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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Regras prudenciais de Basileia II: um burocrata das financas reclamando de outros burocratas das financas...

Da newsletter do associação dos banqueiros dos EUA, a Febraban deles:

A Decade of Perverse Incentives, Spawned by Basel Risk-Weighting

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Ten years ago today, unelected bureaucrats from the Group of 10decided for the Western World economies to call it quits, andadopted Basel II.

Let me explain what I mean by "calling it quits." The pillar of Basel II was risk-weighted capital requirements for banks, which allowed them to hold much less capital when lending to credits perceived as absolutely safe than when lending to those seen as risky. The fundamental arbiters of riskiness in this model were the credit rating agencies.

Those perceived risks were already being cleared for banks by means of interest rates, amounts of exposure and other terms. Now banks could expect to earn much higher risk-adjusted returns on equity by lending to the “infallible” sovereigns, the housing sector and the AAAristocracy, than lending to the risky small and midsize businesses, entrepreneurs and startups. From that moment on, when allocating credit, banks would no longer finance the risky future, but restrict themselves to refinancing the safer past.

It took very few years for the banks to consequentially lend much too much to what was ex ante perceived as safe, like Greece, the real estate sector in Spain, or AAA-rated securities backed by U.S. subprime mortgages. All of which brought us the North Atlantic Financial Crisis.

And of course since that fateful day our “risky" prospects, those who we in fact most needed to have fair access to bank credit, have seen less and less of it. Especially when banks were left with too little capital, after so many of those "safe" credits, against which the banks held little capital, actually failed.
When nations stop taking risks, they stall and fall, like a bicycle that does not move forward.
And here we are 10 years later, and the problem of the distortion in bank credit allocation that the risk-weighted capital requirements produce has not even begun to be discussed.

And as a consequence all liquidity injected by central banks, with their quantitative easing, and by governments, with their deficits, turned into a diet based solely on "safe" carbs and fats and no proteins. We now see no muscular growth but only some obese economic expansion.

Like true baby boomers, our current bank regulators have been reacting to their own short-term monsters, without even establishing whether there is any causality between bank exposures to those ex ante perceived as risky and bank crises.
Per Kurowski was an executive director at the World Bank from 2002 to 2004.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Nas pegadas de Erasmo, na Basileia (fotos)

Hoje, segunda-feira, todos os museus fechados, como é hábito no mundo inteiro, visitamos a única exposição aberta em Basel (aliás em Riehen, ao norte da cidade, na direção da tripla fronteira), um excepcional coleção de obras do artista impressionista (mais do que isso, claro) francês Pierre Bonnard, na Fundação Beyeler, num magnifício parque e abrigada em projeto arquitetônico do italiano Renzo Piano.


Proibidas as fotos na exposição, por isso só tirei uma (com meu pequeno iPhone), de fora do edifício, aqui ao lado.
Almoçamos no próprio restaurante da Fundação, um ravioli ao molho de funghi eu, e peixe Carmen Licia (dois cálices de vinho, indispensáveis).


Pela tarde, fomos percorrer a cidade velha, a pé. 


Primeiro fomos à MarktPlatz, onde está o velho edifício da prefeitura (ou RatHaus), mais ou menos da idade do Brasil (mas suponho que renovado mais frequentemente, e provavelmente trabalhando de forma mais eficiente do que nosso país, já que transportes, limpeza, infraestrutura, em geral, na cidade, funcionam perfeitamente.


Depois, percorremos a zona pedestre, subimos por umas ruelas, até chegar à Catedral, Basel Munster, que deve ter sido católica, nos primeiros tempos de Erasmo na cidade, mas que agora é reformada protestante.
Enfim, ela era católica muito tempo antes de Erasmo, isso é evidente, tanto é que a conversão à Reforma não alterou muita coisa externa, como prova esta escultura de São Jorge matando o dragão, que fiz rapidamente (estava um pouco frio e chuvoso).
De lá enveredamos por novas ruelas, até eu deparar com uma placa altamente significativa, para quem, como eu, aprecia, e admira, Erasmo de Roterdã (enfim, ele apenas nasceu na cidade holandesa, e ficou com esse nome a vida inteira, mas viveu em muitos lugares, especialmente em Basileia).
A placa é esta, e eu tento traduzir no que conheço de alemão: 
"Nesta casa viveu (ou habitou), como hóspede do editor (literalmente impressor de livros) Senhor Hieronymus (Jerônimo) Froben, Erasmo de Roterdã, em seus últimos anos (deveria ser meses, na verdade), de vida, de Agosto de 1535 ao 11 de Julho de 1536".
Os Froben, pai e filho donos de uma impressora, foram dos mais amigos mais chegados de Erasmo, durante todo o tempo em que ele viveu na Basileia, isto antes da, e no começo da Reforma protestante, cujos desenvolvimentos o obrigariam a sair da cidade, e se refugiar em Fribourg (ainda na Suíça), quando ele foi considerado um opositor da Reforma, depois que a cidade fez a opção por Luthero, contra os papistas. Suprema ironia: ele já tinha se refugiado na Basileia, fugindo, praticamente da Bélgica (que na verdade ainda não existia, e era território dos Habsburgos), onde vivia em Leuven (ou Louvain, para os francófonos), porque era considerado muito protestante para os fanáticos católicos da cidade.
Já quase no final da vida, e amainada um pouco a verdadeira guerra travada entre luteranos e papistas um pouco em todo o território do Sacro Império e adjacências, ele tinha sido convidado a retornar ao Brabant, e por isso empreendeu o caminho de volta ao norte da Europa. 
Parou em Basileia, já cansado, onde veio a morrer, justamente nesta casa dos editores Froben (ou Frobenius, como o próprio Erasmo escrevia em latim). Passou seus últimos meses escrevendo cartas, terminando alguns trabalhos teológicos, período entrecortado pelo enfraquecimento progressivo de sua saúde.
Hoje a casa parece bem conservada, mas é privada, não se podendo, portanto, visitar. Os atuais proprietários, ou condôminos, até aproveitaram a fama do visitante, e não dos antigos donos, para colocar esta placa comercial. 
Enfim, o que se pode fazer: a Suíça é um lugar de banqueiros, relojoeiros, chocolatiers e outros comerciantes e artesãos, além de profissionais liberais, como os do lado.


O que reter, hoje, de Erasmo? 
Respondo rapidamente: a luta contra a intolerância e o fanatismo, o amor aos livros e ao conhecimento, a procura do justo equilíbrio entre posições adversas, a sede de sempre saber um pouco mais, a necessidade de transmitir esse saber, para converter homens ignorantes em cidadãos um pouco mais consapevoli, como diriam os italianos, enfin, tolerância, cultura, o culto do intelecto, o congraçamento entre os povos, acima e além das diferenças culturais e religiosas, a despeito de diferenças de classe e de condição econômica.
Tem tudo a ver com valores que também defendo.
Recomendo a leitura de Erasmo, ou do livro de que já falei aqui, sua biografia por Stefan Zweig; deve existir alguma antiga tradução para o Português...
Paulo Roberto de Almeida 
Basileia, 23/04/2012, 22h22