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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

USA: o declínio de uma grande democracia - Ishaan Tharoor (WP)

Trump’s authoritarian style is remaking America

Ishaan Tharoor
The Washington Post, February 13, 2020

President Trump speaks at a rally Feb. 10 in Manchester, N.H. (Jim Watson/AFP/Getty Images)
President Trump speaks at a rally Feb. 10 in Manchester, N.H. (Jim Watson/AFP/Getty Images)
Over the course of his presidency, there have been myriad warnings about President Trump’s authoritarian tendencies. He has played to the fears of his critics by blowing past the republic’s increasingly creaky system of checks and balances. And with the aid of a right-wing echo chamber, he has pushed forward a narrative that conflates national interest with his personal gainpatriotism with unflinching loyaltyto the occupant of the Oval Office.
As Trump embarks on a reelection campaign and basks in the aftermath of the Senate impeachment trial — in which, thanks to a Republican Party wholly captured by Trumpism, acquittal was seemingly always a fait accompli — he is adding to the strains on America’s polarized democracy. His calls this week for prosecutions of his perceived enemies and public attacks on federal judges and prosecutors involved in cases against his allies were so abnormal that it led to an unlikely rebuke from Attorney General William P. Barr, a Cabinet official largely viewed by Trump’s opponents as shamefully acquiescent.
The Washington Post’s White House reporters described a president“simmering with rage, fixated on exacting revenge against those he feels betrayed him and insulated by a compliant Republican Party.” He is willing to test the rule of law even further and is comfortable doing so, they reported, “to the point of feeling untouchable.”
“If a president can meddle in a criminal case to help a friend, then there’s nothing that keeps him from meddling to harm someone he thinks is his enemy,” Joyce White Vance, a former U.S. attorney, told my colleagues. “That means that a president is fully above the law in the most dangerous kind of way. This is how democracies die.”
 
The president’s demagoguery has left a deep mark on American society. An investigation by my colleagues sifted through 28,000 reports of bullying in U.S. schools and found hundreds of incidents in which Trump-inspired rhetoric was used to harass children, especially students from Hispanic, black or Muslim backgrounds.
“Since Trump’s rise to the nation’s highest office, his inflammatory language — often condemned as racist and xenophobic — has seeped into schools across America,” my colleagues wrote. “Many bullies now target other children differently than they used to, with kids as young as 6 mimicking the president’s insults and the cruel way he delivers them.”
This unsettling trend speaks of a deeper malaise and entrenched divisions. David Roberts at Vox argued that the United States is in the grips of an “epistemic” crisis: A decades-long right-wing project to create its own media bubble cemented a polarized political reality in which rival camps can’t even agree on the facts of their disagreements.
“That is what a tribalist like Trump wants: for communication and compromise across tribal lines to become impossible, so that loyalty becomes the only measure and everything is reduced to pure struggle for dominance,” Roberts wrote.
Lawmakers are still trying to check Trump’s power. On Thursday, every Democratic senator and eight Republicans in the Senate passed a resolution to curb Trump’s ability to order future strikes against Iran. But Trump is almost certain to veto the latest effort by Congress to assert its oversight authority over an emboldened executive.
Former Trump administration officials have emerged in public to criticize the president’s behavior and policies, including former White House chief of staff John Kelly on Wednesday. Myriad Republican politicians and operatives in private bemoan Trump’s hold on the party, but few are willing to risk overt dissent. Those who do are dragged through the coals by Trump and his loyalists.
“The Republican Party is betraying democracy, and these are historical times,” Jason Stanley, a Yale philosophy professor and author of “How Fascism Works,” told Business Insider. “The Republican Party has shown that it has no interest in multi-party democracy. … They are much more concerned with power, with consolidating power.”
The ruling party’s cynicism has engendered visions on the left of its wholesale defeat.
“The Republican Party is now a reliable opponent of equality and a malignant force in American life — a cancer within a patient in denial about the nature and severity of her condition,” wrote the New Republic’s Osita Nwanevu. “It should be not only defeated but destroyed — vanquished from the American political scene with a finality that can only be assured not by electoral politics or structural reforms alone, but by a moral crusade.”
This is, of course, hardly the first time the United States has been so divided. An important piece in the New Yorker by Harvard historian Jill Lepore examined the sense of democratic crisis that was felt by many Americans in the 1930s. She details the astonishing New Deal-era civic engagement that took place in response, the profusion of debates, publicly backed artistic projects, town halls and radio shows that drew in millions around the country.
“Our wisdom or ignorance stands in the way of our accepting the totalitarian assumption of Omniscience,” the historian Charles Beard argued at the time, when explaining how Americans would resist the pull of communism or fascism. “And to this extent it contributes to the continuance of the arguing, debating, never-settling-anything-finally methods of political democracy.”
 
There’s plenty of arguing now in America, but it’s hard to see any glimmers of civic reconciliation.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

As excelentes relações da Bolsodiplomacia com Trump facilitam deportações de brasileiros

Deportados: Brasileiros desembarcam em MG sem saber como voltar

A irmã de Fiama Inácio, 27, de Goiânia, conseguiu entrar e ficar nos EUA assim, mesmo depois de ser pega irregularmente na fronteira

Brasil Ao Minuto, Folha Press, 8/02/2020
Deportados: Brasileiros desembarcam em MG sem saber como voltar
CONFINS, MG (FOLHAPRESS) - O avião que trouxe mais uma leva de brasileiros deportados dos Estados Unidos pousou no Aeroporto Internacional de Confins (a 37 quilômetros de Belo Horizonte) às 23h40 desta sexta-feira (7).
A chegada ocorreu após quase um dia de viagem desde que Cleony Dias Lagasso, 25, deixou o local onde ficou detido com a mulher e a filha de três anos por 18 dias, no estado do Texas, na fronteira com o México.
A família desembarcou no Brasil a 3.223 quilômetros de distância de sua casa, que fica em União Bandeirantes, um distrito de Porto Velho (RO) sem dinheiro e sem nenhuma assistência à espera.
"A gente não sabe [o que vai fazer agora]. Estamos tentando entrar em contato com a família. Pensamos que, chegando aqui, o governo tomaria uma atitude", diz ele.
Inicialmente, o Itamaraty havia informado que 130 brasileiros estariam no voo que chegou a Confins. No aeroporto, porém, o número de pessoas que deixou a área de desembarque parecia menor. Até a publicação desta reportagem, nem a Polícia Federal nem o Itamaraty responderam qual seria o número final.
Depois do desembarque de um grupo de americanos, com bagagens -seguranças, segundo um funcionário do aeroporto que não quis se identificar- os brasileiros vieram, carregando apenas sacos plásticos onde se viam passaportes, celulares, fones de ouvido.
Os brasileiros ouvidos pela reportagem disseram que não foram algemados em nenhum momento. Segundo eles, as únicas pessoas com algemas no voo desceram em uma parada no Equador. Em janeiro, outro voo vindo dos EUA chegou a Minas Gerais com brasileiros deportados que relataram terem sido algemados pelos pés e pelas mãos.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou o uso das algemas, mas depois recuou, dizendo que não pediria a Trump para mudar o tratamento dado aos imigrantes.
Não havia representantes do governo a bordo. Alguns deportados contam que foram levados ao consulado brasileiro enquanto estavam detidos. Outros, que ouviram falar na detenção que havia representantes do governo brasileiro no local.
O voo fretado desta sexta é o terceiro a trazer deportados da fronteira norte-americana desde outubro do ano passado. Pagos pelo governo dos EUA, eles precisam ser autorizados pelo governo brasileiro.
Deportada com a filha de 14 anos e o marido, o plano de Edja Jesus, 48, era comprar passagens em um voo para Salvador o mais breve possível -a família vive em Lauro de Freitas (a 28 km da capital baiana)."Oito dias sem tomar banho, oito dias sem escovar os dentes. Meu marido desmaiou de fome e eles não ajudaram. Quem ajudou fomos nós mesmos", conta ela. "Fomos muito maltratados."
Erivaldo Gomes, 62, marido dela, diz que teve queda de pressão pela alimentação fraca, quase sempre fria e que muitas vezes vinha azeda. A descrição do burrito servido, prato típico mexicano, é a mesma que a reportagem ouviu de outros brasileiros deportados em outubro.
"Só a forma como eles tratam as pessoas já é uma agressividade descompensada. Eu não sofri agressão física, mas sei de pessoas que sofreram. Ser puxado pelo cabelo, ser jogado em cela", diz.
Grávida de cinco meses, Emily da Silva, 20, que tentou entrar nos EUA com o marido e a filha de um ano, conta que um dia passou tanta fome que o bebê parou de se mexer na barriga.
O número de brasileiros detidos na fronteira EUA-México aumentou dez vezes entre outubro de 2018 e setembro de 2019, segundo o Serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras (CBP, na sigla em inglês).A política austera da gestão de Donald Trump contra imigrantes em situação irregular e a dificuldade de emitir vistos a pessoas nascidas no Brasil podem ter ajudado na escalada, de acordo com integrantes do Itamaraty ouvidos em dezembro.
O governo Trump solicitou formalmente ao de Jair Bolsonaro (sem partido) a autorização para fretar mais voos com o objetivo de deportar brasileiros em situação irregular de imigração. A prática não era comum entre os países. O Itamaraty diz que havia registro de outro voo em 2017.
Segundo a Policia Federal em Minas Gerais, voos com deportados podem se tornar mais frequentes. A polícia disse ainda que segue investigando casos suspeitos, mas sem falar em detalhes.Apesar de haver moradores de outros estados, a maioria do grupo que chegou a Confins nesta sexta era de Minas Gerais.
Pâmela Cristina, 21, de Governador Valadares, conta que viu um guarda empurrando uma mulher com uma criança de colo e que era comum policiais da fronteira ficarem com o dinheiro das pessoas detidas."Tem muita gente que está aqui que não tem um centavo no bolso. A gente não imagina o quanto é sofrido. A gente entra com a mente sadia e sai com a mente doente", afirma ela.
Muitos chegaram ao Brasil usando as calças de moletom cinzas e camisetas azuis que eram distribuídas como uniforme. Outros ainda tinham no pulso as pulseiras colocadas na detenção para controle -uma com um número de identificação, outra com a temperatura da pessoa.Quem estava de tênis e botas chegou sem os cadarços, tirados pelos agentes da imigração. Algumas pessoas ainda calçavam o sapato de borracha laranja neon e outros as sapatilhas distribuídas na detenção.
Os brasileiros contaram que foram oferecidas duas opções: assinar a deportação e voltar ao país ou encontrar um advogado e tentar falar com um juiz para explicar o porquê de quererem ficar no país.Era comum que brasileiros tentassem ficar assim nos EUA, entrando irregularmente e respondendo ao processo em liberdade, no que é conhecido como cai-cai, enquanto trabalhavam."Mas você não consegue advogado e o caso segue correndo. A polícia de lá não deixa fazer ligações, mesmo que seja um direito. Então, nem quis tentar", conta Cleony.
A irmã de Fiama Inácio, 27, de Goiânia, conseguiu entrar e ficar nos EUA assim, mesmo depois de ser pega irregularmente na fronteira, na metade do ano passado. Por isso, Fiama resolveu arriscar, com o marido e o filho de seis anos. "Eles tratam a gente como se a gente fosse delinquente. Sei que a gente é ilegal, mas a gente tenta visto e não dão."

quinta-feira, 25 de julho de 2019

A aguia russa no brasao presidencial americano: uma aliança indestrutível...

Temos vários trapalhões, atualmente, no cenário internacional, eu conto três ou quatro, e vem aí o britânico para nos divertir mais um pouco.
Esse amor de Trump pelo Putin, e pelos russos em geral, é um pouco exagerado, ao que parece...

Trump faz discurso em frente a selo presidencial americano com águia semelhante à do brasão da Rússia

Em vez da águia careca, que aparece no selo presidencial americano, a imagem usada foi uma com duas águias, parecida com a do brasão de armas russo. Discurso foi na terça-feira (23) a um grupo conservador jovem em Washington, capital dos EUA.

Atrás de Trump, no selo presidencial, aparece a imagem de duas águias, semelhante à do brasão de armas da Rússia. — Foto: Nicholas Kamm/AFPAtrás de Trump, no selo presidencial, aparece a imagem de duas águias, semelhante à do brasão de armas da Rússia. — Foto: Nicholas Kamm/AFP
Atrás de Trump, no selo presidencial, aparece a imagem de duas águias, semelhante à do brasão de armas da Rússia. — Foto: Nicholas Kamm/AFP 
Havia algo de diferente no selo presidencial atrás de Donald Trump durante um discurso feito na terça-feira (23) ao grupo conservador jovem "Turning Point USA" em um hotel em Washington. 
No lugar da águia careca, que aparece no selo oficial do presidente dos Estados Unidos, a imagem mostrava uma águia de duas cabeças, que se assemelha à do brasão oficial da Rússia. 
Em vez de segurar um conjunto de flechas na garra esquerda, a águia segurava tacos de golfe - uma referência a um dos passatempos favoritos de Trump. 
O pássaro mostrado no selo atrás de Trump também é parecido com o das bandeiras da Sérvia, Albânia e Montenegro. 
O selo presidencial americano (à esq.); Trump durante o discurso da terça-feira 23); o brasão de armas da Rússia (à dir.) — Foto: Domínio público/AFP/Domínio públicoO selo presidencial americano (à esq.); Trump durante o discurso da terça-feira 23); o brasão de armas da Rússia (à dir.) — Foto: Domínio público/AFP/Domínio público
O selo presidencial americano (à esq.); Trump durante o discurso da terça-feira 23); o brasão de armas da Rússia (à dir.) — Foto: Domínio público/AFP/Domínio público 
O primeiro a notar a diferença foi o jornal "The Washington Post". Um leitor citou um site que vende mercadorias com o que parece ser o mesmo selo falso. Nas imagens do site, as palavras no banner da paródia da águia dizem "45 es un títere", espanhol para "45 é um fantoche". Na mercadoria do site, o pássaro também aparece segurando dinheiro nas garras direitas. 
Na imagem original, a águia segura, com o bico, uma faixa com o lema dos Estados Unidos, "E pluribus unum" - "de muitos, um". 
Uma projeção do verdadeiro selo presidencial estava centrada atrás do nome de Trump quando ele subiu no palco, diz o "The Washington Post". O verdadeiro selo também estava no púlpito de onde o presidente falou por 80 minutos. (Veja fotos abaixo). 
O selo verdadeiro apareceu em frente ao púlpito de onde Trump falou por 80 minutos. — Foto: Nicholas Kamm/AFPO selo verdadeiro apareceu em frente ao púlpito de onde Trump falou por 80 minutos. — Foto: Nicholas Kamm/AFP
O selo verdadeiro apareceu em frente ao púlpito de onde Trump falou por 80 minutos. — Foto: Nicholas Kamm/AFP 
O selo correto também apareceu projetado atrás do nome de Trump quando ele subiu ao palco. — Foto: Nicholas Kamm/AFPO selo correto também apareceu projetado atrás do nome de Trump quando ele subiu ao palco. — Foto: Nicholas Kamm/AFP
O selo correto também apareceu projetado atrás do nome de Trump quando ele subiu ao palco. — Foto: Nicholas Kamm/AFP 
Um porta-voz da Casa Branca disse ao "The Washington Post" que não viu o selo falso antes de ele aparecer na tela, e que enviou perguntas sobre o incidente ao "Turning Point USA", grupo de jovens conservadores para o qual Trump discursou. 
Na manhã desta quinta-feira (25), o "Turning Point USA" anunciou que havia demitido o integrante da equipe de vídeos responsável por projetar o selo falso.
"Nós demitimos o indivíduo", um porta-voz do grupo disse ao jornal. "Não acho que tenha sido uma intenção maliciosa, mas mesmo assim".
O porta-voz chamou o erro de "inaceitável" e disse que foi o resultado de uma busca online apressada para encontrar uma segunda imagem do selo presidencial a ser mostrada atrás de Trump. 

Foi descuidado, diz ex-advogado da Casa Branca

Atrás de Trump, no selo presidencial, aparece a imagem de duas águias, semelhante à do brasão de armas da Rússia. — Foto: Alex Wong/ Getty Images North America / AFPAtrás de Trump, no selo presidencial, aparece a imagem de duas águias, semelhante à do brasão de armas da Rússia. — Foto: Alex Wong/ Getty Images North America / AFP
Atrás de Trump, no selo presidencial, aparece a imagem de duas águias, semelhante à do brasão de armas da Rússia. — Foto: Alex Wong/ Getty Images North America / AFP 
Para Richard Painter, que trabalhou como o principal advogado de ética da Casa Branca entre 2005 e 2007, durante a presidência de George W. Bush, a equipe de Trump deveria ter conhecimento prévio e controle sobre imagens e vídeos exibidos em eventos em que o presidente aparece. 
Ele chamou o incidente de "descuidado" em entrevista ao "The Washington Post." 
"Você deve ter controle sobre o que o grupo privado ["Turning Point USA"] está fazendo, o que eles estão colocando na tela e qualquer outra coisa", disse Painter, agora professor de direito na Universidade de Minnesota. "Permitir que alguém projete algo na tela que não seja controlado pela Casa Branca é muito estúpido."
Um estatuto do Congresso americano prevê que o selo presidencial não pode ser usado para sugerir falsamente patrocínio ou aprovação pelo governo dos EUA, mas Painter e outros especialistas legais dizem que as paródias do selo estão protegidas pelo direito de livre expressão da Primeira Emenda à Constituição do país. 
A projeção parecia ser uma brincadeira - mas é provável que isso envergonhe um presidente particularmente preocupado com a imagem, disse Painter. 
"Alguém vai estar em apuros", disse o professor, "mas deu uma boa risada."

quarta-feira, 12 de junho de 2019

FMI acusa Trump de “minar” o comércio global - Sandro Pozzi (El País)

E alguém tem alguma dúvida disso?

FMI acusa Trump de “minar” o comércio global

Christine Lagarde, em um ato em Washington ontem.
Christine Lagarde, em um ato em Washington ontem.  AFP
O Fundo Monetário Internacional (FMI) acusa o Governo de Donald Trump de estar "minando" o sistema internacional de comércio, elevando as tarifas e adotando outras medidas para restringir as importações. Em vez de levantar barreiras, a diretora do organismo internacional, Christine Lagarde pede que Washington "trabalhe construtivamente" com seus parceiros para resolver as distorções e evitar que a disputa prejudique o crescimento global.
“É de vital importância que as tensões com China se resolvam rápido”, urge o organismo no relatório anual sobre a economia dos Estados Unidos. As medidas tarifárias, insiste, são ineficazes ao conter os déficits e serão prejudiciais tanto para a própria economia norte-americana como a mundial. Neste sentido, Lagarde pede que os EUA não se centrem só em um pacto bilateral e cheguem a um acordo mais amplo que reforce o sistema global de intercâmbios.
Essa reflexão está incluída no relatório anual sobre a economia dos EUA, conhecido no jargão como capítulo IV, que é publicado em meio à escalada da tensão entre o país e o México, seu principal parceiro comercial, de modo que ainda não contempla a estimativa de impacto. Limita-se a notar que a ratificação do acordo comercial norte-americano (o T-MEC, que já foi enviado aos Parlamentos dos EUA, México e Canadá, mas cuja aprovação final não será nada fácil nos dois primeiros países) ajudaria a aliviar a incerteza predominante no mercado.
Lagarde não escondeu sua "frustração", na quarta-feira, e disse que a extensão da batalha tarifária entre os Estados Unidos e a China e o México cria "ansiedade" pelo impacto que essa situação de tensão acumulada pode ter sobre a economia global em um momento de "fragilidade". "Há coisas que precisam ser resolvidas", disse ele, referindo-se à complexa reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC), "mas sem prejudicar a economia". "Cuidado com o que é feito com essa máquina de crescimento que é o comércio", disse a diretora-geral do FMI, de olho na reunião de ministros das economia do G20.
O FMI projeta crescimento para os EUA de 2,6% este ano. São três décimos a mais do que o organismo internacional antecipou em abril, porque o início de 2019 foi mais robusto do que o previsto. Mas vai se moderar a partir de 2,9% registrados em 2018 e deve cair para 2% em 2020, este último é um décimo maior do que os indicados dois meses atrás. A partir daí, ele se estabilizará em 1,6% em anos sucessivos, porque os estímulos fiscais passam ter menor força. A inflação norte-americana, segundo o relatório, deve ficar em 2,1%.
Os riscos, em geral, são equilibrados e descartam um cenário de recessão. Mas a previsão está sujeita, em todo caso, à evolução da frente comercial. Uma nova escalada da disputa tarifária pode causar uma mudança abrupta nas condições financeiras devido à perda de confiança de investidores e empresas. Isso "representa um risco material" porque vai segurar o crescimento, acrescenta o FMI.
Além da incerteza comercial, o grande desafio dos EUA é a deterioração das finanças públicas. O FMI descreve a tendência atual como "insustentável". "A expansão fiscal para apoiar a atividade econômica", acrescenta, "tem um custo". O déficit subirá este ano para 4,2% do PIB e permanecerá acima de 4% no médio prazo. A dívida federal subirá para 80% do PIB até 2020.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Sim, o Brasil deve se interessar pelo Iran - Clovis Rossi (FSP)

O jornalista e editorialista da Folha de S. Paulo, Clovis Rossim chama a atenção para um conflito que ameaça desestabilizar não só o Oriente Médio e o mundo inteiro, como também precipitar uma crise econômica capaz de afundar um pouco mais o Brasil, que já se encontra, segundo o ministro Paulo Guedes, no "fundo do poço".
O que vai fazer o nosso chanceler, ou melhor os chanceleres, o real e o nominal?
Imagino que, por seus instintos, escolheriam ficar do lado de Trump, o que seria um desastre, não necessariamente para o que pode acontecer em seguida. Independentemente disso, seria um desastre para nossa já arranhada credibilidade, para nossa já desgastada imagem internacional.
Um bookmaker inglês recomendaria, talvez, apostar na Lei de Murphy. Segundo esse tipo de especulador, nunca, ninguém, em qualquer época, perdeu dinheiro apostando na estupidez humana.
Segundo Einstein, por outro lado, existem duas coisas infinitas: a expansão do universo e a estupidez humana, e ele não tinha certeza quanto à primeira...
Paulo Roberto de Almeida

O Irã é, sim, assunto para o Brasil

Mas para entender, e não isolar o país persa

Se sobrou alguma vida inteligente no governo Bolsonaro, Israel ofereceu a ele uma bela oportunidade para sair das alucinações e da consequente paralisia. Pedir que o Brasil entre no complicado jogo do contencioso iraniano, como revelado nesta quarta-feira (15) pela Folha, é a chance para a diplomacia brasileira estudar o que fazer a respeito.
Para deixar claro: não se trata de o Brasil se alinhar automaticamente a Estados Unidos e Israel na ofensiva contra o Irã. Trata-se, isto sim, de definir uma política para a região. Não pode haver melhor momento para tanto, se se considerar o potencial explosivo da presente crise.
O Crisis Group, especialista em analisar crises e propor soluções para elas, faz um bom resumo do momento: "Um choque não é inevitável, mas bem pode ocorrer --deliberadamente ou como produto de erro de cálculo".
As consequências desse choque seriam calamitosas para os países da região mas também para a economia internacional, dada a alta dependência do livre fluxo de petróleo pelo golfo Pérsico.
Tudo o que o Brasil não precisa neste momento em que está no fundo do poço(segundo Paulo Guedes) é um conflito que sacuda a economia global.
Logo, entender o Irã é uma questão vital. Em primeiro lugar, cabe separar as perspectivas de EUA e Israel nessa questão. Para Israel, trata-se, sim, de uma ameaça existencial. O Irã dos aiatolás já fez incontáveis declarações de que gostaria de tirar do mapa o Estado judeu. Portanto, Israel tem mesmo que tomar todas as cautelas.
Já para os Estados Unidos, o Irã só é um problema no Iraque, mesmo assim porque a derrubada do governo de maioria sunita (de Saddam Hussein) levou a um país dominado pelos xiitas e, como tal, inevitavelmente sujeito à influência iraniana. É o que analisam, para Foreign Affairs, Steven Simon (Amherst College) e Jonathan Stevenson (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos).
Mais: há aparente contradição entre o presidente Donald Trump, em tese pró-negociações desde que levem a um acordo talhado para os interesses de Washington, e seus assessores belicosos, Mike Pompeo e John Bolton.
Sanam Vakil, pesquisador da Chatham House, excelente centro britânico, procurou 75 analistas e formuladores de políticas de dez países (incluídos Irã e Estados Unidos), em busca de entender o quadro do contencioso.
Relatou também para Foreign Affairs que "alguns entrevistados, incluindo americanos, expressaram preocupação com a possibilidade de que Bolton e Pompeo minem o sucesso de qualquer discussão com o Irã".
Sugestão para o Itamaraty, se está interessado em algo mais do que as idiotices de Olavo de Carvalho: recuperar essa consulta da Chatham House. Fornecerá subsídios excelentes para entender o Irã.
Não é nada simples: se há divergências na administração americana, existem também no Irã, entre o moderado presidente Hassan Rouhani e a linha dura, conforme expôs para o israelense Haaretz Ariane Tabatabai, especialista no país persa.
Resumo da ópera: o Brasil deve, sim, atender ao pedido de Israel, mas não para participar do cerco ao Irã e, menos ainda, para estimular um conflito. Estudar o Irã é a melhor maneira —talvez a única— de distender uma situação com tanto potencial desestabilizador.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Rubens Barbosa: Trump ameaça a segurança jurídica mundial (OESP)

‘Estratégia americana põe em risco segurança jurídica mundial’

Para diplomata, cautela europeia na crise se deve a temor de precedentes que possam favorecer movimentos separatistas

O Estado de S. Paulo, 5 de fevereiro de 2019

A União Europeia teme que a estratégia do governo americano de reconhecer o líder opositor venezuelano Juan Guaidó como presidente, mesmo sem controlar de fato o território e as instituições do país, abra um precedente perigoso no direito internacional. A opinião é de Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro nos EUA.  

O que representa a decisão de países europeus de reconhecer Juan Guaidó como presidente interino?
Não foi unânime e tem uma série de implicações. Alguns países não quiseram reconhecê-lo porque seria uma interferência interna. Os europeus criaram um grupo de contato internacional e farão uma reunião no dia 7, no Uruguai, com países que não estão de acordo com o reconhecimento de um Estado paralelo. Reconheceram Guaidó como presidente autoproclamado, mas não endossaram nenhuma sanção. O que está por trás dessa decisão é que eles não querem estabelecer precedentes. Itália e Espanha têm movimentos independentistas e eles não querem que outros países reconheçam qualquer governo paralelo. Além disso, a crise da Venezuela se internacionalizou. EUA, Rússia, UE e China, pela primeira vez, estão envolvidos numa questão latino-americana, marginalizando países importantes, até mesmo o Brasil. Países da região poderiam ter tido papel importante para solucionar essa crise. 
A UE pediu a Maduro que conduza a Venezuela a novas eleições. Os EUA querem derrubar Maduro. É um detalhe, mas é uma diferença relevante. E o Grupo de Lima endossou a posição americana. 

Essa diferença política entre EUA e UE se reflete também no campo econômico?
Os EUA impuseram sanções, mas os europeus ainda não se pronunciaram sobre isso. Há precedentes de direito internacional muito complicados. O fato de você reconhecer um governo – o que a Europa não fez, mas os Estados Unidos, sim – quebra um princípio de direito internacional que diz que um governo só pode ser reconhecido com controle do território. Os EUA querem pagar o petróleo a Guaidó. É um precedente que a Europa está vendo com preocupação. Se isso prevalece, daqui a pouco pagam o governo dos bascos, por exemplo. É uma coisa delicada que os EUA estão fazendo, porque coloca em risco a segurança jurídica internacional.  

A pressão internacional sozinha pode surtir efeito? 
Até agora, essa pressão não cindiu nem as Forças Armadas nem as milícias. Só um general rompeu com o governo. E tem mais de 20 mil agentes cubanos aconselhando Maduro sobre segurança interna. Isso é muito grave. Sem uma reação interna muito forte, vai ser muito difícil a elite política chavista se virar contra Maduro.  

Existe um paralelo entre essa crise e outros casos nos quais a entrada de ajuda humanitária foi combinada com algum tipo de intervenção, como na Líbia ou nos Bálcãs? 
Não, mas fico me perguntando como essa entrega vai ser feita. Os remédios serão colocados na fronteira? Se Maduro não permitir, como ela vai entrar? Mas é importante ressaltar que, tirando os EUA, nenhum país da região cogita uma intervenção militar. O vice-presidente (do Brasil) Mourão, descartou isso publicamente.