Brasil não recebeu convite para a 'Parceria das Américas'
EUA lançaram a aliança inicialmente com outros 11 países para aprofundar a cooperação econômica na região
Valor — Genebra
02/02/2023 07h15 Atualizado há uma hora
O governo de Joe Biden lançou na semana passada sua ‘Parceria das Américas para a Prosperidade Econômica ’ (APEP, na sigla em inglês) iniciando negociação com outros 11 países - mas o Brasil, a maior economia da América Latina, não está na lista.
Essa aliança para uma 'cooperação econômica aprofundada' já tinha sido anunciada em junho de 2022 na Cúpula das Américas em Los Angeles, onde o então presidente Jair Bolsonaro teve seu primeiro encontro com Biden. A ausência brasileira na iniciativa chamou a atenção, mesmo se as expectativas são muito reduzidas sobre esse tipo de iniciativa.
À coluna, uma fonte em Brasília relatou que, na verdade, o Brasil não foi convidado pelos EUA para a Parceria na época da Cúpula em Los Angeles, e nem depois o assunto foi levado ao Brasil pelos americanos. Há uma nova realidade em Brasília, mas tampouco chegou convite agora.
Em Washington, Ryan C. Berg, diretor do programa Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), levanta duas razões para o país não estar na primeira rodada da APEP. Primeiro e mais importante, os países convidados tem algum tipo de negociação comercial engatilhada com os EUA - na verdade, a maioria deles já tem acordos completos com os americanos. O Brasil não entra nessas categorias.
Segundo, Ryan diz existir uma percepção histórica, que vem da experiência americana nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), de que o PT, agora de volta ao poder, é anti comércio e por uma economia mais fechada.
O fato é que os EUA atraíram o Chile e a Colômbia, com governos de esquerda, além do México, Canadá, Costa Rica, Peru, Uruguai, Panamá, Equador, República Dominicana e Barbados. Após reunião virtual na semana passada com o secretário de Estado, Antony Blinken, e a representante comercial Katherine Tai, os participantes divulgaram declaração comum destacando que a Aliança será aberta e estendida a outros parceiros do continente ‘que compartilham nossa visão, nossos objetivos e nosso engajamento por um programa ambicioso de crescimento econômico sustentável e de resiliência no continente’’.
Se Joe Biden levantar a questão da parceria ao receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 10 na Casa Branca, o Brasil vai examinar o tema. AArgentina também está fora, por enquanto.
Embora vários governos latino-americanos continuem a ver a APEP como um artificio diplomático da administração Biden para atenuar as críticas de que os EUA não estão totalmente engajados em seu próprio hemisfério, ainda é melhor estar em torno da mesa do que deixado fora no frio, escreveu o professor Richard Feinberg, professor da Universidade de San Diego e ex-negociador na Alca.
Em Los Angeles, na Cúpula das Américas, quando a aliança foi mencionada, alguns países enfatizaram a importância de mais comércio. Seis meses depois, Washington não demonstra realmente apetite para negociar abertura de seu mercado – e menos ainda antes da eleição de 2024.
A Parceria vem com uma lista de boas intenções, vazias de conteúdo. Como nota Feinberg, o foco imaginado pelos EUA é em quatro áreas na APEP: competitividade regional, incluindo procedimentos aduaneiros e questões regulatórias; resiliência das cadeias de valor; padrões trabalhistas, inclusão financeira; e investimentos sustentáveis, o que passa pelo reforço do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).