Crise imobiliária preocupa China e derruba preço do ferro
Rafael Bevilacqua
Levante-UOL, 20/09/2022
Ao que tudo indica, o setor de construção civil não será mais o motor do vigoroso crescimento econômico chinês, como foi nas últimas décadas. A crise imobiliária alcançou níveis alarmantes na segunda maior economia do planeta, e tem feito o preço do minério de ferro cair.
Além do alto grau de endividamento das gigantes de construção e incorporação, essas empresas se deparam com um cenário de menor demanda por imóveis. Esse fenômeno tem provocado um recuo nos preços dos imóveis residenciais no país, o que tem contribuído para a deterioração da situação financeira das companhias do setor.
Mesmo com o anúncio da flexibilização das medidas restritivas impostas à população em virtude da pandemia do coronavírus, o setor imobiliário dá sinais de esgotamento. O preço da tonelada do minério de ferro recuou 3,06% na Bolsa de Dalian nesta terça-feira (20), para US$ 99,23. Vale ressaltar que o setor de construção civil consome a maior parte do aço produzido na China.
Apesar do cenário adverso, a crise imobiliária está longe de decretar o fim do crescimento econômico chinês. Ao longo das últimas décadas, a China conseguiu se consolidar em diversos outros mercados, principalmente no setor industrial, e pode ser considerada "a fábrica do mundo" nos dias de hoje.
Produzindo desde itens simples e de baixa qualidade até produtos da mais alta tecnologia, a indústria chinesa se tornou um componente vital para a economia global.
Além disso, gigantes chinesas têm ganhado terreno no setor de tecnologia, popularizando marcas como o TikTok, a Shopee e a Xiaomi. Cada vez mais essas marcas rivalizam com as tradicionais big techs dos Estados Unidos, mostrando a força da nova economia chinesa.
Em suma, mesmo sem o impulso do setor imobiliário, a economia chinesa deve continuar crescendo, agora em ritmo menos acelerado. Trata-se de um fenômeno natural e já esperado, uma vez que essa desaceleração do crescimento é observada em todas as economias desenvolvidas. Em outras palavras, quanto maior você é, mais difícil se torna continuar crescendo.
Com o setor imobiliário em queda, a demanda por minério de ferro deve arrefecer na China, o que pode ser ligeiramente prejudicial para as mineradoras brasileiras no curto prazo. Entretanto, a indústria também demanda volumes expressivos de commodities metálicas, e a expansão da máquina industrial chinesa pode compensar a queda da demanda do mercado imobiliário.
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