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segunda-feira, 19 de março de 2012

Matando judeus na Franca, se preparando, talvez, para fazer o mesmo, na Venezuela

No momento em que crianças são assassinadas na França, talvez unicamente pelo fato de serem judias -- do contrário, qual o perigo que representam crianças, de qualquer religião, ou "raça", para qualquer crença política, qualquer movimento, qualquer causa estratégica? -- lembrei-me de uma recente manchete de um jornal venezuelano, já preparando o terreno dos futuros enfrentamentos contra os "perigosos judeus".
Eis aqui o que temos ao nosso lado, aliás sócio estratégico no Mercosul, aliado dos companheiros...
Paulo Roberto de Almeida

Do blog de Marcos Guterman, Estadão, 16/03/2012


Kikiriki, apesar do nome engraçado, é um dos mais antigos jornais de esquerda da Venezuela – ou seja, não é um mero acidente marrom. Esse semanário chavista publicou a manchete acima, que, numa tradução elegante, pode ser lida como “Capriles Radonski é o candidato deles. Se os judeus chegarem ao poder, estamos ferrados”. Era uma referência ao candidato de oposição à Presidência venezuelana, Henrique Capriles – que se diz católico e cujos avós por parte de mãe eram judeus, mortos no campo de concentração nazista de Treblinka.
Não é a primeira vez que as hostes chavistas apelam ao antissemitismo explícito para atacar o adversário de Hugo Chávez. Em outra oportunidade, um desses intelectuais acusou os “sionistas” de dominarem a mídia, os bancos e os governos ao redor do mundo. No caso do Kikiriki, o jornal nem se deu ao trabalho de disfarçar o ódio aos judeus a título de crítica aos “sionistas”. O máximo de “sutileza” foi ter colocado uma foto com a legenda “Menino palestino após um bombardeio israelense”. Ou seja: era uma advertência aos venezuelanos sobre do que os judeus são capazes.
Mas isso é só a Primeira Página do periódico. As páginas internas reservam material ainda mais didático sobre a imaginação dos antissemitas venezuelanos que militam no chavismo. Um dos textosdiz que Capriles é vinculado à TFP, que por sua vez é “associada” do “lobby judaico” – ao qual oKikiriki atribui a propriedade dos principais bancos, meios de comunicação e indústrias tecnológicas e bélicas do mundo, com poder para nomear os principais ministros dos governos mais poderosos do mundo.
O melhor, no entanto, é o editorial. O texto questiona “por que a palavra Israel aparece milhares de vezes (na Bíblia), de ponta a ponta, e por que Deus prometeu umas terras e os nomeou (aos judeus) os membros eleitos sobre este planeta”. A resposta, afirma o editorial, é que “quem escreve a história se coloca como protagonista e como vencedor”, e a Bíblia é obra de judeus. E então o Kikirikiarremata:
“É preciso falar disso porque os judeus sionistas se apoderaram do dinheiro do mundo e de suas grandes corporações, bancos e empresas, assim como dos meios de rádio, TV e jornais e agora puseram os olhos na Venezuela. Capriles Radonski, bilionário, é filho de pai judeu e de mãe judia, razão pela qual é preciso estudar suas conexões internacionais e aprofundar sua história. Estaremos fodidos se os judeus chegarem ao poder – e quem tiver dúvida disso, que pergunte aos palestinos e aos árabes”.
Caso encerrado.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O Itamaraty e o antissemitismo ordinario - uma nota de rodapé

Um leitor habitual deste blog, Paulo Araújo, deixou um comentário sobre a minha postagem "Dois diplomatas que foram contra suas respectivas chancelarias".
Considero que o valor destas informações não poderia ficar restrito a uma simples nota de rodapé, de forma que o comentário foi imediatamente promovido a post integral e full scope.
Ainda que eu nem sempre concorde com certos exemplos de "história revisionista" -- bem mais condizentes com o espírito de nossa época do que com as condições e circunstâncias da época a que se dirigem, e portanto projetando valores do presente no passado -- creio que o trabalho da pesquisadora mencionada é sério e merece ser destacado.
Houve tempo, sim, em que o Itamaraty, seguindo nisso quase toda a elite brasileira -- e um e outro eram indissociáveis, ainda que o Itamaraty, pela vivência no exterior, pudesse ser mais aberto -- praticou o mais ordinário antissemitismo, que era, digamos assim, moeda comum na sociedade brasileira, e em outras sociedades, na primeira metade do século 20.
Nem por isso se deve deixar de mencionar esses pontos negros, essas passagens obscuras na vida de alguns diplomatas que não tiveram a coragem de nadar contra a corrente, e de lutar contra tendências nefastas de sua época que simplesmente representavam a diferença entre a vida e a morte para milhares de pessoas.
Nosso dever é o de apontar essas passagens sombrias de nossa história.

Caro Paulo Roberto Almeida

A historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro tem uma importante obra de pesquisa solidamente fundamentada em fontes primárias sobre o anti-semitismo de Estado no Brasil.

De acordo com a autora, Osvaldo Aranha, em sua gestão como Ministro do Exterior, emitiu circulares secretas anti-semitas e não impediu o processo administrativo que afastou a bem do serviço público o embaixador Luiz Martins de Souza Dantas, o grande (e desconhecido) brasileiro reconhecido como um dos justos no memorial Yad Vashem.

Um pouco sobre os estudos de Tucci Carneiro
Uma entrevista da historiadora na revista da FAPESP


http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3489&bd=1&pg=1&lg=

E um artigo que vale a pena ler para conhecer o trabalho da pesquisadora

A Muralha anti-semita
“Existem pelo menos 24 circulares secretas anti-semitas emitidas pelo Itamaraty entre 1937 e 1948, além da primeira “ordem permanente de serviço”, que antecipava o teor racista da já citada circular nº 1.127 (7 de junho de 1937 e anterior à gestão de Aranha). Este conjunto de proibições tinha conseqüências imediatas na vida daqueles que procuravam fugir das perseguições nazistas que culminaram, em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial, na morte de 6 milhões de judeus, além de milhares de ciganos, testemunhas de Jeová, deficientes físicos e dissidentes políticos. Ao negar vistos aos judeus interessados em emigrar para o Brasil, o governo Vargas deixou de salvar milhares de vidas.”

http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=613&pagina=2

Valeu...