Caro leitor: veja estes dois anúncios do novo valor do salário mínimo e escolha o que você acha correto e o que você acha equivocado:
Novo mínimo de R$ 724 vai adicionar R$ 28,4 bi à demanda em 2014 (Dieese)
Correto [ ] Equivocado [ ]
Novo mínimo de aumenta o índice de inflação na economia (Paulo Roberto de Almeida)
Correto [ ] Equivocado [ ]
Pois é, eu concordo comigo mesmo, e acho que o mais provável que vai acontecer é a segunda hipótese.
Vejamos, num exercício intelectual-econômico, os resultados do primeiro.
O que significa " adicionar" aquele valor na demanda?
Significa que os trabalhadores, pagos pelo mínimo, ou com salários referenciados ao mínimo, vão receber um valor adicional nos seus contracheques.
Significa que a economia vai passar a "trabalhar" com essa quantidade de dinheiro a mais, correto?
Mas, se os patrões -- empresários ou famílias, não importa muito aqui -- não emitem dinheiro, e não tiveram os seus próprios valores de mercado reajustados nessa proporção, como é que eles vão pagar esse adicional aos seus empregados, domésticos ou empresariais?
Bem, existem algumas hipóteses: (a) diminuindo o seu lucro, ou o seu próprio retorno no negócio (faturamento), no caso das empresas; (b) diminuindo a sua própria renda disponível para consumir, no caso das famílias; (c) aumentando a produtividade dos empregados no caso das empresas; (d) deixando de assumir elas mesmas certas despesas que incumbiriam aos empregados, como a seguridade social, por exemplo, que as famílias que empregam domésticas geralmente fazem; (e) aumentando o valor dos bens ou serviços que vendem, no caso das empresas; (f) deixando de ter empregados fixos, e passando a diaristas, ou simplesmente suprimindo o apoio doméstico, no caso das famílias.
No caso dos governos -- União, estados e municípios, agências públicas -- que também precisam pagar mais seus empregados, os aposentados e pensionistas, determinadas despesas indexadas ao mínimo, como fazer para cobrir esse adicional?
Bem, o governo federal, e apenas ele, pode emitir dinheiro, mas isso é inflacionário, concordam?
Então, ele, a exemplo dos empresários e famílias tem de tirar de algum lugar, certo?
Eis aqui algumas hipóteses: (a) mais impostos, ou adicional nos existentes, como o governo acaba de fazer com o IOF sobre cartão de crédito no exterior (mas por outros motivos, de balanço de pagamentos); (b) tirando dinheiro de investimentos, ou de outros gastos, para pagar o adicional do salário mínimo; (c) fazendo dívida pública.
Vejam que no primeiro bloco não existe criação de dinheiro, apenas transferência de alguns (os empresários, as famílias), para outros (os trabalhadores). Como é que se fala então de adicional na economia? Não existe adicional, e sim mera transferência de uns para outros.
No segundo bloco, o do governo, pode sim haver adicional, mas como não é o governo que produz bens ou serviços para a população, e que tudo o que ele oferece ele tira antes por meio de impostos da sociedade, então, o que existe é igualmente uma mera transferência de uns para outros, dos pagadores de impostos para o governo, que estabelece suas prioridades de gastos.
Se o governo imprimir dinheiro, vai causar inflação, o que deixará os trabalhadores ainda mais pobres, ou seja, com menor poder de compra.
Reparem que se não existisse o salário mínimo, e se todos discutissem quanto querem receber e quanto podem pagar, a economia não teria praticamente desempregados, pois todos encontrariam uma maneira de trabalhar e de receber de comum acordo com o jogo da oferta e da procura.
O salário mínimo, na verdade, aumenta o desemprego e cria déficits orçamentários.
Uma economia livre é sempre melhor do que uma economia regida por decretos e por burocratas.
Sim, leitor, pode ter certeza, esse novo valor do salário mínimo vai aumentar a inflação, diminuir o nível de emprego na economia e aprofundar um pouco mais o déficit público, que teremos de pagar sob a forma de mais impostos ou mais inflação.
Qual a sua escolha?
Paulo Roberto de Almeida
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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