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sábado, 11 de outubro de 2025

Estamos voltando aos anos 1930? - Igor Patrick; comentário PRA

 PRA: Estamos voltando aos anos 1930? Os EUA de Trump atuam hoje como a Alemanha nazista ou o Japão fascista e militarista daquela época?

Em 1941 os lideres militares japoneses decidiram atacar os EUA porque desde a década anterior, e sobretudo desde a invasão da China pelo Japão em 1937, os EUA estavam impondo um rigoroso controle de exportações contra o Japão militarista, fascista e expansionista, inclusive petróleo e derivados, absolutamente essenciais a um Império ainda desprovido de fontes seguras de energia. Isso depois que as potências fascistas, Alemanha, Japão e Itália haviam firmado o Pacto de Aço, em setembros de 1940.

As terras raras da China representam hoje os combustíveis fósseis dos anos 1930? A indústria informática e, mais crucial ainda, a indústria bélica dos EUA não consegue sobreviver sem as terras raras chinesas? Trump está disposto a punir a China pelo seu novo controle de exportações sobre esses materiais essenciais? 

A História se repete, mas invertendo hoje os atores dessa nova ameaça geopolítica? Trump é o novo fascista decidido a garantir pela força o acesso a componentes vitais de seu poderio militarista-imperialista, como fizeram os fascistas japoneses de 1939-41?

A matéria abaixo permite cogitar essa hipótese. PRA


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Nova rodada de exigências e controles impostos por Pequim atinge diretamente o coração da cadeia tecnológica global

Competição não se decide apenas em campos de batalha, mas na disputa por recursos estratégicos que sustentam economia

Igor Patrick

Jornalista, mestre em Estudos da China pela Academia Yenching (Universidade de Pequim) e em Assuntos Globais pela Universidade Tsinghua

Folha de S. Paulo, 10/10:2025


https://www1.folha.uol.com.br/colunas/igor-patrick/2025/10/na-guerra-das-terras-raras-china-aprendeu-nova-tatica-com-os-estados-unidos.shtml 

A China, vejam só, aprendeu com os Estados Unidos. Depois de mais uma rodada de restrições aplicadas por Washington à compra de chips avançados, Pequim anunciou nesta semana uma das mais duras restrições à exportação de terras raras aos americanos, valendo-se do conforto de quem detém quase um monopólio destes elementos tão essenciais à manufatura de tecnologia.

A nova rodada de controles chineses atinge diretamente o coração da cadeia tecnológica global ao incluir cinco elementos adicionais (hólmio, érbio, túlio, európio e itérbio) na lista de exportação restrita, elevando para 12 o total sujeito a licenciamento. Todos são fundamentais e compõem ímãs usados em motores elétricos e sistemas de mísseis; outros são essenciais para fibras ópticas, lasers e displays de alta definição.

Pequim também passou a exigir autorizações para equipamentos e insumos utilizados em mineração, refino e reciclagem, e declarou que negará pedidos ligados ao uso militar, além de submeter a um escrutínio rigoroso aplicações em semicondutores e inteligência artificial.

Mais disruptivo ainda é o alcance extraterritorial das novas regras, já que estrangeiros terão de solicitar licenças se utilizarem esses minerais ou maquinário de origem chinesa, mesmo fora do país, e produtos com mais de 0,1% de conteúdo chinês também estarão sujeitos à aprovação.

A tentativa de expandir a jurisdição para além de suas fronteiras aproxima-se muito do modelo regulatório que os EUA têm aplicado ao setor de semicondutores desde a era Joe Biden. Washington se aproveitou por anos da propriedade intelectual que detinha nas linhas de produção de chips complexos para forçar qualquer empresa do mundo a se submeter a restrições de exportação. Agora chegou a vez da China, com consequências bem mais profundas para as cadeias de produção.

Nas últimas décadas, a aposta chinesa em dominar a cadeia de valor das terras raras criou uma dependência estrutural difícil de romper. Com mais de 90% do processamento global e virtual monopólio sobre minerais essenciais, Pequim construiu não apenas um setor econômico robusto, mas também uma alavanca geopolítica de enorme alcance. Esse poder se manifesta agora na capacidade de condicionar decisões industriais e diplomáticas de rivais estratégicos.

A convergência indica que a disputa tecnológica entrou em uma fase em que cada potência procura projetar seu poder industrial de forma extraterritorial. O resultado provável é um mundo de cadeias produtivas mais fragmentadas, de custos mais altos e de decisões empresariais subordinadas a interesses geopolíticos.

Trata-se de uma inflexão estratégica cuidadosamente calculada em uma disputa que já ultrapassou o comércio e passou a definir os contornos do poder global. Ao exigir licenças de quem quer que esteja utilizando equipamentos ou minerais chineses, Pequim sinaliza que não pretende apenas proteger seus interesses industriais, mas reescrever as regras da interdependência tecnológica.

As reações em Washington mostram o desconforto com essa nova assimetria. Donald Trump mudou o tom e voltou a impor tarifas, chegando até a aventar o cancelamento do encontro com Xi Jinping às margens da Cúpula da Apec prevista para o mês que vem na Coreia.

É mais um capítulo da guerra das terras raras, em que a competição não se decide mais apenas em campos de batalha, mas no interior de cadeias produtivas complexas e na disputa por recursos estratégicos que sustentam a economia digital e militar do século 21.