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sábado, 30 de março de 2019
O irresistivel declinio da industria no Brasil, 1948-2018
Alguma redução já era esperada, no ciclo normal de recomposição dos pesos relativos dos setores ao longo do tempo, como o decréscimo natural da agricultura, o aumento e o declínio do secundário no período histórico de industrialização e a ascensão irresistível do terciário (em todos os seus subsetores, com desigual avanço de ramos de maior ou menor produtividade), mas o precoce processo de desindustrialização brasileira ilustra os efeitos de políticas econômicas equivocadas, tanto no plano macro quanto micro, e a total falta de produtividade da economia brasileira, em função de uma baixíssima qualidade do capital humano. As elites brasileiras erraram ao longo dos últimos duzentos anos, ao privilegiar a si mesmas, justamente, e ao se eximir de construir uma estrutura de formação educacional compatível e necessária a um processo equilibrado e sustentado de desenvolvimento econômico e social. Como as elites são medíocres elas preservaram, historicamente, um sistema medíocre de ensino.
É importante sublinhar a trajetória do declínio da indústria no Brasil, não tanto pelo processo, em si, mas como uma demonstração cabal dos caminhos seguidos pelo Brasil desde o imediato pós-guerra. O Brasil saía então de um importante debate econômico sobre os destinos da nação, no famoso "entrevero" entre o liberal Eugênio Gudin e o intervencionista-estatizante e planejador Roberto Simonsen, importante industrial e intelectual paulista, que em 1931 havia feito traduzir e publicar pelo CIESP o livro do intelectual (depois estadista) romeno Mihail Manoilescu, "Théorie du Protectionnisme et de l'Échange Inégal" (Paris: Giard, 1929). Pois bem, a despeito de Gudin ter se saído como o vencedor teórico do debate ocorrido em 1944-45, quem ganhou, na prática, foi o industrial Roberto Simonsen, pois o Estado brasileiro seguiu inteiramente suas diretrizes intervencionistas, industrializantes, subvencionistas e protecionistas. Eugênio Gudin preconizava um desenvolvimento equilibrado, com respeito às contas públicas e às vantagens comparativas do país, ou seja, modernização da agricultura, boa gestão fiscal, moderação inflacionária, câmbio competitivo de mercado, competição e investimento em capital humano, bem como abertura ao capital estrangeiro e ao comércio internacional. Fizemos exatamente o inverso do que ele recomendava; deu no que deu: algum sucesso na industrialização stalinista e chabu ao final...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 30 de março de 2019
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