Diplomatizzando

Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).

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segunda-feira, 1 de abril de 2024

Ler Ary Quintella, no meio da noite, qualquer que seja o tema, é puro deleite literário: aqui, uma balzaquiana imaginária

 Pelo simples prazer da leitura...


Ary Quintella

Os Rastignac de Bornéu

aryquintella

March 31

Visitando um pequeno museu em Kuching, cidade à beira do Rio Sarawak, na Malásia, deparei-me com o sobrenome Rastignac. Para o leitor apaixonado por Balzac, foi como ser atingido por um raio. Eu me via confrontado, em plena ilha de Bornéu, com a existência bem real de uma família com o mesmo sobrenome de um dos personagens mais famosos do escritor, Eugène de Rastignac, símbolo do jovem ingênuo transformado em ambicioso calculista. Ler aos quatorze ou quinze anos Le Père Goriot(1835), obra cruel até para os padrões de Balzac, gerou em mim uma impressão permanente. 

Despertada minha curiosidade sobre como o nome – tão francês – de Rastignac fora aparecer na parede de um museu em Bornéu, acabei mergulhado em uma história muito inglesa – a de Charles e Margaret Brooke. Passei quase um ano lendo e pesquisando com estupefação biografias, memórias, volumes de história e genealogias em busca de explicação sobre como uma família de classe média do interior da Inglaterra chegara a se transformar em dinastia de rajás à frente de um vasto entreposto do império britânico na Ásia. 

Margaret nos conta ela própria a sua vida. Casada com seu parente Charles Brooke, o segundo “Rajá Branco” de Sarawak, perdeu em seis dias os três filhos, mortos de cólera no navio, em viagem de Kuching à Inglaterra via Singapura. Os corpos foram atirados ao Mar Vermelho. Uma quarta criança havia nascido morta, uns meses antes. Era 1873 e ela tinha 24 anos. Estava casada desde 1869 apenas. Décadas depois, Margaret Brooke se tornaria amiga da escritora inglesa Marie Belloc Lowndes. Em suas memórias, The Merry Wives of Westminster (1946), esta conta que apenas uma vez ouviu Margaret referir-se à morte dos filhos, e mesmo assim de forma vaga, "de uma maneira tal que, se eu já não tivesse sabido a respeito, não teria entendido a alusão". Três filhos adicionais viriam a nascer, chegariam à idade adulta, e o mais velho, Vyner, reinaria em Sarawak depois do pai. 

Charles Brooke era o administrador colonial de Sarawak, que governava como chefe de Estado hereditário. Sucedeu ao tio, James Brooke, o primeiro Rajá Branco, e legou por sua vez o território ao filho. Metodicamente, em detrimento do sultão de Brunei, foi acrescentando terras ao seu domínio, que acabou ficando tão extenso quanto a própria Inglaterra. Margaret Brooke era a Rani de Sarawak, a mulher do Rajá. O casamento não era feliz. Em seu livro de memórias My Life in Sarawak (1913), e na autobiografia Good Morning and Good Night (1934), Margaret descreve o marido como homem silencioso e metódico, totalmente voltado para a administração do território que comandava em Bornéu, e quite incapable of showing sympathy or feeling about anything that did not touch Sarawak.

Charles Brooke em meados de 1860

Good Morning and Good Night revela-nos a falta de opções à disposição da autora quando solteira, apesar do dinheiro da mãe. Nascera em Paris, crescera até os dez anos no castelo da avó na França, em Épinay, e desde a morte do pai de uma queda de cavalo, que a deixara órfã aos quatorze anos, levava uma vida errante pela Europa, com a mãe, Elizabeth Sarah de Windt, conhecida como Lily, os dois irmãos e umas amigas antigas de Lily, parasitical spinsters, como Margaret as classifica: From Paris to Florence – from Florence to Rome – Switzerland – the Tyrol, on we would move, always living in hotels. 

Charles Brooke era primo-irmão de sua mãe. Um dia, aos 42 anos, solteiro, ele aparece na casa de campo da família, na Inglaterra, em busca de uma noiva rica cuja fortuna pudesse saldar as dívidas de Sarawak. Ele próprio não tinha conhecidos na Europa, pois desde os 13 anos estivera na Marinha britânica, e a partir dos 23 vivera em Sarawak, a serviço do tio, de quem herdara o poder em 1868. 

Não é impossível que Margaret tenha tido alguma noção romântica da figura de Charles. Antes de conhecê-lo, ela lera já o livro, publicado em 1866, em que ele relata sua vida em Sarawak, onde morara dez anos em fortes à beira de algum rio, na floresta, controlando etnias inimigas entre si e jogando uns contra os outros os caçadores de cabeças. O aparecimento do primo mais velho, soberano em uma terra distante, sobrinho de uma figura mítica como fora James Brooke, deve ter sido acompanhado de uma aura de mistério e aventura.

Não faltam certos trechos de algum valor literário no livro de Charles, como este, inserido no meio da descrição de um ataque que ele organiza e lidera à terra dos Kayans, que estavam depredando bens dos Dayaks e prejudicando o comércio: the only sounds to be heard were those of nature alone, – the murmuring of the jungle insects, the low rumbling of the distant rapids, and the stream pouring over the pebbles close to us. Charles sentia-se inteiramente adaptado à vida em Sarawak e pouco à vontade no país onde nascera. Na floresta, costumava andar descalço como os Dayaks. Tendo de viajar à Inglaterra, após dez anos ininterruptos na Malásia, ele comenta: little did I care for the prospect of European pleasures, so much thought of and sought after as an Elysium by many living so far away. They are invariably found disappointing when England is reached.

Mapa da Malásia

Nas memórias e biografias dos diferentes atores envolvidos, há frequentes referências ao fato de que Charles pode ter primeiro pensado em se casar com a mãe de Margaret, Lily de Windt, então com 43 anos. A escolha acaba recaindo sobre a filha, que, aos 19 anos, lhe permitiria o mesmo nível de acesso aos recursos financeiros da família. A oferta de casamento e sua aceitação não refletiam sentimentos amorosos. No hotel em Innsbruck, aonde acompanhara os primos, Charles atira sobre as teclas do piano, no qual a moça supostamente teria estado tocando um noturno de Chopin, um poema sobre casamento – mas não sobre amor. I do not imagine the poor dear man could ever have been madly in love with me, admite ela; on my side, although I respected him and admired his achievements, I was never in love with him.

Desde o início, o marido foi parcimonioso com dinheiro, inclusive o da mulher. Com o tempo, o casamento torna-se uma ficção. Margaret vive na Europa, sob o pretexto de cuidar da educação dos filhos. A partir de 1880, os períodos que ela passa na Malásia são cada vez mais raros e curtos. Em 1887, esteve em Sarawak por poucos meses. A viagem seguinte a Bornéu aconteceria somente em 1896. Seria a última. Quando My Life in Sarawak foi publicado, fazia dezessete anos que a Rani não via sua terra de adoção. Ela morreria em 1936, sem ter voltado a Bornéu nos últimos quarenta anos de vida. Durante alguns anos, em Londres, morou com os filhos ainda pequenos em Cornwall Gardens.  Minha mãe, minha irmã e eu moraríamos na mesma pequena rua cem anos depois. Entre os dois períodos, lá viveu também Joaquim Nabuco.

A história contada em My Life in Sarawak é a de uma jovem vitoriana que descobre aos vinte anos, com fascinação, a realidade tropical de Bornéu. Ela se adapta às suas novas circunstâncias, faz amizades locais. Viaja no iate do marido e em pequenas embarcações fluviais, acompanhando o Rajá Branco em seus roteiros de inspeção. Enfrenta sem o marido, sozinha em um forte longe da capital, querreiros Kayans, que teria conseguido apaziguar. Passa a usar trajes típicos de Sarawak. Aprende a língua malaia. Descobre que o canto do bulbul é mais bonito que o do rouxinol.

A primeira frase resume o espírito de todo o volume: When I remember Sarawak, its remoteness, the dreamy loveliness of its landscape, the childlike confidence its people have in their rulers, I long to take the first ship back to it, never to leave it again. Por um lado, a declaração de amor pela terra que não verá mais chega a ser tocante. Por outro, a referência à "confiança infantil que seu povo deposita nos governantes" irrita e nos faz lembrar estarmos diante de um casal inglês, representante do espírito colonialista britânico, transformado em rei e rainha nos trópicos asiáticos. Desde o início, em 1841, quando James Brooke passara a governar Sarawak, esta fora a ambiguidade da curiosa dinastia: reinavam na Ásia do Sudeste, mas não abandonavam a nacionalidade inglesa. Eram simultaneamente senhores e súditos.

O segundo livro, Good Morning and Good Night, é mais pessoal e revelador – e ainda assim de maneira relativa, como veremos. No texto de 1934, Margaret atribui o insucesso matrimonial aos ciúmes que o marido teria da sua popularidade em Sarawak: he wished to remain alone and supreme in the love and affection of his subjects. Ao mesmo tempo, depreende-se que, em Bornéu, ela estava sempre adoentada, talvez com depressão, talvez com malária. Há uma contradição entre o amor professado por Sarawak e suas constantes doenças. O médico britânico em Kuching entende que ela sofre de histeria, clássico “diagnóstico” do século XIX para deslegitimizar mulheres. Ela própria nos diz: Hysteria! – that blessed refuge of somewhat unskilful doctors who find themselves unable to diagnose a disease!. 

Nos dois livros, Kuching, onde viviam 30 mil habitantes quando Margaret lá aportou pela primeira vez, é simultaneamente apresentada como uma espécie de paraíso, mas também com outras cores, como aldeia insalubre infestada de malária, mosquitos e ratos. No rio Sarawak, nadavam crocodilos. Se é verdade que a Rani teria sido acordada uma noite, como relata, por migração de “milhares” de ratos que atravessavam seu quarto, não sei. Mas posso testemunhar que na ilha de Bornéu a questão dos ratos não pode ser minimizada. O maior que vi em minha vida cruzou frente aos meus pés, em fevereiro de 2023, no mercado noturno de Kota Kinabalu, capital de Sabá, o outro estado malásio da ilha. Eu me preparava para acomodar-me em uma cadeira de plástico e jantar um peixe que vira ser preparado. A aparição do rato, grande como um gato e com sinais de doença na pelagem, me fez desistir.

Kuching na época de Margaret Brooke
O Astana, ou palácio de Kuching, como o conheceu Margaret Brooke

Margaret de Windt passou proporcionalmente pouco tempo em Sarawak. Era porém seu título de Rani que lhe conferia prestígio na Europa. Frequentava a corte inglesa, junto à qual conseguiu diversas vantagens cerimoniais para Sarawak e o marido – para desgosto dele, que não apreciava suas interferências. Em 1901, obteve do novo rei, Eduardo VII, uma definição protocolar do status de Charles e, portanto, dela própria. O Rajá nascido na paróquia provinciana de Berrow, no interior de Somerset, ficava formalmente reconhecido como soberano de um Estado independente sob proteção britânica; os dois recebiam o título de altezas e eram inscritos, na ordem de precedência, logo após os príncipes reinantes indianos.

A facilidade com que Margaret, e, antes dela, o marido, construíam para si, por meio de suas memórias, uma imagem de exotismo e heroísmo tampouco atrapalhava sua popularidade. Próxima do príncipe Alberto I de Mônaco e sua mulher, a “soberana” de Sarawak frequentava artistas e escritores na França e na Inglaterra. Good Morning and Good Night narra episódios de sua amizade com Henry James, iniciada na década de 1890 e que durou até a morte do romancista. No primeiro encontro entre os dois, em Londres, na casa de uma conhecida comum, o escritor é descrito como um homem condescendente. A Rani afirma já haver então lido Roderick Hudson, Daisy Miller e The Princess Casamassima e elogia essas obras. Henry James levanta a mão ao ar e afirma: No, my dear lady, no, I can do better – I can do better than that. Margaret retruca: Oh, how can you say so? Surely they are quite perfect? A mão do escritor desce. Henry James olha para Margaret Brooke com sorriso de comiseração e responde: Well, as you will! But why are you here? You come from a land where the bulbul sings.

O livro menciona Pierre Loti – que dedicou um conto a Margaret – Maupassant, Rudyard Kipling, Swinburne, o pintor Edward Burne-Jones, a atriz Sarah Bernhardt. Parece haver consenso de que a Rani de Sarawak chegou a viver um romance, na década de 1890, com o jornalista americano William Morton Fullerton, quinze anos mais jovem, que não é mencionado em seus livros. Fullerton é hoje lembrado sobretudo pelo relacionamento amoroso com a escritora Edith Wharton e a amizade intensa que despertou em Henry James. Foi um desses personagens, como de uma certa forma a própria Margaret Brooke, que existem em toda parte, atraídos por escritores mais talentosos do que eles próprios. Ao fazerem parte da biografia alheia, preservam alguma fama após a morte.

Margaret Brooke em trajes malaios
 
A rani em trajes de Corte, na Inglaterra

Oscar Wilde, que lhe dedicou o primeiro conto de seu livro A House of Pomegranates(1891) – “To Margaret, Lady Brooke” – tampouco é mencionado, o que pode parecer estranho para nós, leitores do século XXI, cientes da perenidade de algumas de suas obras. Ocorre que quando Margaret escreveu seus livros de memórias, Wilde já morrera em desgraça, após o escândalo do seu processo e prisão. A mulher dele, Constance, precisara adotar outro sobrenome para si e os filhos, tal o constrangimento que passara a ser associado ao nome de Wilde. A Rani não viveu o suficiente para presenciar sua reabilitação.

Elemento constante na vida mutável de Margaret de Windt parece ter sido a busca por respeitabilidade, por afirmação de uma posição social. Não deixou, apesar disso, de prestar apoio a Constance, durante a prisão do escritor. Vyvyan Holland, filho de Wilde, escreve com gratidão a seu respeito, rememorando os dias passados perto de Gênova ao seu lado, e contando como sua mãe reencontrou alguma felicidade in the companionship of the Ranee, who was a comfort and a consolation to her until the time of her death three years later. Marie Belloc Lowndes afirma que o político trabalhista Richard Haldane visitou Oscar Wilde na prisão a pedido de Margaret. Foi graças a essa visita, é sabido, que o prisioneiro pôde receber livros e, mais tarde, caneta e papel, o que lhe permitiu escrever De Profundis, a longa carta da prisão de Reading. 

É no afã de procurar demonstrar respeitabilidade que tem início Good Morning and Good Night. O castelo da avó em Épinay, onde Margaret crescera, é apresentado, nas primeiras páginas, como the home of the Rastignacs for generations. O “Reino do Terror” da Revolução Francesa, wreaking its hatred on the aristocrats, teria confiscado a propriedade e guilhotinado o marquês e a marquesa de Rastignac, "junto com tantos de seus amigos". A única prole do casal, Elisabeth, bisavó de Margaret, teria sido “escondida pelos aldeões, que amavam os Rastignac", e enviada à Holanda, para ser criada em segurança por um casal amigo, que a teria adotado. Mais tarde um filho do casal, Peter de Witt, casou-se com Elisabeth. Peter e Elisabeth de Witt teriam recuperado o castelo na França, onde foram viver, e o nome de Witt teria sido deturpado – pelos camponeses, afirma Margaret – em de Windt.

É um inteiro conto de fadas. Existem dois museus em Kuching celebrando o reinado de cem anos – de 1841 a 1946 – da dinastia Brooke. Ambos são administrados, com apoio do governo estadual, por uma entidade inglesa, Brooke Heritage Trust, presidida por Jason Brooke, descendente da família. Um dos museus, sediado no antigo Forte Marguerita, construído por Charles e nomeado em homenagem à mulher, é dedicado aos três Rajás Brancos.  O outro, instalado no antigo Tribunal de Justiça, à vida de Margaret. O percurso pelas suas poucas salas começa com a reprodução de um quadro a óleo que representaria "o Marquês e a Marquesa de Rastignac, trisavós de Marguerite, por volta de 1780". 

As explicações do museu repetem, de forma acrítica, a versão fantasiosa oferecida por Margaret de suas origens. O tom esnobe da narrativa, com sua ingênua redução da Revolução Francesa ao "Reino do Terror", ao "ódio pelos aristocratas" e à guilhotina é reproduzido pelo museu. Curiosamente, Margaret de Windt lembra nessa hora Lady Bracknell, personagem cômico de The Importance of Being Earnest, porta-voz assertivo, na peça, de valores sociais conservadores.

Forte Marguerita
 
Museu da Rani

A realidade é diferente do seu conto. Margaret fala da "bisavó Rastignac adotada pela família de Witt" como se a tivesse conhecido: "ela morreu quando eu tinha quatro anos". Cita até, entre aspas, uma frase que a bisavó costumava dizer, falando dos casamentos da filha e da neta com ingleses: Ces Anglais, ces Anglais, toujours ces Anglais. Denomina-a "baronesa de Windt". Essa pessoa, porém, nunca existiu. Ninguém usando o título de marquês ou marquesa de Rastignac jamais morreu guilhotinado. A avó materna de Margaret, Elisabeth, era uma de Windt adotada e transformada em herdeira pela tia, Judith de Windt. Esta, sim, enviuvara em 1817 de Jacques Gabriel Chapt, visconde de Rastignac. Os de Windt estavam instalados desde o início do século XVIII no Caribe – onde terão feito fortuna com lavoura de açúcar à base de trabalho escravo – e escreviam seu nome com essa grafia desde pelo menos o século XVII. A avó de Margaret, Elisabeth de Windt, casou-se com um inglês, que adotou seu sobrenome, e não com um holandês chamado Peter de Witt. Margaret não teve nem avô nem bisavô com esse nome. A sua bisavó de Windt, nascida Sarah Roosevelt, no Caribe — e não Elisabeth de Rastignac, na França —, morreu em Paris, em 1850, um ano após o nascimento da bisneta. Essas informações encontram-se em diferentes estudos genealógicos, todos de acesso público. 

A história da família Chapt de Rastignac foi publicada em 1858 por sua última representante, Zénaïde, duquesa de La Rochefoucauld. Os Chapt de Rastignac são consistentemente descritos como de nobreza antiga. Pode-se deduzir a satisfação de Margaret de Windt em conseguir fazer crer, por meio das suas alegações, que descendia da família. 

Terá Margaret sabido que na verdade não descendia dos Rastignac? Inventou ela própria essa fábula ou herdou-a da mãe ou da avó? A resposta pode estar em livro autobiográfico de seu irmão caçula, Harry de Windt, célebre em sua época como viajante incansável e também ele autor prolífico de narrativas de viagens. Vyvyan Holland é quem, mais uma vez, nos conta que Harry de Windt was a famous explorer at the end of the last century, his most remarkable feat being to travel from Pekin to Paris overland in 1887. É sobriamente, sem fantasias, que o irmão mais novo explica, em My Restless Life (1909), que o castelo em Épinay "tinha sido herdado de um parente, o visconde de Rastignac".

O museu em Kuching perpetua no entanto as invencionices de Good Morning and Good Night. De um museu, mesmo um museu familiar, espera-se algum apego à realidade. Mais extraordinário ainda é que o mito dos antepassados aristocráticos franceses seja recolhido na obra da historiadora australiana Cassandra Pybus, que estudou as vidas de Charles e Margaret em The White Rajahs of Sarawak (1996) e compra, sem crivo, a versão de que Margaret de Windt descendia de "aristocratas franceses" e era por isso socialmente superior aos Brooke.

Viúva desde 1917, Margaret morreu em 1936, aos 87 anos. Foi poupada de ver o filho Vyner ter de renunciar, em 1946, ao reino de Sarawak, que se tornou formalmente apenas mais uma entre as colônias de um império britânico em declínio. 

Em uma família onde cada um parece haver deixado seu próprio livro de memórias, sua nora, Sylvia Brett, mulher do terceiro e último Rajá Branco, também publicou as suas, com um título sensacionalista, Queen of the Headhunters (1970). Sylvia Brooke visitou a sogra poucos dias antes de sua morte e não foi por ela reconhecida. She had been a woman of note, escreve a nora, the friend of Henry James, H. G. Wells and Elgar. Now there was nobody; and she was just a lonely woman, living in a small flat, and already separated from life. There was something regal and tragic in her isolation. 

Oscar Wilde não é a única omissão notável em Good Morning and Good Night. Quando Margaret descreve a morte de seus três filhos pequenos a bordo do navio – “aquelas flores belas e encantadoras cortadas em poucas horas, arrancadas de nós e jogadas ao mar” – e lista todos os presentes no seu grupo, "marido, irmão, os três bebês, a babá inglesa, a empregada doméstica", deixa de lado uma pessoa.

Viajando com eles, ia uma outra criança, um menino de seis anos. Ele se chamava Esca Brooke e era filho de Charles Brooke com uma mulher malaia, de origem nobre, Dayang Mastiah. Charles e a mãe da criança podem ter se casado em um rito muçulmano. O garoto passou a ser criado no Astana, como é chamado o palácio em Kuching, e sua existência em Sarawak nunca foi um mistério. 

Pode-se imaginar a reação de Margaret ao ver seus três filhos morrerem e serem atirados ao mar, enquanto o outro menino, que também adoeceu, sobrevivia. Cassandra Pybus especula ser possível que Esca, nascido na terra de Sarawak, filho mais velho do Rajá, fruto talvez de um casamento que as populações locais considerariam legítimo, viesse a ser um candidato sólido a suceder ao pai, em detrimento dos filhos da Rani. Cita uma frase de Margaret a um sobrinho, em carta de 1927: "Tive o bom senso de perceber que ele seria um problema se ficasse em Sarawak". 

Deixado na Inglaterra, em 1873, para ser criado por um reverendo anglicano, Esca Brooke emigrou com sua família adotiva para o Canadá. Ele nunca mais veria o pai; nunca receberia um bilhete sequer dele, apenas uma pequena pensão; nunca retornaria a Sarawak. Morreu em Toronto em 1953.

Quantas facetas cabem em um único personagem? Ao longo da história de Margaret de Windt, como ela a quis contar, vemos sucessivamente a jovem vitoriana ingênua, isolada embora de família rica; a soberana corajosa de uma terra tropical, distante do seu país de origem; a mulher infeliz no casamento e enlutada pela morte de vários filhos; a alteza detentora de um título espetacularmente insólito, amiga, na Europa, de príncipes e artistas; a personalidade pública ciosa de estabelecer uma posição de brilho para si, o marido e os filhos. 

O que não vemos em momento algum, ao longo das suas memórias, é uma dimensão importante – que talvez seja o seu aspecto mais fascinante. Margaret entrou na vida do pequeno Esca Brooke, possível herdeiro de Sarawak, como presença nefasta, a clássica madrasta má. Com isso, conseguiu tornar-se, de fato, não uma Rastignac real, como fantasiou ser, mas uma personagem digna de Balzac.

A autobiografia
Posted by Paulo Roberto de Almeida at 01:50 Nenhum comentário:
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domingo, 3 de março de 2024

Um blog imperdível: Carmenlicia.blog - cultura, história, civilizações, viagens...

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    sexta-feira, 17 de junho de 2022

    Uma breve geografia de meu percurso internacional - Paulo Roberto de Almeida

      Uma breve geografia de meu percurso internacional 

     

    Paulo Roberto de Almeida

    Diplomata, professor

    (www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

    Nota sintética sobre meu percurso internacional, desde a juventude, mas apenas transcrevendo os países onde já estive.

     

     

    Apenas atendendo a uma curiosidade, ou provocação, de um leitor, vou listar, numa ordem não exatamente perfeita, todos os países que visitei, como curioso, como turista, como estudante, como profissional, como simples viajante ocasional ou planejado, como uma espécie de substrato a um futuro “Baedeker” de minha trajetória internacional, ou seja, o roteiro de minha geografia pessoal, que poderei fazer um dia, talvez seguindo numa mapa do mundo, onde já estive e porque, com qual motivo e quais ensinamentos retirei de cada uma dessas “visitas”. Elas indiscutivelmente fizeram parte de minha formação, de minha educação e dos insumos que passaram a incrementar meu trabalho profissional e acadêmico nessa área das relações internacionais, sem que eu me considere um “internacionalista”. 

    Sou apenas um curioso e um nômade com gosto, mas bem menos nômade do que minha cara Carmen Lícia, ela sim, uma viajante incansável, e planejadora inovativa e inovadora de todas as nossas viagens da fase adulta. Mas, as minhas viagens começaram bem mais cedo, primeiro nos livros que eu lia na biblioteca infantil de meu bairro em São Paulo: Monteiro Lobato, Karl May, Emílio Salgari, Jules Verne e todos os outros escritores de viagens, alguns que provavelmente nunca viajaram aos lugares sobre os quais escreveram, mas que aprenderam em outros livros, nas enciclopédias, nos livros de viagem, nos guias de turismo, nos relatos de outros viajantes. Depois, nas primeiras viagens de carona, como mochileiro, depois como autoexilado voluntário durante a ditadura militar, finalmente como profissional da área internacional e como turista acidental. Tudo isso me formou, e como!

    Mas, não vou entrar em digressões neste momento. Vou apenas listar erraticamente, embora numa certa ordem cronológica, os lugares onde eu já estive, ao sabor da pena, ou melhor, do computador (que permite ajustes, correções e adições, a qualquer momento). 

     


     São Paulo, Mongaguá (o mar, ah, o mar), viagens com o Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha pelo interior de SP e no Paraná, na primeira metade dos anos 1960, depois de mochila à Bahia e a Brasília, de mochila pelo Cone Sul (Paraguai, Argentina, Chile, Uruguai), na segunda metade dos anos 1960. Finalmente a partida do Brasil: de barco, no final de 1970, por Tenerife, Gibraltar, Barcelona, de trem e carona pelas estradas europeias em pleno inverno: França, Alemanha, Tchecoslováquia, uma visita a um país kafkiano, literalmente, não por culpa do Franz, mas por culpa do socialismo. Começo de uma aventura de quase sete anos, de estudos, muito estudo, sobretudo em bibliotecas, as mais diversas.

    Bélgica, para estudos e trabalho, a partir do início de 1971: Bruxelas e viagens pelo país, inclusive de bicicleta, Holanda, França, Alemanha, Suíça, socialismo outra vez (a convite, inclusive União Soviética e algo mais), Argélia, Espanha, Itália, Grã-Bretanha, França muitas vezes, e o contato com todos os tipos de estrangeiros, em Bruxelas, Antuérpia, Paris. De trem, de carro, de avião, esticadas para todas as partes segundo a ocasião e as oportunidades. Mas, sobretudo bibliotecas, onde as viagens eram na imaginação.  

    Brasil de volta, em 1977, indo para o governo final do regime militar, mas com a repressão ainda ativa. São Paulo, e logo em seguida Brasília, dando início a uma bela carreira, feita para mim, e que justamente combinava viagens, a trabalho, e escapadas para cultura e lazer. Pela primeira vez, eu era pago para viajar, logo em seguida: Polônia socialista, Iugoslávia de Tito, aproveitando para passar por Portugal, Paris e o que mais estivesse no caminho. Tive sorte de namorar, logo em seguida, com uma pessoa ainda mais nômade do que eu: Carmen Lícia Palazzo, que já tinha viajado tanto ou mais do que eu, nas encarnações anteriores. E livros, claro, sem o que não se pode ter uma vida a dois. Casamento e planos vagos sobre o futuro; lua de mel na estrada: 11 mil kms de Fiat 147, de Brasília a São Paulo, depois Porto Alegre, Brasília novamente, para descarregar os presentes, e Belém-Brasília, com duas únicas paradas no caminho, seguido de São Luis, Belém novamente e volta a Brasília, para passeios nas redondezas.

    Não escolhi sair, mas me escolheram. Lá fomos nós, final de 1979: Berna, uma capital simpática, num país ordeiro, limpinho, organizado. Nasce o Pedro Paulo, mas com quinze dias ele já estava na estrada conosco, em todos os cantões da Suíça e mesmo na França, Itália, Áustria e Alemanha. De volta à Bélgica em 1981: retomada do doutoramento, que tinha ficado interrompido na volta ao Brasil em 1977; comecei a revisar os fundamentos e a racionalidade das posturas anteriores, inclusive com base em novas e frequentes viagens.

    E quais foram as viagens desta primeira incursão profissional, entre a Suíça e a então Iugoslávia, logo após a morte de Tito, entre 1979 e 1984? Primeira viagem de lazer, no primeiro fim de semana de Berna, de pura curiosidade “etílica”, foi feita na Route du Vin, da Alsácia, saindo da Suíça por Basileia, a cidade de Erasmo de Roterdam; voltamos não só com muitas garrafas de vinhos, de Riquewihr, Ribeauvillé, até Colmar, como também com um conjunto de pequenas taças para tomar os brancos da região, entre eles Pinot Noir. A partir daí não paramos mais, entre a Suíça francesa, de Genebra e Lausanne, a alemânica, até a italiana, sem contar uma vez que esquecemos o carrinho do Pedro, já de volta a Berna, em Murten ou Friburgo, não me lembro bem. Depois avançamos sobre a França, a Alemanha, a Itália, a Áustria (cruzando Lietchenstein) e até onde era possível alcançar, sem esquecer as terras do socialismo real: comprei a Marx-Engels Gesamtausgabe na Dietz Verlag de Berlim oriental, cruzando cidades das duas Alemanhas da Guerra Fria e suas fronteiras fortificadas. 

    A partir de Belgrado, o mais comum eram as viagens à Itália, não exatamente para lazer, tão somente, mas sobretudo para abastecimento, numa fase de penúria socialista (mas no socialismo todas as fases são de penúria material, sem falar da miséria moral). Estávamos tão acostumados com Trieste, Padova, Veneza, que o Pedro Paulo, ao voltar para Brasília com 4 anos e meio, pediu para passar um fim de semana em Veneza, passeando de gôndola. Mas tinha também as viagens na própria Iugoslávia: Croácia e Dalmácia, Eslovênia, Montenegro, Macedônia, Kossovo, Vojvodina e outros lugares visitáveis. A partir dali fomos duas vezes à Grécia, e uma vez até Istambul e a Turquia asiática, atravessando a Bulgária e cruzando o Bósforo na grande ponte que une Europa e Oriente Médio. Itália foi, entre todas, a de maior quilometragem turística, de um canto a outro da bota, até a Sicília e a Calábria. Após a defesa do doutoramento na Bélgica, a intenção era ir de Belgrado até a União Soviética, entrando por Leningrado e voltando por Minsk ou Kiev: acabou não dando certo em Helsinque, por falta de vouchers apropriados – sem os quais seria impossível se abastecer ou se alojar ou comer – e então fizemos uma das melhores viagens de todos os tempos: da capital finlandesa até a terra de Papai Noel, Rovaniemi, no círculo polar ártico, por trem-auto, e depois atravessando a Lapônia finlandesa (milhares de lagos e zilhões de mosquitos), a sueca e o extremo norte da Noruega, onde o sol nunca se punha (claro que fomos no verão); volta pelos fiordes, Oslo, Gotemburgo (onde eu passei todo um verão lavando pratos, no verão de 1972, para pagar minha manutenção na Bélgica), Dinamarca, novamente Alemanha e volta a Belgrado, já próximo da volta ao Brasil.

    Em Brasília, o que se podia fazer como passeios era nas cercanias, ou então, esticar até São Paulo e Porto Alegre, algumas vezes a Minas Gerais e ao Rio de Janeiro, uma vez. Mas foi por pouco tempo, logo estávamos a caminho da Suíça uma segunda vez, em Genebra, talvez um dos melhores postos da carreira, junto com Washington, pelo trabalho e pelas viagens, naturalmente. Nessa época, os mercados financeiros ainda não estavam tão desenvolvidos, assim que eu tinha duas ou três carteiras com francos franceses, liras e marcos alemães, eventualmente algum xelim austríaco, além de cartões de crédito. Eu até tive uma conferência diplomática no meio, em Washington, para um tratado sobre circuitos integrados sob gestão da OMPI, que eu seguia em Genebra. No continente europeu, foram dezenas e dezenas de milhares de quilômetros pelas grandes autoestradas e pelas pequenas rotas do interior, na costa italiana, no interior da França, na Romantische Strasse da Alemanha. Fui convidado para acompanhar o embaixador Rubens Barbosa na Aladi, em Montevidéu, mas ficamos em Genebra todo o tempo que foi possível. Saudades da Suíça.

    Montevidéu é perto de tudo, do Brasil, de Buenos Aires, do Cone Sul, e por isso aumentamos a quilometragem, com muitas escapadas a Porto Alegre, e uma grande viagem até a Patagônia e o Chile no verão (janeiro-fevereiro de 1991), já na companhia da Maíra, conosco desde o final de Genebra, desta vez num Honda Civic, que me rendeu mais dinheiro na venda do que eu tinha dispendido na compra. Mas ficamos menos de dois anos em Brasília, pois já em 1993 estávamos saindo para a Europa novamente, desta vez em Paris. Mais viagens e incursões por toda a Europa ocidental, inclusive de novo na península itálica e na península ibérica, pois antes de ingressarem na CEE os portugueses se referiam à Europa que estava além dos Pirineus. A Grã-Bretanha já tínhamos conhecido, mas eu ainda fiz uma pequena viagem com Pedro Paulo a Londres, para visitar o embaixador Rubens Barbosa, que nessa época (1994) era o representante junto à Corte de St. James.

    Depois de quatro anos em Brasília (com as costumeiras viagens a Minas e ao Sul), fomos para a capital do Império, um posto que eu relutei ao início, mas que depois se revelou uma das melhores estadas da carreira, nos planos funcional diplomático, familiar, pessoal e acadêmico (com muitas reuniões com brasilianistas e convívio com as universidades locais. Logo no primeiro fim de semana de Washington, viajamos para Gettysburg, na Pensilvânia, o histórico lugar da mais cruenta batalha da guerra civil, e do famoso discurso do presidente Lincoln sobre a democracia. Do Canadá às fronteiras do México, de Chicago às Florida Keys, percorremos, a partir de Washington, praticamente toda a costa leste e grande parte do interior – que eu chamava de “caipirolândia” – e do Sul, ainda com traços visíveis do racismo americano – um regime talvez até pior do que o do Apartheid –, com várias incursões a Nova York, Pensilvânia, Maryland e Virgínia, dois estados em que moramos de 1999 a 2003. Não anotei o total da milhagem, mas daria, provavelmente, para ir e voltar da Terra à Lua.

    Na volta a Brasília, com exceção de duas ou três viagens internacionais – Florida, Buenos Aires, estão na minha memória –, viajamos basicamente no Brasil, mas também esticamos três meses no milharal do Illinois, para um estágio na Universidade em Urbana-Champaign, a convite dos brasilianistas Werner Baer e Joseph Love, com nova viagem de carro desde a Florida, ida e volta. Eu atendia basicamente convite de acadêmicos, para bancas, seminários e palestras em diversas universidades brasileiras. Foi também o período em que mais escrevi, a partir de meu quilombo de resistência intelectual, deslocando do blog para a biblioteca do Itamaraty. Em 2010, tivemos a sorte de passar oito meses em Xangai, para a exposição universal, quando aproveitamos para viajar para diversas partes do imenso país, e também a Macau, Hong Kong e Japão. No meio, fui à Espanha e vim a Brasília, para um congresso da Brazilian Studies Association. 


     De volta a Brasília, e ainda no meu quilombo, aproveitei um convite da Sorbonne, em 2012, para passar seis meses em Paris (e viajando pela Europa), para aulas no mestrado do Institut de Hautes Études de l’Amérique Latine: ainda aproveitamos para palestras na Universidade de Louvain-La-Neuve, e na Universidade de Londres. Um ano depois, aceitei trabalhar no Consulado do Brasil em Hartford, Connecticut, e foram quase três anos de viagens as mais proveitosas: ademais de incursões frequentes a New Haven (Yale), Nova York e mesmo Washington – para palestra no Foreign Institute do Departamento de Estado –, fizemos duas memoráveis travessias coast to coast, até o Pacífico, uma vez pelo Norte, outra vez pelo Sul, ademais de duas ou três escapadas ao Canadá e o outro extremo, Florida Keys.


     O retorno a Brasília coincidiu com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o que me levou a assumir a direção do IPRI – Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, do Itamaraty –, e com ela muitas viagens pelo Brasil e até duas ou três internacionais. Foi um dos períodos mais gratificantes intelectualmente, feito de inúmeros debates com acadêmicos brasileiros e visitantes estrangeiros, e muitas edições de livros sobre política externa. Durou exatos dois anos e meio, de agosto de 2016 a março de 2019, quando começou o fantástico desgoverno antiglobalista, ao qual dediquei pelo menos cinco livros, do que eu chamo de ciclo da diplomacia bolsolavista, que simplesmente não teriam existido se o bando de idiotas da franja lunática não destruísse com tanto empenho os padrões de qualidade da diplomacia profissional e deformado completamente a política externa brasileira. 


     Quando estávamos nos preparando para começar novo ciclo de viagens, de volta aos Estados Unidos e novamente à Europa, talvez até mesmo a China, começou a desgraça da pandemia da Covid-19, e depois a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, situação que ainda perdura. Estamos só aguardando uma acalmia no mundo, para retomar nossas viagens, agora puramente de lazer intelectual e prazer gastronômico.

    Continuarei minha pequena geografia do mundo em outra ocasião. Apenas lembro que minhas postagens na plataforma Academia.edu são acessadas em dezenas de países e em centenas de universidades, o que já foi objeto de diversas postagens minhas, sobre esses acessos “universais” na própria plataforma. Também me utilizo ocasionalmente de outra plataforma, a Research Gate, mas a quase totalidade dos trabalhos pode ser conferida ou no meu site pessoal, ou na plataforma Lattes, obrigatória para qualquer acadêmico. Muita coisa pode ser vista no meu quilombo de resistência intelectual que, pela última contagem, já indica quase 25 mil postagens (desde 2006), mais de 9,5 milhões de acessos a essas postagens e algo como 919 seguidores (inclusive um que se intitula “Padre Eterno”, sic). Com livros e acesso a praticamente toda a imprensa mundial, já estou “viajando” todos os dias, mas estamos aguardando tempos mais amenos para retomar a estrada, antes que avião. A despeito dos temores, já estivemos três vezes em São Paulo e uma longa viagem até Gramado e Porto Alegre, neste ano. Aos poucos vamos retomando os caminhos de sempre e provavelmente também alguns novos, no continente ou fora dele. Vontade não falta...

     


    Paulo Roberto de Almeida

    Brasília, 4172: 17 junho 2022, 6 p.

    www.pralmeida.org
    diplomatizzando.blogspot.com
    CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/9470963765065128
    https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida
    https://www.researchgate.net/profile/Paulo_Almeida2


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    Paulo Roberto e Carmen Lícia

    Paulo Roberto e Carmen Lícia
    No festival de cinema de Gramado, 2016

    Breve Perfil

    Paulo Roberto de Almeida
    Doutor em Ciências Sociais, com vocação acadêmica voltada para os temas de relações internacionais, de história diplomática do Brasil e para questões do desenvolvimento econômico. Profissionalmente, sou membro da carreira diplomática desde 1977. Minhas preocupações cidadãs voltam-se para os objetivos do desenvolvimento nacional, do progresso social e da inserção internacional do Brasil. Entendo que cinco das condições básicas para que tais objetivos sejam atingidos podem ser resumidas como segue: macroeconomia estável, microeconomia competitiva, boa governança, alta qualidade dos recursos humanos e abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros. Este blog serve apenas de divertissement. Para meus trabalhos mais sérios, ou pelo menos de caráter acadêmico, ver o site http://www.pralmeida.org/.

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    Carmen Lícia e Paulo Roberto

    Uma seleção de textos

    • Tobias Barreto: ingresso no IHG-DF
    • Manifesto Globalista
    • The Great Destruction on Brazil
    • Manual pratico de decadência
    • Miséria da Oposição no Brasil
    • Pensamento Diplomatico Brasileiro
    • Tratado Geral da Mafia
    • A globalizacao e seus descontentes
    • Aumentam os idiotas no mundo
    • Dez regras modernas de diplomacia
    • Contra a anti-globalizacao
    • Diplomacia: dicas de ingresso na carreira
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    Uma reflexão...

    Recomendações aos cientistas, Karl Popper:
    Extratos (adaptados) de Ciência: problemas, objetivos e responsabilidades (Popper falando a biólogos, em 1963, em plena Guerra Fria):
    "A tarefa mais importante de um cientista é certamente contribuir para o avanço de sua área de conhecimento. A segunda tarefa mais importante é escapar da visão estreita de uma especialização excessiva, interessando-se ativamente por outros campos em busca do aperfeiçoamento pelo saber que é a missão cultural da ciência. A terceira tarefa é estender aos demais a compreensão de seus conhecimentos, reduzindo ao mínimo o jargão científico, do qual muitos de nós temos orgulho. Um orgulho desse tipo é compreensível. Mas ele é um erro. Deveria ser nosso orgulho ensinar a nós mesmos, da melhor forma possível, a sempre falar tão simplesmente, claramente e despretensiosamente quanto possível, evitando como uma praga a sugestão de que estamos de posse de um conhecimento que é muito profundo para ser expresso de maneira clara e simples.
    Esta, é, eu acredito, uma das maiores e mais urgentes responsabilidades sociais dos cientistas. Talvez a maior. Porque esta tarefa está intimamente ligada à sobrevivência da sociedade aberta e da democracia.
    Uma sociedade aberta (isto é, uma sociedade baseada na idéia de não apenas tolerar opiniões dissidentes mas de respeitá-las) e uma democracia (isto é, uma forma de governo devotado à proteção de uma sociedade aberta) não podem florescer se a ciência torna-se a propriedade exclusiva de um conjunto fechado de cientistas.
    Eu acredito que o hábito de sempre declarar tão claramente quanto possível nosso problema, assim como o estado atual de discussão desse problema, faria muito em favor da tarefa importante de fazer a ciência -- isto é, as idéias científicas -- ser melhor e mais amplamente compreendida."

    Karl R. Popper: The Myth of the Framework (in defence of science and rationality). Edited by M. A. Notturno. (London: Routledge, 1994), p. 109.

    Uma recomendação...

    Hayek recomenda aos mais jovens:
    “Por favor, não se tornem hayekianos, pois cheguei à conclusão que os keynesianos são muito piores que Keynes e os marxistas bem piores que Marx”.
    (Recomendação feita a jovens estudantes de economia, admiradores de sua obra, num jantar em Londres, em 1985)

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