Cristiano Romero chama a nossa pior recessão de todos os tempos de a Grande Recessão, à qual eu dou o nome de Grande Destruição, pois foi disso que se tratou a partir dos monumentais erros de gestão econômica dos aloprados que tomaram conta do Brasil nos últimos anos. Eles não eram economistas, mas sim o que eu chamo de keynesianos de botequim.
Eu acho que foi um período de trevas, a nossas "Dark Age", num sentido metafórico.
E acho que foi muito além disso, ou seja, de meros equívocos; eu arriscaria dizer que muitos "equívocos" foram deliberados, para dar vantagns a determinados agentes econômicos que, depois, eram gentilmente convidados a fazer doações "legais" (e também ilegais) ao partido neobolchevique e seus meliantes políticos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22 de novembro de 2017
Ainda, a Nova Matriz
Cristiano Romero
Valor Econômico, 22/11/2017
Muitas teses já
foram feitas sobre as causas da Grande Recessão, como ficou conhecida a
derrocada da economia brasileira entre 2014 e 2017. Poucos analistas duvidam, porém,
do fato de que a Nova Matriz Econômica, um conjunto amplo de políticas adotadas
pelo governo Dilma Rousseff a partir de agosto de 2011, foi a principal
responsável pela ruína. A recessão, segundo o Comitê de Datação de Ciclos
Econômicos da FGV, começou no segundo trimestre de 2014 e terminou em 2016,
tendo durado, portanto, quase três anos. Como foi uma tragédia provocada por
equívocos de política econômica e não fruto de uma crise externa, seus efeitos
devem ser lembrados à exaustão - entre outros, queda acumulada de 8,6% do PIB e
de mais de 10% da renda per capita, 14 milhões de desempregados e explosão da
dívida pública.
Outros fatores
contribuíram para a debacle, mas não foram tão disruptivos para a confiança de
empresários e consumidores. A Nova Matriz foi concebida, em meados de 2011, sob
a justificativa de que a crise mundial ocorrida entre 2007 e 2009 estava
recrudescendo. A economia mundial, de fato, diminuiu o ritmo de crescimento a
partir de 2012 e o boom de commodities, puxado pelo forte crescimento da China
e fonte relevante da expansão brasileira entre 2004 e 2010, acabou naquela
época. Apesar disso, o "fim do mundo" não adveio, como profetizaram
os economistas do governo, que, na verdade, já queriam mudar tudo desde o
primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Nunca uma crise
foi tão antecipada quanto a que resultou na "Grande Recessão". Dilma
Roussef tinha uma obsessão desde que botou os pés em Brasília para assumir o
comando do Ministério das Minas e Energia, em janeiro de 2003: reduzir a Taxa Básica de Juros(Selic), que serve de parâmetro para o custo da dívida pública e funciona como
referência para toda a economia. Achava que, com isso, o Brasil cresceria de
forma acelerada.
Com a Nova
Matriz, o PT finalmente fez o que prometeu
Ignorando todas
as razões - apontadas por inúmeros estudos acadêmicos - que levam a taxa de Juros de
um país chegar a níveis pornográficos, Dilma achava possível diminuir a Selic na
marra. Bastava mandar o Banco
Central (BC) tomar providência. Nenhum
governo fez isso antes, acreditava, nem mesmo Lula, que lhe deu a Presidência
da República de presente, porque todos tinham parte com o diabo, isto é, com os
rentistas, os que vivem dos Juros altos pagos pelos Títulos públicos.
Começou, assim,
no fim de agosto de 2011, a sequência de mudanças da política que, desde meados
de 1999, vinha reduzindo a inflação, diminuindo a volatilidade do produto,
fortalecendo as finanças públicas e acelerando a taxa de expansão da economia
brasileira - e que levou Dilma à Presidência! Naquele mês, contrariando todos
os sinais emitidos por seus documentos, além das expectativas do mercado quanto
à inflação futura, o BC cortou os Juros, em vez de aumentá-los.
A Nova Matriz
cortou a taxa de Juros de 12,50% para 7,25% ao ano no espaço de um ano; o Câmbio se
desvalorizou, mas não sem um empurrão do governo, que aplicou IOF numa série de
operações de entrada de capitais; o regime de metas para inflação foi
flexibilizado, uma vez que o teto do regime (6,5%) passou a ser a meta, que
deveria ser 4,5%, conforme decreto presidencial; a disciplina fiscal foi
simplesmente abandonada, mas sem que o distinto público fosse informado.
Em 2012, para
"cumprir" a meta de Superávit
primário prevista em lei, os economistas de
Dilma usaram a "contabilidade criativa". Uma das artimanhas era
promover troca de ativos entre as estatais para gerar dividendos contábeis que
reforçassem o resultado fiscal. O ardil foi logo descoberto pela imprensa e, no
ano seguinte e também em 2014, a turma fez algo bem pior: as Pedaladas fiscais
- o uso de bancos federais para pagar despesas do governo.
Uma interessante
discussão sobre a Nova Matriz está sendo travada neste momento no Blog do Ibre
(Instituto Brasileiro de Economia), um espaço privilegiado do debate econômico,
criado pelo presidente do instituto, Luiz Guilherme Schymura. No blog (blogdoibre.fgv.br/),
Manoel Pires, pesquisador associado da entidade, diz que o termo Nova Matriz
foi utilizado pelos críticos como um "espantalho", uma visão
caricatural que trata como uma coisa só todas as iniciativas adotadas pelo
governo ao longo de vários anos e não considera fatores não controláveis, como
o cenário externo.
Também no blog,
Bráulio Borges e Samuel Pessoal, igualmente pesquisadores associados do Ibre,
estão protagonizando um debate animado. O primeiro, embora não negue, como
observa Schymura na última Carta da Conjuntura do instituto, que a Nova Matriz
tenha sido uma causa não desprezível da Grande Recessão, diz que os críticos
exageram em demasia ao atribuir todos os males àquele experimento. Ele cita o
fim do boom de commodities, as restrições de oferta hídrico-energética, os
efeitos da Operação Lava-Jato e problemas na aferição do PIB pelo
IBGE - que teriam subestimado o crescimento nos anos anteriores, levando o
governo a oferecer estímulos para a economia crescer - como fatores que
concorreram com a Nova Matriz para derrubar a atividade.
Economista que
muito cedo começou a alertar para os riscos das políticas adotadas pelo governo
desde 2008, a três anos do fim do segundo mandato de Lula, Samuel Pessoa lembra
que a Nova Matriz foi muito além das políticas monetária, fiscal e cambial.
Além da
tolerância com a inflação, da redução da transparência da política fiscal, da
diminuição drástica do Superávit
primário e da colocação da dívida pública
em trajetória explosiva, os economistas de Dilma promoveram as seguintes
atrocidades: controle de preços para tentar segurar a inflação, uma vez que o
BC foi inibido a não elevar os Juros; aumento do protecionismo; ampliação do papel do
Estado na Petrobras e no setor de petróleo; uso de bancos públicos para induzir
a redução do spread bancário; imposição de resistências ideológicas que
travaram a participação do setor privado na oferta de serviços públicos e na
infraestrutura; política de conteúdo nacional e de estímulos à produção local.
Muito importante
lembrar que, paralelamente às mudanças da política econômica, Dilma adotou uma
série de medidas populistas que não cabiam no orçamento, tanto que o
financiamento do Fies e do BNDES foi feito por meio de emissão de dívida.
O desastre foi
resultado, portanto, de um projeto, apesar dos improvisos fundados no desespero
causado pela falta de resultados positivos. Com a Nova Matriz, o PT finalmente
chegou ao poder em matéria econômica.
Cristiano Romero
é editor-executivo e escreve às quartas-feiras