Bananas II, por Woody Allen, sênior
Paulo Roberto de Almeida
Quando assisti a um dos primeiros filmes do jovem cineasta Woody Allen tive a pior das impressões: roteiro ridículo de um golpe militar num país latino-americano estereotipado, um monte de bobalhões querendo tomar conta do Estado da forma mais histriônica possível. Enfim, Bananas era um filme horrivel, mas continuei assistindo e apreciando todos os seus demais filmes, mais intimistas, digamos assim. Teve até um outro filme, completamente ridículo, no qual o próprio Woody Allen se fantasiava de espermatozoide numa corrida louca em direção ao alvo, que eu também achei horrível. Depois ele melhorou muito.
Pois bem, assistindo agora aos depoimentos dos bobalhões envolvidos no golpe de Estado de Bolsonaro, o filme Bananas me veio à mente, pois as circunstâncias e os personagens são similares, senão incrivelmente iguais: trapalhões, incompetentes, palhaços de opereta, o que não quer dizer que não fossem perigosos, e que realmente não tenham (mal) planejado um golpe que só podia dar certo se pelo menos dois comandantes militares tivessem aderido ao que EFETIVAMENTE se pensou executar, e que de forma muito atabalhoada o beneficiário último havia dado ordens ao seu “exército brancaleônico” para que fosse levado adiante, enquanto o covarde se escafedia ao exterior.
Resumo: penso escrever uma carta ao já provecto Woody Allen indagando se ele não gostaria, aproveitando o roteiro estúpido dos estúpidos, de aproveitar para montar um Bananas II, o que o redimiria talvez do horrível Bananas I, desta vez com um enredo real, ainda que ridículo.
Paulo Roberto Almeida
Brasília, 9/06/2025
