Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
segunda-feira, 11 de abril de 2016
Entre Stiegler e Friedman, com quem voce ficaria? Um debate imperdivel...
Paulo Roberto de Almeida
Quer tomar um café com Friedman?
Empiricus, 10 Abril 2016
O ano era 1968.
Na cafeteria do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Chicago, dois dos maiores economistas da história batiam um papo informal, quase despretensioso.
Na época, Milton Friedman tinha 56 anos.
George Stigler era um ano mais velho.
Milton ficou mundialmente conhecido como o defensor do livre mercado.
Em paralelo, Stigler levantava a espada contra abusos do governo.
Ambos já despontavam para os alunos de Chicago como monstros sagrados da teoria econômica.
Seriam agraciados com o Nobel apenas tempos depois (Friedman em 1976 e Stigler em 1982), embora ninguém duvidasse disso nos corredores universitários de 1968.
Ouvi essa conversa do relato da Professora Deirdre McCloskey, que a presenciou pessoalmente.
Tomo aqui a liberdade de traduzi-la, preservando o que compete à forma e ao sentido.
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George: Milton, você parece um pregador religioso! Se as pessoas quiserem livre comércio, terão livre comércio. Mas, se elas não quiserem, nenhum discurso econômico será suficiente para fazê-las mudar de ideia.
Milton: Ah, é justamente aí que eu e você nos distinguimos, Goerge. Nós somos ambos admiradores do livre mercado, mas você acha que o livre mercado já está funcionando desde sempre.
George: E por que não estaria? Os indivíduos são guiados por seus próprios interesses, e votam de acordo com isso - é o que basta para o livre mercado funcionar. Se os eleitores acabam comprando tarifas maiores de importação, provavelmente é o que desejavam ter.
Milton: Não é assim que acontece; os eleitores perseguem vontades, mas frequentemente não sabem quais são exatamente essas vontades. As pessoas precisam de educação. O cidadão médio não tem ideia de como uma tarifa adicional pode machucá-lo.
George: Educação?! Tente então educar um lobista trabalhando a serviço da indústria têxtil [a quem as tarifas de importação beneficiariam].
Milton: Conforme eu disse, aí nos distinguimos. Sou um professor. Acredito que as pessoas fazem certas coisas simplesmente porque ignoram sua lógica econômica e suas últimas consequências.
George: E eu sou um cientista, um cientista econômico. As pessoas fazem o que fazem porque são sábias.
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A conversa de café entre Stigler e Friedman sintetiza um debate fundamental na Economia e nas Finanças.
Há economistas que assumem, de antemão, que somos todos racionais. Agindo por conta própria, alcançamos rapidamente a melhor situação possível. Esses são os stigleritas.
Outros, apelidados de friedmanitas, também estão certos de que podemos alcançar a melhor situação possível, DESDE que nos esforcemos para aprender como as coisas funcionam.
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Empiricus
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
O perfil do novo ajudante de ordens da area economica: Empiricus Research
Por Rodolfo Amstalden
Eimprcus, 21/12/15
Barbosa, por Barbosa
Você pode aguardar pelas notícias do conference call, agendado para meio-dia.
Nele, Barbosa tentou convencer investidores de que é tão disciplinado quanto Levy, embora mais progressista.
Eu pulo esse conference call, que é fruto da ocasião, e faço o que o próprio Barbosa faria no meu lugar, como um “estruturalista”.
Investigaremos aqui qual é a estrutura de pensamento do novo ministro.
Economia de laboratório
Ainda antes do meio-dia, o CDS (vulgo risco-País) rompeu o nível crítico de 500 pontos-base, precificando a mudança na Fazenda.
Conforme explicado por Barbosa no artigo acadêmico A Inflexão do Governo Lula:
“Um ponto básico é igual a um centésimo de ponto percentual. Logo, quando uma taxa de juro sobe de 5,00% para 5,25%, significa um aumento de 25 pontos básicos”.
Esclarecido esse conceito altamente complexo, Nelson está pronto para avaliar os legados intervencionistas do período 2003-2010.
Sua conclusão?
"É fundamental reconhecer o papel dos governos de testar os limites”.
“Governo Lula demonstra, no âmbito da política econômica, as imensas oportunidades abertas ao desenvolvimento nacional por meio de uma experimentação responsável”.
Letra morta
Entremos agora em artigo mais recente, submetido em agosto de 2014: O desafio macroeconômico de 2015-2018.
O ministro escreve:
“A desaceleração do crescimento da economia tem dificultado o cumprimento das metas fiscais do governo nos últimos anos”.
Não há sequer menção à óbvia causalidade inversa, de que a farra fiscal é que arruinou o crescimento.
Barbosa fala também em "incentivos fiscais e tributários necessários para atenuar a perda de competitividade da indústria e incentivar o investimento”.
E defende ainda que "o gasto [público] continuou a crescer acima do crescimento do PIB devido à ampliação da rede de proteção social via transferências de renda e ao aumento do gasto público com habitação, saúde e educação”.
Se você acredita que Barbosa tem compromisso firme com o ajuste fiscal, você simplesmente não leu o que ele escreveu ao longo de toda a sua vida acadêmica.
Alguém tem que ceder
Quando Levy era ministro, lamentávamos sua falta de poder.
A partir de agora, damos graças à falta de poder que impede Barbosa de atuar livremente.
Dilma não tem Legislativo para aprovar aumentos de tributos, e não quer cortar gastos.
Resta então, mais uma vez, testar limites por meio de experimentação.
Mas, quando alguém testa limites, os limites também testam esse alguém.
Prisma oblíquo
Ao menos Levy nos deixou como herança o Relatório Prisma, que coleta expectativas de mercado sobre as principais variáveis fiscais.
Projeções de momento:
- Déficit primário de R$ 53 bilhões em 2016.
- Dívida bruta do Governo Central a 74% do PIB.
Por favor, anote esses números em um lugar confiável, para que não virem letra morta.
Daqui a um mês de Barbosa no cargo, voltaremos a acessá-los.
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
A volta das politicas alopradas da anacronica "matriz economica"- Felipe Miranda (Empiricus)
Caro leitor,
Acabamos de ter a comprovação de mais uma tese econômica.
Foi dado o pontapé no "Terceiro Mandato".
O governo, sem sustentação na Câmara, sem apoio da população e boicotado pela própria base aliada, partiu para o que era a sua última alternativa: a guinada às esquerdas e retomada da agenda da "nova matriz econômica".
Dilma resgatou a política de privilégios concedidos a setores específicos utilizando estatais como instrumento.
O exemplo mais recente é gritante.
A Caixa anunciou concessão de R$ 5 bi em "empréstimos em condições especiais" para a cadeia automotiva, setor altamente estimulado, cujo impacto marginal de novas medidas já provou-se nulo, mas, cuja visibilidade da onda de demissões e sindicalização incomodam.
Mesmo após anos de benefícios fiscais e linhas especiais de Finame/BNDES, a cadeia produtiva de autos roda com retração de -18,5% no primeiro semestre deste ano.
Ou seja, foi tomada mais uma medida que desperta desconforto de ingerência política sobre estatais e com efeito praticamente nulo sobre o setor alvo.
É, novamente, enxugar gelo com dinheiro das estatais, sem ter esse dinheiro em conta.
Repete-se o expediente das pedaladas fiscais.
O brilhante economista Mansueto de Almeida chamou atenção para o mesmo fato.
As pedaladas fiscais que colocam em risco a legitimidade do Governo Dilma continuam sendo feitas em 2015.
Embora a magnitude seja menor este ano, o princípio é o mesmo: Caixa e Banco do Brasil financiando saldos negativos do Tesouro.
Como previsto, a política de ajuste fiscal de Joaquim Levy cedeu ao expediente da chamada nova matriz...
... a mesma que nos colocou em situação de anos consecutivos de recessão, inflação em dois dígitos, dólar a R$ 3,50, Bolsa em dólares próxima do piso de 2008 e rápida deterioração do mercado de trabalho.
Corremos risco moral (e financeiro) ao continuarmos permitindo a maquiagem do superávit primário.
Em breve, as agências de rating serão obrigadas a reconhecer isso em suas notas de crédito, e sofreremos novos rebaixamentos.
A tese foi comprovada.
O alerta, dado há algum tempo.
Dilma partiu para o que era a sua única alternativa.
Agora, é hora de eu e você lidarmos com as consequências.
Felipe Miranda (Empiricus)
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
Conselhos financeiros para quem ainda nao comecou a poupar... - Rodolfo Amstalden (Empiricus)
Mas nunca é tarde para seguir...
Paulo Roberto de Almeida
A carta que me fez refletir sobre meu próprio futuro:
“Quero que meu filho não cometa os mesmos erros financeiros que eu cometi”
Caro leitor,
Em 24 de junho recebi uma carta de um senhor chamado Nestor, que acompanha a série de Aposentadoria da Empiricus.
Isso mesmo, uma carta. Daquelas que você cola selo e leva ao correio.
Seu Nestor me pediu um favor inusitado.
Ele escreveu contando que seu filho está hoje com 35 anos. Do mesmo modo que Seu Nestor agia nessa idade, o filho se acha muito esperto para ouvir os conselhos de um senhor “ultrapassado”.
Disse ele: “Talvez se você escrevesse para meu filho sobre as armadilhas financeiras que ele vai enfrentar…”
Eu, Rodolfo, ainda não tenho filhos. Mas tenho quase a mesma idade do filho do Seu Nestor e sei como é difícil ouvir aqueles que realmente se preocupam com a gente e que têm muito a ensinar.
Quando eu fui comprar meu primeiro carro, meu pai me aconselhou a nunca medir a capacidade de compra simplesmente pelo valor do veículo, mas sim pelos custos recorrentes (gasolina, pedágios, seguros, revisões, etc.). Eu não fiz isso e fui obrigado a vender o carro.
Por sorte, errar na compra de um carro é muito mais fácil de corrigir. O impacto desse erro ao longo da vida é mínimo.
Porém, existem erros que nos acompanham até o fim dos nossos dias…
Vou reproduzir um trecho da carta do Seu Nestor:
O Nestor não falou o nome do seu filho. Mas tenho certeza que tudo que escreverei abaixo serve para milhares de filhos que estão cometendo os mesmos erros.
Poucas pessoas conseguem imaginar muito além do presente.
A imensa maioria mede a felicidade e o bem-estar pautada apenas na situação do momento.
Se estiver bom agora, ótimo. Amanhã será ainda melhor.
É algo que chamamos de otimismo excessivo. Uma crença de que tudo vai sempre melhorar. Característica muito presente nas pessoas que estão no auge produtivo, entre os 30 e os 50 anos.
Uma vez que, naturalmente, a vida profissional desses indivíduos vem em uma crescente. Mas é bom lembrar que as árvores não crescem até o céu…
Esse otimismo relega a segundo plano uma necessidade fundamental da vida: envelhecer com saúde financeira para ter uma aposentadoria que permita mais do que apenas sobreviver.
O próprio sistema previdenciário do Brasil induz ao trabalhador a sensação de que os quatrocentos e poucos reais que o governo desconta da folha de pagamento são o passaporte para um futuro maravilhoso num lugar chamado INSS.
Em países como os EUA, o cidadão aprende desde cedo a montar sua carteira de investimentos para chegar aos 65 anos com um montante que lhe permita viver bem até o fim da vida.
Talvez por não ser obrigatório, faça a pessoas agirem a respeito. Diferente daqui.
Pesquisa divulgada pelo jornal Valor Econômico de 7 de abril deste ano revela que 57% dos brasileiros não poupam para aposentadoria.
Fonte: Valor Econômico
É um dado muito preocupante.
Pela carta do Nestor, interpretei que a ajuda que ele me pediu é justamente essa:
Desenvolver no filho uma necessidade de formar um patrimônio sólido para no futuro gozar de uma vida sem privações.
Escrevo sobre aposentadoria há um bom tempo e nesse período consegui identificar aqueles que são os principais inimigos da formação de patrimônio e, consequentemente, de uma aposentadoria tranquila.
A boa notícia para o Seu Nestor – e principalmente para o seu filho – é que 35 anos é uma idade muito boa para mudar os hábitos e iniciar a construção de uma carteira de investimentos focada no longo prazo.
Com essa idade, a pessoa já tem uma posição relevante na carreira, muitas vezes já resolveu as questões de estudo (com pós-graduações, MBA, etc), já casou e já possui casa própria. Agora é focar na formação do patrimônio.
Qual o melhor caminho para atingir o objetivo de uma aposentadoria milionária?
Os 8 Arrependimentos de Nestor
Separei as 8 lições que considero fundamentais para que qualquer pessoa atinja um patrimônio milionário e assim consiga se aposentar sem abrir mão de um padrão de vida excelente.
São pequenas mudanças que TODOS nós devemos fazer.
Quem evita esses erros está praticamente selando um futuro de tranquilidade e bem-estar.
1 – Não confie na aposentadoria pública
Já comentei um pouco sobre esse assunto. Não faltam exemplos que nos mostram que a situação do INSS vai piorar a cada ano.
Você ainda pode ficar totalmente desamparado, pois o rombo da previdência compromete as contas públicas:
Fonte: Valor Econômico
Basta você puxar na memória os inúmeros ajustes que são feitos a cada mandato presidencial. Sempre aparece um fator previdenciário, uma idade mínima ou uma nova fórmula de cálculo que dificulta o acesso de novos trabalhadores.
Mas os problemas da aposentadoria pública não se restringem ao acesso de novos aposentados.
Os que já fazem parte do INSS e recebem mais de um salário mínimo sentem na pele o que é ficar na mão de um sistema público deficitário.
Com uma projeção de inflação média de 5% e crescimento do PIB de 2%, até 2024 o teto do INSS será de apenas 5 salários mínimos.
Fonte: Folha de S. Paulo
Ou seja, em 20 anos, a diferença entre o máximo que o INSS paga a seus aposentados e o valor do salário mínimo foi reduzido à metade.Há quem diga que, num futuro não tão distante, todos que são aposentados ou pensionistas do INSS estarão recebendo um salário mínimo. Não sei se chegaremos a isso, mas a diferença tende a ficar muito baixa.
Isto já afeta o Nestor. Mas ele não deseja que essa realidade afete seu filho.
E eu não quero que afete você. Então, não dependa do INSS.
2 – Não deixe de poupar um mês sequer
Não existe mágica. O seu patrimônio será formado por um cálculo bem simples:
Para formar um patrimônio sólido, você precisa fazer suas despesas serem menores do que as suas receitas. Em outras palavras, você precisa poupar.
Via de regra, todo mundo sabe disso.
Mas apenas 4 em cada 10 brasileiros agem assim.
Segundo a carta enviada pelo Seu Nestor, seu filho pertence hoje ao grupo dos 57% que não poupam para a aposentadoria.
Acredito que o maior inimigo para que essa meta seja realizada está no constante adiamento do ato de separar uma parte do salário para os investimentos.
“Esse mês está ruim. Mas no mês que vem eu começo.”
Porém, o mês bom nunca chega. E não vai chegar.
Se você não colocar prioridade em reservar uma parte da sua receita mensal, sempre vai haver promoções imperdíveis, aquele presente que você queria dar a você mesmo ou qualquer outro gasto que vai transformar esse mês num mês ruim.
Você precisa poupar todos os meses.
Não existe um percentual ideal que possa ser aplicado a todos. Mas eu defendo que um pai de família deva poupar mensalmente entre 15% e 30% da sua renda.
É claro que esse percentual depende de uma série de fatores, como a faixa de renda, o número de filhos, a idade, entre outros.
Contudo, mais importante que o valor poupado é criar o hábito de separar uma parte da renda para os investimentos.
Passado algum tempo, a recompensa de ver o patrimônio crescendo a cada dia é o maior estímulo que existe. É como se o indivíduo criasse uma dependência de poupar. Nesse caso, uma dependência sadia.
Seu Nestor passou a vida esperando um mês bom para começar a poupar. Hoje, tudo que ele quer é que o seu filho não cometa o mesmo erro.
3 – Não confie no gerente do banco
Tivesse o Seu Nestor sido uma pessoa disciplinada e se ao longo da vida guardasse uma parte do salário, o próximo passo seria definir a forma de investimento mais adequada.
Muitas pessoas repassam essa decisão para um sujeito simpático e amigável chamado “o gerente do banco”.
Afinal de contas, a função desse valoroso profissional é verificar as melhores opções de investimento e levar até o poupador a melhor forma de ver o seu dinheiro render… certo?
Certo. Mas há um porém…
Assim como analistas do banco e de corretoras, eles ganham se cumprirem metas.
As receitas dessas instituições vêm dos produtos que eles comercializam. Nenhum desses profissionais vai indicar um produto de banco ou corretora concorrente, mesmo que seja vantajoso para você.
E o crescente lucro das instituições financeiras é a prova de que nossos amigos gerentes estão cumprindo muito bem esse papel.
Em 2014, o lucro líquido dos 5 principais bancos brasileiros foi de mais de R$ 60 bilhões. Para se ter uma ideia do tamanho desse montante, é valor superior ao PIB de 12 das 27 unidades federativas do Brasil.
Muitos poupadores acabam sendo levados a fazer um título de capitalização ou uma aplicação qualquer com taxas de administração caríssimas. Tudo isso para que o gerente atinja as suas metas.
“Mas, se o gerente não me dá os melhores conselhos, quem deve ser o responsável pelos meus investimentos?”
Você mesmo!
Ninguém vai cuidar do seu dinheiro melhor do que você mesmo.
Não transfira essa responsabilidade para ninguém.
Mesmo que você se ache um leigo em finanças. É muito simples montar uma carteira e investir ao longo da vida. Falaremos mais sobre isso daqui a pouco.
4 – Não assuma toda a responsabilidade sozinho
Eu não sei o que acontecia no dia a dia da casa do Seu Nestor, mas arrisco um palpite:
Talvez Nestor fosse um sujeito centralizador que nunca dialogou sobre as economias domésticas com a esposa e com os filhos.
Isso é um erro muito comum.
Quem não conversa com a família sobre a necessidade de poupar para a aposentadoria acaba carregando uma pressão desnecessária sobre os ombros.
É claro que a sensação de comprar uma roupa nova é mais agradável do que passear no shopping e voltar de mãos vazias.
Mas seus familiares conhecem o seu projeto de aposentadoria?
Talvez se conhecessem, muitos incômodos poderiam ser evitados.
Minha sugestão é que você faça uma planilha com metas individuais para cada membro e mensalmente você cruze os dados alcançados com os projetados.
Além de um estímulo, essa prática mostra quanto a família terá daqui a alguns anos.
Com todo mundo participando, o objetivo é alcançado com muito mais facilidade.
5 – Não gaste dinheiro com juros
Pense em algo óbvio. Algo que talvez nem precisasse ser dito.
Não gaste dinheiro com juros é uma dessas coisas. Tão óbvio que às vezes até esquecemos de seguir…
Não existe 12 vezes sem juros.
Se a loja que você está comprando insistir que o valor à vista é o mesmo do valor em 12x, vá até a loja concorrente.
É claro que existem momentos que a taxa de juros pode valer a pena. Mas você precisa fazer os cálculos.
Enquanto escrevo este texto, leio na tela ao lado que os juros ao consumidor batem novo recorde.
Fonte: O Financista
No famigerado rotativo do cartão de crédito, as taxas anuais atingem 372% ao ano, segundo o Banco Central.
Nunca caia na armadilha do crédito fácil. Quanto mais fácil, mais vantajoso para o banco.
Por isso que um cartão de crédito você consegue fazer apenas atendendo uma ligação. Já um crédito imobiliário com taxa de 8% ao ano, você só consegue fazer passando horas na agência.
Lembre-se dos R$ 60 bilhões de lucro. Boa parte deles vem dos juros que pagamos.
6 – Não subestime o seu número mágico
Eu costumo chamar aquele valor que sonhamos alcançar ao longo da vida para não precisar trabalhar mais de número mágico.
Muita gente faz esse exercício ao jogar na Mega-Sena, pensando que, se ganhar os milhões do prêmio, viverá apenas dos juros.
Infelizmente, os juros que você receberá do banco ao aplicar a bolada são infinitamente menores dos que os 372% cobrados do seu cartão de crédito.
Por isso é importante que você não subestime o seu número mágico.
Já ouviu falar do caso da família Guinle?
Foi a família que construiu, entre outras coisas, o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, e o Porto de Santos.
Um dos herdeiros da fortuna dos Guinle chegou a dizer que “o segredo do bem viver é morrer sem um centavo no bolso. Mas errei o cálculo e o dinheiro acabou antes da hora.”
Estima-se que Jorginho Guinle tenha torrado US$ 80 milhões ao longo da vida. Toda a herança que o pai, Carlos Guinle, havia lhe deixado.
Seu filho Gabriel se tornou agente penitenciário em Bangu 3 após ter dificuldades de pagar a própria faculdade. Nem de longe o seu modo de vida lembra a extravagância que fez parte do dia a dia de seu pai Jorginho.
É claro que essa história é um caso extremo de alguém que decidiu viver como um playboy durante a vida inteira.
Mas serve para ilustrar bem o que acontece quando o dinheiro acaba antes do esperado.
Eu sempre digo isso aos meus leitores: “você deve ter o suficiente para usar apenas os juros e nunca o próprio capital.”
Vamos dar um exemplo: digamos que, aos 60 anos de idade, você tenha R$ 2 milhões aplicados e queira parar de trabalhar.
Caso você invista de forma a conseguir 6% ao ano + inflação, você teria anualmente disponíveis R$ 120 mil + inflação. Ou seja, R$ 10 mil por mês.
Dessa forma, você sabe que não pode viver como um playboy e gastar mais de R$ 10 mil mensais. Caso contrário, o risco do dinheiro acabar antes do esperado é grande.
De quebra, você deixaria para seus herdeiros os R$ 2 milhões corrigidos pela inflação.
7 – Não troque de ativos toda hora
Tão importante quanto criar um hábito de poupar mensalmente é investir esse dinheiro de forma inteligente.
Em períodos como os atuais, com a Selic batendo na casa dos 15%, a renda fixa facilita muito a nossa vida.
Mas lembre-se de que poupar e investir para a aposentadoria é um processo que dura décadas.
A farra dos títulos públicos com essas taxas não vai durar para sempre. E quando acabar, você vai recorrer à Poupança?
Claro que não.
É fundamental que o poupador que busca uma aposentadoria milionária tenha sua carteira de investimentos diversificada e adequada para cada momento econômico.
Ter ações de boas empresas dá um excelente empurrão e faz os objetivos serem alcançados muito mais rápido.
Eu não sou adepto das práticas compulsivas de trocar de ativos ao sabor do vento.
Defendo que o investidor deve escolher muito bem o seu portfólio e manter a mesma estratégia por bastante tempo.
Se necessário, fazer pequenos ajustes no percurso.
Com a prática de trocar os ativos a toda hora, um investidor amador que não esteja bem assessorado tem grandes chances de cometer o maior dos pecados:
Comprar na alta e vender na baixa.
Uma série de fatores comportamentais corroboram para isso. Não vem ao caso explicá-los agora.
Mas o conselho que dou a você e ao filho do Seu Nestor é: não troque de ativos toda hora.
Às vezes é muito doloroso passar por um período de turbulência e ver o ativo caindo na tela do computador sem fazer nada. Porém, no fim das contas vale muito a pena ser forte.
8 – Não pense que aposentadoria é coisa para idosos
Como escrevo a série de Aposentadoria da Empiricus, é muito comum ouvir coisas do tipo:
“Achei o texto dessa semana sobre aposentadoria muito interessante, até enviei para o meu pai.”
Nessas hora eu não sei se fico feliz com o elogio ou se choro por não ter conseguido passar uma das principais mensagens da série:
Aposentadoria é para hoje. É para você. Não é para seus pais ou avós.
A proposta da séria Aposentadoria Milionária é trilhar uma jornada de investimentos ao longo da vida, maximizando os rendimentos, para chegar à velhice com tranquilidade financeira.
Então não pense que a palavra “aposentadoria” é coisa de idoso. Se você está trabalhando ainda, aposentadoria é uma da palavras mais importantes.
Esteja você com 20 anos, 35 como o filho do Seu Nestor ou com 50 anos.
Dito isso, espero que o filho do Seu Nestor nunca encaminhe um email sobre aposentadoria para seu pai.
Já que estamos de acordo que o momento para agir é agora… o que você pode fazer para não virar um aposentado como o Seu Nestor?
Um conselho de pai para filho
Acabamos de falar sobre os erros financeiros mais comuns que levam uma pessoa a envelhecer com arrependimentos e frustrações.Que presente maravilhoso é o pai vendo seu filho construir um patrimônio robusto…
Quem sabe até ajudar o “seu velho” a completar a aposentadoria do INSS nos dias mais difíceis.
Mas tudo isso só será possível se você atacar em duas frentes fundamentais:
- Poupar mensalmente uma parte dos seus rendimentos;
- Aplicar seu dinheiro de forma inteligente e segura.
É essa fórmula que meu pai me ensinou.
Acreditando nela, eu estudei muito para poder indicar aos meus leitores a melhor forma de potencializar os investimentos.
(...)
Ninguém pode controlar a macroeconomia, nem prever quem será o próximo presidente ou o que vai acontecer com a Bolsa.
Sequer temos a garantia de estarmos bem empregados daqui a 10 anos.
Mas podemos perfeitamente ser um pouco mais ricos amanhã do que somos hoje.
Fazendo agora a sua assinatura e seguindo os passos e as recomendações do projeto, posso lhe assegurar sem medo que daqui a um ano você já estará substancialmente mais rico.
O mesmo se dará em 2016. E em 2017, 2018, 2019… até chegar o ano de sua independência financeira.
Mas não adianta ficar olhando pro teto, chorando por causa da crise e esperando uma vida de marajá cair no colo.
(...)
Um abraço,
Empiricus Consultoria & Negócios
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segunda-feira, 10 de agosto de 2015
Chapolim Colorado descolora na crise brasileira - Rodolfo Amstalden (Empiricus)
Pois é: quem poderá nos salvar?
No momento ninguém.
Então vamos rir um pouco, pelo menos dos títulos...
Paulo Roberto de Almeida
Empiricus - Rodolfo Amstalden
00:06 - Quem poderá me defender?
Há quem diga que o pior já passou.
Reforma ministerial de repente é tratada como a solução de todos os problemas da nação.
Isso para mim é um grande mistério.
Será que a troca de ministros seria capaz de animar as expectativas de mercado?
Segundo o Focus publicado pela manhã:
- IPCA esperado 2015 aumentou para 9,32%; é a 17ª semana consecutiva de alta.
- IPCA esperado 2016 aumentou para 5,43%, embora o Bacen ignore essa variável irrelevante.
- PIB em contração de -1,97% em 2015 e zerado em 2016.
Há também um risco gigantesco de que o Brasil vire junk.
E, depois do employment report de sexta, Wall Street passa a ver 56% de probabilidade de juros americanos elevados em setembro.
01:15 - Sigam-me os bons
O contrato DI de janeiro de 2017 disparou 88 pontos na semana passada, em seu maior salto semanal desde o ocasionado pelos protestos de 2013.
Papéis pós-fixados de dez anos rendem em torno de 14% ao ano, a segunda maior taxa de mercados emergentes, perdendo apenas para a Nigéria.
NTN-B (Tesouro IPCA) passou a oferecer juros reais acima de 7,00% ao ano.
Quem é que vai bater essa renda fixa tão gorda?
A Bolsa brasileira precisa ceder um pouco mais para se equiparar às gostosuras do Tesouro Direto.
02:23 - Ninguém tem paciência comigo
Ibovespa começa a semana negociando um pouco acima de 11x os lucros esperados para 2015.
Está suficientemente barato?
A média histórica dos últimos cinco anos descreve um múltiplo de 10x.
Teríamos que nos situar pelo menos em cima dessa média.
Como agravante, a tal média histórica dos últimos cinco anos não competia com juros de 14%.
Logo, teríamos que nos situar pelo menos um pouco abaixo dessa média.
Portanto, 11x lucros não é uma coisa assim que se diga, supimpa, mas que ótimo trabalho! - mas é melhor do que nada.
03:22 - Você me deixa louco
Nossa Bolsa se divide entre o Bom Ibovespa e o Mau Ibovespa.
Quem a considera barata ao valuation de 11x entende que o Mau Ibovespa, por ser cíclico, um dia se recupera.
Afinal, ainda existe muito petróleo e minério de ferro para se extrair do solo brasileiro.
Fico pensando no que isso significa a médio prazo.
No século XIX, a Califórnia se destacava pelas jazidas repletas de toneladas de ouro.
No século XXI, a Califórnia se destaca pelo Vale do Silício, cujo valor independe inclusive de reservas de silício.
A riqueza não se esconde mais debaixo da terra; está na cabeça das pessoas e no uso eficiente de tecnologia.
04:26 - Não são pedras, são aerolitos
A Receita Federal publicou novas classes de estatísticas das declarações de imposto de renda - talvez fomentada por demandas pikettyanas.
Descobriu-se o óbvio.
Existe um grupo de contribuintes muito pequeno - de apenas 71 mil pessoas - que ganha mais de 160 salários mínimos por mês.
São pessoas que possuem participação acionária em empresas, recebendo lucros e dividendos “não-tributáveis” (pois já são tributados no âmbito corporativo).
Ao conhecer essa informação, você pode reagir de três formas:
1) Morrer de inveja.
2) Tributar ainda mais essas pessoas, comprometendo empregos e investimentos.
3) Tornar-se uma dessas pessoas.
A terceira alternativa é - de longe - a que me parece mais inteligente.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
Eleicoes 2014: Consultora do "Fim do Brasil" reafirma incompetencia e mentiras do continuismo
Irritados, eles respondem a verdade para cada mentira afirmada pelos marketeiros do poder.
Transcrevo abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Por que Dilma mente?
Consultoria Empiricus, 16/10/2014
Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário. Se George Orwell estivesse por ai, seria prontamente acusado de terrorismo eleitoral.
Enquanto insistirem em falar mentiras sobre os “neoliberais”, cumprirei o compromisso de falar verdades sobre o governo.
Há dois elementos constrangedores envolvendo o governo Dilma: a incompetência e a desonestidade intelectual - essa última conhecida popularmente como hábito da mentira.
Inventam o que querem para evitarem a mudança de endereço. Abaixo listo as dez mentiras que mais me incomodam, cujas implicações ao seu patrimônio podem ser substanciais.
Restrinjo-me a questões de economia e finanças. Não imagino que a mitomania limite-se a essa área, mas prefiro manter-me no escopo, por uma questão de pertinência desta newsletter.
Ao não reconhecer os erros, mantém-se a rota errada da política econômica. Bateremos de frente com uma crise financeira em 2015.
1. “A crise vem de fora.”
Esse é o discurso oficial para justificar a recessão técnica em curso no Brasil. O que os dados podem nos dizer sobre isso? Comecemos do mais simples: o crescimento econômico do Governo Dilma será, na média, dois pontos percentuais menor àquele apresentado pela América Latina. Nos governos Lula e FHC, avançamos na mesma velocidade dos vizinhos.
Indo além, há de se lembrar que a economia mundial cresceu 3,9% em 2011, 3% ao ano entre 2012 e 2013, e deve emplacar mais 3,6% em 2014. Nada mal.
Comparando com o pessoal mais aqui ao lado especificamente, Chile, Colômbia e Peru, exatamente aqueles que adotaram políticas econômicas ortodoxas e perseguiram uma agenda de reformas na América Latina, cresceram 4,1%, 4,0% e 5,6% ao ano, entre 2008 e 2013.
Enquanto isso, a evolução média do PIB brasileiro na administração Dilma deve ser de 1,7% ao ano.
A retórica oficial, desprovida de qualquer embasamento empírico, continua ser de que a crise vem de fora. Aquela marolinha identificada pelo presidente Lula, lá em 2008, seis anos atrás, ainda deixando suas mazelas.
2. “A política neoliberal vai aumentar o desemprego.”
Não há como desafiar o óbvio de que o produto agregado (PIB) depende dos fatores de produção, capital e trabalho. Ora, com o PIB desabando por conta da política econômica heterodoxa, cedo ou tarde bateremos no emprego.
Podemos não conseguir precisar qual a exata função de produção, ou seja, de como o PIB se relaciona com o nível de emprego, mas não há como contestar a existência de relação entre as variáveis.
O crescimento econômico da era Dilma é o menor desde Floriano Peixoto, governo terminado em 1894, subsequente à crise do encilhamento. Há uma transmissão óbvia desse comportamento para o emprego.
Os dados do Caged de maio apontaram a menor geração de postos de trabalho desde 1992. Em sequência, junho foi o pior desde 1998. E julho, o pior desde 1999. O dado de setembro, recém divulgado, foi o pior desde 2001.
Quem vai gerar desemprego é a nova matriz econômica - não o fez ainda simplesmente porque essa é a última variável a reagir (e a única que ainda não foi destruída).
3. “A oposição quer acabar com o reajuste do salário mínimo.”
Essa é uma mentira escabrosa por vários motivos. O primeiro é trivial: o candidato da oposição (embora pareça haver dois, há apenas um) já se comprometeu, em dezenas de oportunidades, em manter a política de reajuste de salário mínimo.
Ademais, quando Dilma se coloca como a protetora do salário mínimo, está simplesmente contrariando as estatísticas. O aumento real do salário mínimo foi de 4,7% ao ano entre 1994 e 2002, de 5,5% ao ano entre 2003 e 2010, e de 3,5% ao ano entre 2011 e 2013.
Ou seja, o reajuste do mínimo na era Dilma é inferior àquele implementado por Lula e também ao observado no período FHC. Ainda assim, Dilma se coloca como o bastião em favor do salário mínimo.
4. “A política neoliberal proposta pela oposição vai promover arrocho salarial.”
Esse ponto, obviamente, guarda relação com o anterior. Destaquei-o mesmo assim porque denota a doença de ilusão monetária ou uma tentativa descarada de enganar a população.
Arrocho salarial já vem sendo promovido pela atual política econômica, por meio da disparada da inflação. O salário nominal, o quanto o sujeito recebe em reais no final do mês, não interessa per se. O relevante é como e quanto esse numerário pode ser transformado em poder de compra - isso, evidentemente, tem sido maltratado pela leniência no combate à inflação.
Precisamos dar profundidade mínima ao debate. Se você consegue aumentos sistemáticos de salário acima da produtividade do trabalhador, a contrapartida óbvia no longo prazo é a inflação, que acaba reduzindo o próprio salário real.
O que os “neoliberais” querem é perseguir aumentos de produtividade maiores e duradouros. Isso permitiria dar incrementos de salário substanciais, sem impactar a inflação.
Caso contrário, aumentos do salário nominal serão corroídos pela inflação.
5. “O Brasil quebrou três vezes.”
O Brasil quebrou uma única vez, em fevereiro de 1987, no governo Sarney, quando foi decretada a suspensão do pagamento dos juros da dívida externa.
Quebrar é uma definição explícita e até mesmo técnica, ligada à moratória, o que é bem diferente de recorrer ao FMI, grosso modo um acesso a um dinheiro barato, sem mito ou fábula.
Durante o governo FHC, houve três empréstimos do FMI: i) durante a transição do câmbio fixo para flutuante entre 1998 e 1999; ii) durante a crise de 2001, ano especialmente difícil por conta da quebra (verdadeira) da Argentina; e iii) em 2002, por conta da chegada ao poder de Lula, que impusera aos mercados grande incerteza e, por conseguinte, enorme fuga de capitais.
Bom, mas como verdades não são o forte da campanha, logo ouviremos de novo sobre as três vezes que o Brasil (não) quebrou.
6. “A política monetária foi exitosa.”
A frase foi proferida por Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, em seminário nos EUA sobre política monetária. A inflação brasileira já estourou o teto da meta, de 6,50% em 12 meses, ignorando o princípio básico de um sistema de metas, em que o centro do intervalo deve ser perseguido. A banda de tolerância de dois pontos existe apenas para abarcar choques exógenos.
O IPCA de setembro aponta variação de 6,75% em 12 meses, estourando o limite superior do intervalo.
Transformamos o teto no nosso objetivo e represamos cerca de dois pontos de inflação através do controle de preços de combustíveis, energia e câmbio.
Esse é o tipo de êxito que esperamos da política econômica?
7. “Precisamos de um pouco mais de inflação para não perder empregos.”
Para ser justo, a frase, ao menos que seja de meu conhecimento, não foi dita ipsis verbis por nenhum membro do Governo. Entretanto, a julgar pelas decisões e diretrizes de política monetária, parece permanecer o racional da administração petista.
O velho trade-off entre inflação e crescimento, em pleno século XXI?
Bom, antes de entrar no debate acadêmico, pondero que poderia até ser verdade se houvesse, de fato, crescimento. Conforme supracitado, não é o caso.
Ignorando esse fato e fingindo que vivemos crescimento econômico pujante, a questão sobre o trade-off entre inflação e crescimento parece apoiar-se numa discussão tacanha sobre a Curva de Phillips.
O debate até faria sentido se estivéssemos nos idos de 1970. Dai em diante, Friedman, Phelps e outros destruíram o argumento de mais inflação, mais emprego.
A partir da síntese de 1976, naquilo que ficou batizado de crítica de Lucas, com trabalhos posteriores sobretudo de Kydland e Prescott, a fronteira do conhecimento passou a incorporar a ideia de que o trade-off entre inflação e desemprego existe apenas a curtíssimo prazo.
Ao trabalhar com uma inflação sistematicamente mais alta, rapidamente voltamos a um novo equilíbrio, com nível de preços maior e o mesmo nível de emprego original.
E, sim, o espaço aqui está aberto para o pessoal da Unicamp rebater o argumento de Lucas (professor Belluzzo incluindo, sem nenhum tipo de enfrentamento aqui; convite educada e genuinamente a um derbi das ideias). Criticam-nos por ouvir apenas a oposição e ignoram que eles declinam nosso convites - só pode haver vozes governistas e/ou heterodoxas em nossos eventos se elas aceitarem participar, certo? Lembre-se: fizemos o convite ao competente Nelson Barbosa, que, infelizmente, não pode comparecer por incompatibilidade de agenda.
8. “As contas públicas estão absolutamente organizadas. O superávit primário, embora menor do que em 2008, é um dos maiores do mundo. Dizer que há uma desorganização fiscal é um absurdo.”
A preciosidade foi dita pelo ministro Guido Mantega em entrevista ao jornal Valor. O superávit primário do setor público não é somente menor àquele de 2008. No primeiro semestre, foi o menor da história, em R$ 29,4 bilhões.
Agosto marcou o quarto mês consecutivo de déficit primário, de modo que o acumulado está em R$ 10,2 bilhões.
O superávit acumulado no ano até agosto é de 0,3% do PIB, enquanto a promessa do governo (para segurar o rating) é entregar 1,9% do PIB.
Essa é a herança que a “absoluta organização das contas públicas está nos deixando.”
9. “Nunca foi feito tanto pelo pobre neste país.”
Intuitivamente, você já poderia desconfiar da afirmação quando pensa na inflação, que é um fenômeno essencialmente ruim para as classes mais baixas. Os abastados têm um estoque de riqueza aplicada em ativos que remuneram acima da inflação. Logo, estão em grande parte protegidos. A inflação é um instrumento clássico de concentração de riqueza.
Mas há de ser além da simples intuição, evidentemente. Estudos mais recentes indicam que, depois de 10 anos consecutivos em queda, a desigualdade de renda no Brasil parou de cair de forma estatisticamente significativa em 2012. Documento IPEA n 159 é categórico em dizer que a concentração de renda no Brasil cai sistematicamente até 2012; a partir daí, há dúvidas.
O índice de Gini apresenta queda marginal entre 2011 e 2012, enquanto as curvas de Lorenz dos dois anos estão sobrepostas, indicando, grosso modo, estagnação na melhora.
Ainda mais problemático, estudo encomendado pelo IPEA a partir de dados do Imposto de Renda mostra concentração de renda entre 2006 e 2012 - em 2012, os 5% mais ricos do País detinham 44% da renda; em 2006, o percentual era de 40%.
A política econômica heterodoxa não cresce o bolo e também não o distribui de forma mais equitativa.
10. “A oposição faz terrorismo eleitoral.”
Se você compactua com um dos nove pontos anteriores, você é um terrorista eleitoral, egoísta e interessado apenas em si mesmo. Provavelmente, é financiado por um dos candidatos de oposição.
Enquanto isso, a situação acusa a candidata oposicionista de homofóbica e de semelhanças com Fernando Collor. Sim, ele mesmo, parte da base de apoio da....situação.
Seríamos nós, analistas e economistas, os terroristas?
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Eleicoes 2014: uma analise economica do voto de uma consultoria demonizada
Agora mesmo, por exemplo, já não estou nem mesmo considerando a racionalidade de tais e tais medidas econômicas, pois esta é uma consideração absolutamente secundária ante a realidade política com que nos defrontamos.
Minha única preocupação, neste momento, é esta: estamos sendo governados por uma máfia que tomou de assalto o poder, e que usa e abusa de todos os meios para se perpetuar no poder, não porque sejam neobolcheviques mafiosos (o que eles são) que por acaso pretendam implantar o socialismo no Brasil. Não, isso eles não pretendem: eles são burros, ignorantes, mas não são estúpidos, e não querem matar a galinha (ou seja lá o que for) dos ovos de ouro de quem eles extraem recursos. Ou seja, eles não pretendem matar os capitalistas, senão de onde arrancariam o dinheiro de que necessitam para: (a) consolidar seu poder criminoso; (b) viver bem, muito bem...
Por isso, antes de qualquer outra consideração de política econômica, meu principal objetivo é afastar a máfia do poder.
Segunda coisa: não me pronuncio por candidatos, e sim por políticas. O fato de que esta consultoria faz campanha por um candidato tem menos importância para mim, ao colocar este post, do que sua análise econômica do Brasil, para ficar num terreno objetivo.
Dito isto, fiquem com a análise econômica da consultoria que deixou os companheiros nervosos com o seu livro "O Fim do Brasil". Bem, seria o fim, mesmo, se os mafiosos continuassem no poder. Ainda que o perigo não esteja de todo afastado -- e os neobolcheviques criaram vários expedientes para continuarem exercendo dominação sobre largos extratos da sociedade, inclusive com o seu decreto bolivariano dos sovietes petistas -- creio que estamos caminhando para uma inversão nas tendências dos últimos doze anos. Oxalá.
A razão, na verdade, é muito simples, e pode dispensar longas análises econômicas ou sociológicas: os companheiros roubaram demais, e foram muito cínicos com a sociedade. A sociedade cansou. E cansou também da ineficiência, da incompetência deles...
Já deu PT. Nem a pau, Juvenal!
Agora, fiquem com a análise econômica.
Paulo Roberto de Almeida
Boletim diário Empiricus, 9/10/2014
Dadas as críticas públicas já proferidas contra o atual governo, talvez não seja novidade. Não importa. Dadas as circunstâncias, a formalização nos parece necessária.
Fundamentamos a escolha em dois grandes elementos, de raízes distintas: a primeira, muito menos relevante, ligada a uma espécie de dever fiduciário; a segunda, cívica.
Comecemos do menos importante. A Empiricus é uma consultoria de investimentos, cujo foco das recomendações está em ativos brasileiros. Conforme narrado em verso e prosa pela cruel realidade, aumentos da probabilidade de eleição de Dilma Rousseff têm se traduzido em perda de valor para os ativos brasileiros (renda fixa, moeda e ações). Analogamente, vale o inverso para o caso de maior chance da oposição.
De forma óbvia, a maior parte de nossos clientes detém fatia relevante (em muitas vezes, a totalidade) de seu patrimônio em ativos domésticos. Portanto, se é da obrigação de uma firma qualquer atuar no interesse de seus clientes, a Empiricus precisa manifestar-se em favor daquele candidato capaz de valorizar os investimentos no Brasil. Essa é a retribuição mínima que temos com nossos assinantes.
Trata-se, porém, de algo secundário no momento. O outro elemento é bem mais profundo e significativo, feito não por empresários, mas por brasileiros, com formação (e vocação) em Economia, a saber: achamos que a candidatura de Aécio Neves seria capaz de conferir um futuro melhor ao País, na comparação com o prognóstico oferecido pela recandidatura da atual presidente.
A assertiva decorre da interpretação de que a nova matriz econômica - nome dado à série de medidas adotada em resposta à crise de 2008 - marcada por uma espécie de ensaio nacional-desenvolvimentista, de fechamento da economia e aumento do intervencionismo do Governo, representa uma inadequação à política econômica brasileira.
Desde a saída do ministro Palocci, abandonamos a ortodoxia, com o clássico tripé macroeconômico sendo vilipendiado em prol da tal nova matriz. As medidas heterodoxas têm suas consequências devidamente catalogadas: desemprego e inflação, com direito a risco de crise cambial.
A Economia é uma ciência voltada a três preceitos, cuja coexistência simultânea e na mesma intensidade pode ser impossível. Dadas a escassez de recursos, as dotações iniciais e a impossibilidade de alguém simplesmente impor uma determinada alocação aos agentes, havemos de fazer escolhas (trade offs) entre as três coisas.
Aos poucos familiarizados, os preceitos da Economia são:
Eficiência, tradicionalmente ligada à ótica paretiana, de que uma situação é eficiente se não é possível melhorar a posição de alguém sem piorar a de outrem. De forma mais simples, normalmente se relaciona eficiência ao ritmo de crescimento do bolo, ou seja, à velocidade em que o PIB aumenta e/ou a indicadores de produtividade.
Equidade, que poderia ser quebrada em subitens. Equidade horizontal, a necessidade de se tratar os iguais como iguais. E equidade vertical: diferentes merecem tratamento diferente. Usualmente, o conceito é ligado a uma alocação de recursos mais justa. Como o bolo é dividido entre os diversos convidados do aniversário, sendo desejável, obviamente, tamanhos semelhantes entre cada um dos cidadãos.
Liberdade, sem muita necessidade de explicação. A defesa das liberdades individuais parece ser um valor indisputável.
O ideal, claro, seria ter os três, em sua plenitude. Ocorre que, na prática - e também na própria teoria -, precisamos normalmente escolher entre as coisas.
O que o Governo Dilma tem a nos dizer sobre cada um dos preceitos?
Comecemos pelo crescimento. Embora não tenhamos fechado o ciclo de governo, as projeções de consenso sugerem um crescimento médio anual do PIB de apenas 1,7%. Esse é o segundo pior resultado de toda a República, à frente apenas do percentual obtido por Floriano Peixoto, de 1891 a 1894, com o País basicamente em guerra.
Seria culpa da crise externa?
O discurso oficial é de que o baixo crescimento decorre dos efeitos da crise internacional. Mentira. A desonestidade intelectual tem sido marca da administração Dilma - e essa afirmação é exemplo canônico.
Em que pese, de fato, algum efeito dos problemas externos, a desaceleração brasileira é muito mais destacada. Grosso modo, a economia mundial desacelera seu crescimento nos últimos anos de 4% para 3% ao ano, enquanto nós caímos para 1,7%.
Em reforço, nos governos FHC e Lula, o crescimento econômico brasileiro fora semelhante ao da América Latina. Agora, estamos cerca de dois pontos percentuais abaixo.
Para este ano, em particular, as projeções são emblemáticas. A economia mundial deve crescer 3,3% e os mercados emergentes 4,4%. Por aqui, teremos menos de 0,3% - conforme as estimativas contidas no relatório Focus do Banco Central.
Estaremos atrás até mesmo da Zona do Euro, contrariando a fase contundente da presidente Dilma no programa Bom Dia Brasil, da Rede Globo, em resposta (incorreta) à jornalista Miriam Leitão: “a maior barriga é da Europa.”
Infelizmente, a realidade insiste em favorecer a dieta europeia. A tabela abaixo do FMI serve, com precisão cirúrgica, à argumentação:
Como a candidatura de Aécio Neves, se vitoriosa, abandonaria essa matriz e retomaria a ortodoxia, a opção nos parece superior para a eficiência da Economia - falaremos mais sobre isso adiante.
Tratemos, agora, da liberdade. Se o governo Dilma não endereçou adequadamente questões ligadas à eficiência, teria ele sido capaz de conferir mais liberdade?
Claramente, não.
O governo foi marcado por tentativas sucessivas de cercear a liberdade de expressão. Aqui, citamos três movimentações fortes no sentido de calar vozes dissonantes: i) a publicação no site oficial do PT de uma lista negra de jornalistas a serem perseguidos; ii) o pedido de demissão de funcionária do Santander que relacionou queda dos ativos brasileiros ao eventual ganho de espaço de Dilma Rousseff nas pesquisas; e iii) a acusação à Empiricus de fazermos terrorismo eleitoral, com direito a reclamação - negada por um placar bastante eloquente de 5 x 2 - sobre nossas campanhas no Google.
Ademais, o maior intervencionismo governamental - e aqui evitamos o termo “estatal” propositadamente, pois havemos de grifar as diferenças entre Estado e Governo -, um dos pilares da nova matriz econômica, implica impor ao mercado regras e condições (além de surpresas), reduzindo, portanto, a liberdade dos agentes econômicos.
É como se o Governo, de forma discricionária, pegasse certos empresários pela mão e tentasse impor suas vontades. Foi assim na MP 579 (responsável pela destruição do setor elétrico), no novo marco regulatório do setor petróleo, nas leis de conteúdo nacional, no controle de preços (energia elétrica, tarifas públicas, combustíveis e câmbio) e no spread bancário menor, conseguido, temporariamente, a fórceps.
A perda de liberdade empresarial implica inibição do espírito animal, das forças dionisíacas, da transgressão de padrões inerente à inovação. É um desincentivo à tomada de risco, força-motriz da sociedade capitalista. Se o empresário teme mudanças nas regras do jogo e a não-remuneração pela assunção de risco, não investe. Simples assim.
Dito de forma direta, o maior intervencionismo do Governo na Economia é sinônimo da perda de liberdade dos agentes econômicos.
Por fim, resta a equidade, bandeira clássica da atual administração petista, os “únicos que colocaram os pobres no orçamento.” A briga do nós contra eles, a senzala contra a casa-grande, os petistas contra a elite branca faz sentido?
Estudos mais recentes indicam que, depois de 10 anos consecutivos em queda, a desigualdade de renda no Brasil parou de cair de forma estatisticamente significativa em 2012. Documento IPEA n 159 é categórico em dizer que a concentração de renda no Brasil cai sistematicamente do final do governo FHC até 2012. A partir daí, há dúvidas.
O índice de Gini apresenta queda marginal entre 2011 e 2012, enquanto as curvas de Lorenz dos dois anos estão sobrepostas, indicando, grosso modo, estagnação na melhora. (Índice de Gini e Curva de Lorenz são indicadores que mensuram a distribuição de renda).
De forma semelhante, a Pnad de 2013, recém-divulgada em meio a uma grande polêmica, mostra, em linhas gerais, paralisia na queda do índice de Gini, que passa de 0,496 em 2012 para 0,495 em 2013, novamente indicando interrupção do processo de melhoria da distribuição de renda no Brasil.
Ainda mais problemático, estudo encomendado pelo IPEA a partir de dados do Imposto de Renda (semelhante àquela do famoso Piketty) mostra concentração de renda entre 2006 e 2012 - em 2012, os 5% mais ricos do País detinham 44% da renda; em 2006, o percentual era de 40%.
Ou seja, o Governo Dilma trouxe uma piora enorme em eficiência e em liberdade; na melhor das hipóteses, foi acompanhado de melhoras modestas para a distribuição de renda.
O importante aqui é mencionar que a melhora na distribuição de renda não é exclusividade do PT. Ela começa no Governo Fernando Henrique, conforme supracitado.
Os gastos sociais aumentam sistematicamente como proporção do PIB desde FHC, sem pestanejar. Mais do que isso, o maior programa social já feito na história deste país se chama Plano Real - registre-se: rejeitado, à época, pelo Partido dos Trabalhadores.
A inflação é o mecanismo mais tradicional de concentração de renda, afetando muito mais o pobre, pois o rico tem dinheiro aplicado, protegido da escalada dos preços. Também sobre o quesito inflação, o Governo Dilma vai mal - o IPCA de setembro, divulgado ontem, aponta inflação de 6,75% em 12 meses, acima do teto da meta de 6,50%, mesmo com preços represados.
Mas o passado não se muda. Poderíamos votar em Dilma se o futuro prometesse ser melhor frente ao passado. Se houvesse alguma sinalização de que a nova matriz econômica seria abandonada, esse texto talvez nem existisse.
Há erros claros no governo que impedem qualquer suposição de melhoria à frente. Ao contrário, as evidências sugerem dobrar a mão na heterodoxia. Conforme afirmado pelo ministro Mantega, a presidente Dilma levará essa política econômica "às últimas consequências". E o discurso de campanha recrudesceu no discurso contra a ortodoxia, ao demonizar os bancos, o Banco Central independente e a ortodoxia de Armínio Fraga.
Por que insistirão na nova matriz econômica? Em nossa visão, por quatros razões, sendo duas delas associadas a equívocos de diagnóstico e as outras ligadas a fatores ideológicos.
Primeiro, se a interpretação é de que a crise vem de fora, não há porque mudar a política doméstica.
Segundo, ainda dentro do erro de diagnóstico, a interpretação da administração Dilma é de que o problema da economia brasileira é de demanda. Para tal doença, prescreve-se a receita de mais crédito, mais subsídio ao consumo e impulso dos gastos públicos.
Ocorre, porém, que o problema é de oferta agregada - e não de demanda. E se você estimula a demanda agregada quando o problema é de oferta, o livro-texto alerta: aparecerão inflação e déficit em conta corrente. Bingo!
O terceiro ponto é a raiz ideológica, também dividido em dois subpontos:
3a) a crença de que “um pouquinho de inflação tudo bem pois gera mais emprego”, num debate que parece pertencer a década de 70, ignorante à crítica de Lucas, que atesta como o trade-off existe apenas no curtíssimo prazo;
3b) a visão de que o Estado é melhor do que o mercado para resolver os problemas da Economia, desafiando o Primeiro Teorema do Bem-estar da Microeconomia.
Sem um bom diagnóstico, distorcido por uma ideologia atrasada, não há como haver um bom prognóstico.
Assim, depois de tantas ameaças e tentativas de censura, declaramos nosso único, e exclusivo, vínculo com a candidatura de Aécio Neves: o voto.
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Empiricus (um terrorista de mercado) e as dez mentiras do governo (e candidata) Dilma
Bem, nesse caso, eu sou um terrorista blogueiro: sempre achei, continuo achando que os companheiros levam o Brasil ao desastre. E lamentarei profundamente, não por mim, mas pelo Brasil, se eles continuarem no poder.
Pronto: sou um terrorista...
Paulo Roberto de Almeida
Dez mentiras do governo Dilma
Empiricus, 10/09/2014
Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário. Se George Orwell estivesse por ai, seria prontamente acusado de terrorismo eleitoral.
Enquanto insistirem em falar mentiras sobre os “neoliberais”, cumprirei o compromisso de falar verdades sobre o governo.
Há dois elementos constrangedores envolvendo o governo Dilma: a incompetência e a desonestidade intelectual - essa última conhecida popularmente como hábito da mentira.
Inventam o que querem para evitarem a mudança de endereço. Abaixo listo as dez mentiras que mais me incomodam, cujas implicações ao seu patrimônio podem ser substanciais.
Restrinjo-me a questões de economia e finanças. Não imagino que a mitomania limite-se a essa área, mas prefiro manter-me no escopo, por uma questão de pertinência desta newsletter.
Ao não reconhecer os erros, mantém-se a rota errada da política econômica. Bateremos de frente com uma crise financeira em 2015.
1. “A crise vem de fora.”
Esse é o discurso oficial para justificar a recessão técnica em curso no Brasil. O que os dados podem nos dizer sobre isso? Comecemos do mais simples: o crescimento econômico do Governo Dilma será, na média, dois pontos percentuais menor àquele apresentado pela América Latina. Nos governos Lula e FHC, avançamos na mesma velocidade dos vizinhos.
Indo além, há de se lembrar que a economia mundial cresceu 3,9% em 2011, 3% ao ano entre 2012 e 2013, e deve emplacar mais 3,6% em 2014. Nada mal.
Comparando com o pessoal mais aqui ao lado especificamente, Chile, Colômbia e Peru, exatamente aqueles que adotaram políticas econômicas ortodoxas e perseguiram uma agenda de reformas na América Latina, cresceram 4,1%, 4,0% e 5,6% ao ano, entre 2008 e 2013.
Enquanto isso, a evolução média do PIB brasileiro na administração Dilma deve ser de 1,7% ao ano.
A retórica oficial, desprovida de qualquer embasamento empírico, continua ser de que a crise vem de fora. Aquela marolinha identificada pelo presidente Lula, lá em 2008, seis anos atrás, ainda deixando suas mazelas.
2. “A política neoliberal vai aumentar o desemprego.”
Não há como desafiar o óbvio de que o produto agregado (PIB) depende dos fatores de produção, capital e trabalho. Ora, com o PIB desabando por conta da política econômica heterodoxa, cedo ou tarde bateremos no emprego.
Podemos não conseguir precisar qual a exata função de produção, ou seja, de como o PIB se relaciona com o nível de emprego, mas não há como contestar a existência de relação entre as variáveis.
O crescimento econômico da era Dilma é o menor desde Floriano Peixoto, governo terminado em 1894, subsequente à crise do encilhamento. Há uma transmissão óbvia desse comportamento para o emprego.
Os dados do Caged de maio apontaram a menor geração de postos de trabalho desde 1992. Em sequência, junho foi o pior desde 1998. E julho, o pior desde 1999.
Quem vai gerar desemprego é a nova matriz econômica - não o fez ainda simplesmente porque essa é a última variável a reagir (e a única que ainda não foi destruída).
3. “A oposição quer acabar com o reajuste do salário mínimo.”
Essa é uma mentira escabrosa por vários motivos. O primeiro é trivial: os dois candidatos da oposição já se comprometeram, em dezenas de oportunidades, em manter a política de reajuste de salário mínimo.
Ademais, quando Dilma se coloca como a protetora do salário mínimo, está simplesmente contrariando as estatísticas. O aumento real do salário mínimo foi de 4,7% ao ano entre 1994 e 2002, de 5,5% ao ano entre 2003 e 2010, e de 3,5% ao ano entre 2011 e 2013.
Ou seja, o reajuste do mínimo na era Dilma é inferior àquele implementado por Lula e também ao observado no período FHC. Ainda assim, Dilma se coloca como o bastião em favor do salário mínimo.
4. “A política neoliberal proposta pela oposição vai promover arrocho salarial.”
Esse ponto, obviamente, guarda relação com o anterior. Destaquei-o mesmo assim porque denota a doença de ilusão monetária ou uma tentativa descarada de enganar a população.
Arrocho salarial já vem sendo promovido pela atual política econômica, por meio da disparada da inflação. O salário nominal, o quanto o sujeito recebe em reais no final do mês, não interessa per se. O relevante é como e quanto esse numerário pode ser transformado em poder de compra - isso, evidentemente, tem sido maltratado pela leniência no combate à inflação.
Precisamos dar profundidade mínima ao debate. Se você consegue aumentos sistemáticos de salário acima da produtividade do trabalhador, a contrapartida óbvia no longo prazo é a inflação, que acaba reduzindo o próprio salário real.
O que os “neoliberais” querem é perseguir aumentos de produtividade maiores e duradouros. Isso permitiria dar incrementos de salário substanciais, sem impactar a inflação.
Caso contrário, aumentos do salário nominal serão corroídos pela inflação
5. “Programa de Marina reduz a pó política industrial.”
A presidente Dilma realmente não precisa ter essa preocupação, pois ela mesma já fez o serviço. O Plano Brasil Maior, lançado em 2010 com metas para 2014, não conseguiu entregar sequer um de seus vários objetivos.
Dilma oferece simplesmente o maior processo de desindustrialização da história brasileira, fazendo o presidente da Fiesp afirmar categoricamente que somente louco investe hoje no Brasil.
Seria pertinente preocupar-se com a própria política industrial antes de amedrontar-se com o programa alheio.
Quem defende uma política de campeões nacionais, em que se escolhem a priori os vencedores da prática concorrencial desafiando a lógica de mercado, não entende absolutamente nada de empreendedorismo e política industrial.
O maior elogio que Marina poderia receber à sua política industrial é a desconfiança de Dilma.
6. “A política monetária foi exitosa.”
A frase foi proferida por Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, em seminário nos EUA sobre política monetária. A inflação brasileira tem sistematicamente namorado o teto da meta, de 6,50% em 12 meses, ignorando o princípio básico de um sistema de metas, em que o centro do intervalo deve ser perseguido. A banda de tolerância de dois pontos existe apenas para abarcar choques exógenos.
A rigor, a inflação em 12 meses está até acima do teto. O IPCA de agosto aponta variação de 6,51% em 12 meses, estourando o limite superior do intervalo.
Transformamos o teto no nosso objetivo e represamos cerca de dois pontos de inflação através do controle de preços de combustíveis, energia e câmbio.
Esse é o tipo de êxito que esperamos da política econômica.
7. “Precisamos de um pouco mais de inflação para não perder empregos.”
Para ser justo, a frase, ao menos que seja de meu conhecimento, não foi dita ipsis verbis por nenhum membro do Governo. Entretanto, a julgar pelas decisões e diretrizes de política monetária, parece permanecer o racional da administração petista.
O velho trade-off entre inflação e crescimento, em pleno século XXI?
Bom, antes de entrar no debate acadêmico, pondero que poderia até ser verdade se houvesse, de fato, crescimento. Conforme supracitado, não é o caso.
Ignorando esse fato e fingindo que vivemos crescimento econômico pujante, a questão sobre o trade-off entre inflação e crescimento parece apoiar-se numa discussão tacanha sobre a Curva de Phillips.
O debate até faria sentido se estivéssemos nos idos de 1970. Dai em diante, Friedman, Phelps e outros destruíram o argumento de mais inflação, mais emprego.
A partir da síntese de 1976, naquilo que ficou batizado de crítica de Lucas, com trabalhos posteriores sobretudo de Kydland e Prescott, a fronteira do conhecimento passou a incorporar a ideia de que o trade-off entre inflação e desemprego existe apenas a curtíssimo prazo.
Ao trabalhar com uma inflação sistematicamente mais alta, rapidamente voltamos a um novo equilíbrio, com nível de preços maior e o mesmo nível de emprego original.
E, sim, o espaço aqui está aberto para o pessoal da Unicamp rebater o argumento de Lucas (professor Belluzzo incluindo, sem nenhum tipo de enfrentamento aqui; convite educada e genuinamente a um derbi das ideias). Criticam-nos por ouvir apenas a oposição e ignoram que eles declinam nosso convites - só pode haver vozes governistas e/ou heterodoxas em nossos eventos se elas aceitarem participar, certo? Lembre-se: fizemos o convite ao competente Nelson Barbosa, que, infelizmente, não pode comparecer por incompatibilidade de agenda.
8. “As contas públicas estão absolutamente organizadas. O superávit primário, embora menor do que em 2008, é um dos maiores do mundo. Dizer que há uma desorganização fiscal é um absurdo.”
A preciosidade foi dita pelo ministro Guido Mantega em entrevista ao jornal Valor. O superávit primário do setor público não é somente menor àquele de 2008. No primeiro semestre, foi o menor da história, em R$ 29,4 bilhões.
Nos últimos 12 meses, a variável marca 1,4% do PIB, sendo metade derivado de receitas extraordinárias, como Refis e leilão de libra. E se considerarmos o atraso em pagamentos em subsídios, precatórios e repasses aos bancos públicos para benefícios sociais, provavelmente não passamos de 0,5% do PIB.
O déficit nominal bate 4% do PIB, flertando com aumento de dívida, maiores impostos e/ou mais inflação à frente. Essa é a herança que a “absoluta organização das contas públicas está nos deixando.”
9. “Nunca foi feito tanto pelo pobre neste país.”
Intuitivamente, você já poderia desconfiar da afirmação quando pensa na inflação, que é um fenômeno essencialmente ruim para as classes mais baixas. Os abastados têm um estoque de riqueza aplicada em ativos que remuneram acima da inflação. Logo, estão em grande parte protegidos. A inflação é um instrumento clássico de concentração de riqueza.
Mas há de ser além da simples intuição, evidentemente. Aqui, a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2012, última disponível, é emblemática.
A constatação principal é de que, depois de 10 anos ininterruptos de melhora, a desigualdade de renda para de evoluir em 2012. O coeficiente de Gini, medida clássica de equidade, para de cair e as curvas de Lorenz de 2011 e 2012 são sobrepostas.
Em adição, a relação existente entre a renda apropriada pelo 1% mais rico da população e os 50% mais pobres aumenta de 0,66 para 0,69. Ou seja, o resultado é simples: quebramos uma sequência de 10 anos de avanço da distribuição de renda no Brasil.
A política econômica heterodoxa não cresce o bolo e também não o distribui de forma mais equitativa.
10. “A oposição faz terrorismo eleitoral.”
Se você compactua com um dos nove pontos anteriores, você é um terrorista eleitoral, egoísta e interessado apenas em si mesmo. Provavelmente, é financiado por um dos candidatos de oposição.
Enquanto isso, a situação acusa a candidata oposicionista de homofóbica e de semelhanças com Fernando Collor. Sim, ele mesmo, parte da base de apoio da....situação.
Seríamos nós, analistas e economistas, os terroristas?
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Eleicoes 2014 e o Fim do Brasil: os paradoxos do governo
Mas não é para afundar o Brasil, e sim para salvá-lo dos malucos que estão no comando da economia.
Vão conseguir?
Não sei, mas vocês têm mais notícias abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Os 4 paradoxos do Governo Dilma
00:12- Sala cheia
Agradeço a presença de todos em nosso evento, realizado esta manhã em São Paulo. Além da tese sobre O Fim do Brasil, apresentada pelo Felipe Miranda, o expediente contou com um debate econômico construtivo entre Eduardo Giannetti, Mansueto Almeida e Marcos Lisboa.
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Faço das palavras de Masueto as minhas: independentemente de quem venha governar, é preciso ao menos ouvir os contrapontos. Um debate econômico aberto só tem a agregar.
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01:12- Giannetti e os 4 paradoxos do governo
1. O governo estatizante quebrou as duas principais estatais do país
2. O governo com viés nacional desenvolvimentista foi responsável pela maior desindustrialização da história 3. O governo com a bandeira de reduzir os juros vai entregar o país com a Selic maior do que pegou 4. O governo com bandeira de crescimento entregou o menor crescimento do PIB de todo regime republicano (considerando Collor+Itamar como um ciclo de 4 anos)
01:56- Lisboa e as injustiças com o governo
Por sua vez, Marcos Lisboa, além de ressaltar a importância da transparência e da meritocracia nas políticas públicas, citou algumas injustiças cometidas com o governo atual, dentre elas:
+ o argumento de que o governo é refratário com os empresários: segundo Lisboa não é; o governo conversa com os empresários, mas conversa demais, a portas fechadas e concede benefício a alguns (em detrimento ao prejuízo de outros)
+ a crítica ao modelo de crescimento baseado em consumo: para Lisboa o modelo nunca foi baseado em consumo, mas sim em investimento; mas não deu certo.
02:22- Mansueto e o ajuste
Dentre diversos pontos, Mansueto destacou o problema das contas públicas e alguns dos truques utilizados para maquiar (ou, postergar) as discrepâncias. Para ele existe sim espaço para um ajuste firme no balanço do governo. Mas disse não acreditar em expressivos ajustes fiscais de curto prazo.
Para ler mais sobre o evento:
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terça-feira, 29 de julho de 2014
Censura totalitaria dos petralhas pretende calar simples economistas - Luiz Guilherme Medeiros
Como disse em artigo prévio, 2014 começou a valer apenas no mês de junho. A euforia nacional, o ufanismo e a desilusão que a Copa trouxe já vieram e já se foram. Resta agora nos preparamos para o segundo momento-chave do ano, as eleições de Outubro. A partir de agora, o centro da discussão passará a ser cada vez mais aonde o Brasil se encontra de fato, e para onde queremos que ele siga.