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quarta-feira, 6 de março de 2019

Meu amigo Sergio Florencio me escreve lamentando a exoneracao

O embaixador Sergio Florêncio é uma das almas mais puras que já encontrei na carreira, não no sentido espiritual, ou religioso, mas num sentido simplesmente humano, demasiadamente humano, como diria Nietszche.
Tomando conhecimento de minha exoneração, ele imediatamente escreveu a mim e ao embaixador Ricupero, que também acompanhou a novela, e ainda remeteu ao texto que ele leu na homenagem que me prestou em agosto de 2018, quando de minha promoção tardia (por obras e artes do congelamento a que fui submetido durante o lulopetismo).
Sem que ele me tenha autorizado, mas sabedor de seu espírito aberto, tomo a liberdade de postar sua mensagem, com o meu agradecimento enfático a tão grande amigo.
Paulo Roberto de Almeida

Queridos Paulo e Ricupero,

Confesso meu sentimento de profunda revolta e frustração com o exoneração do Paulo do IPRI.
Fui testemunha e participante do que considero a mais inspirada e criativa gestão desse importante instituto de pesquisa do Itamaraty.
A revolta vem naturalmente da injustiça com um diplomata que soube,  com o sacrifício pessoal e familiar, transformar um instrumento de pesquisa de uma instituição oficial em um verdadeiro celeiro de ideias. Um Think Tank  com a participação de  renomados professores e pesquisadores do Brasil e de diversas partes do mundo. Esse enorme esforço pessoal traduzia  o compromisso mais profundo do Paulo com o debate democrático, aberto e plural.
Essa " chama da alma"  junguiana do Paulo jamais será apagada.  As tentativas foram muitas e com colorações ideológicas diversas. No passado recente, o respeito ao contraditório sempre exercido pelo  Paulo foi golpeado com o ostracismo praticado no período Lula/Dilma/ Celso Amorim.
O curto período da gestão Aloysio Nunes teve a grande virtude de resgatar a melhor tradição do Itamaraty - o respeito às diferenças e o convívio com o contraditório. Esse resgate teve o apoio decisivo de jovens diplomatas, como Eduardo Saboia - ele próprio vítima do furor repressivo do governo Dilma, após o ato corajoso de defender os direitos humanos do senador boliviano exilado em nossa Embaixada em La Paz pro mais de 400 dias - e Marcos Galvão - digno e virtuoso Secretário Geral do Itamaraty. O Chanceler resgatou a  tradição da Casa e promoveu Paulo Roberto a Embaixador, além de designá-lo Diretor do IPRI.
Esse gesto mereceu ampla aclamação. Promovi então um encontro dos muitos que apoiaram esse resgate da justiça na nossa instituição e daqueles que foram os artífices dessa importante mudança de rumos. Procurei traduzir esse sentimento em uma saudação ao amigo Paulo.
Ontem esse sentimento de júbilo que marcou o reconhecimento institucional do valor do Paulo foi novamente golpeado - foi afastado  de forma injustificável do cargo de Diretor do IPRI. O júbilo cedeu lugar à frustração. 
Uma vez mais a chama do Iluminismo cede lugar às trevas.
Minha frustração  é imensa e certamente traduzo - na qualidade de  Embaixador aposentado e atual Professor de História da Política Externa do Instituto Rio Branco -  a desolação dos muitos que não estão em condições de dar transparência a essa indignação.
Nesta madrugada me lembrei muito do momento em que Paulo teve o reconhecimento da instituição e foi galgado a seu mais alto posto. Esse resgate da memória provocou um sentimento de profunda frustração ao ver uma vez mais erguida a bandeira das trevas. Mas também fez ressurgir em mim  a consciência de que a alma genuína da instituição falará mais alto e a trajetória de virtudes do passado superarão os vícios obscurantistas do presente.
Com muito afeto para vocês do
Sergio

Histórias 2018   Paulo Roberto Embaixador.  
Encontro em nossa Casa.
 Brasília, 9 de agosto de 2018.

Sônia, Carmen Lícia e eu somos muito gratos à presença de todos vocês aqui. Essa confraternização tem no seu íntimo o coração e a razão de cada um de vocês. Vocês produziram o significado desse encontro.
A promoção do Paulo para mim se situa entre as mais tardias e injustamente adiadas  que conheci em mais de 40 anos de Itamaraty.  Por isso mesmo, ao receber a bela notícia, me veio um sentimento muito profundo: não é a promoção do Paulo, é o Itamaraty que está sendo promovido.
Assim, o significado desse encontro é louvar essa conquista, que resgata para  a nossa instituição aquilo que ela tem de mais nobre e digno – a excelência, o convívio com as diferenças, a aceitação do pluralismo, do contraditório e do debate interno de onde nasce a luz.
Paulo representa para mim a  inteligência contestatária – essa vertente que a instituição teve a sabedoria de preservar ao longo de sua história. Mas que infelizmente esqueceu na última década  e meia.  E o Paulo simbolizou – mas não mais simboliza – esse esquecimento.
Hoje é, portanto, um dia de celebração, de júbilo, de encontro de uma instituição consigo mesma, com o melhor de sua trajetória.
Todos que aqui estamos temos uma enorme identidade com essa vocação tão genuína do Itamaraty.  Mais que isso, muitos que aqui estão são os atores que viraram a página da história e retomaram o capítulo que resgata o fio da meada e o sentido do enredo.
Conheci Paulo no início do Mercosul, ele  assessor do Rubens Barbosa, e eu Chefe da primeira Divisão do Mercosul, junto com dois que aqui estão – Eduardo e Ernesto – e outros,  com João Mendes, Haroldo e Mauro. Já ali era visível sua obstinação pelo conhecimento multidisciplinar, pela pesquisa, pela rebeldia esclarecida e pela irreverência intelectual que corre nas suas veias e estimula seus neurônios.


Sempre admirei essa essência anímica do Paulo – essa junguiana “ chama da alma” -   apesar de algumas  visões discordantes  e de o ter aconselhado muitas vezes a arrefecer a chama, mas jamais extingui-la.  Na verdade meu receio maior não derivava daquela essência anímica  do Paulo, mas dos  Bombeiros de Farenheit 451, que  poderiam inverter a direção das labaredas.
Num sentido mais remoto, a admiração por essa essência do Paulo tem suas origens na minha infância. Meu pai era nordestino do Sertão do Seridó e veio para a Capital Federal de pau de arara.  Minha mãe estudou no Sacré Coeur, tocava piano e falava francês.  Ela gostava de valsa, ele amava o baião. Sou produto dessa miscigenação cultural. 
Miscigenação que talvez tenha gerado em mim  -  depois de tantos anos de análise – uma individuação de tom conciliatório. Mas também gerou uma afinidade eletiva bem maior com a vertente nordestina, irreverente. Essa afinidade que toda a vida me identificou muito mais com a simplicidade da terra do nordeste do que com a estética educada e refinada do sul.
Na casa de vila da nossa infância, todas as semanas tínhamos o convívio com cantadores, violeiros, repentistas, trovadores , poetas do nordeste. A miscigenação entre o rapaz nordestino e a moça do Sacré Coeur produziu em mim um gosto pelas diferenças, pelos contrastes.  Mas, talvez pela força do apelo telúrico, a irreverência  do baião sempre pulsava mais alto que a delicadeza da valsa.  Por isso, nunca alcancei o teclado do piano, não cheguei aos pés – nem às mãos – de um violino.  Mas gosto muito de tocar um pandeiro. Irreverência freudianamente sublimada? Talvez.
Por isso,  creio que no meu sangue pulsa também esse inconformismo que o Paulo simboliza.  Mas no meu caso prevaleceu muito mais  o traço de uma irreverência emocional.  Não tanto a  obstinação intelectual, que é  a marca da vida e da alma do Paulo. Obstinação que alimenta uma irreverência iluminista, a destruição criadora do admirado Schumpeter, um Grande Sertão que precisa conviver com as Veredas do nosso Itamaraty.
Bom. Vou ficando por aqui. Uma vez mais, minha gratidão – e a de Sônia e de Carmen Lícia – pela presença de vocês.  Vocês que resgataram a alma da instituição, construíram o encontro com seu self mais verdadeiro, ao  virar a página da sombra e saudar o sol da convivência com os contrários, ao abraçar o pluralismo – a marca maior das grandes instituições.
Minhas desculpas por esse monólogo absurdamente longo.  E que me fez desrespeitar o conselho de nosso terceiro filho Thiago, quando comemorava nove anos de idade.  Nessa época eu chefiava a Divisão de Estudos e Pesquisas Econômicas do Itamaraty. Mas tinha também um encargo adicional e absorvente de preparar conferências e discursos para o então Secretário Geral, nosso brilhante e sempre inspirado Marcos Azambuja.  Isso me impedia, em muitos fins de semana, de jogar o futebol que tanto amo com os filhos.  O Thiago se ressentia muito.
Assim, quando perguntaram, naquele aniversário, o que ele queria ser quando crescer, ele simplesmente ficou calado.  Depois de tanta insistência, ele finalmente respondeu. Uma resposta  à la Paulo Roberto de Almeida. Ele simplesmente disse: “ Eu não sei o que vou ser quando crescer. Mas eu sei o que não quero fazer quando crescer. Não quero fazer conferência e discurso.” 
Nossa gratidão – minha, da Sônia e da Carmen Lícia - a todos vocês por estarem na intimidade conosco num momento tão rico de significados para o Paulo, para todos nós e para a nossa instituição.

Sergio Abreu e Lima Florêncio

Brasília, 9 de agosto de 2018.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Politica externa e relacoes economicas internacionais do Brasil - IPRI-IPEA, Sexta, 2/06

DOIS CONVITES PARA UMA MESMA SEXTA-FEIRA, DIA 2/06/2017
 
 
Relacões econômicas internacionais do Brasil, de Bretton Woods aos nossos dias
Ministro Paulo Roberto de Almeida (IPRI-Funag/MRE)
 
A DINTE/ IPEA  e o IPRI/ FUNAG/ITAMARATY realizarão no dia 2  de junho seu primeiro Seminário Conjunto.
A iniciativa faz parte do programa de trabalho do Acordo de Cooperação IPEA/MRE.
O Seminário constará de apresentação de paper do Ministro Paulo Roberto de Almeida.
O tema será “ A Economia Política das Relações Econômicas Internacionais do Brasil: paradigmas e realidades de Bretton Woods à atualidade”.
O Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais (IPRI) é o órgão de pesquisa da  FUNAG do ITAMARATY.

Local . Auditório do 11 o andar do IPEA. 10 hs. Dia 2 de junho de 2017.

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A política externa brasileira no contexto internacional, 1987-2017
Embaixador Sérgio Florêncio (IPEA)
 
A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e o seu Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) abrem inscrições para a palestra-debate “A política externa brasileira no contexto internacional, 1987-2017”, com o embaixador Sergio Florêncio (IPEA). O evento será realizado em 02 de junho, esta sexta-feira, às 15h, no auditório Paulo Nogueira Batista, anexo II, do Palácio Itamaraty.
As vagas são limitadas e será disponibilizado certificado de participação. Inscreva-se!

Sobre o palestrante
Sergio Augusto de Abreu e Lima Florêncio Sobrinho
Atualmente é diretor de estudos e relações econômicas e políticas internacionais do IPEA. Mestre em Economia - University of Ottawa (1977). Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado da Guanabara (UEG), atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ (1968). Graduado no Curso de Preparação à Carreira de Diplomata pelo Instituto Rio Branco (1970). Vasta experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Internacional, desenvolvimento econômico e Relações Internacionais. Ministro de primeira classe do Itamaraty, e desde 1971 desempenhou inúmeras missões diplomáticas, destacando-se como Embaixador do Brasil junto aos Estados Unidos Mexicanos (México) em 2008; Embaixador Alterno na delegação brasileira permanente em Genebra-Suíca, em 2006; e Embaixador do Brasil junto à República do Equador, em 2002.

Serviço:
Tema: A política externa brasileira no contexto internacional, 1987-2017
Palestrante: Sergio Florêncio
Local: Auditório Paulo Nogueira Batista, Palácio Itamaraty, Anexo II, Brasília – DF
Data: 02 de junho de 2017, às 15h

sexta-feira, 18 de março de 2016

Que Pais E' Este? - Sergio Abreu e Lima Florencio

Que País é este?
 Sérgio Abreu e Lima Florêncio
(18/03/2016)
   
O país perdeu mesmo o rumo. E o estrago -  na economia, na política, no aparelho do Estado, na sociedade  -   foi gigantesco.

A prioridade  agora, para mim, é não deixar morrer a Lava Jato.

Ela é o início de um combate firme à impunidade e à corrupção.

O Mensalão foi um bom primeiro passo, com Joaquim Barbosa como timoneiro.

A ida, no dia de hoje,  do Lula para Casa Civil é a tentativa multi-diversa:  um  golpe de morte na Lava Jato,  livrá-lo de Sergio Moro e  reforçar a luta contra o impeachment.

Naturalmente que o PT diz que nada disso é verdade.

Como arauto de uma "narrativa" pós-moderna  supostamente verdadeira, sustenta que o combate à corrupção é "ideologia do conservadorismo e do golpismo". Assim, procura deslegitimar a luta contra a impunidade.

A verdade para eles é religiosa - no mau sentido da palavra - ou seja, lealdade incondicional e acima da lei ao partido.

Mas, como gritamos ontem à noite na Praça dos Três Poderes, o Brasil não é a Venezuela.

Aqui há instituições, há sistema do mérito no serviço público, há uma economia com alguns setores  sólidos e há um povo mais atento e amadurecido, apesar de ter eleito gente como Renan Calheiros Eduardo Cunha.

O país vai continuar mal por muito tempo. O PIB per capita vai levar 8 anos para recuperar os níveis de 2013.

Mas estou convencido de que começamos ontem a  "cortar o mal pela raíz".

Isso começou na verdade domingo passado, com a participação de 6,4 milhões de manifestantes a favor das instituições, da justiça, da Lava Jato, do Juiz Moro e contra um governo que perdeu toda legitimidade.

Perdeu legitimidade pela política econômica populista - defcit público fora de controle, esquemas de pedalagens, contabilidade criativa, em síntese,  manipulação de dados (como Delfim na ditadura militar).

 Em lugar de definir rumos para a economia, estimular a criatividade, alicerçar a infraestrutura, nada disso. O que valia mesmo era a economia política do marketing. Ou seja, apenas incentivos ao consumo, ao crédito e subsídios a grupos empresariais identificados com esquemas de corrupção do Governo.

Isso ocorreu  desde a metade final do segundo mandato do Lula - quando Palocci foi substituído por  Mantega. Esse inaugurou um modelo falido - a Nova Matriz Macroeconômica. Mas se agravou mesmo com Dilma.

Perdeu  legitimidade não só pela economia, mas também pela corrupção sistêmica - aquela que afeta o conjunto das instituições do Estado - por meio do aparelhamento abrangente da máquina publica e desvio amplo e sistemático de recursos públicos. 

Corrupção sempre houve. Mas não nos níveis atuais. Não corrupção como instrumento para perpetuar um partido no poder. Os recursos arrecadados eram tão elevados que "compravam" o apoio de muitos setores da economia e de diversos  segmentos da população.

Assim,  democracia perdia seu traço essencial - a alternância no poder.  Com recursos tão vultosos, a máquina eleitoral do PT se tornava imbatível, sobretudo num país com tanta desigualdade e carência de educação como o Brasil.

Algumas instituições se salvaram do aparelhamento - não por acaso, as instituições de controle - TCU, Ministério Público,  Judiciário e Polícia Federal.

A parir de ontem,  país está testemunhando a  última cartada de Dilma - a ida de Lula para a Casa Civil, como verdadeiro Primeiro Ministro de um Presidencialismo de Cooptação.

Essa última cartada tem três objetivos,  todos altamente prejudiciais  ao país: amordaçar a Polícia Federal e o Juiz Sergio Moro; bloquear o avanço do impeachment;  e salvar o Grande Líder  da cadeia.

Apesar dessas perigosas ameaças, estou confiante de de nossa capacidade de superá-las.

As instituições de controle em funcionamento, a imprensa livre e o clamor das ruas são mais vigorosos  que as forças destrutivas.

Mas, para que a esperança vença, é preciso preservar a indignação.

Nesse momento de necessária indignação vale a máxima que aprendi com meu pai e que muitas vezes - nem sempre -  é o caminho da libertação. "A rebeldia é o mais alto atributo do caráter"

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Recomendacoes de leituras, para curiosos...


Algumas recomendações de leituras: lista seletiva

Paulo Roberto de Almeida

Sergio Florencio: Os Mexicanos (São Paulo: Contexto, 2014, 240 p.)
   
         Você sabia que os mexicanos têm uma lista dos mais amados (Benito Juarez e Pancho Villa, entre eles), mas também dos mais odiados (Cortez, obviamente, e também Porfírio Díaz) personagens da sua história? Sabia que somos parecidos com eles? Este livro, por quem foi embaixador no México, apresenta uma história diferente do país que é apresentado como competidor do Brasil; de fato é, mas não como esperado: buscam os dois a prosperidade, a partir de bases sociais e comportamentos econômicos similares. Uma análise exemplar, feita do ponto de vista de um brasileiro que é fino observador das qualidades e idiossincrasias de um povo dotado de uma rica história de realizações, mas também de frustrações. Os desafios parecem semelhantes; serão também as soluções? Descubra um México diferente num livro em que o Brasil está presente.


Paulo Estivallet de Mesquita: A Organização Mundial do Comércio (Brasília: Funag, 2013, 105 p.)
       
     Parece difícil resumir em menos de 100 pequenas páginas a teoria do comércio internacional, a evolução prática do próprio, o estabelecimento do sistema multilateral de comércio, desde o Gatt e seus caminhos tortuosos, até chegar na OMC e todos os seus acordos e funcionamento. Uma proeza realizada por este engenheiro agrônomo que se fez diplomata, e que aplica o rigor da sua ciência de origem à análise dos problemas das relações econômicas internacionais, com ênfase no comércio e nos seus conflitos. O sistema parece uma bicicleta: é preciso avançar, pois qualquer parada pode significar retrocesso, não estabilidade. A interrupção da Rodada Doha, o recuo no protecionismo em alguns grandes países (alguns até próximos) são desafios graves, mas os acordos de livre comércio não são a resposta ideal. Só faltou a bibliografia para uma obra perfeita.


Lauro Escorel: Introdução ao Pensamento Político de Maquiavel (3a. ed.; Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, FGV, 2014, 344 p.)
          
  Escrito em 1956, publicado pela primeira vez em 1958, novamente em 1979, este clássico da maquiavelística brasileira é agora apresentado por um acadêmico e complementado por uma conferência de 1980 do autor, que se tornou “maquiavélico” ao servir na capital italiana em meados dos anos 1950. Para Escorel, “as observações de Maquiavel sobre a política externa dos Estados continuam a apresentar... uma extraordinária atualidade”. O florentino foi o primeiro grande teórico da política do poder.  Mas no plano interno também, Escorel segue Maquiavel em que a política é um “regime de precário equilíbrio entre as forças do bem e as forças do mal, em que estas muitas vezes superam aquelas...”. Os dois colocam o “problema cruciante das relações da política com a moral”, que está no centro da obra do italiano.


Paulo Roberto de Almeida: Nunca Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014, 289 p.)
          
  Tudo o que você sempre quis saber sobre a diplomacia companheira e nunca teve a quem perguntar? Agora talvez já tenha, sobre quase tudo. Em todo caso, figura aqui uma avaliação do que representaram, para a política externa, os anos do lulo-petismo, com a independência de um acadêmico que também integra a diplomacia. Existem episódios que ainda vão requerer pesquisa em arquivos para saber como foram exatamente decididos, e provavelmente lacunas subsistirão, tendo em vista justamente as características especiais de uma diplomacia que não partiu essencialmente de sua casa de origem, mas andou combinada a outros estímulos, não arquivados. Parece que ela foi ativa, altiva e soberana, como nunca antes tinha acontecido. Outros traços emergirão num futuro balanço, ainda sem data. A História a absolverá? A ver...


Rogério de Souza Farias: A palavra do Brasil no sistema multilateral de comércio (1946-1994) (Brasília: Funag, 2013, 885 p.)
Uma coletânea, de alta qualidade, dos mais importantes pronunciamentos feitos por representantes brasileiros desde as negociações que precederam a constituição do Gatt (1946-47), passando pela Unctad (1964), até a criação da OMC (1994). O livro representa um repositório de grande relevância para todos os pesquisadores da história econômica brasileira, uma vez que compila documentos originais e outros materiais de referência (fotos, resumos biográficos dos negociadores brasileiros, etc.), mas constitui, igualmente, um instrumento de trabalho para os negociadores diplomáticos de nossos livros. O livro vem acompanhado por informações e fotos dos representantes e de notas de rodapé explicativas de cada contexto negociador. O denso prefácio e a longa introdução merecem leitura atenta; os temas abordados em cada capítulo constituem matéria prima indispensável para conhecer a história econômica e diplomática brasileira no plano do comércio internacional. Parece que pouco mudou...

Eugênio Vargas Garcia: Conselho de Segurança das Nações Unidas (Brasília: FUNAG, 2013, 133 p.)
         
   Tudo o que você sempre quis saber a respeito do CSNU e nunca teve a quem perguntar, ou onde ler. Agora já tem: neste pequeno grande livro de um historiador diplomata que já escreveu sobre o itinerário frustrado do Brasil na Liga das Nações e sobre as tentativas novamente frustradas para ser admitido no inner sanctum da sua sucessora. Mais que isso: a obra refaz não apenas a trajetória histórica desse órgão central da ONU, como percorre a geopolítica de sua atuação e funcionamento político (com algumas tinturas jurídicas), sempre focado nas reais alavancas de poder, isto é, o monopólio dos cinco membros permanentes (mas a China só ingressou em 1971). Uma síntese bem sucedida, uma bibliografia atualizada e uma reflexão sobre as realidades do poder atual, que reflete a posição brasileira em importantes questões da agenda da ONU e do seu desejado CS.



Carlos Márcio B. Cozendey: Instituições de Bretton Woods (Brasília: FUNAG, 2013, 181 p.)
       
     Cada linha da obra está impregnada de um triplo conhecimento: histórico, teórico e prático, sobre as origens, o desenvolvimento, nas décadas seguintes, e sobre o funcionamento atual dos dois irmãos de Bretton Woods, o Banco e o Fundo, que foram criados em 1944 na pequena cidade do New Hampshire para presidir à ordem econômica do pós-guerra. O autor é o secretário de Assuntos Internacionais da Fazenda, e como tal segue, no G20 e em outras instâncias, as negociações para a reforma do sistema monetário, que já passou por fases melhores do que a atual. Depois das paridades cambiais estáveis, o regime de flutuação não ajuda a manter a estabilidade mundial, mas o maior perigo advém dos desequilíbrios fiscais nacionais, um tema que todavia foge do escopo deste livro.



Harvey J. Kaye: The Fight for the Four Freedoms: What Made FDR and the Greatest Generation Truly Great (New York: Simon & Schuster, 2014, 292 p.).
O livro foi feito a partir dos papeis deixados por Franklin Delano Roosevelt em seus arquivos de Hyde Park: o eixo central é dado pelas quatro liberdades que Roosevelt proclamou no State of the Union de janeiro de 1941, logo após conquistar o seu terceiro mandato, antes, portanto, que os Estados Unidos fossem atacados e entrassem na guerra. Roosevelt, que já vinha procurando superar as resistências isolacionistas do Congresso, para converter os EUA no “Arsenal da Democracia”, insistiu na tecla de que seria ilusório tentar esconder-se atrás de muralhas defensivas. Os quatro grandes conceitos, em torno dos quais os americanos deveria estar unidos, não apenas para si mesmos, mas para todo o mundo, foram os seguintes: liberdade de expressão, de religião, da penúria e do medo. Esses princípios seriam inscritos na Carta do Atlântico, que Roosevelt assinou com Winston Churchill, em agosto de 1941, nas costas do Canadá, e foram consagrados no ano seguinte na Carta das Nações Unidas, uma espécie de “New Deal for the world”, que seria a base da Carta da ONU, assinada em San Francisco, em 1944.

Neill Lochery: Brazil: The Fortunes of War, World War II and the Making of Modern Brazil (New York: Basic Books, 2014, 314 p.)
O autor é um historiador britânico, professor de Mediterranean and Middle Eastern Studies do College University of London, e seu livro está dedicado ao envolvimento do Brasil na guerra, o que é feito de maneira minuciosa e competente. A introdução da obra já começa destacando o famoso documento-guia que Oswaldo Aranha preparou para as conversas de Vargas com Roosevelt, no encontro que ambos tiveram no Rio Grande do Norte, em janeiro de 1943, uma lista de objetivos de guerra que o Brasil declarava aos EUA, mas que também podem ser vistos como uma espécie de planejamento estratégico feito pelo grande chanceler para assegurar uma posição de realce para o Brasil na ordem internacional que estaria sendo desenhada pouco mais à frente para assegurar a paz e reconstruir o mundo. Oswaldo Aranha acreditava, pragmaticamente, que a política tradicional do Brasil, de apoiar os Estados Unidos no mundo, em troca do seu apoio na América do Sul, deveria ser mantida “até a vitória das armas americanas na guerra e até a vitória e a consolidação dos ideais americanos na paz.” Os Estados Unidos iriam liderar o mundo quando a paz fosse restaurada e seria um grave erro se o Brasil não estivesse do seu lado. Ambas nações eram “cósmicas e universais”, com características continentais e globais. Ele tinha plena consciência de que o Brasil era uma “nação economicamente e militarmente fraca”, mas o seu crescimento natural, ou as migrações do pós-guerra, lhe dariam o capital e a população que o fariam tornar-se, “inevitavelmente um dos grandes poderes políticos do mundo”. Pena que Oswaldo Aranha não se tornou presidente do Brasil.

Henry Kissinger: World Order (New York: Penguin Press, 2014, 433 p.)
Trata-se, provavelmente, do último livro, de tipo conceitual, de um dos mais destacados intelectuais americanos (de origem germânica), acadêmico de longa carreira, que também se destacou em atividades executivas, primeiro como conselheiro de segurança nacional, depois como Secretário de Estado, ator de primeiro plano das relações exteriores dos Estados Unidos e das próprias relações internacionais, consultor de quase todos os presidentes americanos desde os anos 1950 e de alguns governos estrangeiros também. Frustrante para os leitores de nossa região, o livro não devota nem mesmo um capítulo, sequer uma mísera seção, à América Latina ou ao Brasil, nas dez grandes unidades da obra, todas elas dedicadas aos grandes atores ou aos problemas percebidos como relevantes para o estabelecimento ou a preservação de uma ordem que de fato não existe. Após uma introdução de tratamento conceitual da questão título, ele dedica dois capítulos à ordem europeia surgida com a paz de Westfália e o sistema de balanço de poder daí resultante, um ao mundo islâmico e às desordens do Oriente Próximo, outro voltado exclusivamente para as relações entre os Estados Unidos e o Irã, dois outros sobre a Ásia (sua multiplicidade e a emergência de uma ordem “asiática”), dois capítulos inteiros sobre a diplomacia dos Estados Unidos (a ideia de uma ordem internacional na tradição wilsoniana e o seu papel atual como “superpotência ambivalente”) e, finalmente, dois capítulos finais voltados para questões tecnológicas e de informação e de proliferação, e sobre a evolução provável de uma ordem mundial ainda largamente indefinida. Para ser mais preciso, a América Latina não aparece sequer no índice remissivo do livro, embora nele exista a entrada western hemisphere. O Brasil só é mencionado duas vezes, ambas en passant e de maneira irrelevante: a primeira para falar sobre o impacto mundial das revoluções europeias de 1848, a segunda na companhia da Índia (que recebe tratamento mais amplo nos capítulos asiáticos da obra) como exemplo de nações emergentes. Fora isso, um grande livro.

Francis Fukuyama: The Origins of Political Order: From Prehuman Times to the French Revolution (New York: Farrar, Straus and Giroux, 2011, 620 p.) e Political Order and Political Decay: From the Industrial Revolution to the Globalization of Democracy (New York: Farrar, Straus and Giroux, 2014, 660 p.)
  
          Dois volumes que resumem o pensamento de um dos mais influentes cientistas políticos dos EUA, que retoma o trabalho seminal que tinha sido conduzido por um de seus mestres, o finado autor do “conflito de civilizações” (não um de seus melhores livros), Samuel Huntington, em seu clássico Political Order in Changing Societies (New Haven: Yale University Press, 1968), que tinha sido traduzido no Brasil por Heitor Ferreira Lima, um dos assessores do “guru” do regime militar no Brasil, Golbery do Couto e Silva em seus esforços de distensão e de transição política para uma ordem pós-autoritária durante a presidência Geisel. Os dois livros valem por um tratado de política, mas que praticamente confirmam um tese pré-concebida: o “fim da história”, se existir, se parece muito com o modelo político americano, que é a culminação das possibilidades democráticas nas sociedades liberais e avançadas de mercado. Mas o próprio Fukuyama reconhece que a democracia americana está sendo gradualmente conduzida a impasses institucionais pela rigidez do sistema bipartidário polarizado atualmente existente.


Bom proveito.
Paulo Roberto de Almeida 

Hartford, 2782: 16 dezembro 2014

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sergio Florencio: livro Os Mexicanos

Lançamento Livro Os Mexicanos em Brasília 
24 novembro 19 horas
Livraria Cultura Shopping Iguatemi


Preparei uma mini-resenha sobre esse livro:



Florencio, Sergio:
Os Mexicanos
(São Paulo: Contexto, 2014, 240 p.; ISBN 978-85-7244-827-7)

            Você sabia que os mexicanos têm uma lista dos mais amados (Benito Juarez e Pancho Villa, entre eles), mas também dos mais odiados (Cortez, obviamente, e também Porfírio Díaz) personagens da sua história? Sabia que somos parecidos com eles? Este livro, por quem foi embaixador no México, apresenta uma história diferente do país que é apresentado como competidor do Brasil; de fato é, mas não como esperado: buscam os dois a prosperidade, a partir de bases sociais e comportamentos econômicos similares. Uma análise exemplar, feita do ponto de vista de um brasileiro que é fino observador das qualidades e idiossincrasias de um povo dotado de uma rica história de realizações, mas também de frustrações. Os desafios parecem semelhantes; serão também as soluções? Descubra um México diferente num livro em que o Brasil está presente.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Latin American Development Models: A Parallel Between Brazil and Mexico - Sergio Florencio


Latin American Development Models: A Parallel Between Brazil and Mexico
Sergio Florencio

Presentation: September 15

Sergio Florencio (Consul General of Brazil in Vancouver), will present "Latin American Development Models: A Parallel Between Brazil and Mexico" on September 15, at 3 pm, in Room 1600 - Canfor Policy Room, SFU Harbour Centre, Vancouver, Canada.

This is the first paper in our 2011-2012 LAS Working Paper Series. We encourage you to read his paper in advance. His paper can be found at the following address:


 All are welcome to attend.
Alec Dawson
Director 
Latin American Studies Program
SFU