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Historiadores criticam Ernesto Araújo por dizer que fascismo e nazismo eram de esquerda
Regimes totalitários na Itália e na Alemanha se diziam justamente contrários à esquerda, ao comunismo e ao socialismo, reforçam historiadores. Procurado, ministro não quis comentar.
Ministro Ernesto Araújo diz que fascismo e nazismo eram de esquerda e gera polêmica
Uma declaração do ministro das Relações Exteriores,Ernesto Araújo, provocou críticas de historiadores no Brasil e no exterior. O ministro disse que dois regimes totalitários, o fascismo e o nazismo, eram de esquerda.
A declaração foi dada em uma entrevista numa rede social. O ministro das Relações Exteriores disse que o fascismo e o nazismo foram movimentos de esquerda.
"É uma coisa que eu falo muito e é muito uma tendência da esquerda. Ela pega uma coisa boa, sequestra e perverte, transforma em uma coisa ruim. Acho que é mais ou menos o que aconteceu sempre com esses regimes totalitários. Por isso que eu digo também que... quer dizer, isso tem a ver com o que eu digo, que fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda, não é?"
Esta é a primeira vez que Ernesto Araújo fala isso como ministro de Estado, mas ele já tinha dito algo semelhante antes de ser indicado para comandar o Itamaraty.
Em um artigo escrito em 2017, Araújo disse que o nazismo e fascismo são pensamentos de esquerda. Ernesto Araújo escreveu que, na década de 1920, "o socialismo se dividiu em duas correntes, uma que permaneceu antinacionalista; e outra que, para chegar ao poder, na Itália e na Alemanha, sequestrou o nacionalismo, deturpou e escravizou o sentimento nacional genuíno para seus fins malévolos, gerando o fascismo e o nazismo".
O artigo ficou mais conhecido durante a campanha eleitoral do ano passado. Em entrevista ao jornal "O Globo" em setembro, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, afirmou que "é uma besteira argumentar que o fascismo e o nazismo são movimentos da esquerda".
"Isso não é fundamentado, é um erro, é simplesmente uma besteira", acrescentou.
E concluiu: "O Estado alemão tem a missão de informar sobre o nazismo, para nunca mais deixar nada parecido acontecer na Alemanha ou no mundo".
Peter Carrier é pesquisador na Alemanha e autor de um relatório da Unesco sobre o holocausto. Ele disse ao Jornal Nacional que é historicamente incorreto associar o nazismo como um movimento de esquerda. E que na própria fundação do movimento nazista, nos anos 1920, eles já se declaravam contra o marxismo e contra a União Soviética.
Segundo o pesquisador, a fala do ministro contribui para falsificar a história.
Para Ruth Bem-Ghiat, historiadora especializada em fascismo e autoritarismo pela universidade NYU, de Nova York (EUA), o ministro tem que reler os livros de história. E que faz parte de determinadas correntes políticas adotar uma versão que seja mais adequada aos seus interesses e que dizer que esses movimentos são de esquerda é simplesmente um "absurdo".
Para Antonio Barbosa, historiador da Universidade de Brasília (UnB), falar que o nazismo é um fenômeno de esquerda é uma "fraude".
"Uma fraude intelectual e uma releitura completamente equivocada da própria história. É como se fosse negar o fato histórico que aconteceu na Alemanha nos anos 1930, nos anos 1940. Esse é o primeiro ponto. O segundo é que o nazismo se justifica como a oposição mais vigorosa ao socialismo, à esquerda, ao comunismo. [...] No caso da política externa, isso é extremamente perigoso porque mostra ao mundo uma visão sectária, radicalmente sectária no brasil, o que não é bom para o país", afirmou.
Procurado, o ministro Ernesto Araújo não quis responder as críticas dos historiadores.