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domingo, 18 de agosto de 2019

Um inacreditável capitão - Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

O inacreditável capitão Bolsonaro

MARIA HELENA RR DE SOUSA

Blog do Noblat, 16/08/2019

…pessoa sem preparo algum para ocupar o cargo que ocupa, onde chegou de modo intempestivo e surpreendente. Sem filtro, sem modos, e sem cerimônia, ele diz o que lhe vem à cabeça, sem se preocupar, em absoluto, com as consequências de suas palavras…
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(PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO NOBLAT,
VEJA ONLINE, 16 DE AGOSTO DE 2019)
Talvez o mundo não veja, tão cedo, outro presidente da República como Jair Messias Bolsonaro: pessoa sem preparo algum para ocupar o cargo que ocupa, onde chegou de modo intempestivo e surpreendente.
Sem filtro, sem modos, e sem cerimônia, ele diz o que lhe vem à cabeça, sem se preocupar, em absoluto, com as consequências de suas palavras. Está no cargo desde janeiro deste ano. Já se passaram 227 dias. Desses, quantos dias tivemos sem ouvir diatribes contra pessoas, estados, países, instituições? Alguém já fez essa conta?
Não esqueço uma minientrevista de Michelle Bolsonaro antes ainda da posse. Respondendo a um jornalista que comentava a fama de rude do presidente eleito, Michelle respondeu, sorridente: “Vocês vão ver o quanto isso é falso. Meu marido é um príncipe!”.
Diante dessa afirmação, só me resta crer que o príncipe, ao contrário do que acontece nas histórias de fada, ao tomar posse de seu gabinete no Planalto, virou um sapo. E os sapos, já sabemos, são mal-encarados e estão sempre querendo assustar com seus pulos e seus coachados.
Vocês viram o que ele aprontou nos últimos dias? Contando, ninguém acredita, mas como ele faz questão que tudo que ele diz seja repetido na Internet, o mundo inteiro ficou sabendo que o Brasil está tão bem de vida que pode dispensar as verbas enviadas pela Alemanha e pela Noruega para a preservação da Floresta Amazônica.
De que maneira o capitão comunicou sua decisão à chanceler Ângela Merkel e ao ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Ola Elvestuen? Agradecido por tudo que já recebeu e comunicando que o Brasil recuperou seu poder econômico? Foi gentil e grato como um verdadeiro príncipe?
Ou coaxou?
Resultado de imagem para SAPO COAXANDO ANIAMTES GIFS…só me resta crer que o príncipe, ao contrário do que acontece nas histórias de fada, ao tomar posse de seu gabinete no Planalto, virou um sapo. E os sapos, já sabemos, são mal-encarados e estão sempre querendo assustar com seus pulos e seus coachados
Ele simplesmente disse que Ângela Merkel podia pegar o dinheiro e reflorestar a Alemanha e que aconselhava a Noruega a repassar o dinheiro que enviava ao Brasil para a Alemanha poder se reflorestar. É ou não é um fenômeno? Será que ele nunca ouviu falar das belíssimas florestas alemãs?
33% de seu território é coberto por florestas deslumbrantes. São mais de 90 bilhões de árvores que diminuem o efeito estufa, absorvem o dióxido de carbono, protegem os rios e o solo contra erosões. Isso num país que passou nos últimos 100 anos por duas guerras tenebrosas, foi ocupado por forças estrangeiras e que nem por isso parou de crescer e de tratar bem seus cidadãos. Não há cidade alemã sem esgoto sanitário ou sem transporte público. Suas ruas e praças são bem tratadas, as escolas enchem de orgulho seus administradores e as estradas, que parecem acetinadas, têm sim limites de velocidade.
Viajar pela Alemanha é um deleite para os olhos e para o espírito. Seus parques nacionais são um verdadeiro paraíso, assim como as florestas de faias. O mais apaixonante é o Parque Nacional da Floresta Bávara, cuja Floresta Negra é o lar de muitos animais raros, assim como o habitat imaginário de muitos personagens das mais lindas histórias de fadas.
A Alemanha é absolutamente encantadora.
Quando o Brasil for um país em condições de fazer qualquer tipo de ressalvas ou críticas a países como Alemanha e Noruega, prometo voltar aqui me penitenciando.
Se eu ainda estiver por aqui, naturalmente…
Imagem abertura: FLORESTA NEGRA, NA ALEMANHA
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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.

domingo, 24 de março de 2019

Perdao Barao, mil perdoes - Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Só nos resta pedir perdão ao Barão. Por Maria Helena RR de Sousa


José Maria da Silva Paranhos Junior, Barão do Rio Branco 

Só nos resta pedir perdão ao Barão

Maria Helena RR de Sousa

… Como testemunho do quanto foi amado pelos brasileiros e sobretudo pelos fluminenses, basta lembrar que Rio Branco faleceu durante o Carnaval de 1912 e que as festas foram canceladas em homenagem à passagem de seu cortejo fúnebre. Não conheço outra homenagem mais ex-corde do que essa…

(PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO NOBLAT,
VEJA ONLINE,  22 DE MARÇO DE 2019)

José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, foi um dos mais notáveis homens públicos brasileiros. A ele devemos nosso mapa, nossas fronteiras. A ele devemos o instituto da diplomacia de grande mérito, com o Ministério das Relações Exteriores que comandou durante 10 anos sendo objeto da admiração de vários países do mundo.
Diplomata,  político, advogado, geógrafo e historiador, homem tímido, Rio Branco foi uma das maiores figuras da nossa História. Um erudito que tinha paixão por servir à Pátria. Como testemunho do quanto foi amado pelos brasileiros e sobretudo pelos fluminenses, basta lembrar que Rio Branco faleceu durante o Carnaval de 1912 e que as festas foram canceladas em homenagem à passagem de seu cortejo fúnebre. Não conheço outra homenagem mais ex-corde do que essa.
… Bolsonaro levou em sua entourage o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, que disse que o Brasil ocupava um posto na  liderança mundial. De onde ele tirou isso, se nem na liderança regional estamos?  Basta ver que para uma primeira visita presidencial escolhemos Washington e não uma capital latino-americana. E tem mais: nossa aproximação foi com Trump e não com os EUA.
Pois é a esse homem que venho aqui pedir perdão. A vergonha que passamos nessa extemporânea viagem de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos teria magoado profundamente o Barão. A imprensa americana, mais antenada que a nossa, comentou com muita propriedade quem é nosso presidente: “o capitão foi uma escolha triste para o Brasil”. Para o The New York Times, por exemplo, Bolsonaro “é um político de direita com pontos de vista repulsivos”. Referia-se, certamente, ao momento em que Bolsonaro disse que preferia que seu filho morresse a que fosse homossexual…
Pois foi esse homem que, numa visita sem motivo aparente, foi recebido no Salão Oval da Casa Branca por um Trump extremamente envaidecido com toda a sabujice do brasileiro por ele.
Que não foi pouca. Além de garantir que Trump será reeleito no ano que vem, Bolsonaro ainda se jactou do apoio que dá a grande parte das decisões do líder americano, ou seja, declarando-se engajado com a política da Casa Branca. Que política é essa? O muro na fronteira com o México, possíveis ações contra a ditadura venezuelana?  Ele disse qual seria o limite desse engajamento? Não, não disse. Mas nós, ensinados pelo saudoso Barão, bem sabemos que engajamento é muito mais forte que alinhamento.
Bolsonaro levou em sua entourage o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, que disse que o Brasil ocupava um posto na  liderança mundial. De onde ele tirou isso, se nem na liderança regional estamos?  Basta ver que para uma primeira visita presidencial escolhemos Washington e não uma capital latino-americana. E tem mais: nossa aproximação foi com Trump e não com os EUA.
Ernesto Araújo ouviu bem o que conversaram os dois presidentes no Salão Oval? Claro que não. Ele não participou, quem participou foi o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, policial federal de carreira e que hoje ocupa o cargo de deputado federal por São Paulo. Foi ele quem ouviu a piadinha machista e sem graça de Bolsonaro, foi ele quem assistiu a louvação que seu pai  fez ao americano. Foi ele também quem testemunhou a decisão bolsonarista de eximir americanos, canadenses, australianos e japoneses de visto para entrar no Brasil. E foi ele também que ouviu Bolsonaro se referir ao país do norte como nossos Estados Unidos.
Por essa o Barão, que tanto prezava o amor ao Brasil, certamente não esperava… Durante toda sua vida Juca Paranhos se preocupou com a imagem do país lá fora. Para que: para um pouco mais de um século após sua morte, vir um chanceler de araque e admitir que se dissesse, em plena embaixada do Brasil em Washington, que Bolsonaro ama a Coca-Cola, a Disney e os jeans…
Nessa mesma embaixada, o escritor Olavo de Carvalho foi saudado como grande intelectual brasileiro. Pois é. A isso chegamos. Dizem que ele almeja ser nosso embaixador nos EUA. Sabem de uma coisa? Vou me alinhar à sua torcida. Acho que este governo merece ser representado pelo Olavo e creio também que Trump merece a honra.
Perdão, Barão. Mil perdões. Mas assim é, se lhe parece…
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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa: Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.

domingo, 3 de janeiro de 2016

“O que faltou, e falta, é educação” - Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

“O que faltou, e falta, é educação”.

ensinoespecial1
  Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa*
 …Lula se gaba de ter fundado mais universidades do que qualquer outro presidente. Essa obsessão por universidades, por títulos de Doutor, é típica de quem não estudou e acha que passar pelos portões de uma Universidade é chegar ao Arco-Íris.
Artigo publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 1º de janeiro de 2016

Lula disse em Madrid ao jornal El País, (11 de dezembro), “Eu sei que isto não agrada aos portugueses, mas Cristóvão Colombo chegou a Santo Domingo [atual República Dominicana] em 1492 e, em 1507, já ali tinha sido criada a Universidade. No Peru, em 1550, na Bolívia em 1624. No Brasil, a primeira universidade surgiu apenas em 1922”.

Há quem se surpreenda com a reação indignada de alguns jornais portugueses. Ora, o sujeito vai à Península Ibérica e resolve agredir Portugal. E, por tabela, o Brasil. Somos ignorantes e atrasados? Ou melhor, burros? A culpa, é claro, é dos portugueses…

Não concordo, em absoluto, com o que Lula disse, aliás, não acho que ele deva falar sobre tema do qual ele está mais distante que nós de Marte.

Nós nos tornamos independentes de Portugal em 1822. Falta muito pouco para comemorarmos os 200 anos da Independência. Quer valer quanto como Lula achou que esse assunto, explosivo, era ótimo para afastar a cabeça dos jornalistas em Madrid do que realmente interessa agora? O petrolão estruturado durante os governos Lula e Dilma e o horror em que está o Brasil, sem Saúde, sem Educação, e à beira de um poço sem fundo?

Colocar em Portugal a culpa pelo nosso atraso intelectual era o melhor que ele fazia para que ninguém lhe fizesse perguntas incômodas sobre impeachment e Lava-Jato, foi o que pensou. E deu certo!

Lula se gaba de ter fundado mais universidades do que qualquer outro presidente. Essa obsessão por universidades, por títulos de Doutor, é típica de quem não estudou e acha que passar pelos portões de uma Universidade é chegar ao Arco-Íris.

Não é. Se assim fosse, dada a quantidade de universidades erguidas pelo PT, o Brasil estaria no topo do IDH do Mundo. Não está.

Universidades são o coroamento de uma longa educação que começa em casa e passa por creches, jardins de infância, ensino básico e ensino fundamental, o alicerce da Educação.

Mais do que Instrução, o que nos falta é Educação. No mais amplo sentido.

Copio aqui, e deixo como presente de Fim de Ano para os leitores, um pequeno trecho assinado por José Saramago, intitulado ‘Lições de vida’:

“A educação preocupa-me muitíssimo, sobretudo porque é um problema muito evidente, claro e transparente e ninguém faz nada a este respeito. Confundiu-se a instrução com a educação durante muitos anos e agora estamos a pagar as consequências. Instruir é transmitir dados e conhecimentos. Educar é outra coisa, é transmitir valores […] Se, para ser educado, tivesse que ter sido instruído previamente, eu seria uma das criaturas mais ignorantes do mundo. Os meus familiares eram analfabetos, como me iriam instruir? É impossível. Mas sim, educaram-me, sim, transmitiram-me os valores básicos e fundamentais. Vivia numa casa paupérrima e saí dali educado. Milagre? Não, não há nenhum milagre. Aprendi a vida e a lição dos mais velhos quando nem eles mesmos sabiam que me estavam a dar lições”. (4 de Fevereiro de 2007. In José Saramago nas Suas Palavras)

Os valores básicos e fundamentais são transmitidos como? Pelo exemplo, não é? Em casa, de nossos mais velhos. Na rua, de nossos governantes.

O que esta inacreditável Pátria Educadora não percebeu é isso: a importância do exemplo.

E como os exemplos que temos recebido são os piores possíveis, o que fazer para que esta Pátria Revoltada transforme-se numa Pátria Educada?

Mais universidades? Ou mais ensino básico, a começar pelas creches? E escolas para onde as crianças se dirijam alegres, cientes de que lá serão tratadas com amor, respeito e cuidado?

Se nos fosse dada uma varinha de condão, o que você faria neste 1º de janeiro de 2016?

Já pensou nisso?

Que os brasileiros tenham um Novo Ano melhor que o que ontem se encerrou, são meus votos.

* Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
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