Comentar o que? Rigorosamente, nao há nada, absolutamente nada a comentar. A rigor, haveria, mas o bom senso indica que é melhor ficar calado...
Paulo Roberto de Almeida
Pobreza de ideias
Galináceos,
bovinos e suínos são por enquanto os beneficiários mais prováveis dos
planos e roteiros de cooperação acertados na semana passada com
representantes da União Europeia (UE), em reuniões em Brasília e
Santiago. Os bichos continuarão sendo sacrificados, porque o transporte
de animais vivos em longas viagens perdeu muito de seu encanto depois da
aventura na Arca de Noé. Mas serão mortos com boas maneiras, depois de
uma vida mais confortável e com menos estresse, se for aplicado o
Memorando de Entendimento Administrativo na Área de Bem-estar Animal
entre o governo brasileiro e a Comissão Europeia. Quanto ao Arranjo de
Cooperação Científica e Tecnológica, provavelmente produzirá resultados
tão chochos quanto os anteriores, exceto na retórica oficial. O acordo
sobre picanhas, costelinhas e coxinhas será de certo implementado com
mais empenho e acompanhado com mais atenção, porque assuntos sanitários
afetam o comércio e são um pretexto fácil para protecionismo.
A
mesma pobreza de ideias e compromissos marcou as reuniões do pessoal da
União Europeia, em Santiago, com representantes da Comunidade de
Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e do Mercosul ou sua
parte remanescente. Em seu discurso de sexta-feira, na abertura do
encontro Celac-UE, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, empenhou
todo o seu talento - e com inegável sucesso - para evitar qualquer ideia
original, interessante ou prática.
Ele falou sobre o valor
de uma "nova aliança estratégica para balizar o futuro", lembrou a
importância econômica do bloco europeu e perorou sobre a "cultura
milenar" da Europa e o compromisso da região com a liberdade, a
democracia e os direitos humanos. Faltou, talvez, alguma palavrinha
sobre os objetivos, limitações e outros aspectos práticos de um acordo
comercial.
Dar prioridade a um acerto de livre comércio
entre Mercosul e União Europeia seria a decisão mais prudente e com
maior possibilidade de êxito neste momento. Um entendimento mais amplo,
com toda a Celac, poderia ser discutido mais facilmente em seguida.
Mais
limitada, a negociação inicial, entre União Europeia e Mercosul,
envolveria dois blocos razoavelmente estruturados, pelo menos em termos
formais, e seria possível aproveitar a experiência da negociação
iniciada em 1999. Houve vários impasses, a tentativa foi quase enterrada
em 2006 e um novo compromisso de retomar o projeto foi formalizado em
2010. Em março do ano passado, representantes dos dois blocos
concordaram em cuidar da definição de questões normativas necessárias
para um novo exercício de troca de ofertas. A definição dessa prioridade
parece inevitável, se os negociadores tiverem pelo menos um pouquinho
de juízo.
Mas juízo continua sendo um insumo escasso na
América Latina e especialmente no Mercosul. Na quinta-feira, enquanto
ocorria a Cúpula Brasil-União Europeia, em Brasília, circulava em Buenos
Aires a notícia de uma nova encrenca regional. O governo argentino
voltou a dificultar a importação de carne suína brasileira. Foi o
terceiro recrudescimento desse conflito em um ano, em mais uma violação
dos compromissos de normalização do comércio regional.
Governo
e empresários argentinos, cada vez mais protecionistas, têm dificultado
qualquer compromisso de liberalização de mercados. Tiveram papel
significativo no abandono da Rodada Doha, entravaram qualquer acerto com
os europeus e criam obstáculos ao funcionamento do próprio Mercosul.
Além disso, Christina Kirchner já mostrou sua disposição: o Mercosul,
segundo ela, só poderá negociar com os europeus depois da eleição no
Paraguai, em abril.
A própria Kirchner liderou, no ano
passado, a suspensão do Paraguai como membro do Mercosul. Agora usa o
país como pretexto para bloquear a discussão de um acordo. De repente, a
opinião paraguaia é importante para a senhora Kirchner. Em 2012, essa
opinião foi silenciada para facilitar o ingresso da Venezuela
bolivariana. Por que os europeus, afinal, insistem no acordo com essa
gente?
2 comentários:
alvez o comentário é que estamos vendo o longo adeus para os grandes chamados "livres" burocracias comércio.
O acordo recente entre a Argentina eo Irã é um acordo bilateral. E o grande negócio Brasil-China de soja vale US $ 10 bilhões é também bilateral.
As burocracias comerciais precisam de reforma e transparência do orçamento assim como os militares, ministérios, organizações não governamentais. Bilateral poderia tornar-se a nova norma. E no Brasil, especialmente se ele quer validar a previsão FMI que vai ultrapassar a França como quinta economia maior do mundo até 2015.
Parceria estratégica Brasil-França: é só ver a ponte do Oiapoque
Parceria estratégica Brasil-UE: talvez nunca se viu fracasso diplomático igual
Acordo de livre-comercio Mercosur-UE: nem falar
Geisel e Vargas matavam mas faziam. Essa gente roba e faz nada.
E infelizmente, Patriota tem a cara, mas não é um terminator como Sergueï Lavrov, e por isso nao vejo o Itamaraty sair sain et sauf desse Waterloo protecionista.
Postar um comentário