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domingo, 26 de maio de 2024

Trepidações da globalização - Luiz Gonzaga Belluzzo (Carta Capital) - comentários preliminares de Paulo Roberto de Almeida

Agradeço a Mauricio David a remessa do artigo abaixo, de Luiz Gonzaga Belluzzo, que li com atenção e que mereceu as observações que transcrevo abaixo, em minha correspondência a ele dirigida.

O artigo do Belluzzo é interessante ao apontar o sucesso da China na oferta global de produtos manufaturados, algo verificável pelos números. A China já era a maior economia mundial até o século XVIII, e antes já era o país mais avançado tecnologicamente até que a Europa iniciasse a sua revolução científica no século XVII e a primeira revolução industrial no século XVIII justamente. Depois ela se atrasou, e perdeu a primeira, a segunda e a terceira revolução industrial só engatando na quarta, com Deng Xiaoping, como ele aponta corretamente.
Atualmente, ela já está na quinta, ou talvez na sexta revolução industrial. Assim como patentes e padrões industriais foram basicamente europeus no século XIX, e se converteram em padrões americanos, europeus e japoneses no século XX, os padrões e patentes no século XXI serão (já são) crescentemente chineses e a partir de agora indianos e outros asiáticos, mas isso não significa que o Ocidente (Europa, América do Norte, Japão e outros off-shots ocidentais) percam sua capacidade científica e tecnológica. Continuarão, mas a concorrência será cada vez mais acirrada.
Onde eu acho que o Belluzzo deixa a realidade e envereda pelo delírio ideológico é essa mania da esquerda de achar que tudo é culpa do neoliberalismo e do Consenso de Washington, como se alguma vez em toda a nossa história passada, presente e imediata fomos, no Brasil ou na AL, neoliberais e adeptos do Consenso de Washington, o que para ele significa a origem, a razão e a culpa do nosso atraso. Isso é uma bobagem só justificada pela sanha desses unicampistas de acharem que fomos ou somos neoliberais, daí o nosso fracasso.
O caso chinês é absolutamente único e exclusivo na história, e se os doutos unicampistas quiserem substituir, aqui, o Consenso de Washington pelo “modelo chinês” - que ninguém sabe exatamente o que é e que ninguém saberá reproduzir ou imitar, pois isso é impossível – o fracasso será também inevitável. 
Nossos males são de origem, como já adivinhava Bonfim um século atrás, e não conseguimos corrigi-los nos últimos cem anos. Continuaremos patinando na letargia econômica e no desenvolvimento social pelo futuro próximo. Só não podemos achar que trocar o “neoliberalismo” (inexistente) por um “modelo chinês” vai resolver nossos problemas.
Paulo R. de Almeida (26/05/2024)

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Trepidações da globalização


Luiz Gonzaga Belluzzo 

CartaCapital, domingo, 26 de maio de 2024

 

As novas condições econômicas foram apontadas como o rumo da eficiência, mas só incautos acreditaram

O Centre d’Études Prospectives et d’Informations Internationales (CEPII) arriscou uma investigação cuidadosa a respeito do avanço da China nos mercados globais. Vou reproduzir, com as adaptações necessárias, as observações mais pertinentes do estudo da importante instituição francesa.

Em 2019, a China detinha uma posição dominante na economia global, definida por uma participação de mais de 50% do mercado mundial de exportação de quase 600 produtos. Essa avaliação foi obtida a partir de uma investigação realizada em um universo de classificações comerciais que abrangem cerca de 5 mil produtos.

Isso significa que a China fornece pelo menos metade das importações globais desses produtos. Este número é seis vezes maior do que o número equivalente para os Estados Unidos, Japão ou qualquer outro país. Mesmo a União Europeia, considerada como um todo, não atinge metade desse nível.

O documento do CEPII observa que isso é intrigante, e tem consequências. “De fato, a estreita interdependência econômica, e as relações comerciais em particular, são cada vez mais consideradas pelas lentes da dependência, levantando assim questões de vulnerabilidade. Uma posição dominante, tal como a definimos, é significativa porque implica que os compradores de um bem nos mercados internacionais terão dificuldade em substituir o seu fornecedor por outro.”

Vou aborrecer o caro leitor de ­CartaCapital com digressões históricas que, talvez, justifiquem a preeminência chinesa conquistada desde as reformas de Deng Xiao Ping nos anos 80. Essas reformas lançaram a China à liderança industrial já nos anos 90.

Ironias da globalização: nesse período de transformações os Estados Unidos não só pressionaram os parceiros a promover a liberalização das contas de capital como também executaram políticas que favoreceram a valorização do dólar, o que reforçou o movimento de migração da grande empresa para espaços econômicos mais favoráveis à “competitividade”.

A partir daí o mundo presencia um movimento de profunda transformação na divisão internacional do trabalho. A Ásia se torna produtora e processadora de manufaturas – peças, componentes e bens finais de consumo e de capital. Conforma-se em torno da China emergente uma “mancha manufatureira”, grande importadora de matérias-primas. Com a nova divisão internacional do trabalho, a economia nacional americana amplia o seu grau de abertura comercial, passa a gerar um déficit comercial crescente para responder à expansão “mercantilista” dos países asiáticos e avançar na liderança do seu mercado financeiro e de capitais.

Nesse ambiente monetário financeiro, a China executa políticas nacionais de industrialização ajustadas ao movimento de expansão da economia “global”. As lideranças chinesas perceberam que a constituição da “nova” economia mundial passava pelo movimento da grande empresa transnacional em busca de vantagens competitivas, com implicações para a mudança de rota dos fluxos do comércio. Os chineses ajustaram sua estratégia nacional de industrialização acelerada às novas realidades da concorrência global.

A experiência chinesa combina o máximo de competição – a utilização do mercado como instrumento de desenvolvimento – e o máximo de controle. Entenderam perfeitamente que as políticas liberais recomendadas pelo Consenso de ­Washington não deveriam ser “copiadas” pelos países emergentes. Também compreenderam que a “proposta” americana para a economia global incluía oportunidades para o seu projeto nacional de desenvolvimento.

Assim controlaram as instituições centrais da economia competitiva moderna: o sistema de crédito e a política de comércio exterior, aí incluída a administração da taxa de câmbio. Os bancos públicos foram utilizados para dirigir e facilitar o investimento produtivo e em infraestrutura.

O avanço chinês desenvolveu seus propósitos ao longo das transformações estruturais da economia global. No assim chamado período neoliberal, as economias nacionais do Ocidente flutuaram ao sabor da concorrência comandada pela grande empresa submetida à poderosa lógica da finança. As enormes massas de capital lançam-se com fúria às megafusões, à conquista e à “reserva” dos mercados. Mais que nunca, a concorrência capitalista tornava efetiva a sua razão interna, engendrando o monopólio, o que significa impor barreiras à entrada de novos competidores, sejam eles empresas, sejam países.

Há simultaneamente dinamismo e estagnação, avanço vertiginoso das forças produtivas em algumas áreas e setores associados à regressão em outras partes. Há décadas, a China executa políticas nacionais de industrialização ajustadas ao movimento de expansão da economia “global”.

As lideranças chinesas perceberam que a constituição da “nova” economia mundial passava pelo movimento da grande empresa transnacional em busca de vantagens competitivas, com implicações para a mudança de rota dos fluxos do comércio. Os chineses ajustaram sua estratégia nacional de industrialização acelerada às novas realidades da concorrência global.

Nessa etapa globalista, as circunstâncias foram desfavoráveis para os sistemas empresariais das regiões que se entregaram a um ajustamento passivo às novas condições econômicas e sociais. Isso foi apresentado aos incautos da Terra de Santa Cruz como o resultado natural e benéfico de uma convergência ideológica, política e econômica na direção dos ganhos de eficiência e de produtividade.

No Brasil, os avatares da globalização revigoraram o pensamento liberal e tornaram predominante o cosmopolitismo liberal que se empenha a fundo nos misteres de borrar as diferenças entre as situações nacionais. Trata-se de ocultar e negar a existência de hierarquias e dominação nas relações internacionais e de exaltar as virtudes regeneradoras da concorrência.

Daí a insistência nos apelos à abertura comercial, ao estímulo à privatização e para combater a “deplorável” ineficiência da indústria nacional, que deve ser disciplinada mediante a maior exposição à concorrência externa.

Tenho a impressão que o presidente americano Biden não concorda. Despejou tarifas pesadas sobre a importação de produtos chineses. 

Publicado na edição n° 1312 de CartaCapital, em 29 de maio de 2024.

 

sábado, 12 de março de 2022

Lições monetárias da Primeira Guerra Mundial - Luiz Gonzaga Belluzzo (Carta Capital)

Ontem e hoje
Lições monetárias da Primeira Guerra Mundial

Luiz Gonzaga Belluzzo

 01:15:11 | 11/03/2022 | Economia | Revista Carta Capital 


A maioria dos países saiu do primeiro conflito mundial com as finanças públicas destroçadas pelo financiamento das despesas militares, realizado basicamente por meio do endividamento e da emissão de papel-moeda inconversível. As dívidas de guerra e as reparações exigiram um esforço adicional de obtenção de recursos fiscais que as populações - principalmente as classes abastadas - não estavam dispostas a conceder aos governos.

Esmagada pelas reparações de guerra que lhe foram impostas pelo Tratado de Versalhes, a economia alemã sucumbiu à impossibilidade de gerar as divisas necessárias para servir o que lhe fora imposto. A fuga sistemática do marco para o dólar e a libra, as moedas-reservas do Gold Exchange Standard, disparou a hiperinflação e a necessidade de emissões monetárias do Reichsbank para "cobrir" a fuga desesperada da moeda nacional.

Em sua ressurreição, sob a forma do Gold Exchange Standard, o padrão-ouro foi incapaz de reanimar as convenções e de reproduzir os processos de ajustamento e as formas de coordenação responsáveis pelo desempenho anterior. O último país a declarar oficialmente sua adesão ao padrão-ouro foi a França, em 1928. Antes dela, entre 1923 e 1925, retornaram a Alemanha e seus companheiros de hiperinflação, Áustria, Hungria e Polônia. Esses náufragos da moeda destroçada foram socorridos pelos empréstimos de estabilização, concedidos, sobretudo, pelos bancos norte-americanos.

A volta mais aguardada era a da Inglaterra. Isso ocorreu em 1925, de forma inadequada. O estabelecimento da paridade da libra com o ouro no mesmo nível que prevalecia antes da guerra foi a causa de muitos dos problemas de coordenação que se apresentaram durante os conturbados anos 1920 e 1930.

Sob a forma modificada do Gold Exchange Standard, que permitia - diante da escassez de ouro - a acumulação de reservas em moeda "forte" (basicamente o dólar e a libra), esse arranjo monetário provocou assimetrias no ajustamento dos balanços de pagamentos e desatou, frequentemente, uma especulação causadora de instabilidade nos mercados financeiros. A decisão da Inglaterra, tomada em 1925, de voltar à paridade do período anterior à guerra, era claramente incompatível com o novo nível de preços interno e tampouco reconhecia o declínio de seu poderio econômico e financeiro.

Os Estados Unidos saíram do conflito com créditos acumulados contra os países europeus e fortalecidos economicamente diante de competidores que tiveram suas economias destroçadas. A "sobrevalorização" da libra e a "subvalorização" de outras moedas, principalmente do franco, causaram, ao longo do tempo, o aprofundamento dos desequilíbrios do balanço de pagamentos e pressões continuadas sobre a moeda inglesa. As perspectivas dos mercados quanto à sustentação da paridade eram pessimistas e os ajustamentos entre países superavitários e deficitários não ocorriam.

Os déficits e os superávits tendiam a se tornar crônicos, em boa medida porque os países superavitários tratavam de trocar seus haveres em "moeda forte" por ouro. Os Estados Unidos, a França e a Alemanha acabaram por concentrar uma fração substancial das reservas em ouro, contribuindo para confirmar as expectativas negativas quanto ao futuro da libra.

Os capitais privados, principalmente de origem norte-americana, entre 1925 e 1928, estimulados pelos diferenciais de juros (e ativos baratos) nos países de moeda recém-estabilizada, em particular na Alemanha, formaram bolhas especulativas, ávidos em colher as oportunidades de ganhos de capital. O ciclo de "inflação de ativos" estrangeiros foi concomitante à rápida valorização das ações da Bolsa de Valores norte-americana. Essa onda de especulação altista, como não poderia deixar de ser, foi alimentada pela expansão do crédito nos Estados Unidos, onde as taxas de desconto ainda foram reduzidas, em 1927, para aliviar as pressões exercidas contra a libra.

O desastre que se seguiu foi consequência da mudança de sinal da política monetária dos EUA, em meados de 1928.0 Federal Reserve, preocupado com o aquecimento da economia e com a febre dos mercados financeiros, subiu a taxa de desconto, provocando o "estouro" da bolha especulativa em outubro de 1929. Os "grilhões dourados" do regime monetário tiveram grande responsabilidade na imobilização das políticas econômicas, determinando uma quase completa incapacidade de resposta e de coordenação dos governos da Europa e, ao menos até 1933, dos Estados Unidos.

Antes da eclosão da guerra Rússia-Ucrânia, o Federal Reserve, pressionado pela inflação norte-americana, prometia a elevação da policy rate e a redução dos estímulos monetários. Vai cumprir a promessa? A história não se repete, mas rima, já dizia MarkTwain. 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

A tragedia da "politica industrial" do governo (politica?; industrial?) - Mansueto Almeida

Keynesianos de botequim ainda acreditam que o governo é mais esperto que o mercado, e que ele pode desenhar e implementar uma política industrial ótima.
Este economista, e Edmar Bacha, são mais realistas.
Mas quem disse que os keynesianos de botequim do governo estão interessados em críticas construtivas?
Paulo Roberto de Almeida

Segue abaixo um artigo que havia preparado para o VALOR e que foi publicado na edição desta quarta-feira dia 8 de maio. No entanto, por problemas de espaço, a versão publicada é um pouco menor do que o artigo original. Assim, o que reproduzo abaixo é o artigo original que é diferente da versão mais curta publicada no jornal, que não inclui os quatro últimos parágrafos.

Política industrial e equilíbrio fiscal

Por Mansueto Almeida
Valor promoveu um debate interessante entre os professores Edmar Bacha e Luiz Gonzaga Belluzzo sobre o futuro da indústria no Brasil reproduzido no caderno Rumos da Economia, de 2 de maio; e, na edição do dia 6, publicou matéria com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Essas entrevistas contribuem para a discussão do futuro da indústria no Brasil.
Um primeiro ponto destacado pelos três economistas é o reconhecimento que a elevada carga tributária, no Brasil, atrapalha a competitividade da indústria. Estudo recente da Bain e Company para Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) destaca que, em média, 40,3% do preço da indústria no Brasil resulta da elevada carga tributária. Isso não seria problema se a produtividade da indústria e da economia fossem elevadas. Mas não é esse o caso. É recorrente em todas as análises que reduzir a carga tributária é importante para o futuro da indústria no Brasil.
Segundo, os três economistas reconhecem que a taxa de câmbio mais desvalorizada é importante para aumentar a rentabilidade das exportações de manufaturados. No entanto, como conseguir uma taxa de câmbio mais desvalorizada não é consensual. O professor Bacha deixa claro na sua análise, ao falar do controle do crescimento do gasto público, que déficit em conta corrente é resultado do excesso de demanda sobre oferta. O governo, ao tentar fixar “na marra” a taxa de câmbio, apenas ocasionaria mais inflação e não resolveria o problema da indústria. Assim, salvar a indústria passaria, necessariamente, por uma redução do gasto do governo, em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que permitiria o aumento do investimento público, a redução de carga tributária e uma abertura planejada da economia.
Os outros dois economistas, Belluzzo e Coutinho, reconhecem a necessidade de maior responsabilidade fiscal, mas parecem acreditar que é possível o governo fixar a taxa de câmbio. Os dois passam a impressão que haveria um aumento de oferta decorrente de uma taxa de câmbio mais desvalorizada. No entanto, em uma economia com mercado de trabalho aquecido, maior desvalorização cambial se transforma em inflação e não resolve o problema de competitividade da indústria. Portanto, a necessidade de maior ajuste fiscal aparece novamente, e mesmo Belluzzo confessa que já chegou a defender uma proposta de “déficit (fiscal) nominal zero”.
Terceiro, os três especialistas falam da importância de maior integração das empresas industriais brasileiras às cadeias de produção global. Mas novamente, por trás desse aparente consenso, há divergências de como essa maior integração ocorreria. Bacha defende a redução da exigência de conteúdo nacional e de tarifas de importação. O maior processo de integração de empresas brasileiras ao resto do mundo resultaria da maior abertura, com perdedores e vencedores escolhidos pelo mercado.
Belluzzo e Coutinho, no entanto, acreditam em maior integração a partir de escolhas do governo via política industrial direcionadas a setores mais intensivos em tecnologia e com maior poder de disseminação de inovação para outros setores, por meio do uso de conteúdo nacional e compras governamentais. Os dois economistas parecem acreditar que maior integração com as cadeias globais é importante desde que parcela substancial de algumas cadeias (intensivas em tecnologia) estejam no Brasil.
Bacha e Coutinho utilizam o mesmo exemplo, a Embraer, para defender pontos de vistas totalmente diferentes. Bacha mostra que a Embraer é competitiva porque compra o que há de melhor no mundo para incorporar na sua produção, o que é possível pelo fato de a empresa não estar sujeita às amarras do conteúdo nacional. Coutinho cita o mesmo exemplo de sucesso de política industrial, mas quando questionado pelos repórteres do fato de a empresa ter baixo conteúdo nacional, reconhece que esse não seria o modelo ideal.
Apesar das diferenças comentadas acima, o que surpreende é que todos os três economistas com larga experiência na academia e governo reconhecem a necessidade de uma maior economia fiscal para “salvar a indústria”. No entanto, ao contrário do que poderia sugerir o debate, estamos fazendo exatamente o contrário.
Por exemplo, a agenda de desonerações de setores específicos da indústria está sendo implementada sem que tenha ocorrido um controle do crescimento da despesa pública. Assim, a maior desoneração levará a uma menor economia fiscal e, consequentemente, menor capacidade de o governo aumentar o investimento público. O aumento da dívida e repasses para bancos públicos com o aumento dos subsídios também limitam o espaço fiscal para novas desonerações e aumento do investimento público. Novamente, a agenda de curto prazo para salvar a indústria atrapalha a agenda fiscal de longo prazo da qual depende a indústria. Por fim, a agenda de concessões com o aumento dos subsídios do BNDES para que as novas obras de investimento saiam do papel pesa sobre as contas públicas e, assim, não permite novas desonerações ao longo dos próximos anos.
Em resumo, sem precisar entrar no mérito das ações de política industrial, uma agenda que o presidente do BNDES não cansa de repetir que é “muito complexa”, o que fica claro no debate do futuro da indústria no Brasil é a necessidade de o mesmo estar ligado ao debate fiscal. Infelizmente, não é isso que  está acontecendo e, assim, as ações de curto prazo para estimular o crescimento de indústria e da economia estão aumentando a incerteza do cenário fiscal de médio e longo prazo e, logo, do próprio futuro da indústria.