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domingo, 6 de dezembro de 2020

Existe a possibilidade de se ter uma "bússola moral" para a Humanidade? - Amin Maalouf e Paulo Roberto de Almeida

Existe a possibilidade de se ter uma "bússola moral" para a Humanidade?

Amin Maalouf e Paulo Roberto de Almeida

6/12/2020

 O escritor libanês Amin Maalouf diz que o mundo está sem uma “bússola moral”.

A afirmação é, no mínimo, arriscada.
A julgar pelas tragédias que se acumulam, que se repetem, nas mais diversas sociedades, caberia indagar se essa coisa não homogênea e culturalmente diversificada a que se dá o nome de “mundo” alguma vez teve qualquer tipo de bússola moral.
Provavelmente não.
Ocasionalmente, líderes políticos ou religiosos conseguem colocar um freio temporário aos instintos mais primitivos das pessoas, dos líderes políticos e dos chefes militares, alguns profetas desvairados, no sentido de conter parcialmente e temporariamente o mal que emerge de certas personalidades psicóticas.
Algumas sociedades estáveis e culturalmente homogêneas podem, eventualmente, criar uma situação de bem estar coletivo, mas mesmo essas não conseguem evitar que personalidades psicóticas produzam tragédias sociais, como ainda se viu cinco anos atrás no caso da Noruega, ou nos anos 30 na Alemanha.
Da guerra de Troia à proliferação nuclear, passando pelas grandes hecatombes guerreiras da contemporaneidade, nenhuma bússola moral consegue se impor de forma permanente em face de certos instintos primitivos, de simples paixões momentâneas dos seres humanos, ou do simples descaso da maioria pelo bem comum.
Como explicar, de outra forma, a persistência da corrupção política e da indiferença em face da pobreza e da injustiça em sociedades tão avançadas?
Como explicar a escolha de populistas mentirosos, até psicopatas negacionistas e anti-ciência?
Como admitir a prevalência de tantos medíocres e patifes em cargos de grande responsabilidade e altura política?
Não, não creio nessa tal de “bússola moral, uniforme e geral, que teria de ser igualmente compartilhada numa humanidade ainda tão pouco desenvolvida educacionalmente, e tão desigual socialmente. E isso por uma razão muito simples: as pessoas nascem "zero quilometro", ou seja, páginas em branco, que são paulatinamente preenchidas pela educação familiar, pelo ensino formal, pelo ambiente cultura, pelos estímulos societais.
Algumas sociedades e povos, algumas culturas e religiões podem fazer melhor do que outras formações sociais, mas deve ser por lento acúmulo de experiências, mais do que pela descoberta de alguma “milagrosa” e incerta “bússola moral”.
Brasília, 6/12/2020
PS.: Se existe algum "compasso moral" na humanidade, ele é mais suscetível de se expressar no plano individual do que na dimensão da coletividade.