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sexta-feira, 28 de junho de 2024

Maduro lança operação para manipular eleições diante do risco de derrota nas urnas - Julie Turkewitz e Anatoly Kurmanaev (NYT)

Maduro lança operação para manipular eleições diante do risco de derrota nas urnas

Ditador cria mecanismos para suprimir participação no pleito em meio ao favoritismo de Edmundo González nas pesquisas


Julie Turkewitz e Anatoly Kurmanaev26/06/2024
THE NEW YORK TIMES

Nicolás Maduro, ditador da Venezuela, enfrenta um momento decisivo que determinará o destino de seu governo e o futuro de seu país.

Em 28 de julho, o líder da nação que detém as maiores reservas de petróleo do mundo — e que, no entanto, viu milhões de habitantes fugirem em meio a uma crise econômica esmagadora — enfrentará seu mais difícil desafio eleitoral desde que assumiu o cargo em 2013.

As pesquisas mostram que seu principal oponente, um ex-diplomata discreto chamado Edmundo González, está muito à frente. González é apoiado por María Corina Machado, líder da oposição que cativou os eleitores ao cruzar o país, fazendo campanha para ele com a promessa de restabelecer a democracia e reunir as famílias separadas pela migração.

Do outro lado está Maduro, um operador político habilidoso que, durante anos, superou sua impopularidade inclinando as urnas a seu favor. Ele poderia usar as mesmas táticas para obter outra vitória.

No entanto, há um risco: Ele também pode perder, negociar uma saída pacífica e entregar o poder.
Poucos venezuelanos esperam que ele tome essa atitude. Em vez disso, analistas políticos, especialistas em eleições, figuras da oposição e quatro ex-funcionários de alto escalão do governo de Maduro entrevistados acreditam, com base em seu histórico, que ele provavelmente está pensando em várias opções para manter o poder.

Segundo eles, o governo de Maduro poderia desqualificar González ou os partidos que ele representa, tirando da disputa seu único adversário sério.

Maduro poderia permitir que a votação fosse realizada, mas se valeria de anos de experiência na manipulação de eleições a seu favor para suprimir a participação, confundir os eleitores e, por fim, vencer.

Mas ele também poderia cancelar ou adiar a votação, inventando uma crise — uma disputa latente na fronteira com a vizinha Guiana é uma opção — como desculpa para interromper o pleito.

Por fim, Maduro poderia simplesmente manipular a contagem de votos, segundo analistas e figuras políticas.
Isso aconteceu em 2017, quando o país realizou uma votação para selecionar um novo órgão político para reescrever a constituição.

A empresa que forneceu a tecnologia de votação, a Smartmatic, concluiu que o resultado tinha sido "sem dúvida" manipulado e que o governo de Maduro relatou pelo menos 1 milhão de votos a mais do que o número de votos de fato obtidos.

Zair Mundaray, ex-procurador do governo de Maduro que desertou em 2017, disse que o país havia chegado a um momento crítico. Até mesmo os seguidores de Maduro, acrescentou, "têm clareza de que ele está em minoria".

Independentemente do que Maduro fizer, a eleição será observada de perto pelo governo dos EUA, que há muito tempo tenta tirá-lo do poder, dizendo que quer promover a democracia na região, mas também procurando um parceiro amigável no negócio do petróleo.

Nos últimos meses, o desejo do governo Biden de melhorar as condições econômicas dentro da Venezuela se intensificou, já que centenas de milhares de venezuelanos se dirigiram para o norte, criando um enorme desafio político para o presidente Joe Biden antes de sua própria candidatura à reeleição.

Maduro deixou claro que não tem intenção de perder a eleição, acusando seus oponentes de planejar um "golpe" contra ele e dizendo a uma multidão de seguidores em um evento de campanha que "vamos ganhar por nocaute!" Quando isso acontecer, disse ele, seus oponentes certamente chamarão isso de fraude.

Representantes do Ministério das Comunicações e do Conselho Eleitoral do país não responderam aos pedidos de comentários.

Maduro, 61 anos, chegou ao poder após a morte de Hugo Chávez, fundador do projeto socialista da Venezuela.

Ex-vice-presidente, ele foi escolhido a dedo por Chávez em 2013 como seu sucessor. Mas muitos venezuelanos previram que ele fracassaria, dizendo que lhe faltavam as habilidades oratórias, o conhecimento político, os laços militares e a lealdade pública de seu antecessor. Eles estavam errados.

Maduro sobreviveu a uma crise econômica prolongada na qual a inflação anual chegou a 65.000%; a várias rodadas de protestos em todo o país; a várias tentativas de golpe e assassinato; e a um esforço em 2019 de um jovem legislador chamado Juan Guaidó para instalar um governo paralelo dentro do país.

Ele conseguiu evitar desafios dentro das fileiras de seu próprio círculo interno. Além disso, conseguiu contornar as sanções impostas pelos EUA, fortalecendo os laços comerciais com o Irã, a Rússia e a China e, de acordo com o International Crisis Group, permitindo que generais e outros aliados enriquecessem por meio do tráfico de drogas e da mineração ilegal.

Apesar de seus péssimos números nas pesquisas, "ele nunca esteve tão forte", escreveu Michael Shifter, um especialista de longa data em América Latina, na revista Foreign Affairs no ano passado.
Mas a eleição, realizada a cada seis anos, surgiu como talvez seu maior desafio.

O governo já está tentando manipular a votação a favor do presidente. Os milhões de venezuelanos que fugiram para outros países — muitos dos quais provavelmente votariam contra ele — enfrentaram enormes barreiras para se registrar para votar. As autoridades venezuelanas no exterior, por exemplo, têm se recusado a aceitar certos vistos comuns como prova de residência dos emigrantes, de acordo com uma coalizão de grupos de vigilância.

Especialistas em eleições e ativistas da oposição afirmam que de 3,5 milhões a 5,5 milhões de venezuelanos aptos a votar agora vivem fora do país — até um quarto do eleitorado total de 21 milhões de pessoas. Mas apenas 69.000 venezuelanos no exterior conseguiram se registrar para votar.

Os grupos de vigilância afirmam que negar a um número tão grande de cidadãos o direito de votar constitui uma fraude eleitoral extensa.

Os esforços para minar a votação também estão ocorrendo dentro do país. O Ministério da Educação disse em abril que estava mudando os nomes de mais de 6.000 escolas, que são locais comuns de votação, possivelmente complicando os esforços dos eleitores para encontrar seus locais de votação designados.

Entre os partidos menos conhecidos em uma cédula já complicada os eleitores escolherão entre 38 caixas com os rostos dos candidatos — há um que usa um nome quase idêntico, e cores semelhantes, à maior coalizão de oposição que apoia González, o que pode diluir seu voto.

Talvez a maior maquinação eleitoral de Maduro tenha sido usar seu controle dos tribunais para impedir que a figura mais popular da oposição do país, Machado, concorresse. Mas ela ainda mobilizou sua popularidade para entrar na trilha da campanha com González.

O governo de Maduro, de acordo com a oposição, tem como alvo a campanha - 37 ativistas da oposição foram detidos ou se esconderam para evitar a detenção desde janeiro, de acordo com González.

O monitoramento eleitoral independente será mínimo. Depois que o governo recusou uma oferta da União Europeia para observar a eleição, apenas uma grande organização independente monitorará a votação, o Centro Carter, com sede em Atlanta.

Luis Lander, diretor do Observatório Eleitoral Venezuelano, um grupo independente, disse em uma entrevista que a eleição já se qualificava como uma das mais falhas do país nos últimos 25 anos.

Maduro aumentou os salários dos funcionários públicos, anunciou novos projetos de infraestrutura e aumentou sua presença nas mídias sociais.

A economia melhorou ligeiramente. O presidente também esteve na trilha da campanha, dançando com os eleitores em todo o país, apresentando-se como o avô pateta do socialismo e zombando daqueles que duvidavam dele.

Seu argumento persistente é que as sanções dos EUA estão no centro dos problemas econômicos da Venezuela. O movimento socialista do país, apesar das dificuldades econômicas, ainda é profundo.

Durante seus melhores anos, ele tirou milhões de pessoas da pobreza e tem um poderoso braço de mensagens, com muitos que votarão na causa socialista, mesmo que encontrem falhas em Maduro.
"Não se trata de um homem, mas de um projeto", disse Giovanny Erazo, 42 anos, em um recente evento de divulgação do voto

Outros podem votar em Maduro acreditando que isso trará ajuda para suas famílias. Há muito tempo os leais são premiados com caixas de alimentos.

Mesmo que Maduro sabotasse a votação, não está claro se isso levaria ao tipo de agitação que poderia tirá-lo do cargo.

Pelo menos 270 pessoas foram mortas em protestos desde 2013, de acordo com a organização de direitos humanos Provea, deixando muitos temerosos de sair às ruas. Muitos frustrados com Maduro já votaram com seus pés, fugindo do país.

Caso Maduro não consiga chegar ao fim em 28 de julho, ele poderia trabalhar com González para negociar uma saída favorável, segundo alguns analistas.

O presidente é procurado nos Estados Unidos por acusações de tráfico de drogas e está sendo investigado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade. Ele gostaria de ir para um país onde estaria protegido de processos judiciais.

Mas Manuel Christopher Figuera, ex-diretor do Serviço Nacional de Inteligência da Venezuela, disse que esse cenário é improvável. "Maduro sabe que se ele entregar o poder, embora possa negociar sua saída, o restante desse bando de criminosos não poderá."

Figuera fugiu para os Estados Unidos em 2019, depois de participar de um golpe fracassado lançado por uma facção do partido de Guaidó, o legislador que liderou um governo paralelo.

Luisa Ortega, que atuou como procuradora-geral do país durante os governos de Chávez e Maduro, mas fugiu em 2017 após criticar o governo, alertou contra um "triunfalismo fatal" entre as pessoas da oposição.

"Uma avalanche de votos contra Maduro" poderia derrotá-lo nas urnas, disse ela. "E isso não se traduzirá necessariamente em uma vitória para nós".


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Empiricus (um terrorista de mercado) e as dez mentiras do governo (e candidata) Dilma

Os autores são os mesmos que escreveram sobre o "Fim do Brasil", e foram perseguidos pelos censores totalitários, como "terroristas de mercado".
Bem, nesse caso, eu sou um terrorista blogueiro: sempre achei, continuo achando que os companheiros levam o Brasil ao desastre. E lamentarei profundamente, não por mim, mas pelo Brasil, se eles continuarem no poder.
Pronto: sou um terrorista...
Paulo Roberto de Almeida

Dez mentiras do governo Dilma
Empiricus, 10/09/2014

Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário. Se George Orwell estivesse por ai, seria prontamente acusado de terrorismo eleitoral.

Enquanto insistirem em falar mentiras sobre os “neoliberais”, cumprirei o compromisso de falar verdades sobre o governo.

Há dois elementos constrangedores envolvendo o governo Dilma: a incompetência e a desonestidade intelectual - essa última conhecida popularmente como hábito da mentira.

Inventam o que querem para evitarem a mudança de endereço. Abaixo listo as dez mentiras que mais me incomodam, cujas implicações ao seu patrimônio podem ser substanciais.

Restrinjo-me a questões de economia e finanças. Não imagino que a mitomania limite-se a essa área, mas prefiro manter-me no escopo, por uma questão de pertinência desta newsletter.

Ao não reconhecer os erros, mantém-se a rota errada da política econômica. Bateremos de frente com uma crise financeira em 2015.

1. “A crise vem de fora.”

Esse é o discurso oficial para justificar a recessão técnica em curso no Brasil. O que os dados podem nos dizer sobre isso? Comecemos do mais simples: o crescimento econômico do Governo Dilma será, na média, dois pontos percentuais menor àquele apresentado pela América Latina. Nos governos Lula e FHC, avançamos na mesma velocidade dos vizinhos.

Indo além, há de se lembrar que a economia mundial cresceu 3,9% em 2011, 3% ao ano entre 2012 e 2013, e deve emplacar mais 3,6% em 2014. Nada mal.

Comparando com o pessoal mais aqui ao lado especificamente, Chile, Colômbia e Peru, exatamente aqueles que adotaram políticas econômicas ortodoxas e perseguiram uma agenda de reformas na América Latina, cresceram 4,1%, 4,0% e 5,6% ao ano, entre 2008 e 2013.

Enquanto isso, a evolução média do PIB brasileiro na administração Dilma deve ser de 1,7% ao ano.

A retórica oficial, desprovida de qualquer embasamento empírico, continua ser de que a crise vem de fora. Aquela marolinha identificada pelo presidente Lula, lá em 2008, seis anos atrás, ainda deixando suas mazelas.


2. “A política neoliberal vai aumentar o desemprego.”

Não há como desafiar o óbvio de que o produto agregado (PIB) depende dos fatores de produção, capital e trabalho. Ora, com o PIB desabando por conta da política econômica heterodoxa, cedo ou tarde bateremos no emprego.

Podemos não conseguir precisar qual a exata função de produção, ou seja, de como o PIB se relaciona com o nível de emprego, mas não há como contestar a existência de relação entre as variáveis.

O crescimento econômico da era Dilma é o menor desde Floriano Peixoto, governo terminado em 1894, subsequente à crise do encilhamento. Há uma transmissão óbvia desse comportamento para o emprego.

Os dados do Caged de maio apontaram a menor geração de postos de trabalho desde 1992. Em sequência, junho foi o pior desde 1998. E julho, o pior desde 1999.

Quem vai gerar desemprego é a nova matriz econômica - não o fez ainda simplesmente porque essa é a última variável a reagir (e a única que ainda não foi destruída).

3. “A oposição quer acabar com o reajuste do salário mínimo.”

Essa é uma mentira escabrosa por vários motivos. O primeiro é trivial: os dois candidatos da oposição já se comprometeram, em dezenas de oportunidades, em manter a política de reajuste de salário mínimo.

Ademais, quando Dilma se coloca como a protetora do salário mínimo, está simplesmente contrariando as estatísticas. O aumento real do salário mínimo foi de 4,7% ao ano entre 1994 e 2002, de 5,5% ao ano entre 2003 e 2010, e de 3,5% ao ano entre 2011 e 2013.

Ou seja, o reajuste do mínimo na era Dilma é inferior àquele implementado por Lula e também ao observado no período FHC. Ainda assim, Dilma se coloca como o bastião em favor do salário mínimo.


4. “A política neoliberal proposta pela oposição vai promover arrocho salarial.”

Esse ponto, obviamente, guarda relação com o anterior. Destaquei-o mesmo assim porque denota a doença de ilusão monetária ou uma tentativa descarada de enganar a população.

Arrocho salarial já vem sendo promovido pela atual política econômica, por meio da disparada da inflação. O salário nominal, o quanto o sujeito recebe em reais no final do mês, não interessa per se. O relevante é como e quanto esse numerário pode ser transformado em poder de compra - isso, evidentemente, tem sido maltratado pela leniência no combate à inflação.

Precisamos dar profundidade mínima ao debate. Se você consegue aumentos sistemáticos de salário acima da produtividade do trabalhador, a contrapartida óbvia no longo prazo é a inflação, que acaba reduzindo o próprio salário real.

O que os “neoliberais” querem é perseguir aumentos de produtividade maiores e duradouros. Isso permitiria dar incrementos de salário substanciais, sem impactar a inflação.

Caso contrário, aumentos do salário nominal serão corroídos pela inflação

5. “Programa de Marina reduz a pó política industrial.”

A presidente Dilma realmente não precisa ter essa preocupação, pois ela mesma já fez o serviço. O Plano Brasil Maior, lançado em 2010 com metas para 2014, não conseguiu entregar sequer um de seus vários objetivos.

Dilma oferece simplesmente o maior processo de desindustrialização da história brasileira, fazendo o presidente da Fiesp afirmar categoricamente que somente louco investe hoje no Brasil.

Seria pertinente preocupar-se com a própria política industrial antes de amedrontar-se com o programa alheio.

Quem defende uma política de campeões nacionais, em que se escolhem a priori os vencedores da prática concorrencial desafiando a lógica de mercado, não entende absolutamente nada de empreendedorismo e política industrial.

O maior elogio que Marina poderia receber à sua política industrial é a desconfiança de Dilma.

6. “A política monetária foi exitosa.”

A frase foi proferida por Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, em seminário nos EUA sobre política monetária. A inflação brasileira tem sistematicamente namorado o teto da meta, de 6,50% em 12 meses, ignorando o princípio básico de um sistema de metas, em que o centro do intervalo deve ser perseguido. A banda de tolerância de dois pontos existe apenas para abarcar choques exógenos.

A rigor, a inflação em 12 meses está até acima do teto. O IPCA de agosto aponta variação de 6,51% em 12 meses, estourando o limite superior do intervalo.

Transformamos o teto no nosso objetivo e represamos cerca de dois pontos de inflação através do controle de preços de combustíveis, energia e câmbio.

Esse é o tipo de êxito que esperamos da política econômica.

7. “Precisamos de um pouco mais de inflação para não perder empregos.”

Para ser justo, a frase, ao menos que seja de meu conhecimento, não foi dita ipsis verbis por nenhum membro do Governo. Entretanto, a julgar pelas decisões e diretrizes de política monetária, parece permanecer o racional da administração petista.

O velho trade-off entre inflação e crescimento, em pleno século XXI?

Bom, antes de entrar no debate acadêmico, pondero que poderia até ser verdade se houvesse, de fato, crescimento. Conforme supracitado, não é o caso.

Ignorando esse fato e fingindo que vivemos crescimento econômico pujante, a questão sobre o trade-off entre inflação e crescimento parece apoiar-se numa discussão tacanha sobre a Curva de Phillips.

O debate até faria sentido se estivéssemos nos idos de 1970. Dai em diante, Friedman, Phelps e outros destruíram o argumento de mais inflação, mais emprego.

A partir da síntese de 1976, naquilo que ficou batizado de crítica de Lucas, com trabalhos posteriores sobretudo de Kydland e Prescott, a fronteira do conhecimento passou a incorporar a ideia de que o trade-off entre inflação e desemprego existe apenas a curtíssimo prazo.

Ao trabalhar com uma inflação sistematicamente mais alta, rapidamente voltamos a um novo equilíbrio, com nível de preços maior e o mesmo nível de emprego original.

E, sim, o espaço aqui está aberto para o pessoal da Unicamp rebater o argumento de Lucas (professor Belluzzo incluindo, sem nenhum tipo de enfrentamento aqui; convite educada e genuinamente a um derbi das ideias). Criticam-nos por ouvir apenas a oposição e ignoram que eles declinam nosso convites - só pode haver vozes governistas e/ou heterodoxas em nossos eventos se elas aceitarem participar, certo? Lembre-se: fizemos o convite ao competente Nelson Barbosa, que, infelizmente, não pode comparecer por incompatibilidade de agenda.


8. “As contas públicas estão absolutamente organizadas. O superávit primário, embora menor do que em 2008, é um dos maiores do mundo. Dizer que há uma desorganização fiscal é um absurdo.”

A preciosidade foi dita pelo ministro Guido Mantega em entrevista ao jornal Valor. O superávit primário do setor público não é somente menor àquele de 2008. No primeiro semestre, foi o menor da história, em R$ 29,4 bilhões.

Nos últimos 12 meses, a variável marca 1,4% do PIB, sendo metade derivado de receitas extraordinárias, como Refis e leilão de libra. E se considerarmos o atraso em pagamentos em subsídios, precatórios e repasses aos bancos públicos para benefícios sociais, provavelmente não passamos de 0,5% do PIB.

O déficit nominal bate 4% do PIB, flertando com aumento de dívida, maiores impostos e/ou mais inflação à frente. Essa é a herança que a “absoluta organização das contas públicas está nos deixando.”


9. “Nunca foi feito tanto pelo pobre neste país.”

Intuitivamente, você já poderia desconfiar da afirmação quando pensa na inflação, que é um fenômeno essencialmente ruim para as classes mais baixas. Os abastados têm um estoque de riqueza aplicada em ativos que remuneram acima da inflação. Logo, estão em grande parte protegidos. A inflação é um instrumento clássico de concentração de riqueza.

Mas há de ser além da simples intuição, evidentemente. Aqui, a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2012, última disponível, é emblemática.

A constatação principal é de que, depois de 10 anos ininterruptos de melhora, a desigualdade de renda para de evoluir em 2012. O coeficiente de Gini, medida clássica de equidade, para de cair e as curvas de Lorenz de 2011 e 2012 são sobrepostas.

Em adição, a relação existente entre a renda apropriada pelo 1% mais rico da população e os 50% mais pobres aumenta de 0,66 para 0,69. Ou seja, o resultado é simples: quebramos uma sequência de 10 anos de avanço da distribuição de renda no Brasil.

A política econômica heterodoxa não cresce o bolo e também não o distribui de forma mais equitativa.


10. “A oposição faz terrorismo eleitoral.”

Se você compactua com um dos nove pontos anteriores, você é um terrorista eleitoral, egoísta e interessado apenas em si mesmo. Provavelmente, é financiado por um dos candidatos de oposição.

Enquanto isso, a situação acusa a candidata oposicionista de homofóbica e de semelhanças com Fernando Collor. Sim, ele mesmo, parte da base de apoio da....situação.

Seríamos nós, analistas e economistas, os terroristas?