Nesta próxima quarta-feira, dia 23, vou receber no IPRI o embaixador aposentado Marcelo Raffaelli, que prestará um depoimento sobre sua vida, obra e atividades profissionais para a série "Relações Internacionais em Pauta", do IPRI (
http://www.funag.gov.br/ipri/riempauta/).
Dele eu tenho um livro publicado em inglês sobre os acordos internacionais de produtos de base, elaborado com base em sua experiência de trabalho no Gatt, e a obra sobre as relações Brasil-Estados Unidos no século 19, publicado em dois volumes pela Funag.
Sobre essa obra eu fiz uma resenha quando os dois volumes foram divulgados, que transcrevo abaixo no formato publicado na revista
Desafios do Desenvolvimento:
Relações Brasil-Estados Unidos, na
infância
Paulo Roberto de Almeida
Desafios do Desenvolvimento (maio 2007)
Marcelo Raffaelli:
A Monarquia e a
República: Aspectos das Relações entre Brasil e Estados Unidos Durante o
Império
(Rio de Janeiro-Brasília: Centro de História e Documentação Diplomática/Funag, 2006, 290 p.)
Exemplo de síntese
histórica,em sua objetividade e concisão, a compilação de despachos e ofícios
trocados ao longo do século XIX por diplomatas brasileiros e norte-americanos,
com suas respectivas secretarias de Estado, compõe um relato saboroso das
relações entre dois grandes países do hemisfério.O autor é diplomata
experiente, com passagens por diversas embaixadas e longo estágio como
funcionário do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, das iniciais em inglês
de General Agreement on Tariffs and Trade).
Aposentado, atual presidente da Associação dos Diplomatas Brasileiros,
pesquisou velhos arquivos empoeirados (os americanos certamente microfilmados).
Organizado
tematicamente, antes que cronologicamente, o livro abrange desde o
reconhecimento da Independência brasileira até o fim do regime monárquico e a
inauguração da República no Brasil, bem recebida pelos Estados Unidos.O
delicado equilíbrio entre os poderes traçado na Constituição de 1786 – cuja
inspiração os founding fathers foram
buscar em Montesquieu – serviu de modelo para que Rui Barbosa e outros
republicanos tentassem mimetizar o sucesso americano, a começar pela designação
da nova federação como “Estados Unidos do Brazil”(assim mesmo, com “z”).
Aparentemente, o molde não bastou para frutificar por aqui.
A obra realiza uma
descrição sintética de cada um dos chefes de missão e suas respectivas
instruções diplomáticas,o que permite contrastar a objetividade comercial dos
anglo-saxões com a generalidade das metas brasileiras no gigante em formação.
Analisa, ainda,os problemas do tráfico escravo (abolido bem antes nos EUA, que
se dedicaram à “criação”de escravos) e alguns contenciosos diplomáticos
decorrentes da Guerra de Secessão.Outro problema abordado é o da impossível
abertura do rio Amazonas à navegação internacional, reclamada por americanos e
europeus, mas temida pelos dirigentes da monarquia brasileira, numa posição
diametralmente oposta às demandas brasileiras no rio da Prata,que era a única
via de acesso às terras de Mato Grosso. Interessante à leitura, também, são os
despachos nos quais os enviados a cada capital comentam características do povo
e do país em que servem, com toda a franqueza dos papéis confidenciais.
No plano historiográfico,
trata-se de um excelente resumo de fontes primárias, com intenso apoio nos
arquivos oficiais e em bibliografia equilibrada.O autor deixa falar os velhos
papéis,o que contrasta saudavelmente com certas obras que, ao pretender
analisar a emergência da “nova Roma” da atualidade, descambam rapidamente para
teorias conspiratórias. Raffaelli produziu uma excelente síntese sobre as
relações entre os dois gigantes hemisféricos, antes que este gigante meridional
pretendesse estabelecer “relações especiais” com o Big Brother do norte, já na
era do barão de Rio Branco.
O livro está disponível na Biblioteca Digital da Funag:
http://funag.gov.br/loja/download/329-monarquia-e-a-republica.pdf
Marcelo Raffaelli por ele mesmo:
Nascido em 1929, formado em Direito pela PUC do Rio em 1953. Fiz o concurso, que tomou os inteiros 2 meses de 12/51 e 1/52, para o IRB e terminei o CPCD em maio de 1953. Na SE, trabalhei (1953-55) na velha Divisão Econômica, na Assessoria de Imprensa do Gabinete e novamente na DE; (1962-1964) na divisão da Europa Ocidental; (1971-3) chefe das Divisões de Produtos de Base e de Política Comercial; (1977-9) chefe dos departamentos da Àsia, África e Oceania e dos Organismos Regionais Americanos.
No exterior - Embaixada em Caracas, CG em Amsterdam, Missão na ONU, embaixada em Washington, Delegação junto a ALALC em Montevidéu (Representante Suplente), ministro em Londres, embaixador em Abidjã.
Em 1982 agreguei para servir no GATT, na presidência do Órgão de Vigilância dos Têxteis, onde fiquei até o fim de 1994; tinha pedido aposentadoria do MRE em 1990.
Assim, minha carreira levou-me a participar de muitas negociações bi e multilaterais, cobrindo tanto assuntos econômicos como políticos, ou políticos com fundo econômico, como os acordos sobre pesca da lagosta durante o período em que nosso mar territorial tinha 200 milhas...
Minhas publicações resumem-se a Rise and Demise of Commodity Agreements, escrito (em inglês) durante a época em que as negociações da Rodada Uruguai colocaram meu OVT em marcha lenta e me deram o tempo para tanto. Foi publicado na Inglaterra em 1995.
Também em 1995 publiquei, em coautoria com minha então assistente Tripti Jenkins, um relatório, que me foi encomendado pela associação dos países exportadores de têxteis, sobre o acordo de têxteis negociado no contexto da Rodada.
Em 1996 a FUNAG publicou A Monarquia e a República, livro que cobre aspectos das relações Brasil-EU durante o Império e que foi possibilitado pelo fato de que, morando naquele momento em Washington, pude pesquisar nos National Archives e na Biblioteca do Congresso, bem como em nosso Arquivo Histórico. Para o CHDD escrevi um artigo sobre a chamada guerra da lagosta.
Ultimamente, morando de novo em Washington, aproveitei a riqueza dos recursos oferecidos pela NARA e Bibl. do Congresso para um livro sobre o período que vai do fim da monarquia francesa, em 1792, a 1828; trata da interação, da influência que mutuamente se exerciam Europa e Estados Unidos de um lado, e do outro as colônias espanholas e o Brasil.