Gostaria de agradecer imensamente, enfaticamente, o grande elogio que recebo nesta postagem, que me deixou verdadeiramente sensibilizado, e não é pela solidariedade em função de minha mesquinha defenestração no IPRI, um episódio menor em minha vida, e que aliás me deixa ainda mais livre para continuar minha obra didática, pedagógica, em favor da liberdade de pensamento.
A razão pela qual expresso minha gratidão por esta mensagem, e pelo quadro e frase dos quais já me tinha esquecido, é que constato agora que meu combate solitário de muitos anos realmente encontrou eco entre os muitos jovens que me leram ao longo de minha longuíssima travessia do deserto, o exílio funcional aplicado contra mim, pelas mentes canhestras que dominaram o Itamaraty durante o lulopetismo, e que parecem se reproduzir novamente agora. Esse meu combate foi justamente no sentido de oferecer aos mais jovens uma outra perspectiva que o marxismo vulgar – digo isso sem constrangimento, pois ainda me considero marxista, uma vez que é impossível ser sociólogo sem ser também um pouco marxista –, que o gramscismo do baixo clero – isto é, de pessoas que nunca leram Gramsci –, que o esquerdismo míope, ignorante, que a arrogância acadêmica de certos mandarins da torre de marfim, enfim, que a mediocridade e a miséria intelectual de nossos meios universitários (com minhas desculpas a todos aqueles que não se deixam enredar nesse ambiente lamentável de sub-intelectualidade muito pouco produtiva).
Sempre fiz de meus escritos instrumentos de combate: em primeiro lugar, pela liberdade de expressão – e tive vários dissabores no Itamaraty, por nunca eximir de ser contrarianista –, em segundo lugar pelo exame sem preconceitos de todos os problemas práticos com os quais nos defrontamos no serviço público, e na vida civil; em terceiro elevar, pela consciência de que era preciso elevar o nível, melhorar a qualidade do ensino em geral, das humanidades em especial.
Sinto-me, portanto, gratificado por esta homenagem.
Grato, rapazes. A luta continua, como diriam alguns...
Brasília, 10 de março de 2019
Aliança pela Liberdade
Na segunda-feira desta semana, em pleno carnaval, tivemos notícia da exoneração do Embaixador e Professor Paulo Roberto de Almeida da Presidência do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI).
Dono de uma invejável trajetória acadêmica e profissional, Almeida foi empurrado ao ostracismo durante os governos Lula e Dilma, em razão de suas idéias liberais e de sua profunda honestidade intelectual. A manobra, no entanto, só lhe deu mais força: durante esses anos, o professor foi responsável pela formação e florescimento de uma multidão de estudantes, que encontrou em sua figura uma referência para a defesa racional e consistente dos valores democráticos e de liberdade.
Recentemente, a Aliança pela Liberdade teve a honra de promover o lançamento de seu livro “A Constituição contra o Brasil”, onde reuniu e apresentou uma série de ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988. Na ocasião, também estavam presentes o professor de Economia da UnB Roberto Ellery e o diplomata Arthur César Naylor.
À frente do IPRI desde 2016, Almeida foi responsável pela organização de uma série de relevantes eventos acadêmicos, além de publicações de livros e composição de debates, sempre atentando para a diversidade temática e para a qualidade de conteúdo. Sua saída é, sem dúvidas, uma perda institucional para o Itamaraty, e deixa um gosto amargo para aqueles que valorizam o verdadeiro debate de idéias, tanto nos temas de política externa, quanto sobre o Brasil de forma mais ampla.
Desejamos que estas palavras possam ecoar nossa admiração pelo mestre que sempre foi e, também, o agradecimento por nunca ter deixado de enriquecer o debate público no Brasil, mesmo quando isso lhe implicou sanções profissionais e pessoais. Estamos certos de que poderemos contar com sua coragem, seu brilhantismo, e com sua a dedicação incansável na defesa da democracia e da liberdade, por muitas e muitas obras, debates, e anos.
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