As provas contra Lula: 3 mil evidências, 13 casos e R$
80 milhões em propina
As investigações apontam
pagamentos em dinheiro, depósitos bancários e imóveis – para o ex-presidente e
para parentes
DIEGO ESCOSTEGUY
05/05/2017 - 23h52 - Atualizado 06/05/2017
01h39
Revista
ÉPOCA - capa da edição 985 - As provas contra Lula (Foto: Revista ÉPOCA)
>> Trecho de reportagem de capa de ÉPOCA desta
semana:
No fim da tarde de uma segunda-feira recente, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva subiu ao palco de um evento organizado pelo PT em
Brasília. Empunhou sua melhor arma: o microfone. Aos profissionais da imprensa
que cobriam o evento, um seminário para discutir os rumos da economia
brasileira, o ex-presidente dispensou uma ironia: “Essa imprensa tão
democrática, que me trata maravilhosamente bem e, por isso, eu os amo, de
coração”. Lula estava a fim de debochar. Não demorou para começar a troça sobre
os cinco processos criminais a que responde na Justiça. Disse que há três anos
ouve acusações sem o direito de se defender, como se não tivesse advogados. “Eu
acho que está chegando a hora de parar com o falatório e mostrar prova. Eu acho
que está chegando a hora em que a prova tem de aparecer em cima do papel”,
disse, alterado. Lula repetia, mais uma vez, sua tática diante dos casos em que
é réu: sempre negar e nunca se explicar. E prosseguiu: “Eu quero que eles
mostrem R$ 1 numa conta minha fora desse país ou indevida. Não precisa falar
que me deu 100 milhão, 500 milhão, 800 milhão... Prove um. Não estou pedindo
dois. Um desvio de conduta quando eu era presidente ou depois da Presidência”.
Encerrou o discurso aplaudido, aos gritos de “Brasil urgente, Lula
presidente!”.
A alma mais honesta do Brasil, como o ex-presidente já se definiu, sem vestígio
de fina ironia, talvez precise consultar seus advogados – ou seus processos.
Há, sim, provas abundantes contra Lula, espalhadas em investigações que correm
em Brasília e em Curitiba. Estão em processos no Supremo Tribunal Federal, em
duas Varas da Justiça Federal em Brasília e na 13ª Vara Federal em
Curitiba, aos cuidados do juiz Sergio Moro. Envolvem uma ampla e formidável
gama de crimes: corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa, crime
contra a Administração Pública, fraude em licitações, cartel, tráfico de
influência e obstrução da Justiça. O Ministério Público Federal, a Polícia
Federal, além de órgãos como a Receita e o Tribunal de Contas da União, com a
ajuda prestimosa de investigadores suíços e americanos, produziram, desde o começo
da Lava Jato, terabytes de evidências que implicam direta e indiretamente Lula
no cometimento de crimes graves. Não é fortuito que, mesmo antes da delação da
Odebrecht, Lula já fosse réu em cinco processos – três em Brasília e dois em
Curitiba. Também não é fortuito que os procuradores da força-tarefa da Lava
Jato, após anos de investigação, acusem Lula de ser o “comandante máximo” da
propinocracia que definiu os mandatos presidenciais do petista, desfalcando os
cofres públicos em bilhões de reais e arruinando estatais, em especial a
Petrobras.
A estratégia de Lula é clara e simples. Transformar processos jurídicos
em campanhas políticas – e transformar procuradores, policiais e juízes em
atores políticos desejosos de abater o maior líder popular do país. Lula não
discute as provas, os fatos ou as questões jurídicas dos crimes que lhe são
imputados. Discute narrativas e movimentos políticos. Nesta quarta-feira, dia
10, quando estiver diante de Moro pela primeira vez, depondo no processo em que
é réu por corrupção e lavagem de dinheiro, acusado de receber propina da OAS
por meio do tríplex em Guarujá, Lula tentará converter um ato processual (um
depoimento) num ato político (um comício).
Se não conseguir desviar a atenção, saindo pela tangente política, Lula
terá imensa dificuldade para lidar com as provas – sim, com elas. Nesses
processos e em algumas investigações ainda iniciais, todos robustecidos pela
recente delação da Odebrecht, existem, por baixo, cerca de 3 mil evidências
contra Lula. Elas foram analisadas por ÉPOCA. Algumas provas são fracas –
palavrórios, diria Lula. Mas a vasta maioria corrobora ou comprova os crimes
imputados ao petista pelos procuradores. Dito de outro modo: existe “prova em
cima de papel” à beça. Há, como o leitor pode imaginar, toda sorte de
evidência: extratos bancários, documentos fiscais, comprovantes de pagamento no
Brasil e no exterior, contratos fajutos, notas fiscais frias, e-mails, trocas
de mensagens, planilhas, vídeos, fotos, registros de encontros clandestinos,
depoimentos incriminadores da maioria dos empresários que pagavam Lula. E isso
até o momento. As investigações prosseguem em variadas direções. Aguardem-se,
apesar de alguns percalços, delações de homens próximos a Lula, como Antonio
Palocci e Léo Pinheiro, da OAS. Renato Duque, ex-executivo da Petrobras, deu um
depoimento na sexta-feira, dia 5, em que afirma que Lula demonstrava conhecer
profundamente os esquemas do petrolão. Existem outras colaborações decisivas em
estágio inicial de negociação. Envolvem crimes no BNDES, na Sete Brasil e
nos fundos de pensão. Haja prova em cima de papel.
Trata-se até agora de um conjunto probatório, como gostam de dizer os
investigadores, para lá de formidável. Individualmente e isoladas, as provas
podem – apenas – impressionar. Coletivamente, organizadas em função do que
pretendem provar, são destruidoras; em alguns casos, aparentemente
irrefutáveis. Nesses, podem ser suficientes para afastar qualquer dúvida
razoável e, portanto, convencer juízes a condenar Lula por crimes cometidos,
sempre se respeitando o direito ao contraditório e à ampla defesa – e ao
direito a recorrer de possíveis condenações, como qualquer brasileiro. Não é
possível saber o desfecho de nenhum desses processos.
Ainda assim, os milhares de fatos presentes neles, na forma de provas
judiciais, revelam um Lula bem diferente daquele que encanta ao microfone.
>> Leia a reportagem em ÉPOCA desta
semana
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