Razões do secular atraso brasileiro
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: participação em debate; finalidade: esclarecimento público]
Recentemente, participando de um “debate”
sobre as razões do nosso atraso, um interlocutor atribuiu a D. Pedro II a
responsabilidade por esse atraso, ao que reagi imediatamente ao dizer que
achava que ele estava exagerando ao responsabilizar o monarca bonachão, razoavelmente
culto, mas cingido por normas constitucionais e institucionais de ter um papel
mais afirmado nas várias políticas dos gabinetes monárquicos (um pouco como no
esquema britânico: “o rei reina mas não governa”), a despeito do poder
Moderador, que só servia para trocar os gabinetes, mas não para organizar
eleições, que eram invariavelmente fraudadas.
Quero agora estender-me um pouco mais
nessa questão, que reputo essencial para a compreensão de nossa história.
Os responsáveis pelo atraso brasileiro
foram, e continuam sendo, os mesmos homens que derrotaram José Bonifácio (na
questão do tráfico e da escravidão, por exemplo), que desprezaram os
ensinamentos de Hipólito da Costa (no seu Correio Braziliense) e que
zombaram do industrialismo de Mauá (na verdade Irineu Evangelista de Souza,
pois o título de barão que lhe foi atribuído foi apenas uma hipócrita
compensação pela rejeição de suas ideias e a expropriação do segundo Banco do
Brasil).
Os verdadeiros responsáveis pelo atraso foram
os escravistas conservadores – mas o partido Liberal, nessa questão era ainda
mais Conservador do que o próprio — que rejeitaram as recomendações de Luis
Gama pela libertação dos escravos, as de Rebouças, que também propunha reformas
modernizantes, as de Joaquim Nabuco, que queria abolição com reforma agrária e
educação, ou seja, as mesmas elites medíocres e atrasadas que continuaram, no
século XX, se opondo a Monteiro Lobato, a Eugênio Gudin, a Roberto Campos e a
Gustavo Franco, entre muitos outros.
Essas são algumas das muitas razões de
nosso atraso secular: começa no escravismo, passa pelo latifundismo, pelo
patrimonialismo, pelo autoritarismo (não só das FFAA), pelo protecionismo dos
industriais e agricultores, pelo subvencionismo de banqueiros e capitalistas em
geral, pela anticompetição, pelo corporativismo estatal, pelo nepotismo e
prebendalismo dos mandarins do Estado, pela inconsciência e mediocridade geral
das elites dirigentes, mas sobretudo, SOBRETUDO, pela NÃO EDUCAÇÃO DAS MASSAS.
A verdade é que as nossas elites, todas
elas – capitalistas, banqueiros, sindicalistas, políticos – continuam
medíocres, e de vez em quando, por causa da não educação das massas, mas também
pela inconsciência das classes médias, resvalam para o salvacionismo de
populistas medíocres, de demagogos ignorantes como os que atualmente nos
governam.
Não querendo ser pessimista, acho que
vai demorar mais um pouco para o Brasil “endireitar” de vez, não no sentido
político ou ideológico, mas no sentido de corrigir as muitas falhas de sua
democracia de baixíssima qualidade, e isso não depende apenas de estadistas –
que não os temos –, e sim da educação geral de todo o povo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28 de dezembro de 2019