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sábado, 30 de março de 2019

Para chanceler atual, fascismos eram de esquerda; Prof. Barbosa: "fraude historica"

Historiadores criticam Ernesto Araújo por dizer que fascismo e nazismo eram de esquerda

Regimes totalitários na Itália e na Alemanha se diziam justamente contrários à esquerda, ao comunismo e ao socialismo, reforçam historiadores. Procurado, ministro não quis comentar.

Ministro Ernesto Araújo diz que fascismo e nazismo eram de esquerda e gera polêmica
Ministro Ernesto Araújo diz que fascismo e nazismo eram de esquerda e gera polêmica 
Uma declaração do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, provocou críticas de historiadores no Brasil e no exterior. O ministro disse que dois regimes totalitários, o fascismo e o nazismo, eram de esquerda. 
A declaração foi dada em uma entrevista numa rede social. O ministro das Relações Exteriores disse que o fascismo e o nazismo foram movimentos de esquerda. 
"É uma coisa que eu falo muito e é muito uma tendência da esquerda. Ela pega uma coisa boa, sequestra e perverte, transforma em uma coisa ruim. Acho que é mais ou menos o que aconteceu sempre com esses regimes totalitários. Por isso que eu digo também que... quer dizer, isso tem a ver com o que eu digo, que fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda, não é?" 
Esta é a primeira vez que Ernesto Araújo fala isso como ministro de Estado, mas ele já tinha dito algo semelhante antes de ser indicado para comandar o Itamaraty. 
Em um artigo escrito em 2017, Araújo disse que o nazismo e fascismo são pensamentos de esquerda. Ernesto Araújo escreveu que, na década de 1920, "o socialismo se dividiu em duas correntes, uma que permaneceu antinacionalista; e outra que, para chegar ao poder, na Itália e na Alemanha, sequestrou o nacionalismo, deturpou e escravizou o sentimento nacional genuíno para seus fins malévolos, gerando o fascismo e o nazismo". 
O artigo ficou mais conhecido durante a campanha eleitoral do ano passado. Em entrevista ao jornal "O Globo" em setembro, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, afirmou que "é uma besteira argumentar que o fascismo e o nazismo são movimentos da esquerda". 
"Isso não é fundamentado, é um erro, é simplesmente uma besteira", acrescentou. 
E concluiu: "O Estado alemão tem a missão de informar sobre o nazismo, para nunca mais deixar nada parecido acontecer na Alemanha ou no mundo". 
Peter Carrier é pesquisador na Alemanha e autor de um relatório da Unesco sobre o holocausto. Ele disse ao Jornal Nacional que é historicamente incorreto associar o nazismo como um movimento de esquerda. E que na própria fundação do movimento nazista, nos anos 1920, eles já se declaravam contra o marxismo e contra a União Soviética. 
Segundo o pesquisador, a fala do ministro contribui para falsificar a história. 
Para Ruth Bem-Ghiat, historiadora especializada em fascismo e autoritarismo pela universidade NYU, de Nova York (EUA), o ministro tem que reler os livros de história. E que faz parte de determinadas correntes políticas adotar uma versão que seja mais adequada aos seus interesses e que dizer que esses movimentos são de esquerda é simplesmente um "absurdo". 
Para Antonio Barbosa, historiador da Universidade de Brasília (UnB), falar que o nazismo é um fenômeno de esquerda é uma "fraude". 
"Uma fraude intelectual e uma releitura completamente equivocada da própria história. É como se fosse negar o fato histórico que aconteceu na Alemanha nos anos 1930, nos anos 1940. Esse é o primeiro ponto. O segundo é que o nazismo se justifica como a oposição mais vigorosa ao socialismo, à esquerda, ao comunismo. [...] No caso da política externa, isso é extremamente perigoso porque mostra ao mundo uma visão sectária, radicalmente sectária no brasil, o que não é bom para o país", afirmou. 
Procurado, o ministro Ernesto Araújo não quis responder as críticas dos historiadores.

domingo, 8 de julho de 2018

A luta armada no Brasil: depoimento de um quase combatente - Paulo Roberto de Almeida

Um ano antes de escrever um texto de apenas 15 páginas sobre a experiência da luta armada no Brasil – registrada no trabalho 2595 (2014), finalmente postado nas plataformas Academia.edu e Research Gate, e aqui repercutida (faço o sumário ao final) – eu já tinha feito, em 2013, um depoimento pessoal que permaneceu inédito até agora, mas que finalmente resolvi "liberar" para divulgação pública, cujo registro é este aqui: 

2470. “A luta armada no Brasil: depoimento de um quase combatente”, Hartford, 8 Março 2013, 22 p. Testemunho sobre o tema, e meu envolvimento pessoal no período. Serviu de base ao trabalho 2595 (2014), mas em formato menor. Divulgado na plataforma Academia.edu (8/07/2018; link: http://www.academia.edu/37006010/A_luta_armada_no_Brasil_depoimento_de_um_quase_combatente). Relação de Publicados n. 1095.

Reproduzo aqui apenas o início deste trabalho: 


A luta armada no Brasil: depoimento de um quase combatente

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor universitário.

Sumário: 
O Brasil dos anos 1960: breve recapitulação histórica
Os anos 1970: do Brasil para o mundo
A luta armada e os derrotados vingativos: uma reflexão pessoal
Uma última análise subjetiva da questão da luta armada


A luta armada representou, no contexto das crises políticas vividas pelo Brasil nas décadas de 60 e 70 do século passado, uma conjuntura especial e um fenômeno específico, embora bastante grave, do ponto de vista do nosso destino futuro enquanto nação, que a maior parte da população desejava democrática e inserida numa economia de mercado. A despeito de ter sido relativamente circunscrita no tempo, com uma duração total inferior a dez anos, a luta armada deixou, entretanto, consequências permanentes, ou residuais, na história política nacional, que devem ser devidamente avaliadas, se a sociedade brasileira pretende, realmente, superar os traumas individuais e coletivos causados pelos tristes episódios daquele período.
Cabe registrar, inicialmente, que esses efeitos continuados da luta armada no Brasil se situam inteiramente no campo dos partidos e movimentos ditos de esquerda, que não parecem ainda ter se desligado de suas antigas crenças, bem como dos traumas e obsessões do passado, uma vez que os outros grandes contendores daquele fenômeno, as Forças Armadas, encontram-se totalmente inseridos no ambiente de reconciliação democrática e de construção de uma institucionalidade totalmente comprometida com os objetivos de paz, prosperidade e de normalidade política desejados pelo povo brasileiro. Isto me parece bem evidente na movimentação atual do governo e dos partidos de esquerda – que aliás, hoje em dia, são uma coisa só – em torno da chamada Comissão da Verdade e seu trabalho que me parece enviesado e muito longe de buscar ou estabelecer a verdade, parecendo bem mais um movimento vingativo contra os que derrotaram os promotores da luta armada naquele passado hoje distante.
Pretendo, neste curto depoimento pessoal, oferecer minha avaliação do passado remoto, como testemunha e ator secundário que fui dos dramas vinculados à luta armada, e efetuar, depois, um proposta sensata quanto aos desafios do presente. Espero ser bastante objetivo e imparcial na minha exposição de certos fatos, bem como muito realista quanto à maneira de interpretar esses fatos e de tirar deles consequências para os dias que correm. Trata-se de uma contribuição totalmente desinteressada focada em fatos, menos que em argumentos de cunho político – ao esclarecimento dos mais jovens e alguns menos jovens, mas que não passaram por essas vicissitudes, sobre aquela fase da vida brasileira, que justamente buscamos superar para o bom entendimento nacional.

 (...)



O trabalho do 2014 que aproveitou largos trechos do anterior, mas com menos desenvolvimentos em questões pessoais, tinha sido postado de maneira fragmentada naquela oportunidade, como segue: 

O regime militar e a oposição armada:
um retrospecto histórico, por um observador engajado

Paulo Roberto de Almeida (2014)

Sumário:
1. Antecedentes e contexto do golpe militar de 1964
2. A reação dos perdedores: resistência política e luta armada
4. A derrota da luta armada e suas consequências: uma história a ser escrita
5. O que foi a luta armada no Brasil: uma interpretação pessoal
6. Quando a luta armada se desenvolveu no Brasil?
7. Onde a luta armada se desenvolveu no Brasil?
8. Como a luta armada se desenvolveu?
9. Por que houve luta armada no Brasil?
10. Uma avaliação pessoal da luta armada e suas consequências atuais