Silêncio do Itamaraty sobre ameaça de Maduro contradiz fala de Lula por democracia
Coluna do Estadão, 19/07/2024
Governo Lula silenciou sobre a ameaça do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de que haverá um 'banho de sangue' e uma 'guerra civil fraticida' caso não vença as eleições. No Itamaraty, interlocutores dizem manter os olhos atentos, mas argumentam não caber comentário público sobre o processo eleitoral de outro país. A justificativa não se sustenta e expõe o comportamento ideológico da atual gestão, na visão de especialistas. 'O Itamaraty deveria manifestar a preocupação com as declarações de Maduro. Afinal o presidente Lula afirmou que Brasil vai reconhecer o resultado das eleições', disse a Coluna o presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior, Rubens Barbosa, que foi embaixador do Brasil em Londres e em Washington.
DESCULPA. 'O Brasil tem a postura de não interferência em assuntos internos, mas é uma situação que o país participou do diálogo para construir o processo eleitoral, então teria condições de ser um interlocutor', avalia a professora especialista em América Latina, Denilde Holzhacker. 'A visão é de que Lula tem feito pouco', complementa.
CORPO MOLE. Gunther Rudzit, professor de relações internacionais, diz que Lula deveria falar com Maduro e fazer 'uma declaração pública forte'. 'O problema é que, pelas visões ideológicas, isso não tem sido feito pelo governo e pelo presidente'. Para ele, a ameaça do ditador é real.