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sábado, 28 de dezembro de 2019

Razões do secular atraso brasileiro - Paulo Roberto de Almeida


Razões do secular atraso brasileiro

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: participação em debate; finalidade: esclarecimento público]
  
Recentemente, participando de um “debate” sobre as razões do nosso atraso, um interlocutor atribuiu a D. Pedro II a responsabilidade por esse atraso, ao que reagi imediatamente ao dizer que achava que ele estava exagerando ao responsabilizar o monarca bonachão, razoavelmente culto, mas cingido por normas constitucionais e institucionais de ter um papel mais afirmado nas várias políticas dos gabinetes monárquicos (um pouco como no esquema britânico: “o rei reina mas não governa”), a despeito do poder Moderador, que só servia para trocar os gabinetes, mas não para organizar eleições, que eram invariavelmente fraudadas.
Quero agora estender-me um pouco mais nessa questão, que reputo essencial para a compreensão de nossa história.
Os responsáveis pelo atraso brasileiro foram, e continuam sendo, os mesmos homens que derrotaram José Bonifácio (na questão do tráfico e da escravidão, por exemplo), que desprezaram os ensinamentos de Hipólito da Costa (no seu Correio Braziliense) e que zombaram do industrialismo de Mauá (na verdade Irineu Evangelista de Souza, pois o título de barão que lhe foi atribuído foi apenas uma hipócrita compensação pela rejeição de suas ideias e a expropriação do segundo Banco do Brasil).
Os verdadeiros responsáveis pelo atraso foram os escravistas conservadores – mas o partido Liberal, nessa questão era ainda mais Conservador do que o próprio — que rejeitaram as recomendações de Luis Gama pela libertação dos escravos, as de Rebouças, que também propunha reformas modernizantes, as de Joaquim Nabuco, que queria abolição com reforma agrária e educação, ou seja, as mesmas elites medíocres e atrasadas que continuaram, no século XX, se opondo a Monteiro Lobato, a Eugênio Gudin, a Roberto Campos e a Gustavo Franco, entre muitos outros.
Essas são algumas das muitas razões de nosso atraso secular: começa no escravismo, passa pelo latifundismo, pelo patrimonialismo, pelo autoritarismo (não só das FFAA), pelo protecionismo dos industriais e agricultores, pelo subvencionismo de banqueiros e capitalistas em geral, pela anticompetição, pelo corporativismo estatal, pelo nepotismo e prebendalismo dos mandarins do Estado, pela inconsciência e mediocridade geral das elites dirigentes, mas sobretudo, SOBRETUDO, pela NÃO EDUCAÇÃO DAS MASSAS.
A verdade é que as nossas elites, todas elas – capitalistas, banqueiros, sindicalistas, políticos – continuam medíocres, e de vez em quando, por causa da não educação das massas, mas também pela inconsciência das classes médias, resvalam para o salvacionismo de populistas medíocres, de demagogos ignorantes como os que atualmente nos governam.
Não querendo ser pessimista, acho que vai demorar mais um pouco para o Brasil “endireitar” de vez, não no sentido político ou ideológico, mas no sentido de corrigir as muitas falhas de sua democracia de baixíssima qualidade, e isso não depende apenas de estadistas – que não os temos –, e sim da educação geral de todo o povo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28 de dezembro de 2019