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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 7 de março de 2019

O chanceler vestiu a carapuça. Mas não era para ele e sim para um dos seus patronos...

Estou até enrubescido, como se dizia nos romances de antigamente.
Vários jornais continuam tratando dessa coisa.
Por essa coisa eu quero me referir, obviamente, à minha defenestração do cargo de Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Itamaraty, o primeiro cargo que tive, na Secretaria de Estado, desde 1999, se contarmos a partir da minha saída para a embaixada em Washington, em setembro desse ano. 
Ao retornar ao Brasil, em 2003, tive vetado o convite que o então diretor do Instituto Rio Branco me havia formulado, no começo daquele ano, para dirigir o curso de mestrado, para o qual ele me julgava academicamente qualificado, mas para o qual os "donos" da Casa – Secretário-Geral Samuel Pinheiro Guimarães, e Ministro de Estado Celso Amorim, nessa ordem – me julgavam politicamente inadequado. 
Ao contrário do que diz o Itamaraty, eu não escolhi trabalhar no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República por vontade própria. Eu atendi a um convite do então ministro Luiz Gushiken – um dos membros da troika de assessores do presidente Lula, e que gostava de mim, a despeito de eu já ser um opositor do PT e de suas políticas econômicas esquizofrênicas – justamente porque o Itamaraty me recusou qualquer cargo na Secretaria de Estado.
Trabalhei no NAE-PR enquanto o ministro o chefiou. Quando de seu afastamento, em 2006, retornei ao Itamaraty, apresentando-me para o trabalho. A despeito de oferecimentos que me foram feitos pela própria chefe de Gabinete do ministro Amorim, nenhum dos três cargos se confirmou, e fiquei quatro anos no DEC, Departamento de Escadas e Corredores, fazendo da Biblioteca do Itamaraty o meu escritório de trabalho. Depois andei pela China durante alguns meses, voltei a Brasília, e nada. Passou-se um ano, nada. 
Tirei licença, passei meio ano em Paris, dando aulas no IHEAL-Sorbonne em 2012. 
Voltei a Brasília, e nada. Apenas em 2013, resolvi assumir um cargo secundário num pequeno consulado nos EUA, pois já estava há quase dez anos em Brasília, sem perspectivas de receber qualquer convite para trabalhar na SERE, já que que os companheiros estavam na terceira vitória sucessiva (em face desses incompetentes tucanos).
Voltei a Brasília no final do 2015 e nada. Fiquei mais seis meses no DEC, até que Madame Pasadena foi finalmente afastada da Presidência por alguns dos seus muitos crimes contra o Brasil e os brasileiros (a Lava Jato recém começava a investigar a máfia dos quadrilheiros da maior organização criminosa do Brasil travestida de partido político). 
Foi só em agosto de 2016 que assumi o cargo do qual acabo de ser defenestrado.
Parece que causou o maior rebuliço, a julgar pelas muitas matérias de imprensa publicadas desde a Segunda-Feira de Carnaval (esses caras não podiam ter esperado pelo menos a Quarta-Feira de Cinzas, para não atrapalhar a folia dos jornalistas?).
Abaixo estão alguns dos alertas de notícias que recebo regularmente sobre temas diversos, entre eles esta pessoinha que vos escreve. Vejam e eu volto logo abaixo...

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"Paulo Roberto de Almeida"
Atualização diária  8 de março de 2019
NOTÍCIAS 
BRASÍLIA - O Itamaraty desmente, extraoficialmente, a versão do embaixador Paulo Roberto de Almeidapara sua exoneração do cargo de ...
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Para Itamaraty, Paulo Roberto de Almeida foi afastado de cargo por ter "agredido" pelas redes sociais o chanceler e a política externa do governo ...
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Por isso demitiu o embaixador Paulo Roberto de Almeida, segundo revela a jornalista Eliane Cantanhêde. "Ao publicar no Facebook uma crítica do ...
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Segundo uma entrevista do embaixador recém-exonerado Paulo Roberto deAlmeida para O Estado de S. Paulo, “os embaixadores estão ...
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Para Itamaraty, Paulo Roberto de Almeida foi afastado de cargo por ter “agredido” pelas redes sociais o chanceler e a política externa do governo ...
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O que dizem essas notícias, alimentadas pelo próprio Itamaraty? Que eu "ataquei" o ministro, pessoalmente. Ora vejam!
Primeiro, eles disseram que essas substituições de chefias eram normais e já estavam programadas desde muito tempo.
Concordo, mas por que, então, fazer em caráter ultra-rápido, numa Segunda-Feira de Carnaval logo no começo da manhã?
Não podiam ter feito antes do Carnaval, o que me teria possibilitado espairecer, viajar, sair em algum bloco, bebendo à vontade, fantasiado de diplomata?
Ou por que não fizeram na Quarta-Feira de Cinzas?
Explicaram isso para a FSP na Segunda-Feira, que publicou a "explicação" tal qual.
Isto foi o que a FSP publicou na manhã do dia 4/03: 
"O Itamaraty afirmou que a mudança da diretoria do Ipri, “no contexto da troca da grande maioria das chefias do ministério das Relações Exteriores, já estava decidida e foi comunicada ao atual titular”. (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/03/diplomata-e-demitido-apos-republicar-textos-sobre-crise-na-venezuela.shtml).
Depois, constatando que essa explicação era por demais fajuta, inventaram essa coisa de que que teria "ofendido o chanceler", segundo versão difundida oficiosamente por aquele garoto que assessora o chanceler a partir da PR, mais conhecido como Robespirralho, ou Sorocabannon. Ele resolveu insistir nessa versão, e acharam que eu estava, portanto, condenado por crime de "lesa-majestade". 

Uma jornalista conhecida, sem verificar exatamente o que eu estava escrevendo em meu blog, e sem consultar-me a respeito, "comprou" essa versão  do Itamaraty e a difundiu pela TV e num artigo de jornal.
Eu não sei porque o chanceler vestiu a carapuça nessa questão, quando obviamente eu não estava referindo-me a ele – pois o considero uma peça menor no jogo do poder – e sim a quem já foi chamado de "chanceler paralelo", e quem foi o seu grande eleitor na escolha dos ministros do novo governo, juntamente com aquele sofista da Virgínia, que não preciso dizer quem é (também conhecido como Rasputin de suburbio). 

Eu falei de "fundamentalista trumpista" e isso se aplicava apenas – por enquanto – a um dos Bolsokids. Eis o que escrevi para clarificar a vinculação da designação ao personagem: 

"O "fundamentalista trumpista" a quem eu me referi é aquele sujeito também amador em política externa, que passeou ridiculamente pelos EUA com um boné da reeleição de Trump em 2020, e que disse, USURPANDO sobre a opinião do povo brasileiro (que ele não consultou), que todos aqui estávamos apoiando a construção de um muro na fronteira com o México. Isso é um adesismo da pior espécie, além, é claro, de representar interferência nos assuntos internos de DOIS países. 
Ao que me consta o chanceler ainda não usou nenhum boné do Trump."

Não sei bem porque o chanceler considerou que o "fundamentalista trumpista" se referia a ele. Só porque ele assinou um artigo dizendo que Trump iria salvar o Ocidente?
Confesso que nunca considerei que aquele artigo – cheio de invocações a Jesus Cristo e outras entidades da Santíssima Trindade – fosse realmente uma peça séria; me pareceu mesmo que ele era o que efetivamente é: uma peça eleitoral, para enganar incautos. 

Entretanto, acho que o que mais agastou o nosso chanceler acidental foi o fato de eu ter "ofendido" o seu patrono espiritual, o tal sofista da Virgínia.
Mas, de acordo com um colega de carreira, não revelado por razões óbvias, experto em filosofia, ele não merece toda essa pompa, e por isso eu o estou despromovendo.
Reproduzo aqui o que me escreveu esse colega ao comentar uma das minhas "filípicas" anteriores (como gostaria de ver escrito o chanceler, tão apreciador da cultura grega, não sei se macedônica também): 

"Algumas das expresssões que o sr. utiliza estão destinadas à consagração, como a referência a nosso "chanceler acidental", "Robespirralho" e aos "bolsokids". Peço licença apenas para discordar da descrição do tal guru da Virgínia como um "sofista". Acho que é exagero compará-lo a nomes como Górgias e Protágoras, os quais, no limite, tiveram como consequência promover a reação de Sócrates (e Platão) contra a mentira, a dissimulação e a delinquência intelectual. 
No máximo, esse tal de olavo (de quem nunca havia ouvido falar, apesar de carioca e de ter uns vinte anos de estudos e de docência em filosofia) só pode ser classificado como um "sub-sofista", pois dali não tem como sair senão ressentimento e baixo calão."

Enfim, a imprensa tem farto material de leitura sobre esse pouco faustoso evento, como diriam os causídicos de antigamente...
Aguardem que vai ter muito mais.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de março de 2019