Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Teoria das (des)vantagens (nao)comparativas (ultra)relativas: o Brasil e o (nao)comercio internacional - Editorial O Globo
Primeiro, os companheiros inventaram um tal de "nova geografia do comércio internacional", que só existia na cabeça deles, já que todo mundo estava mesmo comerciando com base na velha geografia, ou seja, aquela que tem montanhas, vales, rios, oceanos, portos, grandes metrópoles consumidoras, países importadores de tarifas liberais, países em desenvolvimento protecionistas e todas as outras modalidades que são conhecidas há décadas, senão há séculos.
Depois tentaram consolidar essa "teoria" estapafúrdia num tal conceito Sul-Sul, que também só existia na cabeça deles, já que os do Sul estavam preferencialmente exportando para o Norte, e onde mais fosse, para o Sul também, especialmente para aqueles países que tinham inventado uma outra maravilha maravilhosa, a tal de "substituição de importações", em favor do Sul, claro, que o grande arauto dos povos defendia como sendo uma "diplomacia da generosidade", ou seja, que o Brasil deveria importar dos vizinhos e de outros países em desenvolvimento, mesmo que fosse mais caro e de menor qalidade, apenas por "ser do Sul", entendem?, e o Brasil, por ser grande, forte, generoso e rico, importaria ainda assim, pois assim é que os verdadeiros amigos do Sul deveriam fazer.
Alguém sabe me dizer se algum outro país -- do Sul, ou de qualquer outra latitude, longitude, altura e extensão como a nossa -- seguiu essa ideia maravilhosa?
Claro, tudo isso era para "dar um truco" nos países ricos, e "não ficar dependente do comércio com os Estados Unidos", entenderam a estratégia inteligente?
Outro representante dessas novas teorias do comércio internacional até chegou a dizer que tinha sido uma maravilha o Brasil ter recusado a Alca, pois imagina o que teria acontecido conosco no quadro da crise americana??!! Teríamos afundado muito mais, entenderam,? mesmo tendo exportado mais para os malvados americanos, entenderam?
Em terceiro lugar, organizaram uma tais de conferências só do Sul, com aliados estratégicos, e também desenvolveram mecanismos de integração exclusivos, ou seja, excluindo o Império e os outros colonialistas e imperialistas, entenderam? Esses malvados só queriam manter-nos acorrentados ao velho padrão de comércio internacional Norte-Sul, pelo qual nó só exportávamos commodities e eles nos exportavam manufaturas. O tal de "intercâmbio desigual", entenderam? E ainda por cima com a tal "deterioração dos termos do intercâmbio", como ensinava mestre Prebisch, entenderam? Ou seja, com os imperialistas nós estávamos condenados a só exportar matérias primas, e ficar dependentes da importação de produtos de alto valor agregado.
Isso não! Onde já se viu? Tínhamos mesmo de desenvolver a nossa indústria, mesmo se para isso fosse preciso praticar subsídios generosos aos industriais amigos do rei e ser um pouquinho protecionistas, mas só um pouquinho, entenderam?
Finalmente, os companheiros, já tendo definido os nossos "aliados estratégicos", sugeriram que tínhamos mesmo de desenvolver o comércio com a China, com a Índia e outros parceiros preferenciais, esses caras que nunca foram imperialistas, hegemônicos, e que só trabalham para o nosso bem, entenderam?
E assim fomos, de etapa em etapa, com a maravilha do Mercosul e seus acordos maravilhosos, aumentando nosso comércio, graças à nossa generosidade e a dos nossos aliados estratégicos. Foi assim que chegamos ao perfeito comércio Norte-Sul, com a China, entenderam?, no qual conseguimos realizar a proeza de exportar 95% de commodities (cinco ou seis, no máximo), e de importar 95% de manufaturados, essas bugigangas chinesas que deixam os nossos bravos industriais da Avenida Paulistda de cabelos em pé, entenderam?
Não é uma maravilha a tal de "teoria das desvantagens pouco comparativas e ultrarelativas do (não)comércio internacional"? David Ricardo não teria elaborado teoria melhor, que merece figurar em todos os manuais de economia internacional. Ainda bem que temos os gênios companheiros que nos ajudaram a desenvolver essa brilhante elucubração da economia teórica e prática, a que nos elevou significativamente de patamar, e nos conquistou a admiração de todos os povos deste nosso planetinha redondo, desde os fenícios até os malvados americanos.
E não é que os americanos, sempre conspiradores, se preparam para nos passar a perna, dando um truco nas nossas pretensões? Pois a gente discute com a UE faz mais ou menos 15 anos um acordo de liberalização comercial -- já tendo abrido convenientemente o caminho para isso, implodindo a Alca, esse malvado projeto de anexação imperial -- e não é que agora os europeus traidores dizem que querem um acordo de livre comércio com o Império? Ingratos! Assimétricos! Anti-geográficos!
Me segura que vou ter um troço...
(Não, não sou eu; estou apenas fazendo figuração, entenderam?)
Paulo Roberto de Almeida
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Ideologia prejudica comércio exterior
Editorial O Globo, 14/02/2013
Os discursos anuais do Estado da União proferidos pelos presidentes americanos perante sessão conjunta do Congresso funcionam como peça política de afirmação de doutrinas, programas e linha de governo.
O feito no fim da noite de terça-feira por Barack Obama teve sua importância amplificada por se tratar de um pronunciamento balizador do segundo mandato do presidente, quando o governante tenta deixar sua marca na Casa Branca, sem se preocupar mais em disputar votos. Deseja encerrar a carreira política em cargos eletivos com um passaporte para a História.
Devido ao peso dos Estados Unidos, deve-se prestar atenção a tudo que emana do governo e Congresso americanos.
No caso deste discurso, destaca-se o anúncio formal feito por Obama de apoio às negociações bilaterais com a União Europeia sobre um acordo comercial transatlântico.
O Brasil tem interesse direto no assunto — ou deveria ter. E mesmo que os responsáveis pela política externa brasileira desdenhem este projeto, o país será afetado por ele, caso venha a ser fechado.
Em artigo no GLOBO de terça, o ex-embaixador Rubens Barbosa chamou a atenção para a fase de mudanças por que passa o comércio internacional, com a assinatura de vários acordos bilaterais, na esteira do fracasso da Rodada de Doha, de liberalização do comércio em escala planetária.
Deste processo de evolução o Brasil está alijado, por ter feito uma opção ideológica errada.
Como a política externa foi capturada pela visão terceiro-mundista simpatizante do chavismo e bolivarianismo, o comércio exterior brasileiro vai sendo engessado nas limitações crescentes do Mercosul, paralisado pela crise política, econômica e institucional da Argentina, situação agravada na absorção do bloco pela Alba, associação dominada por Chávez e os irmãos Castro.
Enquanto o Mercosul e o Brasil estão paralisados, o comércio mundial tende a fluir cada vez mais por meio de acordos entre economias e blocos.
Não faz muito tempo, Chile, Colômbia, Peru e México se uniram na Aliança do Pacífico, próxima dos Estados Unidos e Ásia. O México já é do Nafta, junto com os EUA e Canadá.
Há dias, países latino-americanos reuniram-se com a União Europeia, no Chile. Perda de tempo, devido à visão autárquica de argentinos, venezuelanos, equatorianos e bolivianos, aliados preferenciais de Brasília.
Não será fácil a negociação entre americanos e os 27 países da UE. Separa-os um contencioso semelhante ao que existe quando brasileiros e europeus tentam se entender: desentendimentos em torno de exportações agrícolas, o setor de serviços, proteção à propriedade intelectual, por exemplo.
Mas se trata de um gigantesco fluxo comercial de US$ 2,7 bilhões diários. Se chegarem a algum entendimento — importante para os dois —, o Brasil, amarrado a um Mercosul de tonalidade chavista, ficará mais para trás neste novo comércio internacional.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Brazil Institute at Wilson Center: debate sobre o progresso industrial
How to Improve Brazil's Industrial Growth and Export Performance
Please join the Woodrow Wilson Center’s Brazil Institute and the Program on America and the Global Economy for “How to Improve Brazil’s Industrial Growth and Export Performance”
Tuesday February 12th, 2013
4:00 pm – 5:30 pm
Woodrow Wilson International Center for Scholars 6th Floor Flom Auditorium
Featuring:
- Otaviano Canuto, Vice President and Head for Poverty Reduction and Economic Management Network, World Bank
- José Guilherme Reis, Lead Trade Economist, World Bank
- Matheus Cavallari, Consultant, World Bank
Discussants:
- John Bryson, Distinguished Scholar, Wilson Center, and former Secretary of Commerce under President Barack Obama
- Kent Hughes, Director, Program on American and the Global Economy
Moderator: Paulo Sotero, Director, Brazil Institute
Please RSVP to brazil@wilsoncenter.org (acceptances only) with your name and affiliation
Modest industrial production growth and disappointing export performances are at the center of an economic policy debate that has been raging in Brazil since 2011, in which the rate of GDP expansion abruptly declined from 7.5% in 2010 to 2.7% and dropped again to around 1% last year.
On February 12, the Brazil Institute and the Program on America and the Global Economy will convene a seminar to examine the causes of the negative trend and what needs to happen for the country to return to the average 4% annual growth of the Lula years, while improving the productivity and competitiveness of its economy, as President Dilma Rousseff has pledged to do.
The discussion will feature the co-authors of an important policy research working paper recently published by the World Bank under the title:
Brazilian exports: climbing down a competitiveness cliff
http://econ.worldbank.org/external/default/main?pagePK=64165259&theSitePK=469382&piPK=64165421&menuPK=64166093&entityID=000158349_20130107091437.
Location: Woodrow Wilson Center at the Ronald Reagan Building
1300 Pennsylvania Ave., NW ("Federal Triangle" stop on Blue/Orange Line).
A map to the Center is available at www.wilsoncenter.org/directions.
Note: Please allow additional time to pass through security.
sábado, 2 de fevereiro de 2013
FIESP: Negociacoes Economicas Internacionais - nova publicacao
RELATÓRIO PERIÓDICO DE NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS,
cuja primeira edição foi dvulgad em 24/01/2013
A equipe técnica é da melhor qualidade, como constatado abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
RELATÓRIO DIVULGADO PELA FIESP APONTA TÍMIDO AVANÇO NA AGENDA DE NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS BRASILEIRA EM 2012.
O ANO TAMBÉM FOI MARCADO PELA CRISE INSTITUCIONAL DO MERCOSUL.
A Fiesp divulgou o “Relatório Periódico de Negociações Internacionais”. A publicação, inédita, faz uma análise dos principais acordos comerciais internacionais vigentes, e das mudanças ocorridas ao longo de 2012. Os desafios impostos à agenda de integração econômica regional e à expansão da rede de acordos comerciais assinados pelo Brasil foram marcados, principalmente, pela crise institucional do Mercosul, pela renegociação do acordo automotivo com o México e pelo tímido avanço na agenda de negociações internacionais brasileira, que ficou pra trás em todas as frentes tradicionais (bens, serviços e investimentos), quando comparada com outros países e blocos regionais. O Relatório traz ainda detalhes sobre a suspensão paraguaia e a adesão da Bolívia ao bloco sul-americano e a reforma do Sistema Geral de Preferências Europeu (SGP), a qual excluirá o Brasil a partir de 2014.
DOCUMENTO: http://www.fiesp.com.br/arquivo-download/?id=48843
DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR
EQUIPE TÉCNICA
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP
Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior – DEREX
Diretor Titular: Roberto Giannetti da Fonseca
Diretor de Negociações Internacionais: Mário Marconini
Gerente: Frederico Arana Meira
ÁREA DE NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS
Coordenador: José Luiz Pimenta Júnior.
Equipe: Sabina Silva e Vinicius Santos
Endereço: Av. Paulista, 1313, 4º andar – São Paulo/ SP – 01311-923
Telefones: (11) 3549-4615
Fax: (11) 3549-4730
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Mudanca na Estrategia Brasileira de Comercio - Rubens Ricupero
domingo, 22 de julho de 2012
Dez anos depois: uma entrevista censuravel - PRA nas Paginas Amarelas de Veja
Teve gente que não gostou, na Santa Casa, e até hoje me pergunto o que eu disse que pudesse contrariar de modo tão direto a política externa oficial para justificar uma censura escrita, a primeira de três.
Paulo Roberto de Almeida
Ricos e arrogantes
Especialista em relações internacionaisdiz que os países desenvolvidos agem de
forma desleal com seus parceiros pobres
Cristiana Baptista
Revista Veja, Edição 1 723 - 24 de outubro de 2001
Ron Sachs/CNP | "O Brasil é competitivo na área agrícola, assim como os americanos o são em tecnologia. A abertura tem de ser recíproca" |
Em artigo publicado recentemente no jornal O Estado de S. Paulo, Paulo Roberto de Almeida demoliu com argumentos avassaladores as idéias fora do lugar de Luís Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência da República, que defendeu a política agrícola européia, viciada em proteção excessiva e subsídios e altamente nociva aos interesses brasileiros. Paulo Roberto de Almeida vive atualmente em Washington, nos Estados Unidos.
Veja – Os países ricos são hipócritas por pregar o livre comércio para os outros ao mesmo tempo que erguem barreiras protecionistas em torno de suas economias. Há alguma chance de eles mudarem de atitude?
Almeida – Não. É desalentador constatar que os países mais avançados, amparados nas melhores teorias econômicas, preconizam as virtudes do livre comércio, mas estão longe de praticá-lo. Os Estados Unidos têm um déficit comercial de 400 bilhões de dólares ao ano e são de longe a economia mais aberta do planeta, mas em relação a uma gama de produtos, que por acaso coincidem com nossos principais bens de exportação – especialmente na área agrícola –, os americanos praticam um protecionismo renitente, com a utilização de barreiras não-tarifárias de diversos tipos. Isso sem falar dos subsídios maciços com que adubam sua agricultura. Para outros produtos, como o aço, existem medidas anti-dumping que também são abusivas. Não é preciso lembrar os efeitos nefastos que o protecionismo agrícola da União Européia provoca não só em nossas exportações, mas no comércio internacional como um todo. Os europeus praticam não apenas um protecionismo para dentro, ou seja, restringem o ingresso de produtos de outros países em seus mercados. Eles também praticam uma concorrência desleal para fora, na medida em que subvencionam pesadamente as exportações de determinados bens que poderiam ser vendidos por países produtores agrícolas não-subvencionistas. O protecionismo agrícola é certamente um obstáculo importante porque penaliza uma parte substancial do comércio exterior brasileiro. Os subsídios internos também são um fator relevante à medida que eles distorcem os preços. Se alguém dá subsídios aos produtores de soja, por exemplo, faz com que os preços caiam nos mercados internacionais, e isso penaliza produtores não-subsidiados.
Veja – No caso do aço, eles têm alguma razão econômica indiscutível para sobretaxar o produto brasileiro?
Almeida – O aço é uma das indústrias tradicionais americanas. Ela emprega centenas de milhares de pessoas e patrocina um dos mais ativos e bem-sucedidos lobbies dos Estados Unidos. As siderúrgicas americanas por força do lobby vêm mantendo como verdadeira a idéia falsa de que o aço estrangeiro é vendido a preço baixo em seu mercado apenas porque os países exportadores praticam o dumping – o rebaixamento irreal e, no caso do comércio internacional, ilegal de preços. Isso é uma falsidade. O Brasil consegue vender produtos siderúrgicos a preços mais baixos que os Estados Unidos pela simples razão de que nossa indústria, nesse setor, é mais eficiente. A siderurgia brasileira é mais competitiva que a americana. Obviamente existem fatores naturais que nos favorecem, como a proximidade das jazidas e a qualidade do minério. Mas, em modernização tecnológica, a siderurgia brasileira dá um banho na americana. Por isso ela recorre aos lobbies e abusivamente acusa o Brasil de fazer dumping. Como vimos, são alegações sem fundamento.
Veja – Os países ricos estão sendo sinceros quando criam dificuldades ao comércio das nações em desenvolvimento em nome da preservação ambiental ou da coibição do trabalho infantil?
Almeida – A intenção declarada é a mais meritória possível: defender o meio ambiente e melhorar as condições de trabalho dos operários. Na prática, sabemos que tais cláusulas acabam atuando em detrimento dos países em desenvolvimento e justificando medidas protecionistas abusivas, a pretexto de defender regras "leais de comércio". O Brasil não tem nada a temer nesse tipo de questão. Não apenas porque possuímos uma legislação ambiental adequada, mas também porque nossas empresas exportadoras apresentam alto grau de conformidade com os princípios mais modernos do ciclo de vida dos produtos. No plano trabalhista, igualmente, o Brasil aderiu à maior parte das convenções internacionais que defendem direitos dos trabalhadores e liberdade sindical. Em muitos pontos estamos à frente dos Estados Unidos, que exibem um registro pouco lisonjeiro nessa área.
Veja – Luís Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência da República, afirmou que a Europa tem lá suas razões para defender a agricultura com subsídios e barreiras. A política agrícola européia é defensável?
Almeida – Não. A política européia está em total contradição com o que os europeus pregam sobre abertura econômica, competição leal e livre concorrência. A questão central, a meu ver, não é dar dinheiro aos agricultores. Se os europeus acharem que devem subsidiar a agricultura, é uma questão interna deles. O condenável é barrar a competição de fora tanto na Europa quanto nos países onde eles vendem seus produtos. Se achar certo, o governo francês tem todo o direito de levar os agricultores a Paris, hospedá-los nos melhores hotéis da Avenida Champs-Élysées e ainda pagar um bônus para eles se divertirem. Esse não é o ponto. Essas mordomias até sairiam mais baratas que a política agrícola européia atual. Os europeus gastam 60 bilhões de dólares por ano em subvenções agrícolas. Eles que gastem como quiserem o dinheiro público. O problema começa quando eles, além disso, usam mecanismos francamente condenáveis para barrar a competição externa. Obviamente, está-se diante de um grave problema de eficiência. A competição externa permitiria baixar à metade o preço da cesta de comidas típicas dos europeus. Não há legitimidade na defesa da política agrícola européia.
Veja – Lula a defendeu...
Almeida – Não posso acreditar que líderes políticos defendam uma guerra de subsídios. Isso claramente não é do interesse nacional. Não tenho nada contra o fato de que os europeus façam o que quiserem com seu dinheiro. Mas interessa a todos os brasileiros e deveria interessar também aos partidos de oposição que o mercado mundial funcione com regras leais de competição. Por lealdade, entendo uma situação em que os produtos brasileiros recebam na Europa o mesmo tratamento que os europeus recebem no Brasil.
Veja – Como avançar diplomaticamente nesse campo, em que os países ricos mostram tanta intransigência?
Almeida – Com negociação. Há muito tempo o Brasil vem insistindo na abertura dos mercados agrícolas, assim como os Estados Unidos e os europeus insistem em regras para a proteção da propriedade intelectual. Cada grupo de países tem seus interesses. O Brasil é competitivo na área agrícola, assim como os americanos o são em tecnologia e propriedade intelectual. Queremos que essas áreas sejam negociadas da mesma forma. A abertura precisa ser recíproca. O papel dos países ricos no comércio mundial tem de sofrer uma mudança radical. Internamente, eles precisam aceitar mais competição. Mas o dano maior que causam é pela maneira ilegal como massacram os produtos originários de países pobres nos mercados não-europeus. Ao subsidiar seus produtores rurais, os europeus estão arruinando os produtores agrícolas dos países pobres. Essa situação não pode continuar.
Veja – É correta a alegação de que uma maior abertura da Europa aos produtos agrícolas importados arruinaria a economia da região?
Almeida – Não. Está provado por uma série de evidências recentes que abertura comercial não tem relação direta e causal com problemas econômicos internos. Os Estados Unidos ostentam um déficit comercial anual de 400 bilhões de dólares e são a economia mais aberta do planeta. Poucas vozes aqui relacionam os problemas atuais da economia americana com o grau de abertura de seu mercado. Outras duas economias que estão entre as mais abertas do mundo, Cingapura e Holanda, são também altamente desenvolvidas. Os países podem ter problemas internos em quaisquer circunstâncias, com ou sem abertura da economia. A idéia de que praticar o livre comércio de duas vias pode fazer as economias entrar em colapso é retrógrada. Essa visão corresponde a uma concepção mercantilista do comércio e da economia internacional que não tem mais razão de ser em nossa época. A União Européia, uma potência comercial e nosso mais importante parceiro econômico, é protecionista e desleal. Ponto. Agindo assim, a Europa provoca efeitos econômicos danosos a si própria e ao bom funcionamento do comércio mundial.
Veja – Com terrorismo e recessão, podemos estar entrando numa fase de retrocesso da globalização?
Almeida – Não acredito. Uma série de medidas já foram tomadas para inverter essa tendência recessiva. E não acho que haja uma tendência à volta ao protecionismo.
Veja – A crise argentina e as dificuldades enfrentadas por Brasil, Uruguai e Paraguai estão enfraquecendo os laços criados pelo Mercosul. O senhor acredita na eficiência e sobrevivência dos blocos econômicos regionais?
Almeida – A União Européia começou em 1957 e levou praticamente quarenta anos para ser totalmente constituída. Ela alternou momentos de euforia, de crescimento, de recessão, pessimismo e otimismo. O Mercosul tem apenas dez anos. Ele cresceu extraordinariamente nesse período. Hoje enfrenta dificuldades temporárias que serão certamente superadas.
Veja – Depois dos atentados terroristas aos Estados Unidos, o senhor sentiu necessidade de revisar seu livro Os Primeiros Anos do Século XXI: Relações Internacionais Contemporâneas, que está prestes a ser publicado. O que mudou na situação mundial?
Almeida – Talvez não seja totalmente correto afirmar que o mundo mudou radicalmente com essa ação espetacular do terrorismo fundamentalista, mas é absolutamente certo que a agenda internacional já é outra. A prioridade agora são os temas de segurança e a luta contra as redes de terroristas. O Brasil também partilha essas preocupações, ainda que não seja alvo provável de atentados. As prioridades centradas na questão do desenvolvimento passaram para o segundo plano.
Veja – Por que o comércio internacional é sempre uma questão tensa e confusa?
Almeida – Porque ele funciona de uma maneira que não é exatamente a esperada pelo senso comum. O comércio internacional não pode ser uma via de mão única. A visão mercantilista, segundo a qual exportar é bom e importar é ruim, não cabe mais nos tempos de hoje. Isso não corresponde à realidade econômica dos países em geral, nem do Brasil em particular. Quando o país importa ele moderniza sua economia e passa a estar qualificado também para exportar mais e melhor. Precisamos certamente exportar mais, mas isso também não significa dizer que precisamos voltar a ter saldos superavitários estrondosos como nos anos 80, quando eles chegavam a 12 bilhões de dólares ao ano.
Veja – Os produtos brasileiros são competitivos no mercado internacional?
Almeida – O Brasil é bastante competitivo em alguns setores e perde feio em outros. Mas diferenciais de competitividade e de produtividade não podem ser de nenhuma maneira invocados como justificativas para o protecionismo, sobretudo quando levados às raias do absurdo comercial e do irracionalismo econômico, como acontece com a política agrícola européia. Na verdade, a competitividade agrícola brasileira não deixa nada a desejar quando confrontada à da Europa ou dos Estados Unidos, com exceção de poucos setores de notória especialização e de alta intensidade tecnológica. De fato, é justamente por ser competitivo que o Brasil está sendo penalizado no acesso ao mercado europeu de alimentos e insumos processados.
Veja – O Brasil está finalmente descobrindo que uma das funções dos diplomatas é vender a imagem do país no exterior e com isso facilitar os negócios?
Almeida – O Brasil descobriu que precisa criar uma cultura exportadora. Como todo grande país, ele está voltado para dentro. Isso também acontece com os Estados Unidos. O comércio exterior ocupa um pedaço muito pequeno na economia brasileira, algo como 10% do produto nacional bruto. Agora, a condição para que o Brasil se desenvolva, para que a população tenha um progresso social, uma melhoria no padrão de vida, um aumento na renda, é a inserção bem-sucedida do país no comércio internacional. O Mercosul e a abertura econômica foram passos importantes nesse sentido, mas é preciso avançar mais.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Comercio do Brasil: expandindo fronteiras
Agora mesmo tivemos um exemplo do dinamismo do comércio internacional do Brasil, conforme matéria abaixo:
May 22, 2012
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Council on Hemispheric Affairs - Mercosur Future
- The Mercosur agreement, given birth in 1991, allows Argentina, Brazil, Paraguay, and Uruguay to trade freely amongst themselves.
- Interdependent economies lead to tensions among member countries, especially between Brazil and Argentina over Brasilia’s plan to combat hyperinflation and the ebbing demand for Brazilian goods.
- Export-dependent economies trading more expensive goods, like Brazil and Argentina, face enhanced competition from abroad; therefore, these countries must now focus on opening up trade and cooperation with other countries possessing major export sectors while protecting their own economies.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
A nova geografia do comercio internacional (infelizmente sem o Brasil)
Parece que não deu certo, e mesmo esses acordos mencionados abaixo, Israel e Índia, são propriamente irrelevantes (para não dizer medíocres, do ponto de vista da criação de novos fluxos dinâmicos de comércio).
Ou seja, a diplomacia comercial Sul-Sul não apenas falhou miseravelmente em mostrar resultados, como se coloca contrariamente aos desejos e demandas do empresariado.
Não se sabe bem por que os esforços de promoção comercial e os de negociações de acordos comerciais não se dirigiram aos mercados mais dinâmicos. Deve ser por miopia ideológica...
A nova geografia do comércio internacional, para retomar o mote proclamado, vem atrasada e está deslocada no mapa: ela já existe há muito tempo e se compõe dos países asiáticos (e outros emergentes) exportando para os mercados dos países ricos. Se o Brasil quiser se juntar, ainda há tempo, basta seguir o que os outros estão fazendo e parar de ficar catando pulga em pelo de camelo. Afinal de contas, fazer as coisas certas não deve ser difícil: basta abrir os olhos e fazer o que tem de ser feito. É tudo tão simples...
Paulo Roberto de Almeida
Acordos comerciais fracassam durante o governo Lula
Agência Estado, 14.06.2010
Menos de 1% das exportações brasileiras vão ser beneficiadas pelos acordos comerciais fechados no governo Lula. Na última década, dez novas frentes de negociação foram iniciadas para abrir mercados aos produtos brasileiros, mas até agora apenas duas se transformaram em acordos efetivamente em vigor: Israel e Índia.
O acordo com Israel é de livre comércio e inclui quase todos os produtos. O problema é que o mercado israelense é pequeno e representou 0,18% das exportações brasileiras em 2009. A Índia absorveu 2,2% das vendas externas, mas o acordo é de preferências tarifárias e abrange 450 produtos de um total de 9 mil. Os itens incluídos somam cerca de 0,2% das exportações do Brasil.
Para os empresários, a razão pela qual os novos acordos assinados pelo Brasil representam volumes insignificantes das exportações é a escolha dos parceiros. Sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que os esforços do governo estão distantes das prioridades das empresas.
O Itamaraty mobilizou seus quadros para negociar com Egito, Marrocos, Paquistão, Turquia ou países do Golfo. Pesquisa feita em janeiro deste ano com 72 associações empresariais, empresas e sindicatos, representando 24 setores, apontam que as prioridades são Estados Unidos, União Europeia, América do Sul e México.