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sexta-feira, 14 de maio de 2021

Itamaraty cogita designar a nova provável presidente da Funag: embaixadora Marcia Loureiro

 Novo chanceler de Bolsonaro pretende substituir presidente da Funag por uma mulher, encerrando era do olavismo


Substituto de Ernesto Araújo quer que a instituição volte a ser um espaço de debates para diplomatas; no ano passado, alunos do ideólogo fizeram palestras contra uso de máscaras e comparando distanciamento social a stalinismo

Eliane Oliveira
O Globo, 13/05/2021 - 20:28 / Atualizado em 13/05/2021 - 22:11

BRASÍLIA - O chanceler Carlos França pretende trocar, até julho, o comando da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), braço de estudos e debates do Itamaraty que, segundo queixas de colegas e críticos do governo, acabou se transformando em reduto de olavistas e influenciadores digitais de extrema direita durante a pandemia de coronavírus. O nome mais cotado para assumir a presidência da instituição no lugar de Roberto Goidanich é o da embaixadora Márcia Loureiro, do consulado do Brasil em Los Angeles.

Segundo uma fonte do governo, a presença de Goidanich à frente da Funag se tornou insustentável. O atual presidente da fundação foi colocado no cargo pelo ex-chanceler Ernesto Araújo, que deixou a chefia do Itamaraty no final de março.

Já Márcia Loureiro foi assessora internacional do Ministério da Justiça, na gestão de Alexandre de Moraes, hoje no Supremo Tribunal Federal (STF). É tida por pessoas com as quais trabalhou como "uma colega séria e respeitada".

De acordo com outro integrante do governo ouvido pelo GLOBO, França quer que a Funag volte a ser um fórum de debate de diplomatas. Tradicionalmente, a presidência do órgão, que cumpre o papel de "think tank governamental", era ocupada por um diplomata avançado na carreira, e Goidanich é ministro de segunda classe, posto anterior ao de embaixador. Com a mudança, espera-se que o órgão deixe de ser um palco para a promoção de transmissões no YouTube e eventos ministrados por expoentes do bolsonarismo.

Na gestão de Ernesto Araújo, a Funag deu espaço a blogueiros, militantes e colunistas a favor do governo federal, acusados de promover ideias anticientíficas e de teor doutrinário e ideológico em seminários. No ano passado, houve uma palestra denominada "A nocividade do uso de máscaras", que acabou sendo removida pelo YouTube por disseminar informações falsas. Em outras conferências, palestrantes compararam medidas de distanciamento social aos gulags de Stálin.

A troca de comando na Funag é mais um movimento de Carlos França no sentido de marcar diferenças em relação ao seu antecessor. 

No primeiro evento público do qual participou como chanceler, em uma audiência na Câmara, França disse que Filipe Martins, assessor internacional do Planalto e expoente do olavismo no governo, é subordinado ao almirante Flavio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência. Com isso, deixou claro aos parlamentares que Martins não tem mais a mesma influência de antes sobre o Itamaraty.

Em alguns exemplos de mudanças já vistas na gestão de França, o novo chanceler, ao contrário de Ernesto, tem boas relações com o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming, com quem conversa com frequência. Apesar da clara postura anti-Pequim de Jair Bolsonaro, que põe em risco especialmente o abastecimento de insumos para vacinas contra a Covid-19 no Brasil, França mantém tom amigável ao falar sobre o país asiático e costuma apagar incêndios para não afetar o humor dos chineses.

Em relação ao regime venezuelano de Nicolás Maduro, não houve mudança na política externa brasileira por enquanto. França, porém, não chama o chavista de narcoditador, como fazia Ernesto, embora continue defendendo uma negociação entre Maduro e oposição para que "haja eleições livres e a volta da democracia", conforme resumiu uma fonte.

https://oglobo.globo.com/mundo/novo-chanceler-de-bolsonaro-pretende-substituir-presidente-da-funag-por-uma-mulher-encerrando-era-do-olavismo-25016671

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Alunos do Instituto Rio Branco discutem ideias dos clássicos: novo livro da Funag

 Apresentação da publicação no site da Funag, Biblioteca Digital: 


 

Este livro reúne uma seleção de doze textos que foram também apresentados oralmente pelos alunos e debatidos em sala de aula, em torno de grandes ideias e autores do pensamento ocidental. A beleza em Kafka e Kant é deslindada por Rafael Bernardes, enquanto Matheus da Costa se debruça sobre o desejo na obra de Dante e Jorge Luiz adentra os segredos da linguagem na interpretação dos sonhos freudiana. Já Angelo Santos foi buscar os conceitos de ideia e de ideal em Vianna Moog. Luiz Eduardo expõe a surpreendente atualidade das Confissões de Santo Agostinho e Bernardo Pereira efetua avaliação precisa da complexa fenomenologia do Ser em Vicente Ferreira da Silva. Francisco Luiz e Victor ousaram enfrentar o tempo em Proust e Nietzsche, respectivamente. A ideia de ética em Aristóteles e Levinas foi minuciosamente tratada por Osvaldo Quirino, ao passo que Matheus de Souza examina de forma inovadora a cidadania em Grande sertão: veredas, Anna Paula investiga o constitucionalismo sob Tocqueville e Cauê Pimentel, o conceito de governo na visão de Hobbes e Locke.

Clássicos: coletânea de ensaios dos alunos do Instituto Rio Branco


AutorFabio Mendes Marzano e Carlos Guilherme Sampaio Fernandes
EditorFUNAG
AssuntoColetânea. Resenhas. Estudos filosóficos. Instituto Rio Branco. Diplomacia brasileira.
Ano de edição2020
Número de páginas216
ISBN978-65-87083-34-6



sábado, 28 de novembro de 2020

Planejamento estratégico da diplomacia brasileira: o papel do IPRI - Paulo Roberto de Almeida

 Planejamento estratégico da diplomacia brasileira: o papel do IPRI

  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com) )

[ObjetivoDiálogo com a sociedade, no Programa Renascençafinalidade: Palestra no quadro do Instituto Diplomacia para Democracia.] 

 

O diplomata Antonio Cottas J. Freitas, responsável pelo “Programa Renascença: construção coletiva de uma política externa pós-Bolsonaro”, do Instituto Diplomacia para Democracia (link: https://www.diplomaciaparademocracia.com.br/programa-renascenca), convidou-me para discorrer sobre a meta 44 de seu programa de renovação da diplomacia brasileira – atualmente em grave estado de deterioração substantiva e de rebaixamento moral, em vista das orientações claramente anacrônicas, e mesmo reacionárias, irracionais do ponto de vista de padrões aceitáveis para uma diplomacia profissional –, com o objetivo de refletir sobre minha experiência como ex-diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), órgão da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), vinculada ao Itamaraty, e para oferecer, a partir daí, algumas ideias em prol da implementação da Meta 44 desse programa. A Meta 44 estabelece o seguinte objetivo: 

Restaurar a abertura intelectual, o espírito crítico e a excelência do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) e da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), meios de diálogo do MRE com a academia e a sociedade; recriar conselhos curadores com integrantes externos ao ministério.

 

Esse objetivo, assim todos os demais do Programa Renascença foram incluídos por mim, como anexo, a este meu livro: Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira(Brasília: Diplomatizzando, 2020; livremente disponível neste link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/uma-certa-ideia-do-itamaraty_7.html), que trata, justamente, como indica seu duplo subtítulo, de um projeto de reconstrução da política externa e de restauração da diplomacia brasileira, que foram, ambas, terrivelmente diminuídas e desmoralizadas pela infeliz e medíocre diplomacia bolsolavista. Pretendo tratar tanto do IPRI quanto da Funag, mas sobretudo aproveitar esta oportunidade para elaborar algumas ideias em torno de um ambicioso projeto de reconstrução da nossa instituição central, o Itamaraty.

Como já indicado no subtítulo deste texto, tal exercício tende a se apresentar como uma espécie de planejamento estratégico para a diplomacia brasileira, empreendimento que pode, ou deveria, ser atribuído ao IPRI, que é o mais próximo que existe de um think tank do Itamaraty, tendo sido constituído precisamente para oferecer reflexões intelectuais, abrir um espaço de diálogo com a comunidade acadêmica, produzir material relevante do ponto de vista da formulação e implementação da política externa (em complemento ao outro órgão da Funag, o CHDD, que se dedica à história diplomática, a partir do Arquivo Histórico Diplomático do Rio de Janeiro). A partir dessa visão, este texto segue, assim, uma tripartição auto explicativa: uma primeira parte tratando da Funag, uma segunda, do IPRI e, finalmente, uma terceira, oferecendo uma reflexão tentativa com vistas à elaboração de um planejamento estratégico para a diplomacia brasileira, um dos possíveis instrumentos da reconstrução do Itamaraty, na perspectiva de uma diplomacia pós-bolsolavista.


I – A Fundação Alexandre de Gusmão (Funag)

 (...)

II – O Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI)

 (...)

III – Um exercício de planejamento estratégico para a diplomacia brasileira

  (...) 

Tal tipo de documento, a ser empreendido por força-tarefa coordenada pela Funag-IPRI, deveria cobrir os diversos aspectos e componentes de um exercício abrangente desse tipo, como o que aqui se propõe, entre eles, mas não limitadamente, os seguintes:

 

I – A política externa e a diplomacia no desenvolvimento nacional

1. Etapas percorridas até aqui, em 200 anos de história nacional e institucional

2. Os desafios do momento: uma matriz dos recursos e das debilidades nacionais


II – Campos de atuação da diplomacia e da política externa do Brasil

3. Multilateralismo, regionalismo e bilateralismo como instrumentos

4. A política externa multilateral do Brasil: interfaces políticas e econômicas

5. A geografia política imediata e a geoeconomia global das relações exteriores

6. América do Sul como eixo de um espaço econômico flexivelmente integrado

7. O multilateralismo econômico como eixo da inserção global do país

8. O ambientalismo e a sustentabilidade como eixos dos padrões produtivos

9. Direitos humanos e democracia como eixos da proposta ética do país

10. A questão dos blocos e das alianças estratégicas na matriz externa

11. As relações com os parceiros principais nos planos bilateral e regionais

12. Vantagens comparativas relativas e exploração de novas possibilidades

13. Perfeita integração da política externa com as políticas de desenvolvimento


III – O Itamaraty como força motriz da inserção global do Brasil

14. Gestão da Casa, com base nas melhores práticas da governança

15. Responsabilização (accountability), abertura e transparência nas funções

16. Capital humano de alta qualidade como base de uma diplomacia eficaz

17. Planejamento estratégico como prática contínua da diplomacia brasileira

 

Estes são os elementos principais que poderiam ser conduzidos num exercício abrangente de reflexão e de proposição, a ser coordenado pela Funag-IPRI, mas com a participação ampla de interlocutores da sociedade civil, do Brasil e do exterior, que também passariam a integrar seus respectivos conselhos consultivos e eventuais corpos editoriais. Desde já me comprometo a trabalhar numa elaboração mais refinada da presente proposta.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3804, 28/11/2020

Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44595418/3804_Planejamento_estrategico_da_diplomacia_brasileira_o_papel_do_IPRI_2020_).

Referências

1) Programa Renascença (link)

2) Instituto Diplomacia para Democracia (link)

3) Diplomata Antonio Cottas J. Freitas (e-mail)

3) Livro: Uma certa ideia do Itamaraty (link)

4) Página pessoal do autor: www.pralmeida.org

5) Blog Diplomatizzandodiplomatizzando.blogspot.com

 

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Sob Bolsonaro, fundação do Itamaraty vira palco de fake news sobre covid-19 - Carolina Marins (Uol)

Sob Bolsonaro, fundação do Itamaraty vira palco de fake news sobre covid-19

Carolina Marins

Vinculada ao Ministério de Relações Exteriores, a Funag (Fundação Alexandre de Gusmão) tem realizado, durante a pandemia de covid-19, uma série de seminários questionando evidências científicas e colocando em suspeição a palavra de cientistas, médicos e jornalistas. Há ainda críticas às instituições internacionais como a OMS (Organização Mundial da Saúde), questionamento das medidas de proteção e críticas a prefeitos e governadores.

Os eventos semanais têm como objetivo discutir os desafios e perspectivas para o Brasil no pós-pandemia. Especialistas em política internacional ouvidos pelo UOL, contudo, veem uso político do Itamaraty e uma tentativa de politizar a pasta como já ocorreu com outros ministérios. Os vídeos são transmitidos nos canais da Funag e retransmitidos por blogs de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Em uma palestra no dia 3 de setembro, um dos palestrantes diz que máscaras são perigosas para pessoas saudáveis: "A máscara não só é inócua no combate à pandemia mas ela é também nociva, causa problemas de saúde". A informação é falsa: o uso correto das máscaras reduz a quantidade de partículas virais expelidas e, portanto, ajuda a conter o avanço da pandemia.

Em outro momento no mesmo seminário, outro convidado diz que a pandemia foi "instrumentalizada por comunistas e globalistas para controle político" e elogia o termo "comunavírus" cunhado pelo chanceler Ernesto Araújo. A obrigatoriedade de vacinas, o socialismo e engenharia social são temas também comuns nos eventos.

O globalismo, como já mostrou o UOL Confereé um tema recorrente em fake news, assim como a informação de que o vírus teria sido criado em laboratório, o que também não é verdadeiro.

Os convidados são sempre oriundos de sites e blogs conservadores e não há nomes ou mesmo outros eventos com pontos de vistas diferentes. Durante as transmissões, o presidente da fundação, Roberto Goidanich, tende a concordar e incentivar os palestrantes.

UOL procurou o Itamaraty e a Fundação Alexandre de Gusmão nos dias 24, 25 e 30 de setembro via e-mail, mas não obteve um posicionamento até o fechamento desta reportagem. Se enviado, ele será publicado neste texto.

Politização do ministério

A Fundação, criada em 1971, tem por objetivo difundir os temas relacionados à política externa brasileira. Entre as suas atribuições estão a publicação de livros e a realização de debates, seminários e cursos. Mas a agenda fortemente ideológica e com apelo popular chama a atenção em uma instituição historicamente considerada mais pragmática.

"O trabalho da Funag é tentar romper com o isolamento do Itamaraty e trazer a sociedade para uma política externa mais democrática", explica o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, David Magalhães.

[A Funag] Não é para virar um bunker de ideias da nova direita, o que se tornou com Ernesto Araújo, com aqueles blogueiros que nunca teriam espaço na Funag porque não têm publicação, não têm inserção em comunidade científica, não tem nada. São ideólogos que vivem de guerra virtual e cultural nas redes sociais"David Magalhães, professor da PUC-SP

Magalhães ressalta que mesmo no governo Lula, quando houve acusações de partidarização do Itamaraty, a instituição foi utilizada dessa forma. Já o professor da FGV Oliver Stuenkel diz que é normal o uso do Ministério de Relações Exteriores para mobilizar a base eleitoral e que os governos Lula e FHC já o fizeram, porém não de forma tão propagandista.

"A política externa é uma política pública do governo, então é normal que pense sobre qualquer política pública em termos eleitorais, agora o grau e a intensidade com a qual a política externa está se transformando em uma ferramenta da propaganda bolsonarista é sem precedentes."

Ex-chanceler dos governos Lula e Dilma Rousseff, Celso Amorim concorda com o pesquisador. "Nunca houve essa coisa obscurantista que está ocorrendo agora. Eu acho que isso é um comportamento negativo. Além de não servir para nada do ponto de vista prático, desmoraliza a própria instituição. O Itamaraty nunca teve uma reputação tão baixa", diz.

"Essa atitude atual é totalmente irracional. Ao mesmo tempo em que você defende uma política comercial ultraneoliberal que seria totalmente ligada a uma ideia de globalidade, você faz tudo em defesa da soberania nacional. É um poço de contradições e irracionalidade. E eu acho que isso não é uma coisa por acaso, porque se forma uma cortina de fumaça que permite a esse governo tomar as decisões mais contrárias ao interesse nacional", completa Amorim.

O professor da FGV, Oliver Stuenkel, explica que há uma pressão sobre o Itamaraty em meio a um processo de politização das instituições públicas. "O Itamaraty é o único ministério que tem um processo seletivo meritocrático e que, portanto, não se deixa politizar com tanta facilidade. Então, o governo Bolsonaro enxergou no Itamaraty uma ameaça ao projeto de politizar a máquina pública."

Esses eventos que estão acontecendo agora buscam dar algum verniz de substância intelectual às ideias articuladas pelo chanceler Ernesto Araújo. O problema obviamente é que não há um pensamento que tenha uma coerência teórica por trás."Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV

UOL solicitou entrevista sobre o tema ao ministro Ernesto Araújo, que não respondeu aos pedidos da reportagem.

Trechos estratégicos

O professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, Pedro Feliú, explica que, embora o Itamaraty seja visto como mais pragmático ao longo dos governos, ele ainda é muito dependente do presidente da República e de suas ideologias.

É essa lógica do governo de contato com uma parcela da opinião pública e, aí, talvez o curioso seja usar o Itamaraty para isso. No fundo, o que se quer é mobilizar a opinião pública, convencer, persuadir, numa questão absolutamente bem doméstica. A pandemia é global, mas você decide internamente se vai ter máscara, se vai ter isolamento, etc."Pedro Feliú, professor da USP

O professor chama atenção para o fato de, após o fim dos seminários ao vivo no YouTube, os vídeos serem recortados em trechos estratégicos e com títulos chamativos para a base bolsonarista. "Máscaras são nocivas", "O avanço do comunismo 2.0", "O que fazer com a OMS", "Como destruir um país" e outros títulos são comuns.

"A ideia é ocupar espaços e confrontar o que eles chamam de hegemonia progressista ou de esquerda na mídia, nas universidades, nas editoras, e fazer uma espécie de confrontação", completa David Magalhães.

Confrontações e respostas

A postura do Itamaraty já causou pedidos de esclarecimentos por deputados do Psol, que enviaram ao chanceler Ernesto Araújo um requerimento exigindo explicações acerca da presença olavista na política externa.

O chanceler respondeu justificando a execução dos seminários devidos aos "likes" que eles geram. Segundo o documento obtido pelo UOL via o colunista Jamil Chade, os participantes de eventos são definidos "conforme o potencial interesse e relevância para a sociedade brasileira" e que a "Funag se esforça para que seus eventos contribuam para o pluralismo do pensamento [...], o que significa também incluir visões conservadoras".

Em resposta, o Instituto Diplomacia para Democracia, comandado pelo diplomata Antonio Cotta, tem realizado seminários questionando os temas abordados pela Funag e trazendo acadêmicos para a discussão. O professor David Magalhães, que coordena o Observatório da Extrema Direita, já foi um dos convidados desses eventos.

"A ideia é procurar fazer um contraponto, ampliar o debate sobre os temas que têm sido discutidos, sobre as polêmicas que têm sido levantadas, as releituras históricas e as tentativas de doutrinação ideológicas que têm sido feitas ali. E em segundo lugar, ampliar o entendimento e reflexões sobre o que esse pessoal vem formulando, as narrativas que eles têm criado", explica o diplomata.


quinta-feira, 10 de setembro de 2020

A Funag, o IPRI e o compromisso com o sentido de seus mandatos - Paulo Roberto de Almeida


A Funag, o IPRI e o compromisso com o sentido de seus mandatos

  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

Divulgado na plataforma Academia.edu (link:https://www.academia.edu/44062729/A_Funag_o_IPRI_e_o_compromisso_com_o_sentido_de_seus_mandatos_2020_).

  

Em agosto de 2016, depois de treze anos e meio – na verdade, um pouco mais, pois em 1999 tinha sido removido para a embaixada em Washington – afastado de qualquer cargo na Secretaria de Estado, pude finalmente, e graças ao impeachment de Dona Dilma, voltar a colocar a minha força de trabalho a serviço do Itamaraty em Brasília. No início de 2003, eu havia sido convidado pelo Diretor do Instituto Rio Branco para dirigir o programa de mestrado da academia diplomática, iniciado em 2001, do qual eu já era professor-orientador. Aceitei com prazer, apenas para ser vetado imediatamente pelos novos “donos do poder” na chancelaria, provavelmente por artigos que eu publicara, ainda nos anos 1990, com críticas à “política externa” do PT, um típico partido esquerdista latino-americano, como eu dizia.

Depois de dois anos e meio no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, onde esforcei-me por reduzir as pretensões grandiosas do novo regime a um número bem mais reduzido de políticas públicas fundamentais – todas na área da educação –, voltei ao Itamaraty, apenas para ver o mesmo veto renovado nos anos seguintes: passei pelo menos quatro anos da Biblioteca do Itamaraty, lendo e escrevendo, ganhando modestamente e viajando um pouco, a convite de alunos e professores, para falar sobre política externa e relações internacionais do Brasil pelo Brasil afora. Em 2010, já no final do período Lula, fui designado para uma missão transitória no Consulado em Xangai, mas para trabalhar no pavilhão do Brasil durante a Exposição Universal realizado naquela cidade durante 6 meses.

Mais um ano sem funções no Itamaraty, e aceitei um convite para ser professor visitante no Institut de Hautes Études de l’Amérique Latine, junto à Sorbonne, em Paris, onde estive no primeiro semestre de 2012. De novo, sem funções na SERE, acabei aceitando, numa espécie de compensação por falta de espaço no Brasil, o cargo de cônsul adjunto em Hartford, Connecticut, uma experiência bastante positiva do início de 2013 ao final de 2015. Novamente de volta a Brasília, fiquei no meu habitat natural da Biblioteca, até que o drama do impeachment me levou de volta ao trabalho regular na SERE, desta vez como Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), o think tank da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), o que me permitiu um enorme programa de atividades, cujo resumo pode ser encontrado em meu relatório final de funções (que eu já suspeitava que estavam próximas), no Natal de 2018: 

“Relatório de Atividades como Diretor do IPRI de 2016 a 2018”, Brasília, 24 dezembro 2018, 27 p. Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/e66d6c1639/relatorio-do-ipri-diretor-paulo-roberto-de-almeida-2016-2018).

Na verdade, não consegui fazer tudo o que pretendia no ano de 2018, seja por carência de recursos – o IPRI não tem personalidade jurídica, não tem orçamento próprio, nem autonomia administrativa –, seja por falta de apoio em outras esferas. O relatório acima indica o que efetivamente foi realizado, mas como eu sempre anoto em meus cadernos os planos e registros de reuniões mantidas, consulto agora o que anotei no princípio daquele ano como intenção de realizações: 


 

Várias das atividades tinham a ver com datas-aniversário, os 70 anos da conferência de Havana (que criou uma primeira OMC, nunca implementada), do surgimento da OEA, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, os 60 anos da Operação Pan-Americana, que resultou na criação do BID, assim como diferentes outras iniciativas que eu esperava concretizar em colaboração com associados brasileiros e mais frequentemente estrangeiros, uma vez que minha intenção era colocar o IPRI nos radares internacionais. Uma atividade que eu pensava realizar eram debates sobre temas de política externa em eleições presidenciais, e não apenas no Brasil, mas isso também foi cortado. Enfim, realizei muita coisa e convido a uma leitura do relatório completo, para uma verificação do que foi possível fazer, quase sem recursos, com base nos esforços de colegas como Marco Tulio Scarpelli Cabral, Antonio de Moraes Mesplé e colaboradores como Rogério Farias e Rafael Pavão. 

Por que menciono isto agora?

Porque, como muitos outros colegas, e certamente não colegas também, estamos propriamente estupefatos com o que vem ocorrendo na Funag, e isso desde praticamente o início de 2019. Um reflexo das loucuras em curso já foi reproduzido na imprensa numa matéria recente, “Fundação do Itamaraty vira aparelho de guerra cultural bolsonarista”,que pode ser lido na postagem original (https://brpolitico.com.br/noticias/fundacao-do-itamaraty-vira-aparelho-de-guerra-cultural-bolsonarista/) e que postei igualmente em meu blog (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/fundacao-do-itamaraty-vira-aparelho-de.html).

A Funag foi criada por uma lei em 1971 com atribuições bastante precisas, como uma espécie de think tank da diplomacia brasileira. O IPRI foi instituido em 1987 para realizar interações com acadêmicos dedicados ao estudo das relações internacionais do Brasil e no mundo. A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) foi instituída por meio do Decreto n. 69.553, de 18/11/1971. Sua criação foi autorizada pela Lei no. 5.717, de 26/10/1971, sendo seus objetivos básicos (art. 1º)

I – Realizar e promover atividades culturais e pedagógicas no campo das relações internacionais; 

II – Realizar e promover estudos e pesquisas sobre problemas atinentes às relações internacionais;

III – Divulgar a política externa brasileira em seus aspectos gerais;

IV – Contribuir para a formação no Brasil de uma opinião pública sensível aos problemas de convivência internacional;

V – Outras atividades compatíveis com as suas finalidades e estatutos.

 

O IPRI, por sua vez, tem por finalidades: 

- Desenvolver e divulgar estudos e pesquisas sobre temas atinentes às relações internacionais;

- Promover a coleta e a sistematização de documentos relativos a seu campo de atuação;

- Fomentar o intercâmbio científico com instituições congêneres nacionais e estrangeiras;

- Realizar cursos, conferências, seminários e congressos na área de relações internacionais.

 

Através dessas atividades, o IPRI trabalha para a ampliação e o aprofundamento dos canais de diálogo entre o Ministério das Relações Exteriores e a comunidade acadêmica sobre temas de interesse para a política externa brasileira, e foi este o sentido que eu procurei imprimir à minha gestão, como se pode verificar pelo relatório geral acima referido.

Nenhuma dessas duas instituições parecem se amoldar à atual guerra cultural olavo-bolsonarista, que vem sendo conduzida desde 2019. Ambas instituições foram terrivelmente deformadas, diminuídas, amordaçadas pelos seus atuais dirigentes, o que justificaria um procedimento investigatório dos órgãos de controle, quanto à questão de saber se elas estão realmente cumprindo suas funções estatutárias.

Finalizando, permito-me reproduzir o último parágrafo da matéria acima assinalada, de autoria da jornalista Vera Magalhães, do jornal O Estado de S. Paulo

Fica evidente o uso político de uma fundação que deveria fomentar o pensamento plural, ser representativa da tradição diplomática do Itamaraty e debater doutrinas, ideias e teses respaldadas em evidências e na ciência, e não pura pregação ideológica com base em teorias da conspiração, narrativas vazias e negacionismo científico.”


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3751, 10 de setembro de 2020


quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Fundação do Itamaraty vira aparelho de guerra cultural bolsonarista - Vera Magalhães (BR político)

 Fundação do Itamaraty vira aparelho de guerra cultural bolsonarista

Vera Magalhães

BR político, 9/09/2020

https://brpolitico.com.br/noticias/fundacao-do-itamaraty-vira-aparelho-de-guerra-cultural-bolsonarista/


A Fundação Alexandre Gusmão (Funag), vinculada ao Itamaraty, está sendo usada para promover ciclos de palestras com expoentes do bolsonarismo e reforçando teses negacionistas em relação à pandemia do novo coronavírus e em defesa de pautas da extrema-direita, como pregação antiaborto e contra o chamado "globalismo".

O conjunto de eventos e publicações promovidos pela entidade, que é um órgão público, é completamente tomado pela guerra cultural bolsolavista, sem nenhum espaço para teses de outras vertentes ou para representantes do próprio Itamaraty que pensam fora da cartilha do chanceler Ernesto Araújo.

Em 27 de agosto, a Funag promoveu um seminário intitulado "Como destruir um país: a aventura socialista na Venezuela", com a presença da embaixadora da Venezuela no Brasil, designada pelo governo paralelo de Juan Guaidó, Maria Tereza Expósito, e de Lucas Ribeiro, colunista do site Brasil sem Medo, ligado a Olavo de Carvalho.

Em 21 de agosto foi a vez de uma conferência virtual do jornalista Alexandre Garcia, que desde que deixou a Rede Globo se aproximou do bolsonarismo.

As palestras sempre são divididas em uma série de vídeos, todos disponibilizados, juntamente com a versão integral, no canal da fundação do Itamaraty no YouTube e também nas plataformas de streaming.

O mesmo expediente foi feito com conferência feita pelo deputado federal e filho do presidente Eduardo Bolsonaro, cuja candidatura ao posto de embaixador do Brasil em Washington foi frustrada em 2019. Ainda assim, o 03 ministra uma conferência sobre "benefícios" do "resgate" das relações entre Brasil e Estados Unidos, numa visão unilateral e absolutamente instrumentalizada ideologicamente de relações sobre as quais diplomatas e especialistas em relações internacionais fazem inúmeras restrições, pelos prejuízos comerciais e políticos que o alinhamento automático a Donald Trump causa ao Brasil.

Não para por aí. A deputada bolsonarista Chris Tonietto (PSL-RJ) é a protagonista de outra conferência, com direito a pílulas nos canais da Funag, com o tema "o direito a vida", que novamente trata a questão da legislação para aborto sob viés ideológico da direita, sem contraponto algum. Ademais: em que esse assunto é pertinente a uma fundação que discute questões diplomáticas e de relações internacionais? Fica evidente a instrumentalização de um órgão público apenas para a guerra cultural.

Um dos mais conhecidos blogueiros bolsonaristas, Flávio Gordon também mereceu uma palestra da Fundação Alexandre Gusmão, com direito a propaganda explícita de seu livro, "A Corrupção da Inteligência". O tema da conferência não poderia ser mais talhado pelo bolsolavismo militante: Globalismo e Comunismo. De novo, o aliado da família Bolsonaro e admirador de Olavo de Carvalho recebe tratamento vip da fundação pública: dezenas de vídeos e pílulas nos canais da fundação.

Mas o puro creme do proselitismo político e do negacionismo científico, além da instrumentalização política explícita da pandemia, fica por conta do ciclo de palestras batizado de "A conjuntura internacional pós-coronavírus". A próxima edição do evento acontece nesta quinta-feira, dia 10.

Os convidados da sexta edição, realizada no último dia 3, foram o blogueiro Paulo Eneas, do site bolsonarista e propagador de desinformação Crítica Nacional, o economista Paulo Figueiredo Filho, especialista em relações internacionais, bolsonarista e trumpista, e o professor de filosofia da Universidade Federal de Pelotas Carlos Adriano Ferraz.

O tema das palestras deixa evidente o viés anticientífico e de total contrariedade às recomendações sanitárias da Organização Mundial de Saúde, base para que a maioria dos países do mundo tenha adotado medidas de enfrentamento à pandemia: "A pandemia e a agenda globalista", "A ascensão e queda da China", "A nocividade do uso de máscaras", "O uso de máscaras e o controle social", "Mecanismos de controle do Estado sobre o indivíduo", "A pandemia foi instrumentalizada para fins políticos?", "O que fazer com a OMS?" e "A questão da obrigatoriedade da vacinação".

Todos esses temas têm sido tópico de declarações negacionistas do presidente Jair Bolsonaro ao longo da pandemia, inclusive sua mais recente investida sobre a obrigatoriedade da vacinação.

Fica evidente o uso político de uma fundação que deveria fomentar o pensamento plural, ser representativa da tradição diplomática do Itamaraty e debater doutrinas, ideias e teses respaldadas em evidências e na ciência, e não pura pregação ideológica com base em teorias da conspiração, narrativas vazias e negacionismo científico.


quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Deputado Marcelo Calero requer informação do chanceler acidental sobre as atividades da Funag

O Deputado Marcelo Calero, do Partido Cidadania, diplomata de carreira, se espanta com a lista de convidados da Funag: 

REQUERIMENTO DE INFORMAÇÃO Nº , DE 2020
(Do Sr. MARCELO CALERO)

*CD207671502400*
Documento eletrônico assinado por Marcelo Calero (CIDADANIA/RJ), através do ponto SDR_56313, na forma do art. 102, § 1º, do RICD c/c o art. 2º, do Ato da Mesa n. 80 de 2016. RIC n.756/2020 
Apresentação: 02/07/2020 17:07 - Mesa

Requer informações ao Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Henrique Fraga Araújo, sobre a realização de seminários na Fundação Alexandre de Gusmão.

Senhor Presidente,
Requeiro, com base no art. 50 da Constituição Federal, e na forma dos arts. 115 e 116 do Regimento Interno que, ouvida a Mesa, sejam solicitadas informações ao Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Henrique Fraga Araújo, sobre a realização de seminários na Fundação Alexandre de Gusmão, nos seguintes termos:
1. Quais são os critérios adotados pela Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) para a definição dos temas e dos participantes em seminários promovidos pela fundação?
2. Para atender aos objetivos básicos previstos no Art. 1º da Lei 5.717/1971, no Art. 1º do Decreto 69.553/1971, no Art. 2º do Anexo I do Decreto 10.099/2019 e no Art. 2º do Anexo I da Portaria 118/2019 do Ministério das Relações Exteriores, como a FUNAG busca incorporar em suas atividades visões diferentes daquelas das seguidas pela atual gestão, além de palestrantes das mais diversas linhas de pensamento afeto às relações internacionais?
3. Desde o início de 2019, a FUNAG tem realizado encontros em que dá voz a palestrantes que não estejam necessariamente alinhados às diretrizes da política externa da atual gestão? Quais foram as atividades realizadas e quais foram os(as) palestrantes convidados(as) pela FUNAG nesse sentido?

JUSTIFICAÇÃO
A Fundação Alexandre de Gusmão é uma fundação pública vinculada ao Ministério das Relações Exteriores que tem como objetivos a realização de atividades culturais e pedagógicas no campo das relações internacionais e da história diplomática brasileira. A fundação é responsável pela publicação de importantes coleções sobre a política externa brasileira e direito internacional, além de abrigar o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) e o Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD).
Desde o ano passado, a Fundação Alexandre de Gusmão tem dado voz a pensadores anti-globalistas. De acordo com o sr. Olavo de Carvalho (1), ideólogo anti-globalista, o globalismo seria fundamentado em três pilares: a criação de um califado internacional islâmico, o pilar russo-chinês, de aspiração comunista, e o projeto globalista ocidental, comandado pelas elites financeiras e entidades internacionais, como a Organização das Nações Unidas.
Em cumprimento aos objetivos previstos em suas normas de criação, a FUNAG tem ativamente realizado seminários, inclusive virtuais, palestras e conferências. Mais recentemente, no entanto, tem sido objeto de críticas por não promoveriam debates com visões plurais das relações internacionais, em possível prejuízo ao fortalecimento de uma visão informada e qualificada a respeito da política externa brasileira. No último dia 16 de junho, por exemplo, o canal da Fundação Alexandre de Gusmão contou com exposição do senhor Bertrand de Bragança, sobre o tema “O Brasil na conjuntura internacional do pós-coronavírus”. Em sua apresentação, Bragança atacou partidos políticos brasileiros, ferramentas de cooperação internacional e questionou a laicidade do Estado, um dos mais importantes princípios constitucionais. 
Portanto, além da possível percepção de tolhimento de vozes e ideias divergentes da atual política externa, preocupa-nos que espaços institucionais do Ministério das Relações Exteriores sejam utilizados para veiculação de mensagens que ataquem preceitos constitucionais e organizações políticas nacionais e internacionais, sob a rubrica de “conservadorismo”.

*CD207671502400*
Documento eletrônico assinado por Marcelo Calero (CIDADANIA/RJ), através do ponto SDR_56313, na forma do art. 102, § 1º, do RICD c/c o art. 2º, do Ato da Mesa n. 80 de 2016. RIC n.756/2020 
Apresentação: 02/07/2020 17:07 - Mesa Sala das Sessões, em de de 2020.
Deputado MARCELO CALERO
*CD207671502400*


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Só depois de postar, foi que reparei que o deputado havia dado como exemplo o improvisado "diálogo" que mantive com o guru presidencial, a quem eu chamo de Rasputin de Subúrbio e subsofista da Virgínia. Não chego a chamar de "debate", como fizeram os organizadores do Brasil Paralelo, porque eu tinha sido convidado para uma ENTREVISTA, como tinha sido o caso de outubro de 2016, que foi por eles devidamente registrada no ciclo de vídeos (e que ainda está disponível neste link: https://youtu.be/fWZXaIz8MUc). Apenas no dia da "entrevista", em dezembro de 2017, que fui confrontado com aquela figura soturna, mau-humorada e cheia de verdades pré-fabricadas (mas que não são aquelas que ele tinha 20 ou 30 anos atrás). Indiferente à sua presença do outro lado da tema, dei o meu recado, dizendo o que eu pensava do globalismo e do antiglobalismo (teoria conspiratória e delirante de paranóicos reacionários que não têm a menor ideia do mundo real, e que são absolutamente ineptos em relações internacionais, o que é o caso particular do congregador de idiotas dispersos na sociedade). Ele também passou a me atacar durante a sessão, o que me foi totalmente indiferente. Depois da gravação, em seu blog e depois nos canais da malta que o segue, fui atacado com os mais vulgares xingamentos, naquele estilo escatológico que todos conhecem (sem problemas, registrei tudo isso em postagens subsequentes de meu blog, já em janeiro de 2018). As consequências vieram depois, quando o guru entronizou um diplomata inexperiente como chanceler acidental. O resto é história.