Perspectivas negativas para a ordem mundial no futuro imediato
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre o difícil parto de uma nova ordem mundial.
A chamada “ordem mundial” – que é, mais bem, uma desordem atualmente –encontra-se fragmentada, muito em função de desacordos e até mesmo hostilidade entre as grandes potências mundiais, que são as que possuem algum controle sobre a agenda multilateral, hoje esgarçada entre interesses divergentes entre a comunidade ocidental (EUA e o meio império europeu) e as duas grandes autocracias que lhe são opostas nos objetivos políticos globais.
A capacidade de liderança americana parece paralisada por uma grande divisão interna. O delírio do povo trumpista foi longe demais; a deformação do partido Republicano parece irreversível; se a Justiça não conseguir barrar o populista autoritário ele vai destruir instituições e arruinar a credibilidade dos EUA no mundo. Os europeus tampouco conseguem mostrar-se unidos, em grande medida pelos avanços da extrema-direita em diversos países: a guerra da Ucrânia pode ter exacerbado essas divisões.
A Rússia pode até o reter parte do território ucraniano, sacrificando milhares de seus soldados e mercenários estrangeiros, mas sairá terrivelmente diminuída economicamente e militarmente dessa guerra insana de Putin, portanto dependente de favores chineses.
Quanto à China, o novo imperador parece ter exercido um controle nefasto sobre o seu dinamismo econômico, centralizando demais as decisões de investimento. Ou seja, a perspectiva de superar a economia americana parece ter ficado mais afastada em vários anos.
A tal de “nova ordem” virou uma paródia, com o ajuntamento de países autoritários nesse Brics+ sem qualquer papel positivo para um sistema interdependente no plano econômico global ou liberal no plano das liberdades democráticas.
Pena que Lula embarcou nessa aventura lá atrás, como eu sempre critiquei: não existe NENHUMA convergência entre os objetivos das duas grandes autocracias e as aspirações nacionais do Brasil. Dificuldades visíveis para o Brasil na liderança do G20 em 2024.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4545, 9 janeiro 2024, 1 p.
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