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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: uma analise economica do voto de uma consultoria demonizada

Como já não disse, não apoio nenhum partido em especial. Apenas manifesto minha preferência por esta ou aquela causa, ou proposta, partidária, dependendo de uma análise estritamente objetiva de sua racionalidade, eficiência e adequação às nossas necessidades, tais como eu as percebo.
Agora mesmo, por exemplo, já não estou nem mesmo considerando a racionalidade de tais e tais medidas econômicas, pois esta é uma consideração absolutamente secundária ante a realidade política com que nos defrontamos.
Minha única preocupação, neste momento, é esta: estamos sendo governados por uma máfia que tomou de assalto o poder, e que usa e abusa de todos os meios para se perpetuar no poder, não porque sejam neobolcheviques mafiosos (o que eles são) que por acaso pretendam implantar o socialismo no Brasil. Não, isso eles não pretendem: eles são burros, ignorantes, mas não são estúpidos, e não querem matar a galinha (ou seja lá o que for) dos ovos de ouro de quem eles extraem recursos. Ou seja, eles não pretendem matar os capitalistas, senão de onde arrancariam o dinheiro de que necessitam para: (a) consolidar seu poder criminoso; (b) viver bem, muito bem...
Por isso, antes de qualquer outra consideração de política econômica, meu principal objetivo é afastar a máfia do poder.
Segunda coisa: não me pronuncio por candidatos, e sim por políticas. O fato de que esta consultoria faz campanha por um candidato tem menos importância para mim, ao colocar este post, do que sua análise econômica do Brasil, para ficar num terreno objetivo.
Dito isto, fiquem com a análise econômica da consultoria que deixou os companheiros nervosos com o seu livro "O Fim do Brasil". Bem, seria o fim, mesmo, se os mafiosos continuassem no poder. Ainda que o perigo não esteja de todo afastado -- e os neobolcheviques criaram vários expedientes para continuarem exercendo dominação sobre largos extratos da sociedade, inclusive com o seu decreto bolivariano dos sovietes petistas -- creio que estamos caminhando para uma inversão nas tendências dos últimos doze anos. Oxalá.
A razão, na verdade, é muito simples, e pode dispensar longas análises econômicas ou sociológicas: os companheiros roubaram demais, e foram muito cínicos com a sociedade. A sociedade cansou. E cansou também da ineficiência, da incompetência deles...
Já deu PT. Nem a pau, Juvenal!
Agora, fiquem com a análise econômica.
Paulo Roberto de Almeida

Votaremos em Aécio Neves
Boletim diário Empiricus, 9/10/2014

Dadas as críticas públicas já proferidas contra o atual governo, talvez não seja novidade. Não importa. Dadas as circunstâncias, a formalização nos parece necessária.

Fundamentamos a escolha em dois grandes elementos, de raízes distintas: a primeira, muito menos relevante, ligada a uma espécie de dever fiduciário; a segunda, cívica.

Comecemos do menos importante. A Empiricus é uma consultoria de investimentos, cujo foco das recomendações está em ativos brasileiros. Conforme narrado em verso e prosa pela cruel realidade, aumentos da probabilidade de eleição de Dilma Rousseff têm se traduzido em perda de valor para os ativos brasileiros (renda fixa, moeda e ações). Analogamente, vale o inverso para o caso de maior chance da oposição.

De forma óbvia, a maior parte de nossos clientes detém fatia relevante (em muitas vezes, a totalidade) de seu patrimônio em ativos domésticos. Portanto, se é da obrigação de uma firma qualquer atuar no interesse de seus clientes, a Empiricus precisa manifestar-se em favor daquele candidato capaz de valorizar os investimentos no Brasil. Essa é a retribuição mínima que temos com nossos assinantes.

Trata-se, porém, de algo secundário no momento. O outro elemento é bem mais profundo e significativo, feito não por empresários, mas por brasileiros, com formação (e vocação) em Economia, a saber: achamos que a candidatura de Aécio Neves seria capaz de conferir um futuro melhor ao País, na comparação com o prognóstico oferecido pela recandidatura da atual presidente.

A assertiva decorre da interpretação de que a nova matriz econômica - nome dado à série de medidas adotada em resposta à crise de 2008 - marcada por uma espécie de ensaio nacional-desenvolvimentista, de fechamento da economia e aumento do intervencionismo do Governo, representa uma inadequação à política econômica brasileira.

Desde a saída do ministro Palocci, abandonamos a ortodoxia, com o clássico tripé macroeconômico sendo vilipendiado em prol da tal nova matriz. As medidas heterodoxas têm suas consequências devidamente catalogadas: desemprego e inflação, com direito a risco de crise cambial.

A Economia é uma ciência voltada a três preceitos, cuja coexistência simultânea e na mesma intensidade pode ser impossível. Dadas a escassez de recursos, as dotações iniciais e a impossibilidade de alguém simplesmente impor uma determinada alocação aos agentes, havemos de fazer escolhas (trade offs) entre as três coisas.

Aos poucos familiarizados, os preceitos da Economia são:

Eficiência, tradicionalmente ligada à ótica paretiana, de que uma situação é eficiente se não é possível melhorar a posição de alguém sem piorar a de outrem. De forma mais simples, normalmente se relaciona eficiência ao ritmo de crescimento do bolo, ou seja, à velocidade em que o PIB aumenta e/ou a indicadores de produtividade.

Equidade, que poderia ser quebrada em subitens. Equidade horizontal, a necessidade de se tratar os iguais como iguais. E equidade vertical: diferentes merecem tratamento diferente. Usualmente, o conceito é ligado a uma alocação de recursos mais justa. Como o bolo é dividido entre os diversos convidados do aniversário, sendo desejável, obviamente, tamanhos semelhantes entre cada um dos cidadãos.

Liberdade, sem muita necessidade de explicação. A defesa das liberdades individuais parece ser um valor indisputável.

O ideal, claro, seria ter os três, em sua plenitude. Ocorre que, na prática - e também na própria teoria -, precisamos normalmente escolher entre as coisas.

O que o Governo Dilma tem a nos dizer sobre cada um dos preceitos?

Comecemos pelo crescimento. Embora não tenhamos fechado o ciclo de governo, as projeções de consenso sugerem um crescimento médio anual do PIB de apenas 1,7%. Esse é o segundo pior resultado de toda a República, à frente apenas do percentual obtido por Floriano Peixoto, de 1891 a 1894, com o País basicamente em guerra.

Seria culpa da crise externa?

O discurso oficial é de que o baixo crescimento decorre dos efeitos da crise internacional. Mentira. A desonestidade intelectual tem sido marca da administração Dilma - e essa afirmação é exemplo canônico.

Em que pese, de fato, algum efeito dos problemas externos, a desaceleração brasileira é muito mais destacada. Grosso modo, a economia mundial desacelera seu crescimento nos últimos anos de 4% para 3% ao ano, enquanto nós caímos para 1,7%.

Em reforço, nos governos FHC e Lula, o crescimento econômico brasileiro fora semelhante ao da América Latina. Agora, estamos cerca de dois pontos percentuais abaixo.

Para este ano, em particular, as projeções são emblemáticas. A economia mundial deve crescer 3,3% e os mercados emergentes 4,4%. Por aqui, teremos menos de 0,3% - conforme as estimativas contidas no relatório Focus do Banco Central.

Estaremos atrás até mesmo da Zona do Euro, contrariando a fase contundente da presidente Dilma no programa Bom Dia Brasil, da Rede Globo, em resposta (incorreta) à jornalista Miriam Leitão: “a maior barriga é da Europa.”

Infelizmente, a realidade insiste em favorecer a dieta europeia. A tabela abaixo do FMI serve, com precisão cirúrgica, à argumentação:

A partir dos dados, não há sequer como considerar a hipótese de que a crise vem de fora. A culpa de estarmos bem abaixo da média não pode ser da média. Essa culpa é intransferível e pertence ao Governo, mais especificamente à nova matriz econômica.

Como a candidatura de Aécio Neves, se vitoriosa, abandonaria essa matriz e retomaria a ortodoxia, a opção nos parece superior para a eficiência da Economia - falaremos mais sobre isso adiante.

Tratemos, agora, da liberdade. Se o governo Dilma não endereçou adequadamente questões ligadas à eficiência, teria ele sido capaz de conferir mais liberdade?

Claramente, não.

O governo foi marcado por tentativas sucessivas de cercear a liberdade de expressão. Aqui, citamos três movimentações fortes no sentido de calar vozes dissonantes: i) a publicação no site oficial do PT de uma lista negra de jornalistas a serem perseguidos; ii) o pedido de demissão de funcionária do Santander que relacionou queda dos ativos brasileiros ao eventual ganho de espaço de Dilma Rousseff nas pesquisas; e iii) a acusação à Empiricus de fazermos terrorismo eleitoral, com direito a reclamação - negada  por um placar bastante eloquente de 5 x 2 - sobre nossas campanhas no Google.

Ademais, o maior intervencionismo governamental - e aqui evitamos o termo “estatal” propositadamente, pois havemos de grifar as diferenças entre Estado e Governo -, um dos pilares da nova matriz econômica, implica impor ao mercado regras e condições (além de surpresas), reduzindo, portanto, a liberdade dos agentes econômicos.

É como se o Governo, de forma discricionária, pegasse certos empresários pela mão e tentasse impor suas vontades. Foi assim na MP 579 (responsável pela destruição do setor elétrico), no novo marco regulatório do setor petróleo, nas leis de conteúdo nacional, no controle de preços (energia elétrica, tarifas públicas, combustíveis e câmbio) e no spread bancário menor, conseguido, temporariamente, a fórceps.

A perda de liberdade empresarial implica inibição do espírito animal, das forças dionisíacas, da transgressão de padrões inerente à inovação. É um desincentivo à tomada de risco, força-motriz da sociedade capitalista. Se o empresário teme mudanças nas regras do jogo e a não-remuneração pela assunção de risco, não investe. Simples assim.

Dito de forma direta, o maior intervencionismo do Governo na Economia é sinônimo da perda de liberdade dos agentes econômicos.

Por fim, resta a equidade, bandeira clássica da atual administração petista, os “únicos que colocaram os pobres no orçamento.” A briga do nós contra eles, a senzala contra a casa-grande, os petistas contra a elite branca faz sentido?

Estudos mais recentes indicam que, depois de 10 anos consecutivos em queda, a desigualdade de renda no Brasil parou de cair de forma estatisticamente significativa em 2012. Documento IPEA n 159 é categórico em dizer que a concentração de renda no Brasil cai sistematicamente do final do governo FHC até 2012. A partir daí, há dúvidas.

O índice de Gini apresenta queda marginal entre 2011 e 2012, enquanto as curvas de Lorenz dos dois anos estão sobrepostas, indicando, grosso modo, estagnação na melhora. (Índice de Gini e Curva de Lorenz são indicadores que mensuram a distribuição de renda).

De forma semelhante, a Pnad de 2013, recém-divulgada em meio a uma grande polêmica, mostra, em linhas gerais, paralisia na queda do índice de Gini, que passa de 0,496 em 2012 para 0,495 em 2013, novamente indicando interrupção do processo de melhoria da distribuição de renda no Brasil.

Ainda mais problemático, estudo encomendado pelo IPEA a partir de dados do Imposto de Renda (semelhante àquela do famoso Piketty) mostra concentração de renda entre 2006 e 2012 - em 2012, os 5% mais ricos do País detinham 44% da renda; em 2006, o percentual era de 40%.

Ou seja, o Governo Dilma trouxe uma piora enorme em eficiência e em liberdade; na melhor das hipóteses, foi acompanhado de melhoras modestas para a distribuição de renda.

O importante aqui é mencionar que a melhora na distribuição de renda não é exclusividade do PT. Ela começa no Governo Fernando Henrique, conforme supracitado.

Os gastos sociais aumentam sistematicamente como proporção do PIB desde FHC, sem pestanejar. Mais do que isso, o maior programa social já feito na história deste país se chama Plano Real - registre-se: rejeitado, à época, pelo Partido dos Trabalhadores.

A inflação é o mecanismo mais tradicional de concentração de renda, afetando muito mais o pobre, pois o rico tem dinheiro aplicado, protegido da escalada dos preços. Também sobre o quesito inflação, o Governo Dilma vai mal - o IPCA de setembro, divulgado ontem, aponta inflação de 6,75% em 12 meses, acima do teto da meta de 6,50%, mesmo com preços represados.

Mas o passado não se muda. Poderíamos votar em Dilma se o futuro prometesse ser melhor frente ao passado. Se houvesse alguma sinalização de que a nova matriz econômica seria abandonada, esse texto talvez nem existisse.

Há erros claros no governo que impedem qualquer suposição de melhoria à frente. Ao contrário, as evidências sugerem dobrar a mão na heterodoxia. Conforme afirmado pelo ministro Mantega, a presidente Dilma levará essa política econômica "às últimas consequências". E o discurso de campanha recrudesceu no discurso contra a ortodoxia, ao demonizar os bancos, o Banco Central independente e a ortodoxia de Armínio Fraga.

Por que insistirão na nova matriz econômica? Em nossa visão, por quatros razões, sendo duas delas associadas a equívocos de diagnóstico e as outras ligadas a fatores ideológicos.

Primeiro, se a interpretação é de que a crise vem de fora, não há porque mudar a política doméstica.

Segundo, ainda dentro do erro de diagnóstico, a interpretação da administração Dilma é de que o problema da economia brasileira é de demanda. Para tal doença, prescreve-se a receita de mais crédito, mais subsídio ao consumo e impulso dos gastos públicos.

Ocorre, porém, que o problema é de oferta agregada - e não de demanda. E se você estimula a demanda agregada quando o problema é de oferta, o livro-texto alerta: aparecerão inflação e déficit em conta corrente. Bingo!

O terceiro ponto é a raiz ideológica, também dividido em dois subpontos:

3a) a crença de que “um pouquinho de inflação tudo bem pois gera mais emprego”, num debate que parece pertencer a década de 70, ignorante à crítica de Lucas, que atesta como o trade-off existe apenas no curtíssimo prazo;

3b) a visão de que o Estado é melhor do que o mercado para resolver os problemas da Economia, desafiando o Primeiro Teorema do Bem-estar da Microeconomia.

Sem um bom diagnóstico, distorcido por uma ideologia atrasada, não há como haver um bom prognóstico.

Assim, depois de tantas ameaças e tentativas de censura, declaramos nosso único, e exclusivo, vínculo com a candidatura de Aécio Neves: o voto.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Economia: o retrato da situacao depressiva na analise do Itau Macroeconomica - Ilan Goldfajn

Depressão, deprimido, desesperado?
Não fique assim.
Pode ficar, e vai ficar, pior...
Esta é a herança maldita dos companheiros...
Paulo Roberto de Almeida

Orange Book Brasil: Atividade fraca com poucos sinais de retomada

Informações até 12 de Setembro de 2014

Este relatório, publicado seis vezes por ano, resume relatos sobre o ambiente de negócios que ouvimos de contatos no setor real, especialistas e outras fontes fora do Itaú. Exceto pela seção ‘Nossa visão’, este relatório não reflete necessariamente a visão da área de pesquisa econômica do Itaú.

Seções:
Consumo e produção de bens e serviços                                                             
O enfraquecimento do consumo observado no fim do primeiro semestre se acentuou entre junho e agosto.        

Investimento                                                                                                   
Incertezas globais, baixo crescimento e dúvidas quanto ao tempo que levará para a retomada da demanda têm levado ao adiamento de decisões de investimento.

Mercado imobiliário                                                                                           
Nos últimos meses, a desaceleração do setor imobiliário ficou mais intensa.

Commodities                                                                                                    
Produtores agrícolas vêm se deparando com uma combinação desfavorável de volumes mais baixos e preços, na maioria dos produtos, em queda. No setor de siderurgia há sinais de melhora na demanda externa.

Mercado de trabalho, custos de produção e preços  
A desaceleração no mercado de trabalho está cada vez mais clara. Não há sinais de pressão inflacionária significativa para os próximos meses.

Nossa visão
A confiança de empresários e consumidores em patamares historicamente baixos assim como os altos estoques na indústria devem limitar o crescimento no curto prazo.

Resumo:

O enfraquecimento do consumo observado no fim do primeiro semestre se acentuou entre junho e agosto. Parte do movimento foi causada pelos feriados e pela Copa do Mundo (que manteve os consumidores mais longe das lojas), e parte pelos fundamentos da economia. Desde meados de agosto, há estabilização da atividade, mas poucos setores reportam retomada. Os segmentos de bens duráveis - automóveis, linha branca, eletrônicos - continuam sendo os mais afetados pelo recuo da demanda. As vendas são consideradas fracas, e produtores reportam varejistas ainda estocados.

A confiança do empresário não se recuperou da retração observada ao longo do segundo trimestre, o que mantém o investimento retraído. Incertezas globais, baixo crescimento e dúvidas quanto ao tempo que levará para a retomada da demanda têm levado ao adiamento de decisões de investimento. Custos ainda são mencionados com preocupação, mas não parecem ser a causa da confiança menor. De fato, alguns setores já observam moderação nos mercados de fatores de produção, especialmente os de mão de obra e transporte.

Nos últimos meses, a desaceleração do setor imobiliário ficou mais intensa. No segmento residencial, as vendas caíram fortemente durante a Copa do Mundo e se recuperaram apenas parcialmente desde então. Os estoques permanecem relativamente elevados, e os preços vêm caindo. No segmento comercial, a queda da atividade continua mais pronunciada. O desaquecimento da economia e o volume acelerado de lançamentos nos últimos anos em algumas capitais levaram a um desbalanceamento do setor.

No lado das commodities, a safra de grãos 2013-2014 pode ser caracterizada como boa, mas o clima prejudicou algumas culturas. Produtores vêm se deparando com uma combinação desfavorável de volumes mais baixos e preços em queda. O mesmo se observa no setor sucroalcooleiro. Já no cafeeiro, a quebra de safra vem sendo significativa, mas os preços internacionais em alta compensam.

No setor de siderurgia, o câmbio estável em patamar considerado pelo setor como apreciado continua limitando as exportações, ainda que haja sinais de melhora na demanda global - especialmente nos EUA.

A desaceleração no mercado de trabalho está cada vez mais clara. Reajustes reais de salário vêm recuando. Em alguns casos, os reajustes realizados nos últimos meses já estão próximos de zero. Com a economia mais fraca, há competição forte em muitos setores ligados ao consumo e naqueles afetados pelo câmbio mais estável. Não há sinais de pressão inflacionária significativa para os próximos meses.

Nossa visão: Reduzimos recentemente nossa projeção para o crescimento do PIB em 2014 (para 0,1%), em decorrência do resultado mais fraco do que esperávamos no segundo trimestre e também do ritmo ainda lento da recuperação da economia no pós-Copa. Em termos de fundamentos, a confiança de empresários e consumidores em patamares historicamente baixos assim como os altos estoques na indústria devem limitar o crescimento no curto prazo. O mercado de trabalho sente o enfraquecimento da economia e dá sinais de perda de dinamismo.

Consumo e produção de bens e serviços

O enfraquecimento do consumo observado no fim do primeiro semestre se acentuou entre junho e agosto. Parte do movimento foi causada pela Copa do Mundo (que manteve os consumidores mais longe das lojas), e parte pelos fundamentos da economia.

Os segmentos de bens duráveis, como automóveis, linha branca e eletrônicos, continuam sendo os mais afetados pelo recuo da demanda. As vendas são consideradas fracas, e produtores reportam varejistas ainda estocados. No entanto, segmentos de semi e não duráveis, como vestuário, alimentos e cosméticos, também passaram a observar vendas mais fracas e encomendas em baixa. No setor de serviços, muitos segmentos também vêm crescendo abaixo do esperado, entre eles entretenimento, terceirização de mão de obra, segurança patrimonial e alimentação fora do domicílio.

Desde meados de agosto há uma estabilização da desaceleração, mas poucos setores reportam retomada aos níveis pré-Copa. Entre os setores em recuperação, destacam-se materiais de construção, transporte de passageiros (aéreo e terrestre) e hotelaria de negócios. Ainda assim, a postura é cautelosa.

Para a frente, os diferentes setores ligados ao consumo mantêm a confiança com relação ao potencial do mercado interno brasileiro. Mas a percepção é de que, no curto prazo, o ajuste cíclico da demanda vá continuar. O consumidor está mais criterioso, procurando comprar apenas o essencial. Tanto produtores de bens de consumo finais como produtores de insumos intermediários vêm adotando medidas como lay-off, férias coletivas e descontinuidade da contratação de serviços não essenciais para atravessar o período de baixa atividade.

Investimento

A confiança do empresário não se recuperou da retração observada ao longo do segundo trimestre. Nosso indicador, feito a partir de uma base ampla de clientes, mostrou estabilidade em julho e agosto, mas o patamar atual está 14% abaixo do início do ano e 18% abaixo de agosto de 2013.

Incertezas globais, baixo crescimento e dúvidas quanto ao tempo que levará para a retomada da demanda têm levado ao adiamento de decisões de investimento. Fatores do lado da oferta, como altos custos de produção e complexidade tributária, ainda são mencionados como fatores de preocupação, mas não parecem ser a causa  da confiança menor. De fato, alguns setores já observam moderação nos mercados de fatores de produção, especialmente os de mão de obra e transporte.

No setor de veículos pesados - caminhões e máquinas agrícolas - o nível de produção e vendas segue deprimido. A atividade não mostrou reação desde a piora em junho. Além da baixa propensão ao investimento, a antecipação de vendas dos últimos anos e a falta de mão de obra (motoristas) continuam entre os fatores que limitam a demanda por caminhões.

Do lado da produção de bens de capital, além da desaceleração gerada pelo adiamento das decisões de investimento em geral, há um enfraquecimento relacionado ao fim do programa de encomendas governamentais para prefeituras.  Para a frente, a expectativa é mais positiva, impulsionada pela carência de infraestrutura do País e pelo programa de concessões do governo. Nessa área, nota-se alguma ansiedade com relação aos próximos anos, dependendo dos desdobramentos do cenário doméstico. O setor reporta ainda alguma preocupação com relação à capacidade do BNDES de financiar projetos e compras de equipamentos.

Como mencionado nas últimas edições do Orange Book, apesar do clima cauteloso, o interesse por investir no País ainda se mantém. O tamanho e a diversidade do mercado consumidor e o potencial de geração de renda e investimentos a partir da produção de commodities mantêm o Brasil estruturalmente atraente.

Mercado imobiliário

A desaceleração do setor imobiliário tornou-se mais intensa nos últimos meses. No segmento residencial, as vendas caíram fortemente durante a Copa do Mundo e se recuperaram apenas parcialmente desde então. Mas o ritmo atual de vendas ainda é substancialmente abaixo do projetado pelo setor no início do ano. O enfraquecimento da demanda se verifica principalmente em imóveis tradicionalmente destinados a investimento, como estúdios e apartamentos compactos. Os estoques permanecem relativamente elevados e os preços vêm caindo, com exceção de imóveis em áreas nobres das grandes cidades, segmento cuja demanda é mais sólida, e a oferta bastante restrita.

No segmento comercial, a queda da atividade continua mais pronunciada. O desaquecimento da economia e o volume acelerado de lançamentos nos últimos anos levaram a um desbalanceamento do setor. O nível de vacância é elevado, especialmente nas grandes capitais.

No segmento de shopping centers, a indicação é de que o investimento será baixo nos próximos dois a três anos. Com a desaceleração do varejo, o movimento recuou, e a disposição de lojistas em investir diminuiu. Shoppings novos estão com vacância elevada e oferta de descontos para atrair lojistas. Apenas os shoppings mais tradicionais (e bem estabelecidos) vêm sustentando demanda elevada.

Commodities

A safra de grãos 2013-2014 pode ser caracterizada como boa, mas o clima prejudicou algumas culturas. Ao mesmo tempo, a safra está bastante forte nos Estados Unidos. Dessa forma, o produtor local vem se deparando com uma combinação de volumes mais baixos e preços em queda.

No caso do café, o efeito do clima desfavorável ainda vem provocando revisões para baixo das expectativas de safra. A quebra deve ficar entre 10% e 15%. Diferente dos demais grãos, no entanto, o preço internacional está em alta, compensando boa parte dos produtores locais.

No setor sucroalcooleiro, a produção de cana até agora foi boa, mas a colheita da parte menos afetada pela seca do início do ano já aconteceu. Para a frente, a colheita tende a cair em volume e qualidade. Sendo assim, a safra deste ano como um todo deve ser menor do que a projetada inicialmente. A redução na produtividade pressiona o custo médio, fato que, combinado ao baixo nível de preço, gera uma situação difícil para o setor.

No setor de siderurgia, o câmbio estável em patamar considerado apreciado pelo setor segue limitando as exportações, ainda que haja sinais de melhora na demanda global - especialmente nos EUA. Do lado da demanda interna, a perspectiva de aceleração das concessões de infraestrutura ajuda, mas a queda na produção de bens de consumo duráveis, especialmente carros e linha branca, mantém o setor cauteloso.

Mercado de trabalho, custos de produção e preços

A desaceleração no mercado de trabalho está cada vez mais clara. Reajustes reais de salário vêm recuando. Em alguns casos, os reajustes realizados nos últimos meses já estão próximos de zero. A negociação ainda é intensa, mas está ficando claro que as empresas não conseguem acomodar um aumento salarial significativo, especialmente em meio ao quadro de demanda fraca. Muitos setores vêm praticando férias coletivas e lay-offs. Há demissões, embora os movimentos sejam localizados e, em geral, pequenos.

Além de moderar o mercado de trabalho, a desaceleração econômica traz também a acomodação de outros custos de produção, como aluguéis, frete rodoviário e serviços terceirizados. Em contrapartida, a possibilidade de aumentos de energia elétrica, combustíveis e carga tributária adiante preocupa.

Com a economia mais fraca, a competição em muitos setores ligados ao consumo e o câmbio mais estável, não há sinais de pressão inflacionária significativa para os próximos meses. No entanto,   a carne bovina vem experimentando uma tendência global a aumento de preços. Os consumidores, por sua vez, vêm reagindo, substituindo seu consumo por frangos e suínos - cujos preços vêm caindo em consequência da redução dos preços internacionais de grãos.

Nossa visão

Os resultados do PIB do segundo trimestre e os indicadores dos últimos meses revelaram uma desaceleração importante da demanda interna ao longo do ano. Reduzimos recentemente nossa projeção para o crescimento do PIB em 2014 para 0,1% (de 0,6%, anteriormente), em razão do resultado mais fraco do que esperávamos no segundo trimestre e também do ritmo ainda lento da recuperação da economia no pós-Copa. Em termos de fundamentos, a confiança de empresários e consumidores em patamares historicamente baixos assim como os altos estoques na indústria devem limitar o crescimento no curto prazo. Dessa forma, ainda que haja variação positiva em alguns indicadores de julho e agosto, como os de produção industrial e vendas no varejo, entendemos que a atividade seguirá fraca nos próximos meses. O mercado de trabalho sente o enfraquecimento da economia e dá sinais de perda de dinamismo, especialmente no ritmo de criação de postos de trabalho, embora a taxa de desemprego permaneça em patamares historicamente baixos.

Pesquisa macroeconômica - Itaú

Ilan Goldfajn - Economista-Chefe

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Cenario economico preocupante - Ubiratan Jorge Iorio (IL)

Não preciso acrescentar mais nada. Talvez eu tivesse muita coisa a acrescentar, mas no terreno político -- pois conheço os companheiros, de dentro, se ouso dizer -- mas prefiro deixar todos vocês com esta excelente análise da atual situação econômica brasileira.
Eu apenas agregaria isto: o mundo, o capitalismo, os especuladores internacionais, a China, ninguém tem nada a ver com a nossa situacão. Ela foi inteiramente construída pelo governo, 150% de responsabilidade petista, tudo o que ocorreu tinha de ocorrer porque os gajos estavam no comando e manobraram as alavancas das políticas econômicas e sociais nesse exato sentido.
A HISTÓRIA NÃO OS ABSOLVERÁ!
Paulo Roberto de Almeida

Nem pessimismo, nem “terrorismo”, apenas realismo!

Ubiratan Jorge Iorio*


realidade-bemvindo

Fundamentos econômicos lamentavelmente destruídos. Do lado fiscal, agigantamento do Estado, aparelhamento partidário deste, gastos permanentemente crescentes estraçalhando as possibilidades de equilíbrio orçamentário que, mesmo sem nunca ter sido atingido, ao menos não era explosivo. Em maio, o maior déficit primário desde muitos anos; déficit nominal já ultrapassando os 4% do PIB. Na esfera cambial, abandono do regime de câmbio flutuante e consequente “administração” da taxa de câmbio mediante intervenções do Banco Central, mantendo o real sobrevalorizado em relação ao dólar (e ao Euro) para, repetindo um erro mais velho do que Matusalém, “controlar” a inflação de preços; contas externas em queda livre. Regime monetário também espicaçado: metas de inflação lenientes e mesmo assim descumpridas; inflação de preços efetiva, descontadas as pajelanças para engessá-la mediante represamento de tarifas, beirando os 8% ao ano, acima, portando, do limite superior da meta; falta de discernimento entre causa e efeito, para saber que inflação não é o crescimento dos preços, mas sim a emissão de moeda; crédito recentemente estimulado em tempos de alta dos índices de preços; taxa Selic apontando para o alto nos próximos meses, após cerca de seis anos de sucessivas baixas do Copom, movidas politicamente para “estimular” a economia. Política externa completamente escrava da ideologia, acordos danosos à nossa economia com parceiros que em pouco ou nada podem beneficiá-la; tarifas especiais contra produtos de parceiros comerciais tradicionais, como “castigo” por serem capitalistas; alinhamento com países do MERCOSUL e outros de economias praticamente rupestres, sem qualquer ganho para nosso país; afugentamento de investimentos externos, pelas restrições às liberdades e mudanças frequentes na política econômica.
Obstáculos à livre iniciativa e desestímulos a investimentos e à busca pela eficiência. Ações de empresas estatais despencando como resultado de operações danosas ao patrimônio dos acionistas (e dos pagadores de tributos). E nem quero escrever sobre a questão, endêmica, da corrupção. Quero me ater tão somente a esse quadro da economia. Um quadro preocupante, sem qualquer dúvida.
Tudo isso – e muito mais – não é invenção, ou picuinha entre economistas, ou simples oposição política ao governo, ou mera antipatia pelos que estão no poder. São fatos concretos, frios, indiscutíveis e irrefutáveis. Quando olhamos para o futuro, qualquer economista com formação razoável, seja “austríaco”, monetarista ou mesmo keynesiano, sabe o que eles significam.
A verdade é que temos uma bomba relógio, que vem sendo armada desde a metade do segundo mandato do governo anterior, quando, para enfrentar a crise internacional – que foi então diagnosticada como uma “marolinha” – se estimulou o crédito barato se reduziu a taxa Selic para “puxar” a demanda (e para vencer as eleições de 2010). Essa bomba está prestes a explodir. Nada de alarmismos, de previsões de fuga astronômica de capitais, de hiperinflação, de superdesemprego, de confiscos de poupança, de congelamentos de preços, de calotes do governo ou de caos generalizado. O economista que disser isso, ou pensa que tais fenômenos podem ser previstos com precisão (o que não é verdade) ou está querendo apavorar clientes potenciais para vender-lhes consultoria.
Mas, em respeito às leis da economia, sinto-me na obrigação de alertar que os minutos para que a bomba relógio exploda estão minguando e que, portanto, estamos nos aproximando de uma situação econômica muito difícil. Não sei se o artefato montado pela incompetência da equipe do atual governo vai explodir já, ou seja, ainda no mandato que expirará em 31 de dezembro, ou se vai estourar nas mãos do próximo presidente, seja ele quem for.
O quadro para o futuro, como já escrevi, embora não possa ser mensurado, já pode ser vislumbrado com certeza e resumido em uma palavra estagflação! Para quem não conhece o economês, isso significa simplesmente que os aumentos de preços vão se acelerar e o desemprego vai aumentar. Mas quanto, só Deus sabe…
Se a taxa de crescimento do PIB em 2014 chegar a 1%, já será muito, o mesmo se podendo dizer se a inflação anual de dezembro ficar abaixo dos 8%. A inadimplência vai aumentar, as vendas e o crédito vão sofrer baques, as contas externas vão se deteriorar mais, o Real vai se desvalorizar perante o dólar, as taxas de juros vão subir e a produtividade, bem como as taxas de poupança e investimentos, na melhor das hipóteses, não vão crescer. Provavelmente, cairão.
Relatórios recentes de bancos nacionais e estrangeiros apontam claramente para esses efeitos, embora, obviamente, tenham desagradado ao governo, que insiste em afirmar que tudo está sob o seu controle e que essas projeções não passam de “terrorismo eleitoral”.
Não se trata de terrorismo, nem de pessimismo, gente! É apenas realismo, resultante da aplicação da boa teoria econômica. Ninguém pode se sentir feliz escrevendo essas coisas que estou colocando neste artigo, porque são tristes. Mas a economia é uma ciência que, mesmo não sendo exata, possui leis que não podem ser atropeladas, porque cedo ou tarde a conta da incompetência terá que ser paga.
O próximo presidente terá uma tarefa árdua pela frente, sem qualquer dúvida. A casa está semidestruída e precisando de uma reforma completa. Realmente, é uma pena, mas nos últimos seis anos regredimos pelo menos uns vinte.

*Doutor em Economia, Presidente-Executivo do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP)

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Brasil: deterioracao das contas publicas e das transacos correntes - Itau Pesquisa

BRASIL - Superávit primário segue em queda, estimamos o resultado recorrente em 0,4%
Pesquisa macroeconômica - Itaú
Ilan Goldfajn - Economista-Chefe

Destaques
• A tendência de queda do superávit primário continuou em junho. Acumulado em 12 meses, o superávit primário convencional recuou de 1,5% para 1,4% do PIB, enquanto nossa estimativa de primário recorrente (que excluí receitas e despesas atípicas) caiu de 0,6% para 0,4% do PIB, o menor patamar da nossa série (iniciada em 2002).

• A redução no superávit primário se deve ao impacto da perda de dinamismo da atividade econômica sobre a arrecadação tributária e ao crescimento das despesas que, embora tenha desacelerado, segue acima de estimativas de crescimento potencial da economia, o que tende a denotar postura fiscal expansionista do lado da despesa.

• De forma geral, os números apontam para chances reduzidas de alcance da meta primária deste ano, especialmente quando se leva em consideração os efeitos-base adversos esperados para o final do ano, como a saída das receitas extraordinárias de Libra e Refis das estatísticas acumuladas em doze meses.

• Dada certa rigidez dos gastos no curto prazo, o desaquecimento da atividade econômica e seu impacto sobre a arrecadação tributária adicionam riscos de baixa para as nossas projeções fiscais de 2014. Um volume de receitas não recorrentes (Refis, concessões, dividendos) acima do inicialmente projetado pode compensar o efeito da desaceleração mais intensa que o esperado nas receitas cíclicas. Seguimos projetando um primário de 1,3% do PIB ao final deste ano, mas com um viés de baixa em torno de nossa estimativa. Devido a uma maior contribuição de receitas atípicas na composição do superávit primário, nossa projeção para o superávit primário recorrente de 0,7% do PIB este ano deverá ser revista para baixo.

O déficit primário consolidado de junho
O setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 2,1 bilhões em junho, resultado um pouco abaixo das estimativas de mercado (mediana da Bloomberg: -1,1bi; Itaú: -1,9bi). O Governo Central apresentou déficit primário de R$2,7 bilhões e os governos regionais e as empresas estatais, superávit de R$113 milhões e R$518 milhões, respectivamente. O déficit consolidado equivale a 0,5% do PIB do mês, o que se compara a um superávit de 1,3% em junho do ano passado e a um superávit médio entre 2009-13 para meses de junho de 1,5% do PIB.

No acumulado do ano, o superávit primário consolidado alcançou 1,2% do PIB, valor abaixo do mesmo período do ano passado (2,2%) e da média de 2009-13 (2,8% do PIB). Nesta mesma métrica, a principal queda em relação ao ano passado se dá no governo federal (de 1,4% do PIB em 2013 para 0,6% do PIB em 2014), mas o superávit primário dos governos regionais também recuou (de 0,8% para 0,5% do PIB).

Acumulado em 12 meses, o superávit primário recuou de 1,5% em maio para 1,4% do PIB em junho. Nossa estimativa de superávit primário recorrente (que excluí as receitas e despesas atípicas) caiu de 0,6% para 0,4%, alcançando o menor patamar da série (iniciada em 2002). Este nível é abaixo daquele que consideramos compatível com a estabilização da dívida pública líquida como percentual do PIB (primário entre 2,0% e 2,5% do PIB).

Governo Central: Receita desacelera mais que o gasto
A desaceleração da atividade econômica tem exercido impacto negativo na arrecadação federal. Em junho, a receita administrada pela RFB (Receita Federal do Brasil) recuou 0,2% em termos reais (deflacionado pelo IPCA) em relação a junho de 2013, após queda de 6,4% no mês anterior. A variação anual média nos últimos 3 meses, menos volátil e portanto melhor para medir a tendência, alcançou -1,9%, vindo de -1,1% em maio e +2,1% em abril. Nesta mesma base de comparação, os principais destaques de queda ocorreram nas receitas provenientes do COFINS e PIS/PASEP (-6,4%), que guardam correlação histórica com as vendas no varejo, e do imposto sobre importação e IPI vinculado às importações (-6,8%). As receitas não tributárias foram menores que nossa expectativa em junho, alcançando R$ 8,5 bilhões, abaixo dos R$ 13,7 bilhões registrados em junho de 2013

No acumulado do ano, a receita total do governo central cresce 0,4% em termos reais, um pouco abaixo da nossa projeção de 1,0% para o ano de 2014. À frente, uma recuperação substancial da arrecadação tributária é improvável, dada a desaceleração da atividade econômica. Logo, esperamos que a busca por receitas não tributárias continue, de forma a entregar um primário menos distante da meta de 1,9% do PIB este ano.

O crescimento do gasto federal desacelerou para 0,9% em termos reais em junho ante o mesmo mês do ano passado (7,9% em maio). No acumulado do ano, o gasto federal cresceu 3,3%, o que representa uma desaceleração quando comparamos com o ano passado (6,1%). Ainda assim a expansão segue acima de estimativas de crescimento econômico potencial (por volta de 2,5%), o que aponta para uma política fiscal ainda expansionista do lado da despesa.

No segundo semestre, provavelmente observaremos aceleração no crescimento das despesas “obrigatórias” (devido a gastos adiados de precatórios e aportes à CDE), o que cria uma necessidade de reduzir bruscamente o ritmo de crescimento dos gastos “discricionários” no fim do ano.

Déficit nominal e a dívida pública
O déficit nominal do setor público (medida de desempenho fiscal que inclui as despesas com juros) foi de 3,6% do PIB nos doze meses até junho (maio: 3,5%). As despesas com juros do setor público ficaram estáveis em 5,0% do PIB nos doze meses encerrados em junho.

Para este ano, seguimos estimando um superávit primário mais baixo e um contínuo aumento nos custos de financiamento da dívida pública. Estes fatores deverão pressionar o déficit nominal para um patamar acima de 4,0% do PIB até o final deste ano.

A dívida líquida do setor público subiu de 34,6% do PIB em maio para 34,9% em junho, refletindo o déficit primário no mês. A dívida bruta do governo geral (excluindo as empresas estatais e o Banco Central) subiu de           58,0% do PIB em maio para 58,5% em junho. A dívida bruta excluindo-se o efeito das reservas internacionais subiu de 41,0% do PIB em maio para 41,9%, o maior patamar desde maio de 2013.

Cenário para o ano de 2014
Dada certa rigidez dos gastos no curto prazo, o desaquecimento da atividade econômica e seu impacto sobre a arrecadação tributária adicionam riscos de baixa para as nossas projeções fiscais de 2014. Um volume de receitas não recorrentes (Refis, concessões, dividendos) acima do inicialmente projetado pode compensar o efeito da desaceleração mais intensa que o esperado nas receitas cíclicas. Seguimos projetando um primário de 1,3% do PIB ao final deste ano, mas com um viés de baixa em torno de nossa estimativa. Devido a uma maior contribuição de receitas atípicas na composição do superávit primário, nossa projeção para o superávit primário recorrente de 0,7% do PIB este ano deverá ser revista para baixo.

Luka Barbosa
Economista