Quem ainda defende a “eficiência” da Odebrecht deveria olhar o que eles fizeram em Angola
Ivanildo Terceiro
@ivanildoiii
É a crônica de uma empresa que só existe e continuou existindo enquanto podiam corromper e pagar propina. Acompanhem comigo.
Era 2005. A Odebrecht colhia os frutos da amizade de décadas entre Emílio Odebrecht (doravante “EO”) e Lula. Marcelo Odebrecht (MO) se preparava para assumir o conglomerado e acumulava cada vez mais funções.
Quando, naquele ano, se descobriu que os generais angolanos pretendiam fazer uma licitação com concorrentes reais, MO foi à loucura. Era um absurdo! Depois de tantos anos de “apoio” (o eufemismo preferido do grupo para propina), agora, se voltavam contra eles?
O problema não era perder a obra, peixe pequeno quando comparado a tudo o que o grupo fazia, o problema era o precedente: a Odebrecht ia ter que concorrer!
MO mandou seus emissários a campo. Descobriu que a concorrência era pedida por um grupo dentro da Presidência da República do Brasil! Inadmissível para a Odebrecht! Investigaram mais e descobriram que os mentores da operação eram da República de Ribeirão Preto, o nome jocoso por qual o grupo de figurões que circulavam o então todo poderoso Antonio Palocci era chamado.
No final, MO ganhou mais uma. Décadas de parceria (outro eufemismo) não seriam desfeitos do dia para a noite — e os angolanos sabiam quem pagava bem.
A relação da empreiteira com a ditadura local chegou ao ponto em que a Odebrecht dizia quais obras deveriam ser feitas, escrevia o edital, e se associava aos indicados do Ditador José Eduardo Santos para "dar um apoio" a eles.
Tais obras não ocorriam por causa da expertise técnica da empreiteira, nem pela sua capacidade de agradar os seus clientes (os corruptos que pediam a obra), mas porque ela também conseguia que o Governo Brasileiro financiasse os projetos, empurrando todo o risco de calote para o pagador de impostos. Isso, claro, não vinha de graça.
Na sua delação premiada, EO afirma que por volta de 2008 pediu a Lula uma “ajuda” do governo para aumentar o limite de financiamento do país africano com.o Brasil. Lula, então, o teria encaminhado para o ministro Paulo Bernardo, que sem titubear mandou na lata: aumentar o limite de crédito dos angolanos custaria R$ 40 milhões para a empreiteira.
No final, você deve imaginar o que ocorreu. Mesmo contra pressão dos técnicos do Ministério da Fazenda, Lula assinou a extensão de crédito, obras foram iniciadas, propinas foram pagas, e a roda que mantinha a ditadura angolana explorando o seu próprio povo continuou girando.
Lula e a Odebrecht ainda guardam outra ligação com Angola.
O sobrinho do primeiro, Taiguara Rodrigues dos Santos, fez fortuna se tornando fornecedor da Odebrecht nas obras angolanas. Saiu de um quarto e sala no litoral paulista para uma cobertura duplex de 255m2 em Santos com uma Land Rover na garagem. Seus contratos entre 2011 e 15 somaram mais de 20 milhões de dólares, mas isso é história para outro momento.