Só nos resta pedir perdão ao Barão. Por Maria Helena RR de Sousa
Só nos resta pedir perdão ao Barão
Maria Helena RR de Sousa
… Como testemunho do quanto foi amado pelos brasileiros e sobretudo pelos fluminenses, basta lembrar que Rio Branco faleceu durante o Carnaval de 1912 e que as festas foram canceladas em homenagem à passagem de seu cortejo fúnebre. Não conheço outra homenagem mais ex-corde do que essa…
(PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO NOBLAT,
VEJA ONLINE, 22 DE MARÇO DE 2019)
José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, foi um dos mais notáveis homens públicos brasileiros. A ele devemos nosso mapa, nossas fronteiras. A ele devemos o instituto da diplomacia de grande mérito, com o Ministério das Relações Exteriores que comandou durante 10 anos sendo objeto da admiração de vários países do mundo.
Diplomata, político, advogado, geógrafo e historiador, homem tímido, Rio Branco foi uma das maiores figuras da nossa História. Um erudito que tinha paixão por servir à Pátria. Como testemunho do quanto foi amado pelos brasileiros e sobretudo pelos fluminenses, basta lembrar que Rio Branco faleceu durante o Carnaval de 1912 e que as festas foram canceladas em homenagem à passagem de seu cortejo fúnebre. Não conheço outra homenagem mais ex-corde do que essa.
… Bolsonaro levou em sua entourage o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, que disse que o Brasil ocupava um posto na liderança mundial. De onde ele tirou isso, se nem na liderança regional estamos? Basta ver que para uma primeira visita presidencial escolhemos Washington e não uma capital latino-americana. E tem mais: nossa aproximação foi com Trump e não com os EUA.
Pois é a esse homem que venho aqui pedir perdão. A vergonha que passamos nessa extemporânea viagem de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos teria magoado profundamente o Barão. A imprensa americana, mais antenada que a nossa, comentou com muita propriedade quem é nosso presidente: “o capitão foi uma escolha triste para o Brasil”. Para o The New York Times, por exemplo, Bolsonaro “é um político de direita com pontos de vista repulsivos”. Referia-se, certamente, ao momento em que Bolsonaro disse que preferia que seu filho morresse a que fosse homossexual…
Pois foi esse homem que, numa visita sem motivo aparente, foi recebido no Salão Oval da Casa Branca por um Trump extremamente envaidecido com toda a sabujice do brasileiro por ele.
Que não foi pouca. Além de garantir que Trump será reeleito no ano que vem, Bolsonaro ainda se jactou do apoio que dá a grande parte das decisões do líder americano, ou seja, declarando-se engajado com a política da Casa Branca. Que política é essa? O muro na fronteira com o México, possíveis ações contra a ditadura venezuelana? Ele disse qual seria o limite desse engajamento? Não, não disse. Mas nós, ensinados pelo saudoso Barão, bem sabemos que engajamento é muito mais forte que alinhamento.
Bolsonaro levou em sua entourage o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, que disse que o Brasil ocupava um posto na liderança mundial. De onde ele tirou isso, se nem na liderança regional estamos? Basta ver que para uma primeira visita presidencial escolhemos Washington e não uma capital latino-americana. E tem mais: nossa aproximação foi com Trump e não com os EUA.
Ernesto Araújo ouviu bem o que conversaram os dois presidentes no Salão Oval? Claro que não. Ele não participou, quem participou foi o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, policial federal de carreira e que hoje ocupa o cargo de deputado federal por São Paulo. Foi ele quem ouviu a piadinha machista e sem graça de Bolsonaro, foi ele quem assistiu a louvação que seu pai fez ao americano. Foi ele também quem testemunhou a decisão bolsonarista de eximir americanos, canadenses, australianos e japoneses de visto para entrar no Brasil. E foi ele também que ouviu Bolsonaro se referir ao país do norte como nossos Estados Unidos.
Por essa o Barão, que tanto prezava o amor ao Brasil, certamente não esperava… Durante toda sua vida Juca Paranhos se preocupou com a imagem do país lá fora. Para que: para um pouco mais de um século após sua morte, vir um chanceler de araque e admitir que se dissesse, em plena embaixada do Brasil em Washington, que Bolsonaro ama a Coca-Cola, a Disney e os jeans…
Nessa mesma embaixada, o escritor Olavo de Carvalho foi saudado como grande intelectual brasileiro. Pois é. A isso chegamos. Dizem que ele almeja ser nosso embaixador nos EUA. Sabem de uma coisa? Vou me alinhar à sua torcida. Acho que este governo merece ser representado pelo Olavo e creio também que Trump merece a honra.
Perdão, Barão. Mil perdões. Mas assim é, se lhe parece…
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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa: Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
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