Assessor de
Bolsonaro pede apoio contra ‘velha política’
Filipe Martins diz que ação é necessária para defender
grupo ‘anti-establishment’
Renata
Agostini, Naira Trindade e Julia Lindner,
O
Estado de S.Paulo, 22
de março de 2019 | 14h10
BRASÍLIA - O assessor especial do
presidente Jair
Bolsonaro para assuntos
internacionais, Filipe
Martins, usou o Twitter nesta sexta-feira, 22,
para defender que alas do governo se unam e articulem uma mobilização popular
para proteger a Lava
Jato, promover reformas
econômicas e quebrar “a velha política”.
Em
uma série de postagens na rede social e sem citar nomes, Martins afirmou que
“há uma flagrante tentativa de isolar” o grupo “anti-establishment” do governo,
no qual ele se insere.
Segundo
ele, é “ilusão” acreditar que será possível avançar sem “romper com a forma
convencional de fazer política no Brasil”. Por isso, em sua avaliação, é
preciso que o governo trabalhe para aquecer seu eleitorado. “A única forma de
ativar a lógica da sobrevivência política é por meio da pressão popular, por
meio da mesma força que converteu a campanha eleitoral do PR Bolsonaro em um
movimento cívico e tornou possível sua vitória. É necessário, em suma, mostrar
que o povo manda no País”, escreveu.
As publicações foram feitas no momento em que a
relação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com o Executivo ficou estremecida por
causa de ataques ao deputado postados nas redes sociais por partidários do
presidente.
Considerado um discípulo do escritor Olavo de Carvalho e ligado ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), Martins se tornou um dos principais
auxiliares e uma espécie de conselheiro de Jair Bolsonaro. As mensagens foram
publicadas por ele enquanto estava no Chile acompanhando o presidente em missão
oficial.
Na
postagem, ele alerta que há em curso uma tentativa de isolar sua ala com o
objetivo de torná-la “tóxica e mal vista” pelos demais grupos. “A situação
revela a urgência de uma coordenação efetiva entre as diferentes alas do
governo para trazer o apoio popular para dentro da equação, de modo que o povo
tenha um papel ativo na proteção da Lava Jato, na promoção das reformas
econômicas e na quebra da velha política.”
Martins não nomeou quais seriam esses grupos, mas fez
menção direta à equipe econômica, comandada pelo ministro Paulo Guedes, e à equipe do Ministério da Justiça e Segurança Pública,
comandada pelo ministro Sérgio Moro. Segundo ele, “tentam vender” a esses dois grupos que
o caminho mais adequado é o que passa pelo diálogo e pela negociação política –
o que ele considera um erro.
A declaração contribuiu para aumentar a cizânia entre
governo e Maia. “Uma pessoa que afronta a democracia brasileira nas redes
sociais, você me desculpa, ou ele é autoritário, ou ele tem algum problema. E
nós não podemos aceitar. A gente não pode brincar com a democracia no Brasil”,
disse Maia ao Estado ao ser questionado sobre a publicação.
“É
por isso que o Twitter é tão importante para eles. Essa disputa do mal contra o
bem, do sim contra o não, do quente contra o frio é o que alimenta a relação
deles com parte da sociedade. Só que agora eles venceram as eleições. Num país
democrático, não é essa ruptura proposta que vai resolver o problema”,
completou Maia.
As mensagens também repercutiram mal no Congresso.
Deputados cobraram do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, explicações sobre o conteúdo publicado por Martins.
O Palácio do Planalto tentou minimizar o impacto da
mensagem. Segundo um integrante do governo, a publicação feita no momento em
que o governo tenta debelar uma crise com o Congresso “não ajudou”, mas não vai
modificar a estratégia da articulação política. Essa fonte afirmou que “a
grande força da natureza”, capaz de moldar decisões do governo, chama-se Carlos Bolsonaro. Martins, argumentou essa fonte, tem maior
influência em assuntos internacionais e não internos.
Interlocutores
do assessor afirmaram que o intuito com as mensagens não foi criticar membros
do Congresso, mas questionar a estratégia de comunicação do próprio Bolsonaro.
A ideia é defender que o presidente use o seu “diferencial” da campanha, com
forte atuação e mobilização na internet, e não aceite o discurso de que apenas
a articulação política pode viabilizar a aprovação de reformas e outras medidas
relevantes para o governo.
Martins
é hoje um dos funcionários civis no terceiro andar do Palácio do Planalto com
mais acesso a Bolsonaro. Atualmente, a maioria das salas próximas ao gabinete
presidencial é reservada a militares que compõem o governo. Ele e
Bolsonaro mantêm clima amistoso.
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