do lado da oferta. Analistas vinham chamando a atenção para isso, no Brasil, pelo menos desde o ano passado. Agora o problema é discutido no mais importante foro internacional.
Os problemas fiscais são igualmente visíveis, num ambiente marcado pelo crescimento constante do custeio público, pela transferência de grandes volumes de recursos do Tesouro para bancos federais e pelo endividamento crescente.
Pelas contas do Fundo, a dívida pública brasileira equivaleu a 68% do PIB no ano passado, deve chegar a 68,3% neste ano, atingir 69% em 2014 e, a partir daí, declinar lentamente. A dívida projetada para 2018 corresponderá a 66,7% do PIB. A dívida bruta média dos emergentes foi estimada em 35,2% do PIB no ano passado e deve ficar em 34% em 2013. A dos latino-americanos ficou em 52% em 2012.
O governo brasileiro calcula sua dívida por um critério diferente do usado pelos economistas do FMI, mas, ainda assim, os números encontrados são muito maiores que a média dos emergentes. A dívida bruta no fim do ano passado, segundo as contas de Brasília, foi de 58,7%. Em agosto, chegou a 59,1%.
A presidente Dilma Rousseff e seus ministros costumam confrontar a dívida brasileira com os níveis encontrados no mundo rico, em média superiores a 100% do PIB. Mas a comparação só pode convencer os desinformados. O Brasil é um país emergente e convém comparar seus números com os de outros países da mesma categoria. Além disso, bastaria confrontar as classificações de risco para avaliar com mais realismo as condições do Brasil e as dos países mais avançados.
A recuperação da imagem do Brasil foi conseguida com ajustes muito trabalhosos nos anos 90, completados com a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal em 2000. A imagem de seriedade permaneceu durante a maior parte dos últimos dez anos, mas a erosão é evidente. Retórica populista pode funcionar no País e para um público determinado. O público externo - e isso inclui os investidores - é muito mais exigente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário