Luiz Guilherme Medeiros
Como disse em
artigo prévio,
2014 começou a valer apenas no mês de junho. A euforia nacional, o
ufanismo e a desilusão que a Copa trouxe já vieram e já se foram. Resta
agora nos preparamos para o segundo momento-chave do ano, as eleições de
Outubro. A partir de agora, o centro da discussão passará a ser cada
vez mais aonde o Brasil se encontra de fato, e para onde queremos que
ele siga.
O debate franco e aberto se faz necessário para alcançarmos algum
consenso, e a diversidade de opinião, assim como a liberdade de
expressa-la, são vitais nesse processo.
Infelizmente, parece que nosso governo respeita mais as imagens que
passam em suas belas propagandas do que o que é dito pela consciência
dos brasileiros que vivem no Brasil de verdade.
Como exemplo temos o banco Santander, que tal como toda empresa, tem
dois tipos de interesse vitais para sua sobrevivência: os seus e os dos
seus clientes. A falha em zelar por eles é a certeza de sua ruína.
Sendo assim, é razoável considerar que uma recomendação do banco aos
seus clientes tem como finalidade o benefício mútuo. Lógico, eles podem
discordar e ignora-la.
Existe também a possibilidade da recomendação ser fruto de um grupo que
diverge da mentalidade da empresa, justificando o desligamento dele.
Vamos supor, então, que tanto os clientes rejeitam a recomendação como é razoável demitir a equipe responsável por ela.
Sob que base moral a
Presidente da República pode intimidar indivíduos,
atuando em empregos privados, numa empresa privada, classificando suas
opiniões como "inadmissível"? Que legitimidade ela possui para ameaçar
uma organização civil de que tomará uma "atitude bastante clara" em
relação a ela?
A
frieza do comunicado divulgado pelo banco indica
que ela está sendo realizada mais por temor ao Planalto que convicção
do erro do consultor. Ainda que fosse o contrário, o banco não deve
desculpa alguma. A conduta de seus empregados é problema seu. Não cabe
ao Executivo julgar qual comentário é admissível ou não de ser feito
sobre sua gestão.
Fora o fato de que Santander tem direito de se expressar, é absurdo que
um banco cale seus funcionários por medo de retaliação governamental em
pleno regime democrático, ainda mais quando existem informações públicas
que mostram a relevância da recomendação aos seus clientes. Longe de
ter sido feita de forma arbitrária ou irracional.
Quem melhor argumentou em favor desta recomendação não foi sequer o
Santander, mas a outra empresa hostilizada nesta semana: a agência de
consultoria Empiricus.
No relatório "O Fim do Brasil", disponível
em texto e
em vídeo,
Felipe Miranda, um dos fundadores da empresa, demonstra a credibilidade
das previsões da companhia e assegura que sua intenção não é
aterrorizar o espectador, mas prepara-lo para o que está por vir. O que
ele acha que acontecerá? O retorno de condições econômicas anteriores ao
Plano Real em um futuro próximo.
Para ser breve, resumo os dez argumentos principais do analista que indicam o desastre atual:
1- O crescimento do PIB no governo Dilma é o pior desde o governo
Collor, que precedeu ao Real. Nas últimas duas décadas, jamais evoluímos
tão pouco.
2- A inflação está persistentemente alta e acima do centro da meta.
Estimativas apontam que ela ficará precisamente no teto de 6,5% em 2014,
sendo elevado o risco de estoura-lo e ferir a credibilidade do Banco
Central.
3- As contas públicas estão completamente desajustadas. O superávit
primário médio do governo Dilma foi de 1,5% do PIB, enquanto o de Lula
foi 3,1%. Os números não fecham, e o governo terá dificuldade em
estabilizar a dívida bruta ou líquida. A solução será uma alta dos
juros, comprometendo o orçamento familiar e o crédito.
4- O déficit em transações correntes vem crescendo sistematicamente e a
níveis alarmantes. Estamos com baixas reservas de dólar, sendo que em
2015 l BC norte-americano elevará sua taxa de juros, resultando numa
atração de recursos para os EUA. Vai faltar dólar no Brasil, e a alta do
câmbio resultará em impactos sobre a inflação, importação e empresas
com dívida em dólar.
5- O mercado de trabalho está enfraquecendo. O último mês de maio teve a
pior criação líquida de postos de trabalho desde 1992. O desemprego só
aparenta estar controlado porque as pessoas estão desistindo de procurar
trabalho, não entrando assim nas porcentagens.
6- Análises do banco Brasil Plural apontam como matematicamente certo
(100%) que teremos racionamento de energia este ano. O nível dos
reservatórios chegará a 10%, mantendo o ritmo de hoje. A falta de
planejamento e a desastrosa MP 579 resultaram de alterações nas regras
do jogo do setor elétrico e quebra de contrato explícita no acordo de
renovação automática da Cemig.
7- A Petrobrás foi destruída, com suas ações hoje valendo um terço do
que valiam em 2010. A poupança do brasileiro está sendo afetada, visto
que ocorre a aplicação do FGTS em ações da empresa. O controle do preço
da gasolina acarreta em queimas de caixa, e hoje a Petrobrás apresenta a
maior dívida corporativa do planeta.
8- A Eletrobrás também está em situação catastrófica, graças a já citada
MP 579. Mas diferente da Cemig, ela aceitou projetos que implicavam
retornos negativos para a estatal, graças aos interesses da União nesta
medida. O resultado foi o derretimento de suas ações na Bolsa e o
ultraje dos acionistas com o prejuízo deliberado que o governo permitiu
sob o valor da empresa.
9- A indústria brasileira encolhe a cada dia. Nossa relação de
investimento sobre o PIB em 2011 era maior que a de 2014. A participação
dos produtos manufaturados nas exportações era maior em 2010 do que em
2013. Nossa participação nas exportações mundiais também encolheu no
mesmo período.
10- O medo político existe. A liberdade de imprensa vem caindo nos
últimos anos, e o partido do governo ter elaborado uma lista de
opositores em seu site oficial não ajuda a melhorar as perspectivas. Um
agravamento desta situação pode gerar evasão de capitais tanto de
brasileros quanto estrangeiros, assim como emigração dos mesmos do país.
O artigo segue em apresentar os problemas das medidas econômicas
heterodoxas do governo Dilma, o abandono do tripé econômico, a
intervenção estatal na economia, negligência e maquiagem das contas
públicas.
A Empiricus mostrou claramente porque acredita que a reeleição de Dilma iria trazer prejuízo para o Brasil, o Santander e
outros economistas também.
A liderança petista parece
acreditar de forma firme que a sociedade civil só deve falar o que lhes
agrada. A liberdade de expressão tem este nome porque não é controlada
pelo capricho de burocratas.