Não conheço o autor, João Cesar de Melo, mas conheço quem me enviou. Trata-se de um texto absolutamente indignado, que tenta descobrir os culpados pela atual situação do Brasil. Não concordo com tudo o que ele diz, mas creio que tem razão na maior parte das acusações.
Mostra sobretudo sua indignação em face do quadro atual, e sua certeza de que tudo vai piorar, e muito, antes, de começar a melhorar, uma hipótese ainda distante.
Acho que ele tem razão, eu diria que a 80%.
Apenas por isso eu coloco este texto aqui, a despeito de ser altamente subjetivo (mas com fundamentos).
Paulo Roberto de Almeida
Os culpados e as certezas
João Cesar de Melo
Como um delinquente
bêbado, pouco mais da metade da população decidiu continuar acelerando inconsequentemente na mesma
curva que
seus vizinhos capotaram. Capotará
também, porém, levando consigo a
outra
metade da população que o acompanha sentada à sua direita, no
banco do carona.
Devemos ter pena
dessa outra metade? Devemos vê-la como inocente?
Não.
Apesar de sua lucidez
e honestidade, ela sempre foi passiva,
tanto, que virou cúmplice de sua própria tragédia. Foi
covarde. Teve
medo de impor limites àqueles
que pediram e depois assumiram o volante.
Os culpados pela reeleição de Dilma:
Fernando Henrique Cardoso por sua tolerância com as sabotagens,
ofensas e calúnias que sofreu durante
seu governo, o que soou aos
ouvidos do PT
como uma permissão para continuar com aquela
estratégia de se chegar ao poder.
Qual foi sua atitude
diante dos falsos dossiês sobre sua vida? Nenhuma.
Qual foi sua atitude
com aqueles que invadiram, depredaram e
saquearam (com apoio de Lula) a fazenda de sua família?
Nenhuma.
Fernando Henrique
Cardoso não foi homem nem para defender sua esposa
(quem dedicou sua vida a projetos sociais) das calúnias
que sofreu.
Nas três eleições
seguintes, José Serra e Geraldo Alckmin
concorreram à presidência sem bater no PT afundado em
casos de
corrupção e permitindo que Lula e
Dilma pejorassem as privatizações
de FHC.
Nesses 12 anos de
governo petista, o PSDB não apenas fez uma
oposição frouxa, mas assistiu passivo o PT promovendo
uma massiva campanha de desconstrução do
governo de Fernando Henrique Cardoso.
Enquanto os tucanos
tentavam conquistar votos exibindo a beleza de
suas penas, a imprensa e a Justiça também se continham
diante dos
desvios e afrontas da esquerda
liderada pelo PT. Temendo serem vistos como
a continuidade da postura antidemocrática
do
regime militar, a maior parte dos jornalistas, dos meios de
comunicação, dos promotores e dos juízes deram espaço e
liberdade
para o movimento "socialista"
divulgar suas ideias, por mais
absurdas que
fossem.
Lula
construiu carreira pregando a espoliação
do capital e da propriedade privada.
Viram, passivos, o PT sendo preenchido por aqueles que
defendiam o
alinhamento do Brasil com todos
os líderes da extrema esquerda
latino-americana.
Ignoraram o Foro de São Paulo. Assistiram o PT acolhendo e projetando politicamente
ex-guerrilheiros e comunistas* declarados. Livraram
muitas e muitas
vezes o PT e sua militância
do peso da lei para evitar serem taxados
de
repressores.
Obviamente, artistas
e intelectuais também passaram a endossar todas
as ações de Lula e do PT por vê-los como um poema
revolucionário que
levaria progresso ao
país.
Sustentando esta
tolerância irresponsável estavam pequenos
empresários, profissionais autônomos e assalariados
comuns que
tentavam construir suas vidas
por si mesmos, por meio de seus
esforços e
talentos.
Mesmo sentindo a faca estatal lhe
cutucando o pescoço com cada vez
mais força
por meio de impostos e burocracias, mantiveram-se
indiferentes aos absurdos do governo por... não gostar
de se
manifestar sobre essas coisas de
política; covardia que permitiu aos
cretinos
e canalhas ditarem o caminho que o Brasil seguiria.
Aqui estamos,
assistindo uma ex-guerrilheira comunista sendo
reeleita Presidente da República, ovacionada por uma
militância que
prefere ostentar bandeiras
do PT em vez de bandeiras do Brasil.
Aécio Neves e seus
eleitores foram bravos, porém, tardios.
Levantaram-se apenas quando o PT já estava com a maior
parte da
máquina estatal trabalhando para
si. Depois de tantos anos sendo
complacentes
com as boas intenções e com os métodos petistas, agora
sentem o amarguíssimo gosto de se verem condenados a
serem meros
financiadores de um projeto
ideológico.
Gabeira, Gullar e
outros intelectuais demoraram demais para se
posicionar contra os absurdos do PT.
Como símbolo da
covardia da metade não corrompida do Brasil, aponto
Joaquim Barbosa. Mesmo sendo reconhecido pela população
como um
herói por seu posicionamento no
processo do Mensalão, retirou-se
covardemente
de cena logo quando a sociedade mais precisava dele.
Foi ameaçado e caluniado de todas as maneiras pelo PT,
mesmo assim
se manteve distante do processo
eleitoral. Teriam bastado duas ou
três
manifestações públicas dele em apoio ao candidato do PSDB para
Dilma perder muitos votos. Mas não... Joaquim Barbosa
não quis se
meter na política. Prezou sua
imagem. Foi covarde.
Infelizmente, foram
em vão os esforços e a coragem das poucas
pessoas que nestes anos todos denunciaram os absurdos do
PT.
A certeza que tenho é
que a metade não corrompida da sociedade
voltará à sua covarde e histórica reclusão enquanto o PT
acelerará a concretização de seu projeto de
poder; e ninguém poderá acusá-lo de
ter nos
enganado.
Todos os seus
objetivos sempre foram muito claros. Suas ações, seus
pronunciamentos, suas alianças... Nada foi escondido.
Dilma Rousseff deixou
bem claro que não mudará a condução da
economia, que não enxugará a máquina pública, que não
tirará nenhum
companheiro das estatais, que
não deixará de financiar projetos em
Cuba,
Venezuela e outros países.
O Brasil vai quebrar,
pois o PT
precisa que
quebre.
Quanto pior for a
situação do país, Dilma terá mais justificativas
para intervir na economia, na justiça, na imprensa e na
liberdade
das pessoas.
O PT quer tirar o
poder político e econômico da classe média para
torná-la dependente do Estado.
Os ricos que não forem embora se aliarão ao partido.
Anotem:
1. Dilma forçará sua
reforma política para transferir poder do
Legislativo
para o
Executivo e para os movimentos sociais ligados ao PT;
2. Perseguirá, sem
pudor, toda a Justiça e imprensa não alinhadas
ao PT,
anulando os
processos que estão em curso, blindando Lula de toda e
qualquer acusação;
3. Remodelará a
constituição de modo que preserve o PT no poder;
4. Colocará sua
militância na rua para intimidar qualquer
manifestação da
sociedade
independente;
5. Efetivará as
diretrizes do Foro de São Paulo,
institucionalizando um
bloco socialista de ajuda mútua entre Cuba, Venezuela,
Bolívia,
Argentina e outros países
"socialistas".
Adorarei reconhecer,
daqui uns anos, que minhas projeções estão erradas mas, hoje, não me é possível enxergar como processos
distintos o que acontece aqui e o que aconteceu na
Venezuela, aonde
a maior parte das pessoas
que agora vão às ruas protestar contra o
governo
foram às ruas apoiá-lo anos atrás.
Arrependeram-se tarde
demais.
Arrependeram-se não
como um delinquente depois da capotagem.
Arrependeram-se como um carona que permitiu ser
conduzido por um
bêbado irresponsável.
Agora, lá estão os venezuelanos, presos a uma maca e
sobrevivendo de
soro.
Logo, o Brasil será
um "país de arrependidos."
Sobre o autor: João
Cesar De Melo
Arquiteto, artista
plástico e
escritor. Escreveu
o livro Natureza Capital.
Lembre-se sempre:
"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo
começo,
qualquer um
pode começar agora e fazer um novo fim".