O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 28 de janeiro de 2012

Turistando na Europa - blog de Carmen Licia Palazzo

Eu estava postando algumas descrições impressionistas de nossa randonnée europeia, mas sem a mesma competência de minha queridíssima Carmen Licia, que além de tudo tira fotos muito melhores do que eu.
Uma amostra abaixo...
Defeitos de exibição são inevitáveis, quando se transpõe o conjunto do blog, por isso recomendo uma vista ao blog original: http://carmenlicia.blogspot.com/
Divirtam-se, e admirem...
Paulo Roberto de Almeida

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Abadia de Notre-Dame de Sénanque


Hoje visitamos a abadia beneditina cistercense de Sénanque, próxima à cidade de Gordes, no Luberon ( uma cadeia de montanhas), na região da Provence. Sua construção foi iniciada no século XII. A arquitetura cistercense caracteriza-se por uma grande sobriedade, o que não impede que seja incrivelmente bela. Nada é supérfluo, tudo tem sua função. A visita inclui também a sala na qual os monges recolhiam-se para leitura e também para o trabalho de cópias. Era o antigo "scriptorium", único local que, na Idade Média, possuía aquecimento através de uma grande lareira alimentada por madeira da região.
Atualmente a abadia ainda se constitui em um mosteiro que abriga uma comunidade de cistercenses. No século XIX foi acrescentada uma construção lateral na qual atualmente os monges vivem e trabalham, mas o claustro na antiga construção medieval continua sendo um local de recolhimento. Da mesma forma, a igreja abacial continua como tal e todo o conjunto, que passou por muitos percalços durante as guerras de religião, foi preservado e restaurado dentro das normas beneditinas.
De acordo com São Bernardo, um monge não seria considerado monge se não trabalhasse com suas próprias mãos. Em Sénanque eles continuam ativos no cultivo da lavanda, na produção de alguns derivados das plantas, na produção de mel e também em atividades de recepção a turistas, à manutenção de uma excelente livraria, e outros trabalhos semelhantes. Na livraria há obras excelentes não apenas relativas à vida monástica mas também de história medieval, de culinária provençal, de diálogo interreligioso, de autores diversos e não apenas de confissão católica.
Foi um belo programa, e há muito ainda por descobrir na região. Esperamos voltar por lá em abril.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Viagem pelo sul da Europa a caminho de Paris



















O Paulo e eu estamos fazendo uma excelente viagem pelo sul da Europa e daqui iremos até Paris, onde vamos ficar por 4 meses. Já estivemos em Évora, uma pequena cidade que nos encantou. De lá fomos para Córdoba, depois Águila (um belo porto no mediterrâneo), Barcelona, Girona, e agora estamos em Saint-Raphael, na Côte d'Azur. Um excelente programa.

A universidade de Évora é belíssima. O prédio data do século XVI e foi inicialmente o Colégio do Espírito Santo. Na foto, uma das salas, com o púlpito em madeira e os azulejos nas paredes. As salas têm também toda a aparelhagem moderna de "data show" mas devidamente posicionada para não atrapalhar o visual das peças antigas. As mesas e cadeiras e o espaço para o professor ( que evidentemente não fica mais no púlpito) estão no centro da sala, deixando livre para o olhar tanto a azulejaria quanto o púlpito em madeira. E são muitas salas desta mesma maneira, com cenas diversas nos painéis de azulejos. Um encanto.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Oriente Medio: um blog de especialista



Um blog a serviço do conhecimento e da informação sobre o Oriente Médio: 
A autora, Carmen Lícia Palazzo acaba de postar, hoje, um artigo sobre xiitas e sunitas que está muito bom (embora eu seja suspeito para dizer...).
Existe uma coluna, à esquerda, que se atualiza automaticamente com notícias sobre o Oriente Médio (cortesia do serviço do blog).

http://carmenlicia.blogspot.com/

Aliás, eis o artigo mencionado:

Sunitas e xiitas no processo de reconstrução do Iraque

Carmen Lícia Palazzo (5/09/2011)

A análise dos conflitos entre as duas principais correntes muçulmanas, sunitas e xiitas, procurando entendê-las numa perspectiva histórica de longa duração, permite lançar algumas luzes no complexo quadro de violência que retrata o Oriente Médio contemporâneo. Múltiplos são os fatores que têm levado a guerras na região, mas a luta dentro do próprio Islã, com seus desdobramentos merece uma atenção especial na medida em que se faz presente nas mais diversas realidades regionais.

A fratura interna no mundo muçulmano ocorreu muito cedo, já no século VII, como conseqüência de uma guerra civil na disputa pela sucessão do califado. Após a morte do quarto califa, Ali, primo e genro de Maomé, a comunidade (”umma”) cindiu-se em dois grupos ou facções. Aqueles que defendiam que os candidatos à sucessão fossem necessariamente membros da família do Profeta ficaram conhecidos como os partidários de Ali (”xiit’Ali”). No entanto venceu o conflito a facção que havia se insurgido contra a descendência familiar e que pregava a escolha do califa entre os membros mais respeitados da “umma” e que melhor representassem a tradição (”sunna”). Aqueles que mais tarde seriam denominados xiitas, derrotados, não apenas eram vistos como contestadores da ordem vigente mas tornaram-se também suspeitos de conspirar contra o poder. O trágico fecho da disputa sucessória foi o assassinato, no ano de 680, de Hussein, filho de Ali, em Karbala (atual Iraque). Consolidava-se, assim, a hegemonia sunita mas, ao mesmo tempo, criava-se um mártir. Ainda hoje a morte de Hussein ecoa na memória coletiva das comunidades xiitas, erguendo-se como um símbolo da opressão dentro do próprio Islã. 

Muitos foram os percalços e as lutas que envolveram as duas principais facções muçulmanas no decorrer dos séculos. É importante lembrar que, apesar da ênfase que costuma ser dada aos aspectos religiosos das disputas, no rompimento do século VII o que estava em jogo era essencialmente uma questão de ordem política. Naquele momento não havia diferença significativa de dogma e nem de prática religiosa. Mas com o passar do tempo, os rituais de um e de outro grupo foram se distanciando e os xiitas, minoritários no conjunto do Islã, desenvolveram uma cultura do martírio e uma espiritualidade carregada de emoções, muito visível no chamado festival de Ashura, quando é anualmente evocada a morte de Hussein.
Com exceção do Irã onde o xiismo, a partir do século XVI, passou a se constituir em religião oficial, com o apoio da dinastia safávida, em outros países tem sido registrada uma história de discriminação e muitas vezes de perseguições, especialmente no Líbano, na Arábia Saudita, no Bahrein, no Kuwait e no Iraque na época de Saddam Hussein.
O grau extremo de violência anti-xiita por parte do ditador iraquiano encontra-se bem documentado já que o seu partido, o Baath, realizava abertamente perseguições sistemáticas cujo intuito era o de disseminar o medo. Um dos exemplos mais marcantes de tais atos foi o assassinato do respeitado aiatolá Baqr al-Sadr que, antes de ser executado, em 1980, foi obrigado a presenciar o estupro e a morte de sua própria irmã.
O fosso existente entre sunitas e xiitas iraquianos tornou-se quase intransponível à custa da crescente violência. Assim, por mais que, atualmente, o moderado e pragmático aiatolá Sistani se esforce no sentido de lembrar que ambas as facções pertencem a uma única raiz islâmica, o contencioso político entre elas continua muito grande. E amplia-se o espaço para as ações da Brigada Mahdi, liderada por Muqtada al-Sadr, portador de uma mensagem de revolta, pouco afeito ao diálogo e ancorado em representações passionais do xiismo, como a do retorno do Imã oculto, o Mahdi.

Outro dado importante a ser levado em conta quando se analisa o relacionamento entre sunitas e xiitas no Iraque e as possibilidades de um entendimento duradouro entre ambas as partes é o da discriminação étnica. Há muitos iranianos entre a comunidade xiita, principalmente na região de Karbala, Najaf e Kufa, e a elite árabe do país sempre os tratou como cidadãos de segunda categoria, acentuando ainda mais as diferenças numa sociedade onde o federalismo poderia ser uma solução viável para a reconstrução do Estado.
Ainda que a chamada questão curda tenha conduzido aos dramáticos ataques de extermínio por parte de Saddam Hussein e envolva também problemas de fronteiras e de relacionamento com países vizinhos, são as disputas entre xiitas e sunitas que maiores dificuldades podem trazer para a consolidação de um governo unido e administrativamente eficaz. E, se por um lado, a tão temida ingerência do Irã é algo a ser observado no decorrer do processo de maiores conquistas políticas por parte dos xiismo iraquiano, por outro lado não seria demais lembrar que, em 1991, a Arábia Saudita conseguiu convencer os Estados Unidos de que estes não deveriam apoiar uma revolta xiita que tinha como objetivo a derrubada de Saddam.
O frágil equilíbrio da política interna iraquiana fica, pois, dependente não apenas de seus próprios problemas mas também da atuação de duas grandes forças regionais, a dos aiatolás iranianos e a do imanato wahabita que é o esteio da casa de Saud. E bem maior do que a preocupação com os inflamados discursos xiitas deveria ser a atenção dada às ações do sunismo, o qual, no Iraque, tem buscado apoio nos grupos fundamentalistas que consideram o xiismo uma heresia do Islã.
A invasão americana inverteu a ordem no poder abrindo espaço para uma representação xiita mais justa no governo mas não levou em conta as conseqüências que inevitavelmente se seguiriam após o desmantelamento do baathismo, ou seja, o enfraquecimento das elites sunitas moderadas e dos componentes laicos na política do Iraque. Assim, a tendência atual é a de que o sunismo, antes pouco afeito, no país, a uma religiosidade estrita, agora passe a estreitar os laços com o wahabismo saudita e com os chamados neo-salafistas da Al Qaeda, que fornecem uma ideologia jihadista de luta para a recuperação do poder perdido.
Partilhando o mesmo livro sagrado, sunismo e xiismo foram, ao longo dos séculos, aprofundando o rompimento que os separou nos primórdios do Islã. A tal ponto que, atualmente, uma análise acurada de ambas as correntes deixa claro que as diferenças são mais significativas do que as semelhanças.
No caso do Iraque, qualquer proposta para uma paz efetiva terá que levar em conta tanto a enormidade da fratura quanto o crescimento do componente religioso. Ou seja, a maneira como política e espiritualidade interagem de modo a enfatizar não apenas o discurso do messianismo xiita, que vem assumindo grandes proporções na região mesopotâmica, mas também o recrudescimento do fundamentalismo sunita. Se, inicialmente, as diferenças de caráter religioso eram pouco significativas na divisão entre os dois grupos, hoje em dia, e principalmente no Iraque, etnia e religião são elementos incontornáveis na busca da construção da Nação.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

2104) Rota da Seda, um passeio pelo Oriente (e algo mais...)

Blog-site de Carmen Lícia Palazzo, por acaso (bem, não foi por acaso) minha queridíssima esposa, companheira, guia de viagens, historiadora oficial, conhecedora dos segredos da Rota da Seda e muito mais:

Rota da Seda
http://www.carmenlicia.org/

Prato sassânida (entre séculos V e VII); influência grega na temática da decoração.
© carmen lícia palazzo

Rota da Seda
丝绸之路 - Cidades da Rota da Seda
Carmen Lícia Palazzo
Fri, 04/23/2010 - 22:36

Carmen Lícia descendo do "taxi" no deserto de Gobi:


Estamos chegando de uma viagem muito especial pelo interior da China pois fizemos uma pequena parte da Rota da Seda, visitando Dunhuang e as cavernas ou grutas de Mogao, Lanzhou e Xi'an.

Dunhuang é o ponto de partida para visitar Mogao, um oásis no deserto de Gobi onde se encontram centenas de cavernas com magníficas pinturas e estátuas budistas. As cavernas começaram a ser escavadas no século IV quando ali se instalaram as primeiras comunidades de monges budistas. Os monges transformaram o local em um centro de devoção importante e muito frequentado pelos viajantes que percorriam a Rota da Seda. No oásis de Mogao as caravanas encontravam um lugar para descanso e para reabastecimento, sendo frequente também a troca de animais para seguir longos percursos.

A visita às cavernas é bem organizada e é possível apreciar os diversos estilos que foram se sucedendo na arte budista, inclusive as diversas influências indiana, tibetana e mesmo greco-romana, como é o caso dos drapeados inspirados nas esculturas de Gandhara. São excepcionais as imensas estátuas de Buda. Como puderam ser esculpidas com tamanha habilidade ali dentro? As figuras voadoras, "devi" ou apsaras" são fascinates. Comprei um livro muito bom, "Dunhuang & Silk Road", cujos autores pertencem à Universidade de Lanzhou e à Academia Dunhuang, pretendo dar uma boa estudada na história deste lugar que há tanto tempo me fascina...

Em Xi'an, antiga Chang'an, capital da China em diversas dinastias e que teve seu apogeu na época dos Tang, visitamos o Museu de História de Shaanxi que justamente "conta" a história da Rota da Seda. Estivemos também no Grande Pagoda cuja construção se destinava principalmente a abrigar textos budistas que o monge Xuan Zhang trouxe da Índia. A peregrinação de Xuan Zhang, que partiu de Xi'an no ano de 628, é um dos episódios mais importantes do budismo chinês e foi no mosteiro ao lado do Pagoda que ele criou uma escola de tradutores que alcançou grande renome na Ásia. Ainda hoje o enorme mosteiro se encontra em atividade e é bastante prestigiado entre os budistas.

Mas voltando atrás no tempo visitamos, ainda em Xi'an, o que é considerado uma das mais importantes descobertas arqueológicas do século XX: o imenso conjunto de guerreiros em terracota que fazem parte do mausoléu do imperador Qinshihuang. Ele unificou a China em 221 a.C. e ainda muito jovem mandou construir o que viria a ser seu mausoléu. O famoso exército de terracota já é bastante conhecido pois suas imagens são constantemente divulgadas em livros, filmes e revistas. No entanto é inexplicável a sensação de vê-los de perto. Eles estão no próprio sítio arqueológico onde foram encontrados e há inclusive um grupo de arqueólogos trabalhando nas escavações. É possível acompanhar uma parte dos trabalhos. É imensa a extensão da necrópole e certamente outras descobertas importantes se seguirão.

Dunhuang/Mogao e Xi'an dão uma boa idéia do trabalho que a China vem desenvolvendo com apoio de vários outros países para trazer à tona partes importantes da sua história. O Projeto Dunhuang é especialmente interessante pois atualmente está sendo feita a digitalização de todo o acervo de obras de arte das cavernas e há uma equipe internacional com grande participação chinesa trabalhando também na conservação do local.

Estamos começando bem nossa temporada chinesa e esperamos ainda fazer muitas viagens até o início de novembro, quando encerra nosso período aqui.

Algumas fotos de Dunhuang, do deserto de Gobi e de Xi'an estão no item "Minhas fotos."


Atualizações recentes
Mosteiro em Xi’an
04/24/2010 - 03:24
Zhang Qian
04/24/2010 - 03:22
Entrada das cavernas de Mogao
04/24/2010 - 03:16
Cavernas de Mogao
04/24/2010 - 00:20
Deserto de Gobi
04/23/2010 - 23:21
Cidades da Rota da Seda
04/23/2010 - 22:36
Chegada em Shanghai
04/11/2010 - 00:26
Museu de Sharjah
04/07/2010 - 03:22
Museu de Sharjah
04/07/2010 - 03:18
Viagem aos Emirados Árabes
04/07/2010 - 02:52