Biblioteca Nacional exibe mostra
sobre a Revolução Pernambucana de 1817
Data: 11/5/2017 a 15/8/2017
Período e horários: segunda a sexta, das 10h às 17h; sábado,
das 10h30 às 15h
Há exatos 200 anos, o Brasil vivia seus primeiros dias de
república, muito antes de Deodoro da Fonseca ter destituído D. Pedro II e
assumido o governo. Era 1817 e um grupo de intelectuais, incluindo alguns
religiosos, instituíram o primeiro governo republicano no Brasil, em
Pernambuco. Mas D. João VI, então Rei do Brasil, Portugal e Algarve, reprimiu
com força o movimento, que durou apenas 75 dias. No mês de maio daquele ano, os
líderes da “Revolução Pernambucana”, a primeira com caráter separatista,
considerada o berço da democracia brasileira, foram derrotados e executados
pelo crime de lesa-majestade; o governo provisório revolucionário foi
dissolvido e Recife, evacuada.
Imagem da exposição Pernambuco 1817, a Revolução.
É uma história pouco conhecida, mas muito
estudada pelos grandes historiadores. A Biblioteca Nacional, depositária da
mais completa coleção de livros, mapas, manuscritos e documentos icnográficos referentes
a esta revolução, mostra ao público pela primeira vez parte desse acervo, na
exposição “Pernambuco 1817, a revolução”, a partir de 10 de maio. O ministro da
Cultura, Roberto Freire, estará presente à abertura, a partir das 18h30.
Para ele, a revolução pernambucana de 1817
traz à nossa memória a ideia de que a República deve vicejar em prol de todos.
“Duzentos anos depois, rememoramos esse evento porque, como republicanos que
somos, sabemos das nossas responsabilidades com o estado atual da nossa República.
Como eles e tantos outros, desejamos que os recursos públicos sejam aplicados
para o bem-estar geral de todos e não apropriados por apenas alguns
privilegiados, por qualquer razão que seja”, afirma Roberto Freire.
Segundo Helena Severo, presidente da
Biblioteca Nacional, expor estas preciosidades da história do Brasil faz parte
do compromisso irrevogável da instituição de democratizar o acesso à produção e
difusão da memória histórica brasileira.
“O precioso conjunto de manuscritos
referentes à devassa do movimento foi transcrito e estudado por José Honório
Rodrigues. O material foi publicado na série “Documentos Históricos”, em 1954,
quando o historiador dirigiu a Divisão de Obras Raras, prestando um serviço de
grande valor à divulgação de grandes corpos de fontes documentais e de
reinterpretação do significado dessa insurreição inspirada no ideário liberal.”
A exposição
A historiadora Maria Eduarda Marques,
diretora do Centro de Cooperação e Difusão da Biblioteca Nacional e curadora da
exposição, explica que ela será dividida em dois setores básicos: o que que
ficará exposto nas galerias externas do terceiro andar será composto por
imagens relativas aos principais personagens e à paisagem sócio cultural de
Pernambuco daquele momento. “São reproduções de flores de algodão, que alude
aos plantadores de algodão que apoiaram o movimento, e de engenhos de açúcar,
porque parte da açucarocracia também apoiou o movimento, entre outras imagens”,
explica.
O segundo setor acontece dentro do gabinete
de Obras Raras, porque ali estarão expostos os documentos, manuscritos e
impressos originais e também as publicações de época e atuais relativas ao tema
da revolução.
“A BN guarda a mais importante coleção
existente sobre este movimento que instalou a república por mais de 70 dias
durante o reinado de D. João VI. A revolução de 1817 é considerada uma
precursora da independência conquistada em 1822. Guardamos aqui,
portanto, o documento da chama Lei Orgânica, considerada a primeira carta
constitucional do Brasil feita por brasileiros. O documento instala o regime
republicano, preconiza os direitos humanos e a liberdade de imprensa. Também
será exposto o chamado “Preciso”, importante manifesto expedido pelo governo
provisório que explicava à população sobre o movimento. Este foi o primeiro
documento impresso pela tipografia pernambucana, considerado um passo
importante para a afirmação do movimento. É importante notar que a Biblioteca
Nacional tem todos os autos da devassa que vitimou pelo menos seis líderes
revoltosos. Foram enforcados e depois esquartejados em praça pública”, explica
Maria Eduarda, complementando que, além dos manuscritos, estarão expostos mapas
e um conjunto de imagens iconográficas originais de Recife e de Pernambuco do
início do século XIX, inclusive a bandeira dos revoltosos, adotada
posteriormente como a bandeira oficial do estado.
A revolução
A revolução de 1817 foi um dos mais sérios
movimentos enfrentados pela Coroa portuguesa sediada no Rio de Janeiro, pois
ameaçou a consolidação do projeto de construção do grande império unitário
luso-brasileiro. D. João VI reprimiu-a com rigor e violência, enviando para
Pernambuco tropas terrestres e navais para combater os insurretos que
instalaram na província um governo provisório separatista.
Durante os 75 dias de vigência daquele novo
poder, o sistema tributário foi reformulado, a primeira polícia brasileira foi
criada e o monopólio dos mascates portugueses no comércio de alimentos foi
extinto. Foi também decretada a alforria dos escravos alistados no exército,
considerado o primeiro ato abolicionista do brasil.
No início do século XIX, Pernambuco era a
capitania mais rica do Brasil colônia - Recife e Olinda tinham juntas cerca de
40 mil habitantes. Do porto do Recife escoava a produção de açúcar e de algodão.
A sociedade recifense participava, desde o século XVIII de sociedades secretas,
como as lojas maçônicas. As ideias liberais que ali chegavam através de
estrangeiros e de livros, e as iluministas, propagadas pelas sociedades
maçônicas foram insuflando a ideia de se formar uma república. Aliado a tudo
isso, os enormes gastos da família Real e seu séquito instalados no Rio de
Janeiro revoltavam os pernambucanos, obrigados a enviar para lá grandes somas
de dinheiro para bancar as festas, os salários e todos os outros gastos da
Corte.
Dentre as principais causas da revolução,
pode-se destacar:
- A presença maciça de portugueses na liderança do governo e na administração pública;
- A criação de novos impostos por Dom João VI provocando a insatisfação da população pernambucana.
- A grande seca que havia atingido a região em 1816 acentuando a fome e a miséria e ocasionando uma queda na produção do açúcar e do algodão, e que começaram a sofrer concorrência do algodão nos Estados Unidos e do açúcar na Jamaica;
- As influências externas com a divulgação das ideias liberais e iluministas, que estimularam as camadas populares de Pernambuco na organização do movimento de 1817;
- A crescente pressão dos abolicionistas da Europa que vinha criando restrições gradativas ao tráfico de escravos, mão de obra que se tornava cada vez mais cara e que era o motor de toda a economia agrária pernambucana;
- O movimento queria a Independência de Pernambuco sob um regime republicano.
O início
A revolução começou com a ocupação do
Recife, em 6 de março de 1817. No regimento de artilharia, o
capitão José de Barros Lima, conhecido como "Leão Coroado",
reagiu à voz de prisão e matou a golpes de espada o comandante Barbosa de
Castro. Depois, na companhia de outros militares rebelados, tomou o quartel e
ergueu trincheiras nas ruas vizinhas para impedir o avanço das tropas
monarquistas. O governador Caetano Pinto de Miranda
Montenegro refugiou-se no Forte do Brum, mas, cercado, acabou se
rendendo.
Tendo conseguido dominar o Governo
pernambucano, os rebeldes se apossaram do tesouro, instalaram um governo
provisório e proclamaram a República.
Em 29 de março foi convocada
uma assembleia constituinte, com representantes eleitos em todas as
comarcas. Nela, foi estabelecida a separação entre os poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário; o catolicismo foi mantido como religião
oficial — porém com liberdade de culto —; foi proclamada
a liberdade de imprensa (uma grande novidade no Brasil); e foram
abolidos alguns impostos. A escravidão, entretanto, foi mantida.
À medida que o calor das discussões e a
revolta contra a opressão portuguesa aumentavam, crescia, também, o sentimento
de patriotismo dos pernambucanos, a ponto de passarem a usar
nas missas a aguardente (em lugar do vinho) e
a hóstia feita de mandioca (em lugar do trigo), como
forma de marcar a sua identidade.
A derrota
As tentativas de obter apoio das capitanias
vizinhas fracassaram. Na Bahia, o emissário da revolução, José Inácio
Ribeiro de Abreu e Lima, o Padre Roma, foi preso ao desembarcar e imediatamente
fuzilado por ordem do governador, o conde dos Arcos. No Rio Grande do
Norte, o movimento conseguiu a adesão do proprietário de um grande engenho que,
depois de prender o governador, José Inácio Borges,
ocupou Natal e formou uma junta governativa, porém não despertou o
interesse da população e foi tirado do poder em poucos dias.
No Ceará, Bárbara de
Alencar – considerada então a primeira prisioneira política no Brasil - e
seu filho Tristão Araripe aderiram ao movimento e fundaram a República do
Crato, que durou apenas oito dias. Há quem a considere também a primeira
presidente do Brasil.
Tropas portuguesas enviadas pelo território
baiano avançaram pelo sertão de Pernambuco, enquanto uma força naval,
despachada do Rio de Janeiro, bloqueou o porto do Recife. Em poucos dias, oito
mil homens cercavam a capitania. Derrotados, os revolucionários tiveram de
recuar em direção ao Recife. Em 19 de maio, as tropas entraram na
cidade e a encontraram abandonada e sem defesa. O governo provisório, isolado,
se rendeu no dia seguinte.
Pernambuco 1817, a revolução
- Abertura: 10 de maio
- Visitação: de 11 de maio a 15 de agosto
- De segunda a sexta, das 10h às 17h
- Sábado das 10.30h às 15h
- Curadoria: Maria Eduarda Marques
- Produção: Jocelino Pessoa
- Fundação
Biblioteca Nacional
Avenida Rio Branco, 297
Centro, Rio de Janeiro, RJ
Local
Espaço para mostras do 3º andar
A BN inaugurou no dia 10 de maio, às 18h30, a exposição ‘Pernambuco 1817: a Revolução’, com curadoria de Maria Eduarda Marques.
Evento
Exposição homenageia o bicentenário do levante que desafiou
a Coroa a partir da cidade de Recife.
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