O editor Pedro Henrique Alves, da Editora LVM, me avisa que o livro já está n disponível. Posso, portanto, divulgar agora alguns trechos do prefácio oferecido pelo professor Arnaldo Godoy ao meu livro.
Prefácio de Arnaldo Godoy ao livro de Paulo Roberto de Almeida:
Construtores da Nação: projetos para o Brasil, de Cairu a Merquior
(São Paulo: LVM Editora, 2022, 304 p,;
Paulo Roberto de Almeida impressiona, entre outros motivos, por sua determinação para fazer, em sua vida intelectual, nada que afete ou que ameace a sua independência.
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Renomado pesquisador de nossa historiografia diplomática (a Formação da Diplomacia Econômica do Brasil é o meu predileto), Paulo Roberto tem também se interessado pelas várias nuances que substancializam um pensamento brasileiro, orientado para compreensão de Brasil, menos como metafísica, ainda que muito como uma ideia. O seu livro sobre os Construtores do Brasil, que define como um “ensaio de síntese histórica e de exposição argumentativa” é um “tour de force” em torno de ideias e pensadores que tentam explicar nossa condição.
O livro enfrenta quatro grandes temas: o Estado, a Ordem, o Progresso e a Democracia. É um enfrentamento aos tempos presentes. Vivenciamos a democracia corroída, o progresso em forma de retrocesso, a ordem pautada pelo deboche e o Estado com um butim. O que fazer? Teorizar é também uma forma de militância. Paulo Roberto, nesse sentido, é um militante.
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Construtores da Nação pode ser compreendido como um curso sobre o pensamento brasileiro, na tradição de Antonio Paim (História das Ideias no Brasil), de João Cruz Costa (História das Ideias no Brasil), de Vamireh Chacon (História das Ideias Socialistas no Brasil), de Paulo Mercadante (A Consciência Conservadora no Brasil) e de Fernando Azevedo (A Cultura Brasileira), autores que sempre se interessaram por grandes sínteses. Pode ser lido como um manual, a exemplo de Mariza Veloso e Angélica Madeira (Leituras Brasileiras). Pode ser lido também como um guia de leitura, como se lê Nelson Werneck Sodré (O que se deve ler para conhecer o Brasil).
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Paulo Roberto valeu-se de fontes primárias, lendo diretamente todos os autores que estudou: Cairu, Hipólito, Bonifácio, Varnhagen, Bernardo Vasconcelos, Paulino de Sousa, Paranhos (pai e filho), Nabuco, Rui, Monteiro Lobato, Afonso Arinos, San Tiago Dantas, Merquior, Roberto Campos. Há também a presença de fortíssima literatura secundária e explicativa: José Murilo de Carvalho, Vianna Moog, Emília Viotti da Costa, Antonio Cândido, Arno Wehling, João Camilo de Oliveira Torres, João de Scantimburgo e muitos outros. Há também a oportuna presença do historiador inglês Leslie Bethell, que tanto nos estudou.
Construtores da Nação é um livro de história econômica, de história de nossa política externa, de historiografia crítica, de história política e de história sociológica. O autor quebra os limites entre várias disciplinas. Do ponto de vista historiográfico, é também um livro de profecias em forma de hipóteses, o chamado “what if” dos autores de expressão inglesa. É o caso, por exemplo, da reflexão em forma de lamento, que o leitor constata quando Paulo Roberto critica a sucessão de Getúlio, em 1945, que se fez em torno de um inexpressivo e hesitante general. A ascensão de Osvaldo Aranha, naquele momento, insiste Paulo Roberto, teria radicalmente alterado o rumo de nossa história.
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Para os interessados em história econômica, as sessões sobre Cairu e Mauá são aliciantes. O tema das vantagens comparativas em Cairu, e suas posições contrárias à escravidão chamam a atenção. Paulo Roberto levanta o chamado problema Cairu, que radica no reducionismo de Sérgio Buarque de Holanda, prestigiado por um prefácio de Antonio Candido, para quem o autor de Visões do Paraíso teria desmascarado “a posição extremamente reacionária de Silva Lisboa”. Paulo Roberto explica-nos o equívoco que há nas tentativas de comparação entre Cairu e Hamilton, no contexto da importância do protecionismo para colônias ou colônias em processo e independência econômica.
Também do ponto de vista da história de nossas ideias econômicas é importante o capítulo que explora as tensões entre Roberto Simonsen e Eugenio Gudin. Trata-se de um debate interminável. Simonsen defendia a planificação e a presença do Estado na organização econômica. Gudin defendia o liberalismo e o mercado. Para Paulo Roberto, Gudin mostrava-se como “uma espécie de Dom Quixote da economia de mercado”.
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Em Construtores da Nação há todo um panorama que fixa o pano de fundo e ao mesmo as bases de nossa condição brasileira. É um livro sobre pensadores brasileiros, que pensaram o Brasil, na compreensão de um brasileiro que também pensa o Brasil, com independência e firmeza de convicções. Em tempos de crise (e parece-me que a crise é de todos os tempos) fundamental que pensemos a crise em que estamos, na perspectiva daqueles que de certo modo sempre nos ensinaram como vencê-las, ou pelo menos como suportá-las.
O problema, e creio essa a grande lição do livro de Paulo Roberto de Almeida, é que não aprendemos, por deficiência intelectual nossa, ou por preguiça também intelectual nossa, ou por desinteresse, ou por inaptidão para compreensão.
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Brasília, julho de 2022.
Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy
Livre-docente em Teoria Geral do Estado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo-USP
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Índice
Construtores da Nação: projetos para o Brasil, de Cairu a Merquior
Prefácio
Arnaldo Godoy
Apresentação
Nos ombros dos verdadeiros estadistas, Paulo Roberto de Almeida
Introdução
Da construção do Estado à construção da Democracia
Primeira parte: a construção do Estado
O Estado antes da Ordem e da própria Nação
1. As vantagens comparativas de José da Silva Lisboa (Cairu)
2. Por uma monarquia constitucional liberal: Hipólito da Costa
3. Civilizar os índios, eliminar o tráfico: José Bonifácio de Andrada e Silva
4. Um Memorial para reformar a nação: Francisco Adolfo de Varnhagen
Segunda parte: a construção da Ordem
Uma Ordem patrimonialista e oligárquica
5. Os liberais conservadores: Bernardo, Paulino e Paranhos
6. Um aristocrata radical: Joaquim Nabuco
7. Bases conceituais da diplomacia: o paradigma Rio Branco
8. O defensor do Estado de Direito: Rui Barbosa
Terceira parte: a construção do Progresso
O Progresso pelo Estado, com o Estado, para o Estado
9. Um empreendedor liberal numa terra de estatistas: Mauá
10. Um inglês imaginário e o nacionalista do petróleo: Monteiro Lobato
11. O revolucionário modernizador: Oswaldo Aranha
12. Duas almas pouco gêmeas: Roberto Simonsen e Eugenio Gudin
Quarta parte: a construção da Democracia
A Democracia carente de união nacional
13. Em busca de uma esquerda democrática: San Tiago Dantas
14. O militante do parlamentarismo: Afonso Arinos de Melo Franco
15. As oportunidades perdidas do Brasil: Roberto Campos
16. O liberalismo social de José Guilherme Merquior
A construção da Nação: um itinerário de 200 anos de história
Posfácio
O que a intelligentsia brasileira construiu em dois séculos de ideias e ações?
Referências Bibliográficas para os Construtores da Nação
Nota sobre o autor